sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Duda Guennes (1937-2011)


O jornalista Duda Guennes, que assinava nas páginas do diário desportivo “A Bola”, desde 1980, a coluna “Meu Brasil Brasileiro”, morreu nesta sexta-feira, em Lisboa, vítima de doença prolongada. Tinha 74 anos. Eduardo Guennes Tavares de Lima nasceu no dia 21 de Julho de 1937, no Recife, estado de Pernambuco, no Brasil. Lembrado como “um fantástico contador de histórias pelos amigos, de quem era fiel”, segundo relata “A Bola” na sua edição digital, Guennes chegou a Portugal em Setembro de 1974.
No Brasil, trabalhou na rede “Globo”, fez parte do “Pasquim” e foi correspondente em Lisboa. A última das suas crónicas em “A Bola”, que um dia compilou em livro, foi publicada no passado dia 26. “Caderno de encargos”, assim a intitulou. Debruçava-se sobre as promessas feitas pelo Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos de 2016.
Duda colaborava também no “Jornal do Commercio”, de Pernambuco. Ao longo da sua vida escreveu para diversas publicações, foi crítico de teatro e até chegou a comentar o Carnaval do Rio de Janeiro. Traduziu revistas de Walt Disney e transcrevia do português brasileiro para o português de Portugal. Actualmente, dedicava-se a escrever um livro sobre a morte. FOTO: "A Bola"

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Comunicação. Passos não controla como Sócrates


“Não tem sido um governo forte em comunicação, mas também não se esperava que fosse. Pedro Passos Coelho não liga muito a estas coisas, tem um rumo e segue-o. A comunicação nunca foi sua prioridade como o seu caminho o demonstra. A principal diferença é que no tempo de José Sócrates sabíamos quem coordenava a comunicação claramente, tudo emanava do gabinete do primeiro-ministro, hoje em dia é mais difuso, também pelas vicissitudes da coligação, mas certo é que não é do gabinete do primeiro-ministro que se controla os canais comunicacionais.”

“Nuno Crato tem estado bem, Vítor Gaspar tem um estilo próprio de rigor, porém tem de falar mais ao coração das pessoas, e, como esperava, o CDS a trabalhar bem, nomeadamente Assunção Cristas, que tem sido um produto de comunicação.”

“O primeiro-ministro tem uma relação simpática com os jornalistas e os jornalistas respeitam-no. (…) Tem o seu caminho e manter-se-á fiel a ele. Pedro Passos Coelho não se deixa condicionar por questões comunicacionais. (…) A única coisa que aconselharia era a presença da palavra ‘esperança’ no seu léxico. Os sacrifícios que todos fazemos devem ter esse azimute. É preciso que os portugueses saibam as dificuldades mas que tenham um horizonte de esperança.”

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A comunicação do Governo, segundo Alda Telles


“(…) As declarações dos ministros parecem mais preparadas e controladas. Não sei se existe a falada ‘central de comunicação’ do Governo, como se falava no anterior executivo, mas o ministro [Miguel] Relvas lidera claramente uma equipa de especialistas em comunicação, designadamente assessores e consultores com experiência política e, facto interessante, de diferentes quadrantes políticos.”

“Naturalmente, os ministros que vêm da política e do Parlamento têm maior preparação e eficácia na comunicação mediática, sobretudo em termos do terrível e impiedoso meio que é a televisão. Cabem aqui, portanto, os ministros do CDS – Portas, Cristas e Mota Soares. Nos “não-políticos”, Nuno Crato tem boas capacidades de passar a mensagem, utiliza uma linguagem pouco hermética que consegue criar alguma empatia.”

“Os ministros das Finanças e da Economia acumulam ambos as características de serem académicos e gerirem as pastas com maior impacto e escrutínio. Têm, por isso, uma maior exposição sem terem a necessária preparação. Penso mesmo que a surpresa e algum élan positivo que Vítor Gaspar conseguiu gerar pela sua postura singular não terá garantias de continuar a funcionar…”

“O primeiro-ministro tem conseguido gerir habilmente sua comunicação individual e a sua relação com os media, ao manter um certo distanciamento da agenda mediática e delegando a maioria dos anúncios de austeridade nos seus ministros. Digamos que os ‘focal points’ da análise mediática, e até política, têm sido os membros do governo, com particular destaque para o ministro das Finanças, pelo papel crucial do seu ministério. Esta estratégia tem evitado o desgaste de imagem de Passos Coelho, que tem preferido orientar-se para a política e os media internacionais. (…) Parece-me que o primeiro-ministro tem conseguido demarcar a sua imagem da imagem do colectivo a que preside.”

“Existe uma máxima em comunicação que aconselha a que as más notícias sejam dadas de uma só vez e as boas em pequenas doses regulares. Claramente, o governo não optou por segui-la, atribuindo ao ministro das Finanças o ingrato papel de anunciar sucessivas medidas de aumentos de impostos. Contudo, esta metodologia contém uma realidade e um ponto forte. A realidade é que as medidas necessárias ainda não estão suficientemente conhecidas e apenas se pode gerir a sua expectativa (o que tem sido, neste aspecto, conseguido). O ponto forte é a consistência do discurso de austeridade que tem permitido uma boa gestão das (más) expectativas. O anúncio recente pelo ministro da “normalização” da economia a partir de 2012 foi, neste sentido, um movimento arriscado.”

