domingo, 25 de novembro de 2012

O mercado da construção civil e o exemplo português



O problema não é exclusivo de Portugal, mas resulta de uma tendência nos mercados mundiais nos últimos anos: o poder crescente do setor bancário e financeiro e dos investidores sem rosto, que disseminaram seus investimentos no setor imobiliário de muitos países, onde promoveram a construção de imóveis muito acima das necessidades habitacionais identificadas pelo mercado – ou seja, sem os necessários estudos de mercado. O resultado é a existência de mais casas do que moradores, provocando uma quebra do mercado que é má para todos, podendo mesmo afetar a estabilidade de um País. De tal modo que, em Espanha, por exemplo, o líder do Governo, Mariano Rajoy, já anunciou que concede autorização de residência aos estrangeiros que comprem casa no País (ver aqui). 
Em Portugal, a situação também é muito grave. Excesso de construção e crise económica contribuíram para um aumento de 35% do número de alojamentos vagos. Há urbanizações inteiras sem ninguém. Num País com pouco mais de 10 milhões de habitantes, há mais de 735 mil casas vazias (ver aqui). Mas o problema das casas vazias também já afeta o Brasil – onde os preços no setor imobiliário estão muito inflacionados, por conta do Mundial de futebol de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Só em Fortaleza, que é a quinta maior cidade do Brasil, estima-se que o preço da habitação esteja inflacionado em 50% (ver aqui).
Em Portugal, o bloqueio do setor da construção acontece num momento em que o Presidente da República, Cavaco Silva  que há 20 anos chefiava o Governo, tendo lançado as sementes da crise de hoje , propõe, agora, que os portugueses regressem à agricultura, ao mar e à indústria (ver aqui).
Perante a crise no setor da construção civil, as empresas portuguesas só têm dois caminhos: ou se reinventam, mudando de setor de atividade, o que implica mudanças nos recursos humanos e nos serviços e produtos que oferecem, ou vão à falência. É tão simples como isso. Porque, num País em recessão económica e cada vez mais velho, em função da diminuição da população, pela estagnação dos nascimentos, e pela emigração, não há lugar para tantos empreiteiros e construtores civis. Só um grupo muito restrito de empresas irá ficar no setor da construção: as que têm poder económico e podem diversificar a sua presença no mercado; as que são reconhecidas pela qualidade das suas obras e pela ética empresarial; e aquelas que se especializarem no mercado da reabilitação. Todas as outras morrem.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Linkedin. Os 20 melhores grupos de comunicação



Num momento em que o Facebook se torna na rede social mais democrática do planeta, na qual está quase toda a gente, sendo já frequentado maioritariamente pela classe C, no Brasil – e também por espiões disfarçados de mulheres bonitas e outros falsários –, o Linkedin tem ganho terreno como ferramenta digital de relacionamento profissional. A possibilidade de podermos participar em múltiplos grupos de discussão, de acordo com os nossos interesses profissionais do momento, para partilha de conhecimentos, saberes e experiências, é um dos pontos fortes do Linkedin.
“Participando de um grupo Linkedin é fácil manter-se atualizado com as tendências do setor, fazer contatos valiosos, tornar-se uma referência em sua área de atuação, enfim, é uma verdadeira MBA livre para todos”. Quem o diz é Adriano Oliveira, fundador e editor-chefe do sítio brasileiro Acervo Publicitário e especialista em marketing industrial. Adriano Oliveira escolheu os 20 melhores grupos brasileiros do Linkedin na área do marketing e da comunicação, todos em português, que partilho com os leitores do blog COMUNICAÇÃO INTEGRADA (ver aqui).

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A importância de uma atitude holística



