quinta-feira, 30 de junho de 2011

Paulo Portas e a comunicação política eficaz

Nesta imagem de TV, o endereço de Paulo Portas no Facebook é o elemento que rivaliza com o candidato em termos de visibilidade
Na campanha eleitoral para as legislativas de 5 de Junho de 2011, o CDS, liderado por Paulo Portas, primou a sua comunicação política pela eficácia e pela sobriedade. Sem dinheiro para publicidade exterior, para não agredir uma população mergulhada numa crise económica profunda, Paulo Portas potenciou as suas qualidades naturais para criar “bons momentos” televisivos e procurou explorar a comunicação digital, aproveitando a televisão para anunciar e multiplicar a presença na Internet.
No dia das eleições, o CDS pode ter sido penalizado pelo voto útil no PSD, mas ainda conseguiu conquistar o seu segundo maior resultado de sempre nas eleições legislativas portuguesas, depois dos 15,98% dos votos conquistados por Freitas do Amaral, em 1976. E o CDS regressou ao Governo, formando maioria absoluta com o PSD de Pedro Passos Coelho, partido vencedor das eleições.
Esta imagem, com tudo no lugar certo, coloca o essencial da campanha do CDS à disposição de milhões de potenciais eleitores: o endereço da candidatura no Facebook bem visível onde Portas é seguido por mais de 35 mil pessoas  e o “slogan” da campanha igualmente legível. Um ou dois minutos deste momento nos serviços noticiosos das televisões é suficiente para levar uma campanha política a milhões de pessoas. Desde que, obviamente, haja serviço de retaguarda bem feito e actualizado para ser partilhado nos espaços digitais: bons vídeos, boas fotografias, bons textos e uma boa interacção com o público. Mesmo com a multiplicidade de meios tecnológicos disponíveis, a comunicação política eficaz não tem muitos segredos.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Grupo Lena vende o jornal com o melhor design do mundo

O Grupo Lena, focalizado nos negócios da construção civil e obras públicas, anunciou hoje que vendeu o jornal “i” ao empresário Jaime Antunes. Como é referido no sítio oficial na Internet, o Grupo Lena cumpre assim “mais uma etapa importante no seu plano de reestruturação”, marcado pela redução da sua presença no mercado da comunicação social. O Grupo Lena diz que foi assegurada “a continuidade do projecto”, que agora passa a ser detido por uma empresa liderada pelo empresário Jaime Antunes, fundador do “Diário Económico” e do “Semanário Económico” (este já extinto, por fusão com o "Diário Económico"). Antunes também esteve na fundação do diário "Manhã Popular", na segunda metade da década de 1990, projecto que se revelou um fiasco ao fim de poucos meses.
Jaime Antunes, que já foi candidato à presidência do Benfica, foi contactado pelo “Público”, mas não revelou os valores envolvidos no negócio da compra do  “i”, nem indicou se haverá despedimentos ou contratações na publicação. O empresário, que nesta quinta-feira vai à redacção comunicar oficialmente que será o proprietário do jornal a partir de 1 de Julho, apenas garante a continuidade do título. Também não esclareceu quem será o próximo director da publicação.
Antes de ter fundado o “Semanário Económico”, o “Jornal de Negócios” e o “Manhã Popular”, o novo patrão do “i” foi director de informação da agência de notícias ANOP, que, em 1987, por fusão com a agência Notícias de Portugal, viria a dar lugar à agência Lusa.
Um “i” minúsculo é o título do mais novo jornal diário generalista da imprensa portuguesa, cujo primeiro número foi lançado em 7 de Maio de 2009. Ocupa o quinto lugar em vendas, com uma média de 10 mil exemplares comercializados, segundo dados da Marktest relativos ao último trimestre de 2010.
 Mas de acordo com dados divulgados nesta quarta-feira pela Associação Portuguesa de Controlo de Tiragens, vendeu 4482 exemplares, em média, por dia, entre Janeiro e Abril deste ano. Já o "Diário Económico" adianta que o “i” está agora a vender 8262 jornais por dia.
O “i” foi o primeiro jornal diário português de âmbito nacional nascido no século XXI e surgido numa época de crise económica. Tem uma periodicidade diária, de segunda-feira a sábado (não se publicando ao domingo, o que é uma inovação entre os diários nacionais). O “i” tem um formato mais pequeno do que os jornais convencionais, é totalmente a cores e é agrafado. Foi distinguido com os prémios "Melhor Jornal Europeu" de 2009, atribuído pela European Newspaper Award, e "Jornal mais bem desenhado da Península Ibérica" de 2009, atribuído pela Society for News Design, concurso onde ganhou um total de 31 prémios. O jornal britânico “The Guardian” considerou o jornal “i” um dos jornais mais inovadores do mundo. Em Fevereiro de 2011, o jornal “i” venceu o prémio máximo da Society for News Design (SND). O júri, formado por cinco profissionais da comunicação da Alemanha, dos Estados Unidos da América (EUA), da Rússia e do Canadá destacou o carácter inovador do projecto e considerou que o matutino lançado em 2009 pelo Grupo Lena tem o “melhor design do mundo”. O primeiro director foi Martim Avillez Figueiredo, que se manteve em funções até Abril de 2010, altura em que se demitiu, alegando que um plano de eliminação de despesas apresentado pela administração iria desvirtuar o projecto editorial inicial. Avillez foi substituído no cargo pelo jornalista Manuel Queiroz, que até então dirigia o semanário "Grande Porto", agora dirigido pelo jornalista Miguel Ângelo Pinto, que o Grupo Lena também alienou este ano. O "Diário As Beiras" e o semanário "O Algarve" foram outros jornais que o Grupo Lena alienou.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Alberto vai casar e a TVI mostra em directo