“Outro ministro que terá muitas dificuldades em fazer passar a sua mensagem é o titular da Saúde. A política anunciada de “moralização” da despesa e a responsabilização dos dirigentes do sector, baseada essencialmente na divulgação de números catastrofistas para o SNS, não será suficiente para evitar o sentimento de degradação dos cuidados de saúde, que a maioria dos portugueses encara como um direito absoluto. Uma pasta muito sensível, e muito exposta a oposições políticas, resistências profissionais e protestos populares. Todas as medidas neste sector têm de ser comunicadas nas suas duas dimensões: a dimensão financeira, que o ministro domina bem, e a dimensão da responsabilidade social do Estado nesta matéria, que o discurso do ministro tem de interiorizar.”

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Um debate sobre o marketing político em Portugal







As estratégias de marketing político e de comunicação política em Portugal, com os especialistas Rui Calafate, líder da Special One Comunicação, António Cunha Vaz, presidente da Cunha Vaz & Associados, e Rita Figueiras, da Universidade Católica, em três vídeos do programa Comissão Executiva, do canal Económico TV, de 25 de Maio de 2011. Trago aqui porque o Rui Calafate deu conta da disponibilidade destes vídeos no seu blogue. O debate, embora tendo sido realizado há quatro meses, continua actual e ajuda a perceber como funciona o marketing político e a comunicação política em Portugal. Basta clicar nas imagens para ver.

sábado, 24 de setembro de 2011

O delito do "Sol"


Num exercício de serviço público notável, o “Sol” tem sido um dos poucos jornais portugueses que não têm dado descanso ao “milionário” da política portuguesa Domingos Duarte Lima, apontando-o como autor da morte de Rosalina Ribeiro, antiga companheira do industrial Tomé Feteira. E nas últimas semanas vem juntando provas consideradas irrefutáveis, sobre o crime ocorrido em Saquarema, no Estado do Rio de Janeiro, no Brasil. Falta saber se a justiça vai funcionar.
Porém, o jornal do arquitecto José António Saraiva na sua edição desta semana, para ilustrar mais uma reportagem da jornalista Felícia Cabrita, cometeu o delito de ceder ao sensacionalismo irresponsável e de mau gosto do jornalismo de sarjeta, com a publicação da fotografia de Rosalina Ribeiro, morta, tal como terá sido encontrada pelas autoridades brasileiras. Com a publicação desta imagem, mais a mais numa primeira página onde também é destacada a promoção de uma colecção da Hello Kitty para crianças, o “Sol” não acrescentou nada à informação, nem à investigação: já toda a gente sabia que a mulher foi morta a tiro num sítio ermo e que foi encontrada morta.
Diz o artigo nº 79 do Código Civil, relativo ao direito à imagem, que “o retrato de uma pessoa não pode ser exposto, reproduzido ou lançado no comércio sem o consentimento dela” e que, “depois da morte da pessoa retratada”, a autorização compete ao cônjuge sobrevivo ou a qualquer descendente, ascendente, irmão, sobrinho ou herdeiro da pessoa falecida.
É certo que a morte de Rosalina Ribeiro, por ter sido criminosa, transforma-a num caso público, mas a senhora merecia pelo menos o decoro do “Sol”. E, já agora, os leitores mereciam uma primeira página feita com bom gosto.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Jardim e a publicidade do Continente


Este cartaz, por sinal muito bem bem esgalhado, circula na Internet, nomeadamente nas redes sociais. Eis um exemplo de como uma ideia muito simples pode ter um impacto enorme. Ou de como a publicidade é tanto ou mais criativa quanto souber aproveitar os ventos que sopram. A frase "Eu conto com o Continente" já foi utilizada por consumidores da marca em campanhas publicitárias. O autor do cartaz, que não sei quem é, limitou-se a colocar Alberto João Jardim no lugar de um dos consumidores da rede de hipermercados e supermercados Continente, aproveitando o facto verdadeiro de o presidente do Governo Regional da Madeira contar, de facto, com o dinheiro do Governo de Lisboa para pagar as suas dívidas. Porém, a actual percepção pública sobre o presidente do Governo Regional da Madeira é negativa. O seu valor de mercado como veículo publicitário está em baixa. Por isso, Belmiro de Azevedo não vai aproveitar a ideia. Nesta altura, a figura provocatória de Alberto João Jardim numa campanha publicitária da rede Continente iria gerar um grande buraco comunicacional entre a marca e os consumidores...

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A Madeira está de tanga


Em 2002, Durão Barroso meteu-se no pântano deixado por António Guterres e descobriu que Portugal estava de tanga. Mas antes disso, já Alberto João Jardim exibia a sua tanga, para que todos vissem que não estava a esconder nada. Afinal, não chegou a mostrar tudo, como soubemos agora. Esta foto foi capa do extinto semanário “Tal & Qual”, numa reportagem sobre o Carnaval madeirense em 1996. Jardim deixou-se fotografar enquanto mudava de roupa para participar no desfile carnavalesco.