Quem defende uma análise global de uma situação concreta e um entendimento geral dos fenómenos tem uma visão holística da realidade que observa. Na área da saúde, por exemplo, o holismo é uma doutrina que concebe o indivíduo como um todo que não se explica somente através da soma das suas partes, apenas podendo ser entendido integralmente. Nas ciências humanas e sociais, a visão da atitude holística é muito idêntica, pois defende a importância da compreensão integral dos fenómenos e não a análise isolada dos seus constituintes.
E no mundo da comunicação?... Hoje, o profissional de marketing e comunicação deve estar envolvido com tudo o que acontece na organização onde trabalha. Muito recentemente, Mauro Segura escreveu sobre isso no Estado de S. Paulo (ver aqui). Ou seja, um profissional de marketing e comunicação deve ter como uma das suas melhores competências uma visão holística da empresa ou da organização para quem trabalha. Por outras palavras, a um bom profissional de comunicação pede-se que não confunda a árvore com a floresta e que tenha sempre presente a visão da floresta, para que possa entender todas as árvores. No entanto, ele não deve confundir “visão holística” – que tem a ver com um acompanhamento global empenhado em nome do coletivo da organização – com a necessidade de meter o nariz em tudo – procurando obter informação privilegiada para interesse próprio. 
Ao decidir com base numa análise geral, o profissional de comunicação estará em condições para decidir melhor e de envolver o coletivo na visão e na missão da organização. Além disso, a comunicação só será eficaz e bem dirigida se estiver concentrada no gabinete de marketing e comunicação. Para essa eficácia, porém, é fundamental o envolvimento de todos, pois só assim será possível obter a coerência da imagem interna e externa da organização. E quando estamos todos ligados em rede – em que cada funcionário, mesmo no seu período de lazer, pode ser porta-voz da organização no seu contato digital com o cliente –, a necessidade de coerência na comunicação é ainda maior.
Sobre isto, Mauro Segura vai direto ao ponto: “Comunicação externa e comunicação interna precisam trabalhar juntas e alinhadas. Hoje, todos os funcionários são propagadores da marca da empresa, ou melhor, porta-vozes. Por isso, é essencial capacitá-los e torná-los agentes ativos nos programas de marketing e comunicação da empresa.”

domingo, 11 de novembro de 2012

Fluminense e Sporting Clube de Portugal num vídeo histórico



É uma nota para a história da imagem no futebol português e no futebol brasileiro. No dia em que a equipa do Fluminense Football Club, que tem como técnico o meu amigo Abel Braga, que foi levado em ombros pelos jogadores, conquistou pela quarta vez na sua história o título de campeão brasileiro, faço uma pequena homenagem ao clube carioca, lembrando que nas primeiras imagens de um jogo de futebol filmado no Brasil, país onde o futebol é o desporto-rei por excelência, estão as equipas do Fluminense e do Sporting Clube de Portugal – curiosamente dois clubes cujas origens se inspiraram em influências britânicas do início do século XX (ver aqui).
O Fluminense-Sporting, do qual há um pequeno registo filmado, aconteceu em 29 de Setembro de 1928, no âmbito de uma digressão sportinguista por terras brasileiras. Já passaram 84 anos. Com o Estádio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, cheio como um ovo, os brasileiros venceram 3-2 o Sporting Clube de Portugal – e não “de Lisboa”,  que os sportinguistas, como eu, não gostam nada de ouvir.
Foi também o primeiro jogo em que o Sporting – 18 vezes campeão português – apresentou a camisola com listas horizontais verdes e brancas, que ainda hoje faz parte do seu equipamento tradicional. A escolha da nova camisola foi completamente casual: os equipamentos com a camisola listada, que eram usados pela equipa de râguebi, eram mais confortáveis, sob o calor do Rio de Janeiro, e estavam em melhor estado do que os do futebol.
O documento videográfico, registando as primeiras imagens de futebolem movimento no Brasil, já foi divulgado em programas desportivos da TV Globo, mas jamais terá passado nas televisões portuguesas. Ele coloca o Fluminense Football Club e o Sporting Clube de Portugal na história do futebol e das imagens do futebol, que, como sabemos, são muito importantes para a comunicação da modalidade e dos seus protagonistas, de tal forma que é a televisão que garante o financiamento daquele que é considerado um dos maiores espetáculos do planeta.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Televisão Digital Terrestre nas teias da corrupção