No próximo sábado, 2 de Julho, vai casar o Príncipe do Mónaco Alberto II, de 53 anos – irmão de Carolina e Stéphanie. A eleita é a ex-nadadora sul-africana Charlene Wittstock, 20 anos mais nova. Ao que parece, o homem até não quer nada com a agenda mediática, mas a agenda mediática dos mexericos e vacuidades não o deixa em paz, sobretudo depois da morte do pai, Rainier III, em 2005. Um casamento real é motivo para ocupar horas e horas de televisão e páginas e páginas de jornais e revistas.
O que se passa no Principado do Mónaco, a todos os níveis, é absolutamente irrelevante para os portugueses. O Mónaco não é conhecido pelas suas relações históricas com Portugal. Além disso, Portugal é uma República, não é uma Monarquia. No entanto, a TVI promete uma emissão especial, entre as 14h00 e as 19h00, justamente para transmitir o espectáculo que será o casamento de Alberto II. Serão cinco horas de emissão em canal aberto do nada sobre o nada, do vazio sobre o vazio. E muita sorte ainda não se terem lembrado de transmitir o funeral do malogrado Angélico Vieira...  
É por isso que a privatização da RTP, que sempre faz parte do programa do Governo PSD-CDS/PP, é perigosa. Quando não há critério na programação televisiva, a população fica entregue à ditadura das audiências – que tudo aceitam, passivamente, sem pestanejar. Donde, um bom canal público de televisão, que faça um caminho próprio, de verdadeiro serviço público, distinto da via popularucha, estupidificante e meramente comercial dos canais privados, é essencial no sistema mediático português.
Como já escrevi neste blogue, precisamos de um bom canal público generalista em sinal aberto, mas não precisamos de uma televisão tão gorda e tão cara como a que existe actualmente. Não precisamos da RTP 2, não precisamos da RTP Madeira, não precisamos da RTP Açores, não precisamos da RTPN, nem precisamos da RTP África, nem da RTP Memória. Mas, provavelmente, precisamos de uma boa RTP Internacional, como grande canal da lusofonia, que promova a cultura portuguesa, a economia, o turismo, “et cetera”. Os actuais sete canais poderiam, então, ser reduzidos a dois. 

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Pensamentos marcantes. António Nogueira Leite


“Tinha uma ilusão, mas não se pode ser técnico num Governo. Isso não existe. Uma pessoa quando está num Governo tem funções políticas.”
António Nogueira Leite, economista e conselheiro nacional do PSD, sobre a sua passagem pelo Governo de António Guterres, como secretário de Estado do Tesouro, entre 1999 e 2002, “Diário de Notícias”, 26-06-2011

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Os blogues estão bem e recomendam-se


No primeiro “post” deste blogue Comunicação Integrada, escrevi que os meios de comunicação complementam-se. A rádio não matou o jornal, assim como a televisão não matou a rádio, nem a Internet vai matar o jornal, a rádio ou a televisão. Todos os meios têm o seu lugar no sistema mediático e são complementares.
No mundo cibernético em que vivemos é um pouco diferente. Em poucos anos, programas informáticos que chegaram a ser indispensáveis acabaram na “lixeira” em muito pouco tempo, tendo sido substituídos por outros, mais eficazes e com outros atributos. Programas que estiveram na génese das redes sociais, como o Mirc (Internet Relay Chat), o Netmeeting ou o ICQ, que em finais do século XX ocupavam os pioneiros na conversação “online”, são hoje peças do museu cibercultural.
Curiosamente, quando emergiram redes sociais como o Twitter e o Facebook, com as suas capacidades extraordinárias de partilha de conhecimento e informação, houve quem decretasse o fim dos blogues. Ora, os blogues ainda não acabaram, nem deverão acabar. Antigamente, abria-se um blogue para contar como foi o dia, o que se comeu, o que se visitou, "et cetera". Essa informação individual migrou para plataformas como o Twitter ou o Facebook. E os blogues resistiram, afirmando-se agora como uma esfera pública onde os cidadãos expressam ideias e exercem a sua criatividade.
No E-livro “Para Entender as Mídias Sociais”, recentemente editado, que pode ser partilhado gratuitamente a partir daqui, Alexandre Inagaki (na foto), considerado o maior especialista brasileiro em redes sociais, zurze precisamente aqueles que, por várias vezes, já profetizaram o fim dos blogues. Ou não fosse Inagaki o autor do blogue "Pensar Enlouquece, Pense Nisso", vencedor do prémio internacional The BOBs, promovido pelo grupo alemão Deutsche Walle, na categoria Melhor Weblog em Português (2007), e considerado um dos melhores blogues da década, segundo o Portal MTV. Diz Alexandre Inagaki: “Sim, os blogues permanecem vivos, fortes e perseverando por aí: revelando novos talentos, divulgando causas e, principalmente, conectando pessoas afastadas geograficamente, mas unidas através de ideias, ideologias, idiossincrasias e amizades.” Ou seja, os meios complementam-se.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O fim dos governos civis


Com o fim dos governos civis, Pedro Passos Coelho começa a cumprir a promessa de emagrecer o Estado português. Curiosamente, o primeiro-ministro do PSD cumpre um objectivo que foi lançado na agenda política, pela primeira vez, pelo socialista António Guterres, em 1995. Na altura, Guterres pretendia criar as regiões administrativas em substituição dos governos civis. E criou as lojas do cidadão também para prestar serviços que eram prestados pelos governos civis. Acabou, afinal, por duplicar serviços, contribuindo para aumentar a despesa pública. 
O século XX terminava e Portugal vivia a euforia da Expo'98 e da adesão à moeda única europeia - desígnios dos governos de Cavaco Silva tão criticados por Paulo Portas enquanto director do semanário "O Independente". Na altura, o fim dos governos civis proposto por Guterres encontrava, porém, resistências nas clientelas partidárias. A regionalização acabou por ser chumbada num referendo realizado para o efeito. E os governadores civis continuaram a ser nomeados até ao último Governo do socialista José Sócrates.
Agora, com Paulo Portas ao seu lado no Governo, Pedro Passos Coelho, motivado pela crise e pela necessidade de cortar na despesa pública, imposta pelo FMI, resolve acabar com as inúteis delegações do Terreiro do Paço espalhadas pelo País. Uma medida fortemente simbólica. O Estado poderá continuar gordo como está, que o fim dos governos civis será sempre uma bandeira governamental de Passos Coelho na luta pelo emagrecimento da despesa pública.

