quinta-feira, 20 de março de 2014

Relações Públicas e Jornalistas. Uma relação difícil


Muito se tem escrito sobre o papel dos agentes de relações públicas no espaço público mediático – profissionais da comunicação que, ao serviço de uma instituição, empresa, organismo ou até pessoas, são, muitas vezes, acusados de “envenenar” os verdadeiros jornalistas, “vendendo-lhes” notícias ou informações que estes últimos não deveriam “comprar”... Verdade? Mentira? Se calhar as duas coisas, pois tudo deve começar no respeito com que uns e outros devem relacionar-se...
Comecemos então. Um agente de relações públicas (RP) pode e deve assumir-se como um informador privilegiado dos jornalistas. Deve ter conhecimento profundo da matéria cuja divulgação pretende, assumindo naturalmente que esse facto não lhe dá o direito de exigir qualquer publicação ou simples divulgação. Por outro lado, o jornalista ao receber informações, documentação, etc., do profissional de RP, não deve nem está a assumir qualquer compromisso em termos de divulgação do conteúdo dessas mesmas informações.
Tudo se pode passar, ao fim e ao cabo, como se uma fronteira invisível atravessasse, embora dividindo, um terreno comum a estes dois profissionais. De um lado o agente de RP, que ao ter conhecimento dos princípios de independência, rigor e objetividade que regem a atividade jornalística, não deve pressionar o jornalista, forçando ou simplesmente sugerindo qualquer publicação.
Do outro, o jornalista, que jamais se deve sentir comprometido por aceitar documentação ou informações, antes reservando-se o direito de as analisar, trabalhar e incluir ou não no seu trabalho final. Que o RP não se sinta melindrado se o jornalista não aproveitar, ou aproveitar pouco o seu material. Que o jornalista não se sinta, “culpado” por exercer as suas opções editoriais chegando à situação limite de recusar a divulgação ou publicação de qualquer matéria.
Qual então o terreno comum aos dois grupos? A informação trabalhada e preparada por um para servir a função do outro? Provavelmente, e uma vez mais se afirma, no total respeito pelas competências e prerrogativas de ambos.
O agente de RP tem, assim, a responsabilidade de produzir ou preparar uma informação que, destinando-se a ser fornecida ao jornalista, jamais poderá conter erros, mentiras, inverdades ou simplesmente ser falaciosa, por assumir dedutivamente algo não provado.
Embora podendo considerar o profissional de RP como uma fonte de informação fidedigna, o jornalista jamais deve assumir como inquestionável o material informativo que recebe das suas mãos. Por outras palavras, a matéria informativa recebida pelo jornalista pode, e se calhar deve, ser confirmada junto de outras fontes estranhas ao primeiro “informador”.
O jornalista pode, assim, encarar o agente de RP como um precioso auxiliar no processo da obtenção da informação. Pode e deve, porque essas são as suas funções, questionar essa mesma informação, procurando complementá-la junto de outras fontes.
O profissional de RP – ou assessor de comunicação – não pode nem deve alimentar expectativas de que a sua informação vá ser aproveitada em todo ou em parte pelo jornalista na sua peça. Mas pode ter fundadas esperanças de que quanto mais correta, factual e organizada estiver a informação que fornece ao jornalista, maiores serão naturalmente as possibilidades dessa mesma informação ser difundida pelo jornalista.
Há em todo este processo um risco que não deve ser escamoteado. O agente de RP serve os múltiplos interesses da entidade que o contratou, e é evidente que o seu trabalho reflete esses mesmos interesses. Ao contrário, o jornalista norteia a sua ação, orientando-a em função do interesse público, ou quando muito no interesse do público. Estes interesses podem entrar em choque, e às vezes dar origem a equívocos que os intervenientes devem ser capazes de amenizar.
É assim frequente encontrarmos relações públicas que entendendo a especificidade do trabalho dos jornalistas, limitam-se não apenas ao papel de fornecedores de informação, mas sobretudo à organização segundo critérios jornalísticos dessa mesma informação.
Trabalhando a montante do jornalista, o agente de RP dá-lhe a total liberdade de escolha da informação a publicar, devendo aceitar implicitamente os resultados dessa escolha. Funcionando o jornalista a jusante do relações públicas, as suas opções editoriais, acabam por ter em conta os seus destinatários: o grande público consumidor do seu trabalho jornalístico.