Quando os jornais escondem as boas notícias


Quando um cão morde um homem não é notícia. Mas quando é o homem a morder um cão já estamos perante um facto noticiável. Esta é uma regra prosaica do jornalismo que define o que é uma notícia. E os meios de comunicação portugueses cumprem à risca essa máxima.
As más notícias estão em todo o lado e a todas as horas, muitas vezes, ampliando desmesuradamente uma realidade negativa. Já as boas notícias, aquelas que nos dão contam de bons exemplos da sociedade ou que nos revelam indicadores positivos da economia, para além de serem em número escasso, não são suficientemente valorizadas, diminuindo uma realidade positiva. Com isto, a percepção negativa sobre o estado do País é sempre mais forte.
Uma notícia é destacada nas páginas do jornal segundo o espaço que ocupa, que pode ser grande ou pequeno; segundo a localização, que pode ser boa ou má, de modo a "mostrar" ou "esconder" a notícia; segundo a ilustração, que, havendo ou não, também pode ajudar a destacar ou a esconder a notícia, conforme a intenção do editor ou do jornal; segundo a chamada à primeira página, que pode existir ou não; e por aí fora.
Os factores que definem a dimensão e o impacto público de uma notícia – e, por consequência, a percepção criada pela notícia no público leitor e nos meios que irão difundir ou não essa notícia através de outros dispositivos, nomeadamente a televisão e a Internet – são muito diversos e não se esgotam no conteúdo.
A edição de hoje do “Diário Económico” é bem um exemplo de como o jornalismo pode contribuir para a má percepção que os mercados têm de Portugal e para a má percepção que os portugueses têm de si próprios. O que contribui de modo decisivo para que Portugal seja um País constantemente em crise – uma crise que é pior a cada ano que passa, não se vendo a luz ao fundo do túnel. Porque o sistema mediático, pura e simplesmente, não permite que se veja.
Exemplificando: a primeira página do “Diário Económico” desta terça-feira é dominada por notícias negativas. Eis alguns títulos: “Tribunal de Contas investiga aval de 1,6 mil milhões da Madeira”; “Governo vai agravar custas judiciais para as empresas”; “Nova Autoridade Tributária já vai cobrar impostos em Janeiro”; “Aviação: Mal-entendido faz OGMA perder contrato de manutenção da Força Aérea para a Suíça”; ou “Ascendi e Ferrovial vão receber 717 milhões para ter portagens nas SCUT”.
Quando chegamos às páginas 30 e 31 (Obs. – Clicar na imagem para ampliar), a nossa surpresa não podia ser maior. Afinal, nem só de más notícias se faz a vida económica do País e do mundo. Uma notícia muito pequena, no canto superior direito da página 30, que mal se vê, anuncia que a Louis Vuitton, uma marca internacional de luxo, vai instalar-se em Ponte de Lima “e vai criar 500 postos de trabalho”.
Na mesma página, e com continuação na página seguinte, a notícia principal anuncia que a Starbucks, outra marca internacional, de “coffee-shops”, “planeia entrada no Porto e abertura de mais lojas em Lisboa”, garantindo que “a aposta em Portugal é para crescer”, lá está, “apesar do cenário de crise económica”, como observa o jornal em destaque.
São estes critérios jornalísticos que empurram Portugal ainda mais para o fundo e contribuem para baixar a auto-estima, o optimismo e a criatividade do tecido económico. O tecido económico é formado por pessoas e as pessoas vivem de percepções, no sentido em que decidem em função daquilo que percepcionam.
Dada a situação crítica em que Portugal se encontra, está na altura de os jornais mudarem o paradigma da notícia. Não se trata de passar a esconder as más notícias. Trata-se de valorizar as boas notícias na justa medida da sua importância pública. Com tantas más notícias que são dadas todos os dias, com empresas a fechar, como se vê nas televisões, uma notícia de sentido contrário, como a de uma nova fábrica com 500 postos de trabalho da Louis Vuitton, merecia outro destaque e outro tratamento por parte dos meios de comunicação.

Rui Nabeiro, a juventude e a experiência

“A juventude traz a força, mas é o resto dos anos que traz a experiência e a atitude.”
Rui Nabeiro, 80 anos de idade, presidente da Delta Cafés, “Jornal de Negócios”, 21-09-2011

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Jogo dos dinossauros. João Jardim, 33 - Carlos César, 15


O mundo mudou e só Alberto João Jardim não tinha dado por isso. Vítor Gaspar foi o primeiro ministro das Finanças do PSD a ter a ousadia de considerar “insustentável” a governação regional da Madeira sem que fosse censurado por esse ataque ao histórico dirigente do partido. Nunca nenhum membro do Governo de Lisboa tinha ido tão longe na censura ao eterno líder de governo regional da Madeira, no poder desde 1978, há 33 anos.
Entretanto, veio a público a enormidade da dívida escondida e Alberto João Jardim caiu definitivamente em desgraça, faltando saber como reagirá o seu “povo” no dia das eleições. Em entrevista à RTP, o primeiro-ministro e líder do PSD, Pedro Passos Coelho, deu a estocada final no dinossauro madeirense, negando-lhe apoio político nas eleições regionais marcadas para o próximo dia 9 de Outubro. Passos Coelho não tinha alternativa e até foi brando nas palavras. E o País, mesmo aquele que não votou no PSD, gostou do sentido de Estado do primeiro-ministro.
Agora, Jardim tem duas opções: ou assobia para o lado, como fez até agora com a dívida madeirense, ou demite-se para não ter de festejar uma vitória de Pirro. Porque mesmo sendo o vencedor das eleições madeirenses, arrisca-se a um último mandato muito penoso.
Mais uma vez, a permanência por muito tempo no poder, mesmo que legitimada pelo voto popular, acaba mal. Pedro Passos Coelho tem aqui matéria para começar a defender a limitação dos mandatos também os chefes do Governo, a começar nele próprio e a acabar nos governos regionais, à semelhança do que já acontece com os deputados, os autarcas e o Presidente da República. Desse modo, o líder do PSD daria um bom exemplo para o País. Até porque Jardim pode estar no fim, mas ao seu lado, nos Açores, o socialista Carlos César, sem que ninguém fale disso, já é o segundo governante mais antigo do País, contando já com 15 anos de liderança do Governo…