O investigador da Universidade do Minho Sergio Denicoli afirma que há "fortes indícios" de corrupção na implementação da Televisão Digital Terrestre (TDT) em Portugal e sublinha que o processo foi conduzido de forma a não funcionar. Na sua tese de doutoramento, intitulada “A implementação da televisão digital terrestre em Portugal”, aprovada por unanimidade na Universidade do Minho, o investigador identifica um processo sinuoso, “de acordo com as conveniências e o jogo político-económico” em Portugal, envolvendo figuras ligadas aos dois principais partidos políticos: PSD e PS. 
Segundo o investigador, a Portugal Telecom aparece como organização central ligada aos partidos políticos, “devido à relação simbiótica estabelecida após a privatização da empresa, cujos padrões de funcionamento parecem continuar a existir mesmo sem as ‘golden shares’, mesmo porque o grupo tem como um dos principais acionistas a Caixa Geral de Depósitos, que é um banco público e que tem direito de indicar ao menos dois nomes para compor a administração da PT”.
Nas questões principais que orientaram a investigação, Sergio Denicoli identifica “quais foram os principais atores políticos e económicos envolvidos no processo de decisão”, revela “como se articularam as forças e os interesses entre estes atores sociais” e adianta quais foram os resultados “para a população portuguesa, em geral, e para as regiões mais desfavorecidas, em particular” (ver aqui a tese de doutoramento na íntegra).
"Houve uma Televisão Digital Terrestre planeada muito diferente da que foi implementada. Foram prometidos, por exemplo, muitos canais, mas ficou-se apenas pelos quatro que já existiam no analógico. Isso ocorreu por interferências políticas e económicas, o que nos leva a crer que pode ter havido a captura do regulador pela Portugal Telecom (PT), ou seja, a Anacom teria trabalhado em favor da PT", afirmou o investigador à agência Lusa.
Segundo Sergio Denicoli, em Portugal, ao contrário do que acontece noutros países da União Europeia, "as autoridades públicas legislaram respondendo primordialmente aos interesses empresariais" e não se preocuparam sistematicamente com a população ou com a inclusão digital (ver aqui).
Este caso está a desencadear um conjunto de reações em Portugal. Uma delas foi o distanciamento institucional da Universidade do Minho em relação às conclusões da tese de doutoramento. Outra foi o lançamento de uma Petição Pela Liberdade de Investigação Académica, que procura “denunciar publicamente toda e qualquer tentativa que pretenda condicionar a investigação científica e atemorizar ou silenciar os investigadores” (ver aqui). Já o presidente executivo da Portugal Telecom, Zeinal Bava, procura tranquilizar os acionistas da empresa quanto ao “caso” TDT (ver aqui): “Não há processo de corrupção nenhum.”  
As autoridades judiciais ainda não se pronunciaram sobre o caso. Porém, os trabalhadores da RTP já questionaram a Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre o destino que foi dado à participação feita em janeiro, por eventual violação de interesses dos cidadãos no processo de introdução da Televisão Digital Terrestre (TDT) em Portugal (ver aqui).

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Portugal e a “Angolanização da Economia”



A cidade do Porto, no Norte de Portugal, vai receber, de 13 a 17 de Novembro de 2012, a primeira edição da "Feira de Emprego e Angolanização da Economia", evento inserido no âmbito das comemorações do 37º aniversário da Independência de Angola, que se assinala a 11 de Novembro (ver aqui).
Acho absurdo que a cidade do Porto e uma das suas instituições mais antigas e emblemáticas – a Associação Comercial do Porto – recebam e apoiem um evento denominado “Angolanização da Economia”. É capaz de haver alguma razão, certamente descoberta por alguma cabeça iluminada do marketing estratégico. Porém, não consigo perceber. A não ser no quadro de uma desorientação estratégica profunda, que está a afetar Portugal e a Europa.
A comunicação é fundamental. Na organização de um evento, a forma como comunicamos é ainda mais decisiva. E o primeiro sinal de eficácia na comunicação de um evento está justamente na sua designação.
Sabemos que o evento que a cidade do Porto vai receber é organizado mediante uma parceria entre o Consulado Geral de Angola no Porto e a Associação Comercial do Porto. E, em função da grave crise económica e social que afeta Portugal, calculamos que a feira seja um evento de grande interesse para trabalhadores e investidores portugueses – pois integra uma mostra de oportunidades de emprego em Angola e diversas conferências com apresentação de casos de sucesso de empresas portuguesas no País. Mas daí à “Angolanização da Economia” é capaz de ir uma grande distância.
A expressão “Angolanização da Economia” para designar uma feira de emprego e oportunidades de investimento em Angola é absurda. E significa uma dependência de Portugal atroz e assustadora em relação à sua antiga colónia africana. Sobretudo quando é Portugal que tem os investidores, tem a tecnologia e tem a mão-de-obra qualificada. Por outro lado, a expressão “Angolanização da Economia” não faz sentido nenhum, assim como jamais faria qualquer sentido falar em “Brasileirização da Economia”, só para dar o exemplo do Brasil, que é um País onde Portugal também tem grandes investimentos.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Luís Paulo Rodrigues. “Os consumidores não toleram a mentira”



Declina de todo a ideia de a comunicação ser encarada como um serviço entregue a amigos ou curiosos ou como uma despesa dispensável em momentos de crise, defendendo que o melhor que pode acontecer a uma marca é entrar no sistema mediático tradicional depois de ter construído a sua imagem no espaço digital. Encara isso como uma agregação de valor extraordinária, embora tenha de ser feito com muito cuidado! Principalmente num momento em que as marcas têm de ser cada vez mais honestas na sua comunicação, pois os consumidores estão cansados de mentiras!