O poder de Pinto da Costa


Quando ouvi que Vítor Pereira seria o próximo treinador do FC Porto, por momentos, até pensei que estariam mesmo a falar do presidente da Comissão de Arbitragem da Liga. Afinal, no futebol português, como diria um antigo árbitro, não faltam porcos a andar de bicicleta... Entretanto, no Sporting Clube de Portugal, chegou a temer-se o desvio de Domingos Paciência para o clube do seu coração, o que levou os responsáveis leoninos a invocar a “boa-fé” do treinador, que, realce-se, tem um contrato assinado sem cláusula de rescisão. Afinal, Pinto da Costa substitui André Villas-Boas contratando o adjunto de Villas-Boas, que ninguém conhecia. E ainda o protege com uma cláusula de 18 milhões. 
Sou sportinguista, mas não tenho pejo em reconhecer que, em Portugal, só um dirigente sábio como Jorge Nuno Pinto da Costa poderia substituir um treinador de topo por um desconhecido sem preocupar sócios, accionistas e adeptos. Um exercício notável de gestão desportiva, de poder e de liderança.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Machado de Assis. Simples e extraordinário


Em 21 de Junho de 1839, faz hoje 172 anos, nascia, no Rio de Janeiro, o cidadão Joaquim Maria Machado de Assis. Contemporâneo do português Camilo Castelo Branco, viveu até 1908. E ficou na história como o maior escritor brasileiro de todos os tempos. Como grande homem das letras, Machado de Assis escreveu coisas simples e extraordinárias. Como esta: "Não há decepções possíveis para um viajante, que apenas vê de passagem o lado belo da natureza humana e não ganha tempo de conhecer-lhe o lado feio." Ou esta: "Está morto: podemos elogiá-lo à vontade."

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Um retrato dos cinco diários generalistas portugueses

CORREIO DA MANHÃ (www.cmjornal.pt)  – Tendo como fundador e primeiro director o jornalista Vítor Direito, o CM iniciou a sua publicação em 19 de Março de 1979, direccionado para um público popular e residente no sul do País. Hoje é propriedade do grupo Cofina. Dando grande destaque aos assuntos de sociedade, em particular ao noticiário oriundo das polícias e tribunais, o CM aposta em textos curtos e focalizados no essencial, sendo um jornal de leitura fácil e rápida. Desde sempre, o CM tem sido um sucesso de vendas, o que se confirma para vida efémera de alguns títulos que tentaram, sem êxito, ocupar o seu espaço: “Manhã Popular”, um diário que durou poucos meses, em finais da década de 1990, e “24 Horas”, que encerrou em 2010. Dirigido pelo jornalista Octávio Ribeiro desde 2007, o CM é hoje o jornal mais lido de Portugal, com uma tiragem média diária de 126 mil exemplares, segundo dados da Associação Portuguesa de Controlo de Tiragens (APCT) relativos a 2010.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS (www.dn.pt) – Fundado em 1864, é o jornal diário de circulação nacional mais antigo de Portugal. Quando foi lançado, seguiu como estratégia de implementação e consolidação a prática de um jornalismo moderno e informativo. Foi o primeiro jornal português a introduzir dois novos géneros jornalísticos: o editorial e a grande reportagem. Em finais do século XIX contou com os escritores Ramalho Ortigão, Eça de Queirós e Pinheiro Chagas entre o grupo de colaboradores. Após a instauração da República (1910) e a época tumultuosa que se seguiu, o DN passou a ser uma sociedade anónima, que seria convertida na Empresa Nacional de Publicidade, em 1928, controlada pela Companhia Industrial de Portugal e pela Caixa Geral de Depósitos. A década de 1940 ficou marcada pela inauguração de novas instalações, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, onde se encontra actualmente. Na sua longa história, o DN foi testemunha de grandes mudanças verificadas na vida política em Portugal, designadamente a queda da Monarquia, a implantação da República, o golpe militar de 1926 e a instauração do Estado Novo, o 25 de Abril de 1974, a transição democrática, a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia e à Moeda Única. Ao longo de todo este tempo que conheceu já três séculos diferentes, o jornal seguiu políticas editoriais e gestões muito diversificadas e conheceu vários proprietários, incluindo empresas públicas e privadas. Actualmente, pertence à Global Notícias, uma empresa do Grupo Controlinveste Media, de Joaquim Oliveira, sendo o seu director o jornalista João Marcelino. Em 2010, o jornal registou uma tiragem média diária de 30 mil exemplares.