A saúde na mão dos contabilistas


A saúde é uma área muito sensível, à qual só damos a devida atenção quando algum problema bate à nossa porta. Os políticos até costumam dizer que com a saúde não se brinca, mas a necessidade imperiosa de o Governo cortar na despesa pública está a significar, literalmente, colocar a saúde dos portugueses que recorrem ao serviço público nas mãos dos contabilistas. É perigoso e assustador.
Sujeitar a prescrição de exames de imagem, tais como a TAC ou a ressonância magnética, ao arbítrio economicista de quem só sabe fazer contas e relatórios significa menos saúde e mais gente a morrer por falta de cuidados. Salvam-se os ricos que podem pagar os exames. Ou os privilegiados do sistema "que têm conhecimentos" no hospital ou no centro de saúde. O que é próprio dos países do chamado terceiro mundo.
A diferença entre fazer ou não fazer um exame de imagem é a diferença entre descobrir ou não descobrir um cancro ou outra doença grave a tempo de ser curada. Um médico prescreve um exame de imagem porque ainda não consegue ver o interior do corpo humano de outra forma. Um exame de imagem faz-se quando há dúvidas sobre o que se passa dentro do corpo. Donde, um médico não pode ser repreendido pelo “patrão” hospitalar por ter passado exames que não confirmaram uma doença. Um exame que não confirma uma doença não pode ser entendido como um factor de desperdício e de dinheiro mal gasto. Estamos a falar em dinheiro que é preciso gastar e ponto final.
Pôr as contas em ordem no Ministério da Saúde não é o mesmo que pôr os portugueses a pagar impostos. Implica bom senso e sensibilidade social. Por outro lado, o Governo tem comunicado as suas medidas na área da Saúde como um elefante numa loja de porcelanas, anunciando e voltando atrás em matérias muito sensíveis. 
No Serviço Nacional de Saúde (SNS) há, sem dúvida, muita gente gananciosa a lucrar com o desperdício e com a prescrição mais lucrativa para “ajudar” a sua conta bancária e a dos amigos da engrenagem. É essa gente que o ministro da Saúde, Paulo Macedo, tem de remover do sistema. Não pode é remover os portugueses que pagam os seus impostos e que precisam do sistema.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O estranho caso de Manoel de Oliveira


Manoel de Oliveira é daqueles cineastas cujos filmes dizem muito mais do que aquilo que mostram. São filmes que desinstalam o espectador. São filmes para ver e rever. E encontrar sempre algo de novo.
Em 19 de Setembro 1931, Manoel de Oliveira, então um jovem de 22 anos, apresentou o seu primeiro filme, “Douro, Faina Fluvial”, em Lisboa. O início da carreira não poderia ter sido pior: foi saudado com uma pateada.
Hoje, 80 anos depois, Oliveira é o realizador de cinema mais antigo do mundo, cuja obra continua “viva e singular”, como destacou neste domingo o diário norte-americado "Los Angeles Times", o qual apelida o cineasta português como “um estranho caso”, por analogia com a edição em DVD nos Estados Unidos do filme "O estranho caso de Angélica".
Como destaca o jornal da Califórnia, o realizador portuense, que comemora 103 anos no próximo mês de Dezembro, “começou ainda no tempo do cinema mudo e tem uma trajetória incomparável”. “O mais notável”, observa o "Los Angeles Times", citado pela agência Lusa, não é tanto a produtividade, mas sobretudo o facto de grande parte da sua obra “continuar viva e singular”.
Como realizador, Manoel de Oliveira demonstra uma liberdade de quem existe quase há tanto tempo como o próprio cinema: "É a encarnação de um século de cinema", sublinha o diário norte-americano.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A valorização do trabalho numa empresa


A comunicação é essencial para as empresas. Não só a comunicação externa, mas também a comunicação interna. Numa empresa, assim como em qualquer organização pública ou privada, cada trabalho, por muito básico que seja, tem a sua contribuição para o todo.
Se não houvesse quem recolhesse o lixo, quem desentupisse um cano, quem limpasse o pó ou as instalações sanitárias seria o caos. Não são, por isso, trabalhos menores. E as pessoas que desempenham esses trabalhos também não são menores.
Numa empresa, todos os trabalhos, sejam braçais ou intelectuais, são importantes e devem de ser igualmente valorizados, porque todos contam para o desempenho global. A sua valorização é, portanto, um excelente exercício de comunicação interna, do qual todos beneficiam.
Se todos os trabalhos e todos os trabalhadores (ou colaboradores, como agora se diz...) forem encarados sob este prisma, a nossa visão sobre o papel de cada indivíduo no funcionamento global de uma empresa muda completamente. Além disso, todos se sentem valorizados e motivados para desempenhar da melhor forma as suas tarefas diárias, por mais complicadas que elas sejam.

Richard Hamilton (1922-2011)


O britânico Richard Hamilton, considerado o pai da “Pop Art”, movimento artístico que emergiu na década de 1950, morreu esta semana, aos 89 anos. Crítico do fascínio pela sociedade de consumo, Hamilton ficou famoso com a obra “Just What Is It That Makes Today’s Homes So Different, So Appealing?” (O que torna as casas de hoje tão diferentes e apelativas?), uma colagem fotográfica de um casal nu, com corpos perfeitos, ele segurando um chupa-chupa vermelho que esconde o sexo e onde se lê “pop” e ela mostrando as mamas e com um "abat-jour" enfiado na cabeça, numa casa onde a referência a vários produtos é marcante, destacando-se os aparelhos de som e imagem, dispositivos essenciais da comunicação de massas e da sociedade de consumo. Segundo muitos historiadores de arte, esta foi a primeira obra de arte pop a transformar-se em objecto de culto, iniciando um movimento artístico que imortalizou nomes como Andy Warhol ou Roy Lichtenstein.
A expressão “pop art” é também atribuída a Hamilton, que, num texto escrito em 1957, definiu assim o movimento artístico de que foi fundador: “A ‘pop art’ é popular, transitória, dispensável, barata, produzida em massa, jovem, espirituosa, sexy, glamorosa e um grande negócio.”
Descodificando: “popular” por ser criada para as massas; “transitória” por ser de curta duração; “dispensável” por ser esquecida com facilidade; “jovem” por ser dirigida aos jovens; e “um grande negócio” por favorecer, antes de mais, o consumo.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Seis dicas para ter sucesso no Twitter