PERGUNTA (P) – Como avalia a comunicação feita pelas empresas portuguesas? Considera que há ainda muitos aspectos a melhorar?
LUÍS PAULO RODRIGUES (LPR) – Em todas as empresas, a despesa em comunicação deveria ser encarada como um investimento essencial na sua gestão estratégica. E, quando falo em comunicação empresarial, refiro-me à assessoria de imprensa, às relações públicas e a todas as disciplinas da comunicação: o marketing, a comunicação interna, o atendimento ao cliente, a comunicação digital, a publicidade, a comunicação corporativa, o marketing na comunidade envolvente, etc. Em cada empresa ou organização tudo isto deve funcionar de forma integrada, respeitando a visão, a missão e os valores. As empresas portuguesas, salvo honrosas excepções, têm a visão, a missão e os valores expressos no seu ‘site’ como se fossem adereços que ficam bem ali. Na maioria dos casos são visões e missões perfeitamente vagas, que poderiam ser aplicadas a todas as empresas. Quanto à comunicação, muitas vezes, é encarada como um serviço que pode ser entregue aos amigos ou curiosos. Ou como uma despesa dispensável em momentos de crise.

P – Tendo em conta as características do nosso país, considera que é vantajosa a comunicação em associação?
LPR – A comunicação em associação é um excelente caminho, porque permite uma comunicação eficaz por menos dinheiro. O problema são as capelinhas e os egocentrismos paroquiais. O movimento associativo, muitas vezes, não é suficientemente forte. Por exemplo, os produtores de vinho de uma determinada região poderiam fazer a comunicação nacional ou internacional, mediante o pagamento de uma quota mensal ou anual à associação a que pertencem, cabendo à associação a responsabilidade pela comunicação, de acordo com os mercados prioritários. O futuro da comunicação internacional de alguns produtos portugueses, como o vinho ou o azeite, tem de passar por aí. Para se promover no estrangeiro, o vinho português tem de deixar as salas dos hotéis, onde são feitas as provas de degustação sempre para as mesmas pessoas, e tem de ir até aos consumidores que lêem jornais e revistas e que estão na Internet, que querem conhecer não só o vinho, mas a região onde ele é produzido e os próprios métodos de produção. O novo consumidor é informado e gosta de procurar informação antes de decidir as suas compras.

P – Como se deve comunicar no mercado global?
LPR – Os princípios da comunicação são iguais em todo o lado. O que é preciso é conhecer os mercados, a sua cultura, os seus hábitos, costumes e tradições. É preciso saber se as pessoas lêem mais jornais ou se vêem mais televisão. Se frequentam mais o Facebook ou o Twitter. As mensagens também têm de ser adaptadas a cada região do globo. Não podemos no mercado de muçulmanos apostar numa publicidade que explore o capital erótico da mulher. Nem podemos ir para o Brasil falar em “raparigas”, que lá são prostitutas, nem em frango pica-no-chão, que remete para uma coisa pornográfica. O vinho verde, no Brasil, não pode ser servido “fresco” – que soa a arrogância –, tem de ser servido gelado. Por isso, a comunicação, embora obedecendo aos mesmos princípios em todos os lugares, precisa de ser regional para ser mais para ser mais eficaz. Regional no sentido em que apela a uma adaptação ao mercado.