I (www.ionline.pt) – Um “i” minúsculo é o título do mais novo jornal diário generalista da imprensa portuguesa,  cujo primeiro número foi lançado em 7 de Maio de 2009. Foi o primeiro jornal diário português de âmbito nacional do século XXI e surgido numa época de crise económica. Tem uma periodicidade diária, de segunda-feira a sábado (não se publicando ao domingo, o que é uma inovação entre os diários nacionais). O “i” tem um formato mais pequeno do que os jornais convencionais, é totalmente a cores e é agrafado. Foi distinguido com os prémios "Melhor Jornal Europeu" de 2009, atribuído pela European Newspaper Award, e "Jornal mais bem desenhado da Península Ibérica" de 2009, atribuído pela Society for News Design, concurso onde ganhou um total de 31 prémios. O jornal britânico “The Guardian” considerou o jornal “i” um dos jornais mais inovadores do mundo. Em Fevereiro de 2011, o jornal “i” venceu o prémio máximo da Society for News Design (SND). O júri, formado por cinco profissionais da comunicação da Alemanha, dos Estados Unidos da América (EUA), da Rússia e do Canadá destacou o carácter inovador do projecto e considerou que o matutino lançado em 2009 pelo Grupo Lena tem o “melhor design do mundo”. O jornal tem sede no Taguspark – Parque de Ciência e Tecnologia, em Oeiras, e pertence à Lena Comunicação, do Grupo Lena, que detém uma dezena de outros títulos regionais, um canal de TV na internet e duas rádios locais. A redacção é composta por 74 jornalistas que asseguram as edições impressa e “online” do jornal. O primeiro director foi Martim Avillez Figueiredo, que se manteve em funções até Abril de 2010, altura em que foi substituído no cargo pelo jornalista Manuel Queiroz. O “i” fechou 2010 com uma média diária de 10 mil exemplares vendidos.


JORNAL DE NOTÍCIAS (www.jn.pt)  – Fundado em 1888, no Porto, o JN é um dos maiores jornais diários portugueses, disputando a liderança do mercado, nos últimos anos, com o “Correio da Manhã”. Em finais do século XX, o JN chegou a ser o jornal diário mais vendido em Portugal, dominando o mercado dos diários de informação geral no Norte e Centro do País, com tiragens diárias acima dos 100 mil exemplares, sendo conhecido pela sua aposta numa informação regional diversificada e de proximidade. Actualmente é o segundo jornal diário mais lido. Tal como o “Diário de Notícias”, o JN pertence ao Grupo Controlinveste Media, tendo como director o jornalista Manuel Tavares, que acaba de assumir funções. O JN tem por objectivo estratégico travar a queda nas vendas e regressar à liderança entre os jornais diários portugueses, apostando na informação regional de proximidade como elemento distintivo, como aconteceu no passado. Em 2010, registou uma tiragem média diária de 85 mil exemplares.


PÚBLICO (www.publico.pt) – Fundado em 5 de Março de 1990, o “Público” foi o primeiro jornal diário português de qualidade internacional, tendo sido responsável pela mudança de conteúdos que atravessou a grande maioria dos jornais portugueses (e outros meios de comunicação...)nos anos da década de 1990. Pertencente ao grupo empresarial Sonae, liderado por Belmiro de Azevedo, o “Público” teve como primeiro director o jornalista Vicente Jorge Silva, que tinha feito escola no semanário “Expresso”, tendo lançado no “Público” um jornalismo reflexivo e crítico da actualidade, que ainda hoje constitui uma referência, pela qualidade dos textos e pelo rigor da escrita. O “Público” acompanhou a modernização tecnológica, tendo sido o primeiro jornal português impresso a cores e com edições simultâneas em Lisboa e Porto, chegando, assim, todas as manhãs, ao mercado de todo o País. Com uma equipa de jornalistas de grande qualidade, o “Público” apresentou-se muito forte na informação internacional, cultural e política, mas também apostou numa informação regional de qualidade, com a edição de dois cadernos (Local Porto e Local Lisboa), e numa informação económica e desportiva muito rigorosa. Durante algum tempo, a empresa gestora do “Público” teve participações no seu capital social de empresas de comunicação estrangeiras, nomeadamente as detentoras dos diários “El País” e “La Repubblica” (Itália). Hoje, o “Público” integra a sub-holding da Sonae para as áreas da comunicação, a Sonaecom. Em 1995, o “Público” foi o primeiro jornal português a lançar uma edição digital na Internet. Tendo Bárbara Reis como directora, o “Público” é o único jornal diário português dirigido por uma mulher. Em 2010, registou uma tiragem média diária de 34 mil exemplares. 

Nuno Crato e a reforma da Educação


O novo ministro da Educação, Nuno Crato, defende o óbvio: um ensino mais exigente, com exames nacionais no final de cada ciclo de ensino. Algo que deve soar estranho aos novos magistrados formados no Centro de Estudos Judiciários, de onde saem os homens e as mulheres que fazem a Justiça que temos. Nuno Crato tem razão e deveria ter força política e meios para concretizar as suas ideias. Porque a aventura do conhecimento é a grande chave da liberdade e do desenvolvimento.
O problema de Portugal é governar ao sabor dos ministros. A Educação não pode continuar assim tão dependente da política, do ministro que sai e do ministro que entra. E uma reforma, até ser implementada como deve ser, pode demorar uma década ou mais. Porque há estudos de diagnóstico, há uma fase de testes, há uma fase de correcções, e, finalmente, o momento da aplicação no terreno.
Com reformas avulsas por cada ministro que toma posse, a Educação portuguesa  transformou-se no caos que se vê. Oxalá Nuno Crato tenha sucesso. Ah! E, ao acabar com o facilitismo, que reponha Camilo Castelo Branco e outros clássicos nos planos curriculares do ensino secundário. Talvez assim, no futuro, as crianças de hoje consigam ler e escrever bem com facilidade...