Até agora, as pessoas podiam ser divididas entre ricas e pobres, entre mais ou menos cultas, entre mais cosmopolitas ou menos cosmopolitas, entre mais à esquerda ou mais à direita, entre conservadoras ou progressistas, e por aí adiante. Porém, no século XXI, na sociedade da informação e do conhecimento, sobre a qual já escrevi aqui, a grande diferença entre as pessoas será entre aquelas que têm existência digital e sabem utilizar as tecnologias de informação e comunicação e aquelas que não têm existência digital e não sabem utilizar as tecnologias de comunicação. É essa diferença que vai marcar as diferenças do futuro.
Porém, mesmo para aqueles que estão na Internet, a vida não é fácil. Porque as mudanças são rápidas e permanentes. A rede é grande demais para só uma pessoa poder descobri-la devidamente. Por isso, o utilizador da Internet tem necessidade de encontrar fórmulas expeditas de aprender a ter sucesso na rede. É nesse contexto que deixo aqui seis dicas para quem quiser saber mais sobre como utilizar o Twitter, deixando um rasto positivo no microblog dos 140 caracteres.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Seguro e os jornalistas


Durante o congresso do PS, que decorreu em Braga neste fim-de-semana, António José Seguro fez questão de contactar pessoalmente com os jornalistas em serviço no conclave. Com isso, Seguro procurou afirmar um novo estilo no relacionamento com os “media”, em oposição ao relacionamento musculado do seu antecessor, José Sócrates, que, durante os congressos, só falava a partir do teleponto, não admitia perguntas, nem fotografias, e cujos seguranças ainda batiam nos jornalistas. Tudo ninharias comunicacionais que naquele tempo não foram devidamente destacadas nem valorizadas por quem mandava nos meios de comunicação.
Ora, Seguro é muito diferente de Sócrates. Há uns 15 anos, era António José Seguro secretário de Estado ou ministro Adjunto do Primeiro-Ministro, no consulado de António Guterres, experienciei um episódio revelador. Enquanto jornalista do “Público”, precisei falar com Seguro como fonte para uma notícia sobre uma guerra autárquica que estava dilacerar o PS em determinado concelho do País. Na altura, em 1996 ou 1997, nem todos tinham telemóvel, muito menos Facebook, e o e-mail ainda era uma modernice. Por isso, telefonei para o gabinete de António Guterres, em S. Bento. A tarde foi passando e António José Seguro não devolvia a chamada, conforme tinha ficado combinado com uma secretária. Quando já tinha desistido e voltado para casa, pelas 22h00, toca o meu telemóvel. Era António José Seguro, afável, a pedir desculpa e a dizer-se pronto para responder a todas as minhas perguntas. Nunca mais esqueci este gesto de Seguro.
Muitas vezes, são gestos destes que humanizam um político, revelam o seu carácter e conquistam para sempre um jornalista. Donde, aquilo que muitos qualificam como “manobra de charme” de Seguro, no congresso de Braga, não passa da mediatização de uma atitude que não é encenada, ganhando, por isso, um efeito muito mais eficaz. Uma atitude de respeito pelo trabalho dos meios de comunicação social, os mesmos que até agora eram desprezados e maltratados por José Sócrates.

domingo, 11 de setembro de 2011

Famalicão representa Governo no congresso do PS


Não, não é bairrismo bacoco. É só uma curiosidade, que sublinho neste blogue, porque tem a ver com comunicação política e tem como protagonistas pessoas de Vila Nova de Famalicão que contam para o presente e o futuro do País. E também por se tratar de uma circunstância que não é protagonizada todos os dias por cidades que não sejam Lisboa e Porto.
Os dois partidos da coligação governamental, PSD e CDS/PP, fizeram-se representar no encerramento do congresso do PS, em Braga, que entronizou António José Seguro como líder de “um novo futuro” socialista, com três jovens quadros políticos nascidos em Vila Nova de Famalicão.
O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, delegou a sua representação em Jorge Moreira da Silva, antigo autarca em Vila Nova de Famalicão e antigo líder da JSD local e actual vice-presidente da comissão política nacional do PSD e consultor da ONU para a área de economia, da energia e das alterações climáticas. Paulo Cunha, vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão e presidente da Distrital de Braga do PSD, foi outro dos famalicenses que representaram o partido do Governo no congresso socialista.
Paulo Portas, por seu turno, entregou a representação oficial do CDS/PP ao eurodeputado Nuno Melo, que também é presidente da Assembleia Municipal de Vila Nova de Famalicão.
Como famalicense, tinha de destacar esta circunstância rara, mais a mais tratanto-se de três amigos da política. Por outro lado, considero que um País só consegue crescer e desenvolver-se na medida em que souber descentralizar-se. Pegando no novo “slogan” do PS de António José Seguro, é caso para dizer que Famalicão é que é uma terra com “um novo futuro”!... FOTO: "Sol"