P – Um estudo recente revela que as marcas relevantes são as que fazem a diferença na vida das pessoas, comunidades, sociedade e gerações futuras e também as que dominam o mercado. Perante esta situação, existe necessidade de se alterar a estratégia das empresas?
LPR – Esta questão foca dois problemas. O primeiro, relativamente à questão do peso das marcas na mente dos consumidores, significa que a maioria das marcas portuguesas não existe para a maioria das pessoas. Provavelmente, isso acontece porque essas marcas comunicam mal e não conseguem um envolvimento satisfatório com os consumidores. Lá, está, o que não é comunicado não existe. O segundo problema tem a ver com as exportações portuguesas e com a imagem de Portugal no estrangeiro. Os consumidores associam as marcas à imagem dos países. Se a Coca-Cola não fosse americana, não seria a marca que é. Se a BMW não fosse alemã também não seria a marca consistente e robusta que é. Dou um exemplo concreto que afectou as exportações de máquinas fotográficas da Leica para os Estados Unidos. Cerca de 90 por cento das máquinas Leica são produzidas em Portugal, em Vila Nova de Famalicão. E são tão bem produzidas que os alemães acabam de investir na construção de uma nova fábrica. Há uns anos, as máquinas produzidas em Famalicão passaram a usar a etiqueta “made in Portugal”. A experiência foi um fracasso. Depois de perdas de 30% em vendas nos EUA e Japão, a Leitz, a empresa dos alemães em Famalicão, decidiu voltar a inscrever a etiqueta “made in Germany” para recuperar. E recuperou. Isto significa que os grandes mercados internacionais não confiam muito nos produtos fabricados em Portugal, a não ser os produtos naturais, como os alimentares. Eis um indicador precioso para o Governo trabalhar a imagem de Portugal no estrangeiro. E seria importante saber por que é que os americanos e os japoneses deixaram de comprar uma máquina fotográfica de uma marca alemã prestigiada, só porque ostentava a inscrição “made in Portugal”. Mas isto serve para explicar que o peso das marcas na mente dos consumidores está muito ligado à imagem dos países.

P – A que se devem estas mudanças nos consumidores?
LPR – Os consumidores são cada vez mais informados e cada vez mais exigentes. Os consumidores perguntam, querem saber, fazem contas e só depois é que decidem. Com tantas marcas à disposição, o consumidor ganhou poder, porque ganhou capacidade de escolha. Logo, o consumidor contemporâneo quer ser tratado de igual para igual. A marca deixou de debitar propaganda de dentro para fora, ficando à espera do cliente atrás do balcão, porque sabia que não havia concorrência. Agora, a marca tem de conversar com o consumidor, tem de interagir com ele, tem de tratá-lo como se fosse o seu melhor amigo para mantê-lo por muito tempo. Porque um cliente é um bem cada vez mais escasso.

P – A comunicação tem sido bem conseguida pela maioria das marcas no sentido da sua eficácia e até de honestidade com o consumidor?
LPR – Há marcas que ainda não despertaram para a nova ordem económica global. Há empresas e marcas que contratam estagiários de borla ou por 500 euros, ou até menos, para “alimentar as redes sociais”. Mas as redes sociais não são vacas, que ficam satisfeitas com a erva que lhes damos. As redes sociais são para ser geridas por profissionais de comunicação capacitados, que saibam criar conteúdos que interessem às pessoas que a marca procura conquistar, que saibam na ponta da língua a visão, a missão e os valores da marca, que sejam atenciosos e que resolvam os problemas com eficácia e discrição, tendo em conta que o cliente tem sempre razão, mesmo que não tenha.

P – Quer dar um exemplo de um bom marketing viral?
LPR – Vou lembrar um mau exemplo, para alertar as empresas no sentido de terem muito cuidado com este tipo de marketing. Porque há criativos que são tão criativos que produzem um efeito contrário ao pretendido. O melhor que pode acontecer a uma marca é entrar no sistema mediático tradicional depois de ter construído a sua imagem no espaço digital. Significa uma agregação de valor extraordinária. Mas isso tem de ser feito com cuidado. As marcas têm de ser honestas na sua comunicação. O que fez a Cacharel Portugal, por exemplo, com uma história de amor que era falsa, foi muito negativo para a marca. Os consumidores informados não toleram a mentira. A Cacharel Portugal contratou dois actores que usaram de forma criminosa os meios de comunicação tradicionais para venderem um produto a partir de uma história inventada. As reacções negativas do público português não se fizeram esperar na Internet e ainda bem. Tem de haver ética na comunicação.

Entrevista concedida à jornalista Lurdes Trindade, publicada na Revista Especial sobre as 250 Maiores Empresas do Distrito de Leiria, editada pela Jorlis – Edições e Publicações, Lda. e distribuída com o "Jornal de Leiria" (01-11-2012) e o "Jornal de Negócios" (06-11-2012). Clicar aqui para descarregar aentrevista em formato PDF.