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Destruição e morte. Uma fotografia de Gleb Garanich


“A Era da Fotografia é também a das revoluções, das contestações, dos atentados, das explosões, em suma, das impaciências, de tudo o que denega o amadurecimento”, diz Roland Barthes, no livro “A Câmara Clara”. Esta fotografia a quatro cores apresenta um cenário de dor, destruição e morte que, no primeiro olhar, nos remete para um teatro de guerra. De facto, vemos um homem abraçando, na zona da cabeça, outro homem que está estendido no chão, aparentemente morto, momentos após um bombardeamento russo, em Gori, na Geórgia, no dia 9 de Agosto de 2008. Os dois homens são irmãos. A fotografia é da autoria do fotojornalista Gleb Garanich, da agência Reuters.

Esta imagem cumpre uma função informativa, pois fornece-nos informações concretas sobre um acontecimento real, testemunhando  essa realidade. Em primeiro plano, aparecem dois homens, o que significa ter sido intenção do fotógrafo mostrar o contexto de dor, destruição, perda e sofrimento que passam as pessoas que vivem em ambientes de guerra. Além disso, a imagem retrata apenas civis, o que reforça a mensagem de que as guerras mobilizam e envolvem para além dos Estados e das forças militares. Há a participação, na maioria das vezes involuntária, de civis que, indefesos, são transformados em reféns de campos de batalha. 

A dimensão dos corpos estende-se por toda a largura da imagem, ocupando sobretudo a parte inferior da fotografia, vendo-se ao fundo o cenário de destruição numa área edificada, a arder depois de um bombardeamento, que ocupa a parte superior direita da imagem.

Todas as imagens instigam outras imagens mentais. Aliás, uma das funções da imagem é desencadear imagens mentais. As imagens activam a capacidade imaginativa do espectador. As imagens são um território orientado para onde o autor nos quer orientar ou um território disponível para a prospecção de novas imagens. O instante captado por Gleb Garanich mostra a sua preocupação em evidenciar a cena de sofrimento e dor que aquelas pessoas estavam a viver.

A expressão de dor, desolação, impotência e desespero, o sangue (na mão direita de um dos homens e nas suas calças) e os destroços conduzem a nossa mente não apenas para o sofrimento daquele homem que lamentava a morte de outro, mas também para todas as pessoas igualmente afectadas por aquele bombardeamento específico ou por outras situações de destruição e morte provocadas pela guerra na Geórgia.

Outro aspecto a observar é o facto de não existirem mais pessoas dentro do enquadramento. Estamos perante uma fotografia em que o que está dentro do enquadramento é tão importante como aquilo que está fora. O que se vê é moldado por aquilo que não se vê. Ou seja, tendo em conta o fogo e fumo visíveis no edifício habitacional que acabou de ser bombardeado é de admitir que haja outras pessoas em sofrimento que ficaram fora de campo. Isto significa que as imagens não se limitam ao visível, pois têm a ver com o visível, com o intuído e com o invisível. O que fica fora de campo é tão activo como o que é visível.

Ao fotografarmos com a máquina de "cima para baixo" (plano picado) ou de "baixo para cima" (plano contrapicado) temos que nos preocupar com a impressão subjectiva causada por esta visão. Num plano picado, a máquina tende a diminuir o sujeito em relação ao espectador, podendo significar derrota, opressão, submissão ou fraqueza do sujeito; enquanto que o plano contrapicado pode destacar a sua grandeza, a sua força, o seu domínio.

No caso desta fotografia, a câmara situa-se num plano ligeiramente contrapicado em relação ao sujeito da imagem – o homem que está virado para nós, sentado no chão, segurando o pescoço do outro homem –, o que resultou num aumento do volume de imagem ocupado pelos dois homens, que é mesmo superior ao espaço ocupado pelo edifício residencial que aparece no canto superior direito.

Em fotografia, a regra dos três terços consiste em dividir mentalmente a imagem em três partes, na horizontal e na vertical. Esta divisão mental deve ser feita pelo fotógrafo ao olhar pelo visor da câmara. As melhores fotografias são aquelas cujo assunto principal está num dos quatro pontos de intersecção. Porque as intersecções das linhas são os pontos mais interessantes numa fotografia. Nesta perspectiva, a imagem de Gleb Garanich é tecnicamente perfeita. A intersecção superior esquerda aponta-nos a zona mais forte da imagem: o esgar de dor do homem que perde o irmão. As duas intersecções inferiores estão sobre o corpo da vítima mortal, que se encontra deitado. Finalmente, a intersecção superior direita está localizada sobre o edifício residencial alvo do bombardeamento, onde o fogo deflagra. O edifício residencial, que domina o horizonte, é atravessado pela linha horizontal que liga as intersecções superiores, o que permite dar ênfase aos dois homens que aparecem no grande plano.

Numa fotografia, a aplicação da regra do centro da imagem permite colocar o assunto principal no meio do enquadramento. Não é o caso desta imagem, em que o centro coincide com uma zona sem qualquer elemento importante na leitura da imagem (embora próximo da expressão de dor de um dos homens), sendo, curiosamente, um espaço algures a meio entre os dois pontos mais importantes da fotografia.
Há duas grandes linhas de força na imagem. Uma das linhas, aliás, a mais forte, define o alinhamento entre o homem que acaba de perder o irmão e o edifício em chamas onde poderão estar outros mortos. Uma segunda linha – que vai afunilando à medida que se afasta de nós, e que pode ir afunilando até ao fim, até à morte, que está fora de campo –, é a linha que delimita o corpo do homem que está estendido no chão.