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Mário Soares é um senhor


Mário Soares é um animal político. A política corre-lhe no sangue e ele não pode viver sem ela. Aos 86 anos, continua mais lúcido do que muitos políticos com metade da idade dele, multiplicando-se em actividades e tomadas de posição políticas, que têm eco no espaço mediático.
Outros, no lugar dele e com a idade dele, calçariam as pantufas e ficariam no sofá a ver as misérias do país e do mundo pela televisão. Mas Soares não é desses. Há dias, esteve na Universidade de Verão do PSD e ouviu jovens que poderiam ser seus bisnetos a gritar que “Soares é fixe”. Hoje, o velho líder socialista surpreendeu tudo e todos ao participar na abertura do congresso do PS, em Braga, que marca um novo ciclo no partido, sob a liderança de António José Seguro.
No fundo, Mário Soares é um senhor. Um dos raros senhores admiráveis da política portuguesa, uma espécie ameaçada pela extinção. FOTO: Agência Lusa

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Os abutres do jornalismo


No espaço mediático contemporâneo, as garras de uma imprensa sensacionalista e irresponsável constituem um dos desafios que se colocam ao bom nome das figuras públicas, das organizações públicas ou da sociedade civil e também dos cidadãos que possam ser objecto de notícia. Com a velocidade da Internet, uma notícia contendo falsidades, incorrecções e atropelos à ética e à deontologia jornalísticas, uma vez difundida por esses abutres sem escrúpulos, propaga-se a grande velocidade e fica para sempre à disposição de todos.
É evidente que a legislação prevê sanções para estes atropelos. O problema é que, muitas vezes, quando os visados procuram esclarecer o que está em causa, por muita razão que lhes assista, nada fica como antes. A primeira impressão tem muita força e, geralmente, condiciona todo o pensamento posterior que possamos ter sobre uma pessoa, uma organização ou um acontecimento. Por outro lado, o público que soube da versão errada de uma notícia pode não ter acesso ao esclarecimento. E essa versão errada, apesar do esclarecimento posterior, fica disponível na rede, à mercê da leitura de outros incautos. E assim se cria uma percepção pública negativa.
Há um outro problema, que também decorre da concorrência desenfreada entre meios de comunicação na sua luta pelas audiências. Quando um meio é o primeiro a dar uma notícia, mesmo que essa notícia contenha inverdades ou não seja verdadeira, os visados podem contar com uma romaria de outros jornalistas, que também querem ter acesso a uma reacção, mesmo que a notícia original seja uma não-notícia.
É aqui que os visados precisam saber como lidar com os meios de comunicação, que mensagens devem transmitir, a que perguntas devem responder e como devem responder. Para isso, é preciso saber como funcionam os jornalistas. Tudo se resolve quando por parte dos jornalistas e dos meios de comunicação há bom senso, compromisso com a ética e a deontologia e preocupação em informar com rigor.
O problema é quando os meios de comunicação e os seus jornalistas se comportam como abutres do jornalismo, como inimputáveis que não estão comprometidos com o serviço de informar com rigor e vivem apenas do espectáculo e, mesmo, das desgraças dos outros.
Não faltam exemplos, também em Portugal. Saber que estes abutres são os que têm maiores audiências é outra anormalidade do sistema, que confirma uma evidência: numa sociedade de massas, o público é passivo por excelência, não se apercebendo que vive em função dos ditames de uma engrenagem comunicacional e cultural muito complexa.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Jornais. DN e JN dão notícias impossíveis



A informação sobre as tiragens, publicada nesta terça-feira pelo "Jornal de Notícias" e pelo "Diário de Notícias", dois jornais do grupo Controlinveste, de Joaquim Oliveira, é, no mínimo, confusa e pouco rigorosa. Mas ela traduz uma realidade: quando se trata de falar de si própria, nomeadamente no que diz respeito às tiragens, a imprensa faz uma ginástica enorme para puxar pelos números a seu favor, de tal modo que, por vezes, cai no ridículo. Este caso é paradigmático.
Perante os números das tiragens divulgados pela Associação Portuguesa de Controlo de Tiragens, JN e DN dão conta de conclusões iguais mas favoráveis a cada um dos jornais. Isto é, tanto o JN como o DN dizem aos seus leitores que são os jornais que mais crescem. O que é impossível de acontecer, pois os números são números e não esticam. O JN revela aos leitores do JN que é o jornal "que mais cresce em vendas" e o DN anuncia aos seus leitores que também é "o jornal que mais cresce" na circulação paga.
No seu gabinete, Joaquim Oliveira que ainda não começou a pagar o empréstimo de 300 milhões de euros do BCP, para pagar a TSF e os jornais que restam no grupo Controlinveste, pois outros títulos (como a revista "Grande Reportagem" e os jornais "Tal & Qual" e "24 Horas") já fecharam , deve dar saltos de satisfação com tantas boas notícias sobre os seus jornais. O problema é que, por mais que se jogue com os números, a realidade é só uma. E bem dura.
Para situações destas, e dado que os jornais em causa  são do mesmo dono e até ocupam o mesmo espaço físico, partilhando meios técnicos e humanos, justificava-se plenamente uma notícia cujo conteúdo fosse comum a todas as publicações da Controlinveste. Seria mais sério, custaria menos dinheiro e permitiria fazer passar para o mercado uma mensagem global do grupo face aos números, nomeadamente quanto à estratégia dos vários jornais para o futuro imediato. NdB (Nota do Blogue) - Clique nas imagens para ler

RTP continua a brincar às televisões


Na RTP, continuam a brincar às televisões. Eis uma notícia incompreensível: numa altura em que o Governo se prepara para privatizar a RTP, eis que a RTP N, um canal dispensável quando há canais privados que fazem o mesmo, decide mudar a sua identidade visual.
Pior sinal para um País castigado pela austeridade seria praticamente impossível, sobretudo quando se fala em poupança de recursos para diminuir a despesa pública e quando se escolhe uma equipa de especialistas para definir como deverá ser o serviço público de televisão em Portugal (equipa essa que, provavelmente, só deverá descobrir a pólvora).
Para que não haja dúvidas, as mudanças agora anunciadas já estavam a ser "estudadas há meses". Ou seja, desde o tempo do Governo anterior. Portanto, já nem o poderoso ministro Miguel Relvas tem mão no forrobodó...