domingo, 4 de novembro de 2012

“Comunicação Integrada” em destaque na RDP Antena 1


O blogue COMUNICAÇÃO INTEGRADA esteve em destaque no programa "Janela Indiscreta", do jornalista Pedro Rolo Duarte (na foto), na RDP Antena 1, a principal rádio pública portuguesa. Na “Janela Indiscreta”, programa que é transmitido de segunda a sexta-feira, às 18h20, Pedro Rolo Duarte faz uma crónica sobre a blogosfera e o que nela se escreve com interesse e atualidade. Como explica a sinopse do programa, a “Janela Indiscreta” traduz “o olhar de Pedro Rolo Duarte pelo universo dos blogues”.
Na sexta-feira, 2 de Novembro de 2012, Pedro Rolo Duarte dedicou os três minutos do seu programa ao blogue COMUNICAÇÃO INTEGRADA, o que constituiu uma grande surpresa para mim, agora que estou no Brasil, olhando com mais detalhe para a realidade brasileira, nas múltiplas matérias que tenham a ver com a comunicação, mas sem deixar de olhar para a realidade portuguesa.
Ser referenciado de modo tão rico e elogioso pelo grande jornalista Pedro Rolo Duarte é motivo de orgulho, mas sobretudo um forte incentivo para continuar a trabalhar na comunicação, almejando sempre a competência, o rigor e o profissionalismo, analisando e estudando o fenómeno comunicacional em todas as suas vertentes, para desempenhar cada vez melhor o meu trabalho como consultor e gestor de comunicação – através do qual ajudo empresas e instituições brasileiras e portuguesas a comunicar melhor.
Do programa resulta também a percepção clara de Pedro Rolo Duarte quanto à importância da visão integrada da comunicação e das suas múltiplas disciplinas para percebermos muitos dos fenómenos contemporâneos que afetam diretamente as nossas vidas. Fiquei muito contente com isso, porque vem justamente ao encontro daquilo que penso e que tenho transmitido no blogue (clicar aqui para ouvir o programa).
Para os leitores que não consigam ouvir o programa no link, deixo o conteúdo escrito da crónica de Pedro Rolo Duarte:

Num momento em que, um pouco por todo o lado, se afirma uma crise profunda no mercado da comunicação social, com o fecho de jornais e revistas, despedimentos, cortes a todos os níveis, faz sentido destacar um blogue que se dedica justamente à comunicação social, mas fá-lo de uma forma integrada, global, apanhando os universos do marketing e da publicidade, e olhando o mercado português com alguma relevante distância.
COMUNICAÇÃO INTEGRADA, assim se chama, pretende ser uma plataforma agregadora de ligações digitais a conteúdos do universo da comunicação. Nasceu há ano e meio e o seu autor, Luís Paulo Rodrigues, é consultor e gestor de comunicação no Nordeste do Brasil e é formado em Ciências da Comunicação. Diz ele: “Faço a comunicação de marcas portuguesas no Brasil e de marcas brasileiras em Portugal, nos meios tradicionais e digitais.”
O blogue tem, aliás, a morada do seu nome: luispaulorodrigues.blogspot.com.br. E o que lá podemos encontrar, além de inúmeros links de interesse para quem gosta desta área, é um olhar empenhado, porém, desapaixonado, sobre o que vivemos no mundo da comunicação. Um bom exemplo, este ‘post’ sobre a recente greve na agência Lusa. “É paradoxal”, diz ele, “mas, sem a Lusa, os jornais ‘online’ estão melhores. É certo que, por estes dias, as páginas dos vários jornais ‘online’ têm menos notícias do País e do mundo lusófono, mas todos eles têm assuntos diferentes e devidamente assinados pelos seus jornalistas. Cada jornal ganha, portanto, a sua identidade. Presumo que o mesmo aconteça nas edições impressas (…). Isto não significa que a greve da Lusa seja positiva para os jornais, ou que a Lusa não seja necessária. Pelo contrário. (…) As notícias da agência é que não deveriam ser utilizadas sem a mínima intervenção do jornalista-editor de cada edição digital, ao ponto de as notícias dos jornais ‘online’ serem todas iguais.”
Lá está, um olhar empenhado, mas crítico e bem observado. Como quando fala em geral sobre o que se passa neste mundo. “Com a concentração da propriedade da imprensa em mãos desconhecidas de outro País (…), é a saúde da democracia portuguesa que está em causa. (…) É evidente que o dinheiro não tem pátria, nem tem cor. (…) Mas no caso da propriedade dos meios de comunicação social, penso que a origem do capital é uma questão muito importante. Porque os meios de comunicação de massa têm a capacidade de influenciar e manipular a sociedade. (…) Os meios de comunicação social produzem jornalismo e têm obrigações de serviço público. Serviço público não é tornar público um interesse privado. É servir todo o público de um determinado território.”
Bom, se juntarmos a estas análises inteligentes informação relevante sobre o mercado, tanto em Portugal como no Brasil, com muita atualidade e boas fontes, este blogue da COMUNICAÇÃO INTEGRADA é, sem dúvida, um excelente meio de informação e Luís Paulo Rodrigues um dedicado ‘blogger’. Hoje, mais do que nunca, merece o destaque aqui da ‘Janela’.