[FOTOGRAFIA: Gleb Garanich, Agência Reuters, 9 de Agosto de 2008]

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A competência não tem cartão

O chefe de gabinete do novo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, será o diplomata Francisco Ribeiro de Menezes, o mesmo que foi chefe de gabinete de Luís Amado, ministro socialista dos Negócios Estrangeiros cessante, e adjunto de Jaime Gama, ministro no Governo de António Guterres. O líder do novo Governo PSD-CDS dá o bom exemplo, ao preferir as competências como critério de escolha dos seus colaboradores, em vez do proverbial cartão partidário. Um sinal para os novos ministros e secretários de Estado.

domingo, 12 de junho de 2011

A senhora directora do “New York Times”


É notícia por dois motivos: porque se trata da nomeação do novo director de um dos jornais mais importantes do mundo e porque é uma escolha inédita. Pela primeira vez, em 160 anos de história no jornalismo mundial, o jornal norte-americano “The New York Times” vai ser dirigido por uma mulher. Nomeada por mérito e não por ser mulher.
A jornalista Jill Abramson, de 57 anos, substitui Bill Keller, que desempenhava o cargo há oito anos. Arthur Sulzberger Jr, presidente da empresa, considera que Jill Abramson é “sem dúvida, a melhor pessoa para substituir Keller como directora” e uma “escolha perfeita” para liderar a nova fase do jornal, dedicada a um “jornalismo de excelência”. A recém-nomeada, nascida e criada em Nova Iorque, que tem um lugar garantido na história do jornalismo, compara a nomeação a “uma chegada ao paraíso” e conta que, em sua casa, “The New York Times” substituía a religião. “Se o 'NYT' o dizia, era absolutamente verdade”, acrescenta. Sobre o facto de ser a primeira mulher a ocupar o cargo de directora, Abramson declara ser “significativo” para si. E diz ainda que “não poderia ficar mais orgulhosa” pelo facto de suceder a alguém como Bill Keller. "Sei que não fui nomeada para este trabalho por ser mulher, mas porque sou a pessoa mais qualificada para o desenvolver", declarou a nova directora do "New York Times", citada por "El País", numa reportagem encontrada na rede pelo Rui Calafate.

Notícias violentas em tempo de Santo António

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Em Quarteira, no Algarve, um jovem, que era ameaçado por um grupo rival, dispara contra um polícia e é alvo de um cerco policial. Entrega-se às autoridades e é detido. Na Trafaria, concelho de Almada, num bairro problemático, um homem desata aos tiros e atinge três pessoas. Em Queluz, três homens armados e encapuzados entram num café e sequestram 6 pessoas. Querem dinheiro em troca. Em Vila Real, três homens são detidos por suspeita de integrarem uma rede de crime organizado especialista na clonagem de cartões de crédito.
Não, estes acontecimentos não foram mostrados pelos repórteres dos programas de jornalismo policial “Cidade Alerta” ou “Barra Pesada”, das televisões brasileiras. Os casos relatados foram notícia num canal de televisão de referência e português, a SIC Notícias, não no último mês, não na última semana, não no último dia, mas sim no serviço de notícias das 14h00 deste domingo de Junho, véspera de Santo António. E as quatro notícias foram mesmo as primeiras de um serviço informativo de síntese. Só depois apareceu a magna questão da sucessão na liderança do PS.
Naturalmente, não estaremos perante uma nova ordem informativa imposta pelo “agenda setting”, agora que os portugueses escolheram um Governo de maioria centro-direita, formado pelo PSD e pelo CDS. Mas estamos, certamente, num país cheio de problemas sociais, em que se cruzam questões económicas e raciais. E as medidas de enorme austeridade impostas pelo FMI ainda nem sequer entraram em vigor.

sábado, 11 de junho de 2011

JN regressa ao modelo de edição única


Na sexta-feira, tinha escrito neste blogue que o "Jornal de Notícias" (JN) acordava para a realidade. Escrevi isso na sequência do anúncio de uma mudança estratégica da nova direcção do matutino portuense da Controlinveste, traduzida no regresso a um jornal com forte vocação regional. Ao mesmo tempo, escrevi que o JN deveria acabar com as suas edições diferenciadas. Neste sábado, ao abrir a edição em papel do "Diário de Notícias", lá estava a novidade: a partir de 1 de Julho, o JN acaba com as edições diferenciadas para o Norte, Interior e Sul, aparecendo nas bancas com uma edição única para todo o País. Um novo grafismo será outra das mudanças. O objectivo do novo director do JN, Manuel Tavares, é recuperar o primeiro lugar de vendas no segmento dos diários generalistas.

Lisboa não sabe o País que tem


No Portugal de Oliveira Salazar, que dominou o nosso século XX, trabalhar no campo ou nas obras era um castigo para os rapazes pobres ou mal comportados que não cabiam na escola. A elite estudava e chegava à universidade. Os bem comportados e remediados, se fossem à missa, ainda poderiam seguir “os estudos” no seminário e, regra geral, safavam-se. As raparigas iam para costureiras ou ficavam nas limpezas domésticas. Os outros iam para as fábricas, emigravam para o estrangeiro ou migravam para Lisboa.
Foi este caldo de cultura que nas últimas décadas afastou os portugueses dos campos e do trabalho duro, fazendo-os procurar as cidades do litoral. Porque a ideia de estudar não visava saber mais, mas apenas fugir ao trabalho pesado. E só os “burros” ou mesmo incapazes ficavam nos campos ou iam para as obras.
Por isso, repovoar, com sucesso, o mundo rural, como defendeu, e bem, o Presidente da República, Cavaco Silva, na sua comunicação política alusiva ao Dia de Portugal, implica um envolvimento social e cultural muito mais amplo. Implica uma valorização do mundo rural e da agricultura como esteios ambientais e económicos do País. Implica que os portugueses regressem no campo porque gostam realmente do campo e têm ideias de produção ou um modelo de negócio.
Duvido que isso seja possível, quando temos um sistema mediático que raramente sai de Lisboa a não ser quando o Presidente da República vai a Castelo Branco e que está mais interessado nas novidades do PSI 20 do que nos problemas dos produtores de azeite ou dos pescadores. A forma ligeira e desfocada como a mensagem de Cavaco Silva foi tratada pelos "media” demonstra isso mesmo. Repare-se, por exemplo, que não houve um único especialista em agricultura a ir às televisões comentar o discurso do Presidente. Aliás, as televisões nem têm especialistas em agricultura, tendo, no entanto, especialistas em outras áreas, nomeadamente na área financeira.
O mesmo sucedeu na imprensa. O diário “Público”, por exemplo, ignorou mesmo a mensagem agrícola do Presidente, tratando-a com desdém: “Um pouco mais de terra”... E, no editorial, até escreve que a prosa de Cavaco foi um “não-discurso”.
Isto significa que Lisboa não sabe o País que tem, desconhecendo as suas qualidades específicas e as oportunidades que essas qualidades podem gerar. E que só se interessa por ele quando quer sossego, boa comida, bom vinho e muita qualidade de vida. Se esta mentalidade não mudar, se Lisboa continuar a ignorar a paisagem, Portugal não vai conseguir encontrar o seu futuro..