O que se diz em comunicação política


O líder parlamentar do CDS-PP, Nuno Magalhães, foi à abertura das jornadas parlamentares do seu partido, no Funchal, assegurar que a sua bancada saberá estar unida perante as dificuldades. Disse ainda que o CDS/PP saberá estar na coligação de Governo com o PSD “com lealdade mas com autonomia”.
Rui Calafate, aqui, aponta este caso como exemplar da existência de coisas em comunicação política que não precisam de ser ditas. E eu acrescento: não precisam de ser ditas porque, em comunicação política, há coisas que significam exactamente o contrário daquilo que é dito.
Mas com exemplos destes vindos de cima, até parece que estamos a ler jornais desportivos. É caso para dizer que a comunicação política também está em crise... FOTO: Hélder Santos/Aspress/"Jornal de Notícias"

sábado, 3 de setembro de 2011

Uma radiografia à imprensa católica portuguesa

O "Diário do Minho" é o únicio diário católico. É lido nos distritos de Braga e Viana do Castelo, mas o seu público está concentrado na cidade bracarense

A Igreja tem uma presença esmagadora na imprensa regional, mas os jornais estão envelhecidos e sobrevivem com anúncios institucionais e de necrologia. Quer se goste quer não, a história da imprensa regional portuguesa é feita da imprensa de inspiração cristã. E quer se goste quer não, boa parte dos jornais regionais ainda pertencem à Igreja. Existem em todos os distritos e na maioria têm audiências elevadas. Em 2008, o "Anuário Católico" dava conta de que a Igreja detinha cerca de 800 títulos – entre jornais, revistas e boletins paroquiais. Semanários de expansão regional existem 17, espalhados pelo País: é o sonho de qualquer grupo de “media”.
Alexandre Manuel, jornalista e professor universitário, quis estudar o fenómeno e passou a pente fino as principais publicações da Igreja. O resultado é uma tese de doutoramento apresentada no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. "Da imprensa regional da Igreja Católica: para uma análise sociológica" deverá, em breve, ser editada em livro. As conclusões são um verdadeiro raio X aos semanários regionais da Igreja – que em alguns distritos são líderes de audiência ou desempenham o papel de único jornal generalista.
Os semanários da Igreja, concluiu o investigador, são quase todos (cerca de 90%) dirigidos ou administrados por padres – em alguns casos, os sacerdotes chegam mesmo a acumular as duas funções. As redacções até são constituídas por profissionais com um nível escolar acima da média (mais de 60% têm curso superior ou equivalente) e 75% dos jornalistas e colaboradores são homens. "Existe uma percentagem de mulheres bastante inferior às 40% que em Portugal têm carteira profissional de jornalista", diz o autor. Um terço dos profissionais já têm mais de 50 anos e 25% menos de 30. Quase todos, 80%, têm carteira profissional de jornalista.
Outra característica da imprensa regional católica que facilmente salta à vista são os baixos salários pagos aos profissionais. "Quarenta e oito por cento dos salários oscilam entre os 500 e os 750 euros mensais", refere Alexandre Manuel. Cerca de 20% recebem mesmo menos de 500 euros.
De acordo com a análise apresentada no ISCTE, marketing é uma palavra que a Igreja desconhece. A maioria dos jornais "não tem qualquer profissional nas áreas comercial e do marketing". De onde vem a publicidade então? São sobretudo pequenos anúncios classificados e de necrologia, além de muita publicidade institucional: convocatórias, editais, publicações judiciais. O preço médio por página ronda os 580 euros. A ausência de investimento no marketing pode ser explicada, acredita o investigador, pelo facto de mais de 80% das vendas dos jornais serem feitas por assinatura – só 14% são vendidos em banca.
Se deter uma rede de jornais em todo o país é a ambição de qualquer grande grupo de “media”, a verdade é que a Igreja não parece determinada a apostar nas sinergias. "Os responsáveis permanecem indiferentes à dispersão de títulos e não há uma estratégia comum, porque cada jornal obedece, com maior ou menor reverência, à sua diocese", explica Alexandre Manuel. Isto apesar de a Igreja até deter uma agência de informação – a Ecclesia.
Outra preocupação inexistente é o “design”. "Não há cuidado com a imagem e por vezes os textos são ilegíveis", constatou o autor. A título de exemplo, 60% das fotografias são publicadas sem qualquer legenda. Os próprios “leads” das notícias "não são fortes nem incisivos". De resto, e apesar de pertencerem à Igreja, nem todos os jornais dão o mesmo espaço às questões religiosas. Há publicações, especialmente as de maior tiragem, que só reservam entre 2% a 5% do seu espaço aos temas da Igreja – por norma tratados nos espaços de opinião, que podiam ser melhorados: "Além de descontextualizados da actualidade, os artigos de opinião utilizam uma linguagem repetitiva e moralista, confundindo o discurso do altar com o discurso dos media", refere a tese. Em suma, falta alguma "profissionalização" nos jornais e não são raros os casos em que uma única pessoa é "simultaneamente director, jornalista, fotógrafo e gráfico".
E quem é o público dos jornais da Igreja? Quase metade dos leitores tem mais de 65 anos – o que revela um envelhecimento da audiência. Além disso, 74% de quem os lê admite participar "muitas vezes" em cerimónias religiosas.
Tiradas as conclusões, Alexandre Manuel acredita que, face às dificuldades e desafios que se apresentam à imprensa em geral, são precisas mudanças na imprensa da Igreja, sob pena de alguns títulos virem a desaparecer. "É preciso maior abertura aos leigos, que poderiam assumir responsabilidades nos jornais; criar uma rede de sinergias; apostar no marketing e acabar com o amadorismo, apostando no profissionalismo e no ‘design’", resume.