Pedro Rolo Duarte, “Janela Indiscreta”, RDP Antena 1, 02-11-2012 (ouvir aqui)

sábado, 3 de novembro de 2012

“O modelo de Pernambuco”, segundo “The Economist”



Numa matéria intitulada "O modelo de Pernambuco", a revista britânica “The Economist” aponta Eduardo Campos como forte candidato à Presidência do Brasil, nas eleições de 2014. Figura em destaque na política brasileira, o Governador de Pernambuco é presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), de Cid Gomes (governador do Ceará) e Roberto Cláudio, o novo prefeito de Fortaleza, que conquistou a capital brasileira mais próxima da Europa numa disputa taco-a-taco com um candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), que teve o apoio ativo de Lula da Silva e Dilma Roussef.
Navegando nas águas da social-democracia e do socialismo democrático, o PSB, que conquistou bastante terreno nas eleições municipais deste ano – crescendo de 310 prefeituras para um total de 444 –, é, curiosamente, da base política de apoio ao Governo Dilma Roussef – o que é possível no complexo jogo de alianças no xadrez político brasileiro. 
Entretanto, o presidente de honra do PMDB nacional, o cearense Paes de Andrade, já veio defender a reeleição da presidente Dilma. “É uma mulher extraordinária. Espero que meu primo segundo não atrapalhe”, afirmou o dirigente histórico do PMDB, numa farpa tendo como destinatário precisamente o primo Eduardo Campos. Embora tenha perdido 169 prefeituras, o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) continua sendo o maior partido municipal no Brasil, com 1032 prefeituras (ver aqui o desempenho dos partidos brasileiros nas eleições municipais de 2012). 
Ora, segundo a revista inglesa, o pernambucano Eduardo Campos consegue ser, ao mesmo tempo, um administrador moderno e um político à moda antiga. Qualidades que são valorizadas no mercado político contemporâneo. Independentemente das propaladas qualidades do líder do PSB, e da sua ambição política, que é legítima, a verdade é que a colocação de Eduardo Campos, nesta altura do campeonato, no lote dos presidenciáveis é capaz de não ser mal vista por Dilma Roussef, em Brasília. Porque a popularidade do Governo Federal liderado pelo Partido dos Trabalhadores continua em alta junto do povo que decide as eleições. E, como avisam as leis não escritas da comunicação política, quem aparece antes do tempo certo pode acabar esturricado.
Por outro lado, além de Dilma Roussef, Lula da Silva também pode ter uma palavra a dizer; assim como Sérgio Cabral (PMDB), que nas eleições de 2010 foi reeleito governador do Rio de Janeiro com 66,08% dos votos, o que diz bem da aprovação do seu trabalho, mais a mais sendo ele líder de uma capital que está a preparar as Olimpiadas de 2016.
Para já estamos apenas a falar de possibilidades. De qualquer modo, partilho com os leitores a matéria da revista “The Economist” sobre Eduardo Campos, que lança internacionalmente um possível candidato à presidência do Governo brasileiro no ano mágico de 2014, o tal da Copa do Mundo (ver aqui).

Marketing 3.0 no jornal “Expresso”