sexta-feira, 10 de junho de 2011

JN acorda para a realidade


O novo director do Jornal de Notícias (JN), Manuel Tavares, quer reforçar a componente regional do diário portuense e competir com o “Correio da Manhã” sem entrar numa vertente sensacionalista. É uma decisão estratégica que se saúda, pois mostra, antes de mais, que a nova direcção do matutino sabe, pelo menos, que está no Norte.
Nesse quadro, vai acabar, dentro de algumas semanas, o suplemento "JN Cidades", um falhanço editorial e comercial que se adivinhava, dado o modelo de distribuição. Esperemos também que acabem as edições diferenciadas para o Porto, para o Interior e para o Sul, as quais só servem para deixar o país real ainda mais longe dos centros de decisão.
No fundo, podemos dizer que o JN está a acordar para a realidade. Antes que seja demasiado tarde. Nos últimos anos tem perdido mercado, mantendo, ainda assim, uma tiragem média de 85 mil exemplares, segundo dados da Marktest.
A questão é saber como será possível fazer um bom jornal para o Norte com alguns centros de decisão já transferidos para Lisboa, nomeadamente ao nível da informação económica, em vias de ser concentrada no projecto "Dinheiro Vivo", retirando autonomia à redacção nortenha e identidade ao produto jornalístico.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Como emagrecer o Estado


Pedro Santana Lopes incentivou o novo Governo PSD-CDS, liderado por Pedro Passos Coelho, a não nomear novos governadores civis para abrir caminho à extinção do cargo como forma de emagrecer o Estado português. De acordo. Mas é preciso ir mais além, sob pena de ficarmos pela espuma do emagrecimento estatal sem efeitos práticos.
Os governos civis, que, segundo o Orçamento de Estado de 2011, custam 27,5 milhões de euros, são extensões do governo de Lisboa nos 18 distritos do Continente. A sua única missão visível junto das populações tem a ver com a coordenação dos serviços de protecção civil. Uma coordenação perfeitamente dispensável, pois pode ser garantida pelas autarquias ou por governos regionais. Outra missão, a distribuição de subsídios a instituições de diversa natureza, muitas vezes com fins meramente político-eleitorais. Igualmente dispensável. Assim como dispensável é a emissão de passaportes ou a tutela da segurança pública, quando a PSP e a GNR têm direcções e comandos nacionais e distritais. Outra missão dos govermos civis, esta mais bizarra: dar emprego a desempregados políticos. Exemplo: o Governador Civil de Aveiro, que foi escolhido por José Sócrates para o cargo depois de perder a Câmara de Espinho, a que costumava presidir passando longas temporadas no Brasil a acompanhar os idosos do concelho a quem pagava viagens de avião para o Rio de Janeiro…
Portugal é um País pequeno e não precisa de 18 delegações do Governo nos distritos, mais a mais agora, no tempo da comunicação digital. Mas acaba por não ser bom sinal a ideia de criar um organismo governamental para vigiar as contas públicas. Afinal, como lembra José Pacheco Pereira, para que serve o Tribunal de Contas?...
Por outro lado, há muito mais Estado para emagrecer para além da extinção dos governos civis. Praticamente todos os ministérios têm delegações no Norte, no Centro e no Sul. Ambiente, Cultura, Educação, Saúde, Ordenamento do Território, Agricultura, Turismo, etecetera. Pois bem, acabe-se com todas essas estruturas, reduzindo os serviços ao mínimo indispensável. E promova-se a regionalização, para criar governos regionais legitimados politicamente. E que os partidos políticos invistam nessa bandeira. Já é tempo de se fazer uma reestruturação séria da administração pública portuguesa. Repito: Portugal é um País muito pequeno para tantos braços da administração central.
Temos aí um governo de maioria, estamos numa situação de emergência nacional e os portugueses estão preparados para o pior. Neste caso, estamos a falar de mudanças para melhor, em nome do emagrecimento do Estado e da promoção da eficácia dos organismos públicos. Haja coragem política e distância dos lóbis partidários. A oportunidade é esta.