FONTE: Rosa Ramos, jornal “i”, 03-09-2011

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O escândalo das escutas e a decadência europeia

Os serviços secretos portugueses espiam jornalistas. Agora também sabemos que em França acontece o mesmo. No fundo, isto significa que Portugal e França estão no “pelotão da frente” da decadência europeia, para citar uma expressão que, em tempos que já lá vão, Cavaco Silva gostava muito de proferir.
As notícias do "Expresso" deste fim-de-semana, que dão conta de mais escutas ilegais, desta vez por motivos particulares, envolvendo o ex-marido da mulher de um "quadro" da Ongoing, ilustram bem a podridão que se instalou nos serviços de informações do Estado português. A dimensão do escândalo parece não ter limites.

Fraga Iribarne. O adeus à política aos 88 anos


O galego Manuel Fraga Iribarne, grande inspirador da direita espanhola, que completa 89 anos em Novembro, anunciou a sua retirada da política activa, não se recandidatando a senador do Parlamento da Galiza. Fundador da Aliança Popular, posteriormente transformada no moderno e moderado Partido Popular, Fraga Iribarne é um histórico da direita espanhola: foi mesmo o único político que depois de ter ocupado cargos importantes no tempo da ditadura de Franco (ministro do Turismo, por exemplo, cargo que desempenhou com sucesso na década de 1960) continuou no activo na transição para a democracia, participando, inclusive, na elaboração da constituição espanhola. Presidiu ao governo galego entre 1990 e 2005. Actualmente vive com uma filha. Passa o tempo a receber amigos e a ler livros, jornais e revistas. O jornal Faro de Vigo elaborou uma galeria com imagens da carreira política de Fraga Iribarne que pode ser vista clicando aqui. [FOTO: "Faro de Vigo"/Agência EFE]

José Eduardo Moniz regressa à RTP


A Ongoing, de Nuno Vasconcellos, está de olho na privatização da RTP. Logo, o regresso de José Eduardo Moniz à RTP, ele que é vice-presidente da Ongoing, faz todo o sentido. Escusado será lembrar que os problemas financeiros da RTP e do aumento da despesa pública do Estado já não se colocam quando está em causa contratar uma vedeta como Moniz, mais a mais da Ongoing...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Comunicação, poder local e despesa pública


Rui Rio, que é um dos autarcas mais importantes do PSD, e por sinal um dos melhores, tem toda a razão quando diz que “o mal das finanças públicas está no gigantismo da administração central” e que “tem-se falado demasiado nas autarquias” para justificar a despesa pública. Por isso, o edil portuense recebeu com cautela o projecto de reforma do poder local anunciado pelo ministro Miguel Relvas. Uma reforma já falada há muitos anos, que os partidos sempre travaram, que contempla, por exemplo, o fim da presença nos executivos municipais de vereadores da oposição – o que se justifica plenamente, em nome de uma governação local mais eficaz.
Por isso, Miguel Relvas anunciou como grande bandeira da reforma autárquica do Governo a redução do número de vereadores, estimando-se que o corte abranja mais de mil autarcas em todo o País. A ser assim, será muito pouco e não significará grande coisa em termos da pretendida redução da despesa pública. Por uma razão: os vereadores da oposição ou os vereadores sem pelouro não têm vencimento. Mesmo sendo vereadores com pelouro, podem estar vinculados à autarquia só em regime de meio tempo.
Tudo isto significa que a anunciada redução do número de vereadores municipais, mesmo que venha a situar-se próxima dos 40%, não terá significado efectivo na redução da despesa pública. É, portanto, mais uma falácia, não obstante a percepção pública, veiculada pelas notícias, segundo a qual o Governo está fortemente empenhado em disciplinar os gastos autárquicos. Como se o problema do País estivesse nas autarquias.
Os autarcas, que têm de resolver diariamente toda a espécie de problemas sociais e infra-estruturais, passam, mais uma vez, por ser os grandes gastadores do regime, tão perigosos que até precisam de ser eliminados por uma administração central, essa sim, sem moral nenhuma. Uma administração central que, afinal, só elimina aqueles autarcas que se dedicam à sua terra a troco de uma ou duas senhas de presença mensais na ordem das dezenas de euros. Ora, se a voz dos autarcas não tiver peso na sociedade portuguesa, se a voz dos autarcas não for credível, se cada um falar de acordo com o seu interesse específico, se os autarcas não conseguem descolar da imagem errada de construtores de rotundas, continuarão, certamente, a ser um alvo fácil das críticas e das medidas restritivas da administração central.

O ataque às autarquias é cíclico. Em momentos de aperto das contas públicas, os Municípios costumam aparecer nos jornais, nas rádios e nas televisões como os maus da despesa pública portuguesa. Isso acontece porque são representados por uma instituição – a Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP) – que há muitos anos parou no tempo da informação, não tem peso político e social e revela enormes fragilidades na sua comunicação. A ANMP não faz o trabalho de casa necessário para contrariar os estudos de "inspiração centralista" que costumam emanar do Terreiro do Paço, não consegue entrar nos meios de comunicação e não sabe seduzir os "opinion makers" com os números que fazem o verdadeiro trabalho das autarquias junto da população.