O semanário “Expresso”, que rejuvenesceu desde que o jornalista Ricardo Costa, na imagem, assumiu a sua direção, voltou a ser, talvez, o jornal mais influente na política portuguesa, agora que o diário "Público" dá sinais de se encontrar numa situação interna difícil. Fundado em 1973, na fase decadente da ditadura, o “Expresso”, que continua a ser o jornal português fisicamente mais volumoso, contendo o caderno principal, uma revista e vários suplementos, está a celebrar 40 anos de existência com várias iniciativas editoriais.
Numa dessas iniciativas, o jornal fundado pelo antigo primeiro-ministro social-democrata Pinto Balsemão – “social-democrata” no sentido doutrinário da expressão – pretende reunir o maior número de fotografias dos últimos 40 anos. O objetivo é construir “a maior ‘timeline’ da História de Portugal e do Mundo das últimas quatro décadas”.
Para isso, o “Expresso” envolveu os leitores, desafiando-os a enviar para o jornal as fotografias que possuam e que se enquadrem no objetivo indicado. Porque “há fotografias que contam muito mais do que a imagem mostra à primeira vista”, que “são autênticos documentos históricos e, por isso, fazem História”. O acervo fotográfico está disponível no “site” do jornal e espero que continue (ver aqui).
Desconheço qual tem sido a adesão dos leitores a esta ideia, mas estamos perante um caso exemplar do designado marketing 3.0 – em voga nos mercados contemporâneos –, em que os consumidores participam na construção do produto, concriando valor para as duas partes. A marca jornalística “Expresso” sai fortalecida, pois os consumidores ficam a reconhecer o “Expresso” como um jornal de confiança, que está ao serviço dos leitores, que conta com eles, fornecendo-lhes informações e opiniões. E um jornal que também dá a cada leitor a oportunidade de ter a experiência de acrescentar ao “seu jornal” um ou mais documentos informativos que, de outro modo, o jornal jamais teria acesso. 
A concriação de valor, de que fala Philip Kotler, é isso mesmo. Os consumidores assumem o papel de parceiros das marcas e das empresas, gerando um processo de concriação de valor para que os produtos sejam cada vez melhores na satisfação dos desejos e expectativas de quem vai comprar. Ora, nos jornais, a interação com a comunidade de leitores passa muito por iniciativas deste género.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Cachaça Ypióca gera milhões no Brasil



A marca de cachaça Ypióca, com sede em Fortaleza, está no centro de um negócio multimilionário no Brasil. A marca e a empresa, que registam a particularidade de terem sido fundadas por um imigrante português, no século XIX, tendo-se mantido na mesma família até agora, acabam de ser compradas pelos ingleses da Johnnie Walker
O grupo britânico de bebidas Diageo, produtor do wiskye Johnnie Walker e da vodka Smirnoff, pagou 900 milhões de reais (cerca de 342 milhões de euros) pela compra da fabricante brasileira de aguardente Ypióca aos descendentes de Dario Telles de Menezes – um imigrante português, que, em 1846, começou a produzir cachaça de cana-de-açúcar no Nordeste do Brasil. 
O negócio de milhões, que foi confirmado nesta quarta-feira, 31 de Outubro, pelo Conselho Administrativo de Defesa Económica (CADE) do Brasil, significa o regresso da Ypióca a mãos europeias, depois de ter sido fundada por portugueses, numa história, aliás, contada em linhas gerais no rótulo das garrafas que são vendidas em Portugal. A compra pelos ingleses é vista como uma excelente oportunidade para o aumento do consumo de cachaça no Brasil e no mundo. Os valores do negócio indicam isso mesmo, pois ninguém iria investir tanto dinheiro se não esperasse obter retorno. E a Diageo é a segunda maior companhia de bebidas alcoólicas do mundo.
Para além da marca Ypióca, os ingleses compraram uma destilaria, que produz a cachaça, localizada em Paraipaba, a 93 km de Fortaleza, a fábrica de engarrafamento, no bairro de Messejana, em Fortaleza, e o Centro de Distribuição Ypióca em Guarulhos (S. Paulo). Tendo como slogan “Paixão brasileira”, a Ypióca é a terceira maior marca do mercado de cachaça. Em 2011, as vendas da empresa somaram 300 milhões de reais. 
A prioridade de gestão da nova administração será assumir a liderança do mercado brasileiro: “A nossa prioridade é entender melhor como podemos adicionar valor ao produto e, assim, tornar a cachaça efetivamente um símbolo nacional e motivo de orgulho para todos os brasileiros”, explicou o novo presidente da Ypióca, o brasileiro Renato Gonzalez – um carioca que já trabalhou nos mercados do México, Jamaica e Holanda. Só depois será definida uma estratégia de marketing para o mercado internacional. A Ypióca, que tem um museu no terreno da primeira fábrica, em Maranguape, perto de Fortaleza, foi pioneira na exportação de cachaça para a Alemanha, em 1968.
A história da Ypióca começou em 1846, quando o imigrante português Dario Telles de Menezes, que chegara havia apenas três anos ao Brasil, iniciou a produção de cachaça. O seu conhecimento foi sendo transmitido de pai para filho e os negócios chegaram à quarta geração, estando em plena transição para a quinta. Mas a família Telles, sob a liderança de Everardo Telles, ex-presidente da Ypióca, continua no mercado como proprietária de três destilarias, ficando a produzir álcool e etanol para o grupo britânico. E tem negócios em outras áreas.