domingo, 5 de junho de 2011

Passos Coelho vence. Sondagens falham


As eleições legislativas resultaram numa grande vitória do PSD e de Pedro Passos Coelho, que pode chegar sozinho à maioria absoluta. No PSD, só Cavaco Silva tinha obtido vitórias eleitorais mais expressivas. Três décadas depois, o centro-direita cumpre o sonho de Francisco Sá Carneiro: um Governo, uma maioria e um Presidente.
Estas eleições significaram também uma grande derrota das empresas de sondagens, que apontavam para uma eleição disputada taco a taco por PSD e PS.
José Sócrates parece morto politicamente: deixou o País falido e fez o PS recuar 20 anos, quando Jorge Sampaio, então derrotado por Cavaco Silva, também deixou o partido abaixo dos 30 por cento.
Tal como o PS, também do CDS de Paulo Portas terá menos votos nas urnas do que nas sondagens feitas ao longo da campanha, ficando o seu peso eleitoral longe de "incomodar" Pedro Passos Coelho numa provável coligação governamental.
O PCP vai resistindo. E o Bloco de Esquerda está esgotado como projecto político de protesto.
Esta a minha leitura rápida sobre esta mudança política em Portugal. Mas o novo primeiro-ministro não tem tempo para festas. O que é preciso é cumprir rapidamente o programa de austeridade imposto pelo FMI.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A audiência, segundo Todd Gitlin


“A ‘audiência’ é uma ficção respeitada: é a palavra de ordem das indústrias culturais. É o prémio, o farol, a meta incontestada. Numa sociedade quantificada, também ela é quantificada, e não apenas nas contas feitas pelas indústrias; manifesta-se todas as semanas nas listas dos livros mais vendidos, nas receitas de bilheteira, nos ‘ratings’ de televisão e outros, que surgem publicados nos jornais como um dado concreto, para demonstrar que a teologia cultural tem uma base científica. As medições de audiência, quando contabilizadas para fins comerciais, acrescentam uma mais-valia à mercadoria que as estações vendem à publicidade.”

Todd Gitlin, professor de Jornalismo, Cultura e Sociologia na Universidade de Nova York, no livro “Televisão: Das Audiências aos Públicos”, colectânea organizada por Daniel Dayan e José Carlos Abrantes

Dois vídeos, duas visões


Agora que há uma epidemia de vídeos, de fuzileiros a amas, deixem-me relembrar duas histórias recentes de vídeos. Primeiro: duas raparigas agridem outra, um rapaz assiste, filma e oferece o filme ao público. Segundo vídeo: desata um tiroteio no exterior de um jardim-escola mexicano e uma professora, na sala de aula, faz as suas crianças deitarem-se no solo, enquanto as tranquiliza com canções e frases carinhosas e firmes. Há um ponto comum nos dois vídeos: ambos quiseram testemunhar alguma coisa, por isso foram filmados. O rapaz filmou apostando no prazer de vermos a violência, com o acrescento (com que ele contava, e acertou) de curiosidade por sabermos que alguém filma calmamente aquela violência. A professora filmou porque o que lhe sucedia e aos seus, se acabasse mal, não devia ser apagado. O filme do rapaz faz-nos cúmplices. O filme da professora faz-nos depositários. O filme do rapaz é a história da pulhice. O filme da professora é da ressurreição. Agora, façamos contas. Que vídeo mais vimos, de qual mais os jornais procuraram sequelas para fazer render o peixe? Não, não me digam que não se pode comparar o vídeo português com o vídeo mexicano por causa do critério da proximidade. Porque o critério da proximidade entre gente decente deveria, então, privilegiar o vídeo da professora. Se calhar, a razão do sucesso do vídeo do rapaz é não sermos tão decentes quanto pensamos.


quinta-feira, 2 de junho de 2011

Consumo e fé. Igreja Católica converte-se à Internet


O arcebispo-primaz de Braga, D. Jorge Ortiga, diz que a Igreja não deve “ter medo do novo mundo” da comunicação digital na Internet. Dito assim, o mais certo é que padres, freiras, leigos e crentes ainda tenham muito medo de se cruzarem com o demónio entre milhões e milhões de bytes da rede que nos liga ao mundo.
A propósito do Dia Mundial das Comunicações Sociais, que o Vaticano assinala domingo, 5 de Junho, D. Jorge Ortiga defende que os católicos devem “aproveitar as novas plataformas de comunicação”, insistindo que “é necessária uma presença activa e responsável dos cristãos na era digital”, advertindo, porém, ser “preciso estar alerta para que esta comunicação não substitua a comunicação interpessoal”. Partindo da mensagem do Papa Bento XVIpara o 45º Dia Mundial das Comunicações Sociais, o prelado bracarense considera que os meios de comunicação digital permitem “chegar mais perto dos fiéis”.
Este interesse da Igreja nas novas tecnologias de informação diz-nos outra coisa: diz-nos que os fiéis de uma religião são entendidos como os consumidores de um produto. Antigamente, o marketing começou por ser centrado no produto. Os fabricantes produziam um automóvel sem atender às preferências do consumidor. Não havia concorrência. Com a religião acontecia o mesmo: as igrejas eram construídas no centro das localidades e os crentes iam lá.
Ora, tudo isto mudou. A concorrência é enorme. Hoje, os fabricantes de automóveis têm de produzir um automóvel ao gosto do cliente. O último modelo da Fiat, por exemplo, oferece 500 soluções de acabamentos diferentes. Ao gosto do cliente, claro, para que o cliente não procure outra marca de automóvel.

Com a religião, a lógica parece ser a mesma. Se fizermos uma observação atenta, podemos concluir que a Igreja Católica, ao anunciar a sua conversão ao maravilhoso mundo da Internet, para estar mais perto dos fiéis, está a dizer-nos que quer estar onde estão as pessoas, indo ao encontro delas, como meio eficaz de conhecê-las e entendê-las. Tal como as marcas, a Igreja fundada por Jesus Cristo procura estar onde estão as pessoas. É um mundo completamente diferente, é um mundo novo, é um mundo que dá muito trabalho, seja às marcas ou às organizações que trabalham para o público.