Pedro Luiz de Castro, 
jornalista 
e professor 
universitário 
:: 
Texto inédito 
enviado pelo autor

A remoção de Mário Crespo


O jornalista Mário Crespo sai da SIC Notícias e o “Jornal das Nove” jamais será o mesmo. Curiosamente, a comunicação da Impresa, de Pinto Balsemão, diz que vai renovar a “oferta informativa em horário nobre”. Como se houvesse horário nobre na televisão atual (embora isso seja tema para outra análise). E como se fosse possível substituir a experiência e a memória do jornalista Mário Crespo – para mim, um dos melhores pivôs de informação da televisão portuguesa, cuja densidade e independência incomodavam os vários poderes políticos. 
Há momentos em que o esforço de comunicação de uma organização se transforma em propaganda barata. A questão é esta: a saída de Mário Crespo significa a remoção da memória na redação da SIC Notícias. E a remoção da memória numa redação é uma perda irreparável. Por muito que se renove a tal oferta informativa. Confira a informação: http://bit.ly/1miIa7Z.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Ameaças ao Facebook


A rede social Facebook cresceu, cresceu muito, e transformou-se num espaço muito mal frequentado. Se o senhor Mark Zuckerberg não apostar fortemente na segurança e não conseguir travar a proliferação de vírus que andam por aí – travestidos de pedidos de amizade, mensagens, posts e comentários robotizados –, a maior rede social do mundo corre o risco de cair, como aconteceu com muitas outras que duraram menos tempo. Porque ninguém gosta de frequentar um espaço que representa uma ameaça à nossa segurança.

quinta-feira, 13 de março de 2014

A queda do vinho do Porto no Brasil e a comunicação


O vinho do Porto perdeu 30% do negócio no Brasil em apenas dois anos, anunciou o “Jornal de Negócios”, apontando como motivos barreiras alfandegárias e taxas elevadas. Mas há outras razões. É trágico porque é uma queda que acontece num momento em que os brasileiros despertam para o consumo de vinhos e têm uma oferta internacional cada vez maior. E mesmo custando cinco vezes mais, em média, do que em Portugal, os vinhos portugueses nem são particularmente dos mais caros que podemos ver nas prateleiras dos supermercados brasileiros. A questão é que não são os únicos vinhos do mercado. E até os bons vinhos franceses apostam em comunicação, aparecendo no Brasil com rótulos em língua portuguesa.
Eu acrescento outra razão para a tragédia: falta ao vinho do Porto uma política de comunicação eficaz no Brasil. Em especial uma comunicação que vá ao encontro do consumidor, despertando o seu interesse por um dos melhores vinhos do mundo. O lado bom é que o presidente do Instituto do Vinho do Douro e do Porto, Manuel de Novaes Cabral, com quem já tive o privilégio de falar sobre o assunto, sabe disso.
Num mundo global e competitivo, a comunicação é um elemento fundamental para que um produto possa ir ao encontro dos consumidores, criando neles uma necessidade de consumo. Comunicar com eficácia um vinho num determinado mercado estrangeiro é dar a conhecer esse vinho, mas também a cultura que o envolve e os momentos que convidam ao seu consumo, gerando, assim, envolvimento entre o produto e os possíveis consumidores.
O Vinho do Porto e a Região Demarcada do Douro – que é a região demarcada mais antiga do mundo – reúnem condições para uma comunicação eficaz nos mercados internacionais, que tenha em conta uma visão multidimensional da região e do País, que contribua para o fortalecimento da imagem externa da região duriense, para a captação de consumidores de vinho do Porto, para a atração de enoturistas, assim como de novos investimentos e, por consequência, novas fontes de rendimento para a região duriense, para a Área Metropolitana do Porto e para Portugal.
O Turismo do Vinho é um segmento da atividade turística que se baseia na viagem motivada pela apreciação do sabor e aroma dos vinhos, mas também nas tradições e na cultura das localidades que produzem a bebida. Mais do que apenas "beber" vinho, o enoturista aprecia paisagens, utiliza os equipamentos de gastronomia, hotelaria e diversão, fomentando a economia, designadamente o comércio local e outras prestações de serviços. Uma boa comunicação de um produto com a singularidade do Vinho do Porto tem, portanto, reflexos sobre a percepção pública que os “stakeholders” e os públicos externos podem ter sobre o território produtor.
O aumento do grau de conhecimento sobre o vinho do Porto é fundamental para fazer aumentar o seu consumo no Brasil. No mercado brasileiro, aumentar o conhecimento sobre o vinho do Porto implica ensinar a história, a forma como se bebe, como se aprecia e combina com os diversos tipos de comida. Os vinhos do Porto e do Douro possuem uma multiplicidade de características e de produtos diferenciados que se adequam a muitos momentos de consumo, dos mais solenes aos mais descontraídos, a climas mais quentes ou mais frios – e o mercado brasileiro precisa de ter acesso a esse conhecimento, para saber distinguir entre um vinho do Porto e um vinho argentino, chileno ou francês.
Um bom vinho depende, antes de mais, do território onde é produzido. É por isso que não existe Vinho do Porto que não seja produzido na Região Demarcada do Douro. Por isso, a sua comunicação agrega valor ao produto se tiver em conta não só o vinho, mas também as potencialidades ambientais, turísticas, culturais e económicas da Região Demarcada do Douro. É esse conhecimento que se traduz em percepções positivas junto dos potenciais consumidores que, por sua vez, potenciam o consumo do vinho e, eventualmente, o incremento do turismo e da economia da região produtora do vinho. Neste processo, que é dinâmico, são captados novos consumidores de vinho e novos turistas, enquanto outros se fidelizam.
A rede de hotéis, o Museu do Douro, os passeios de barco no Douro, as quintas e adegas, a gastronomia da região, o comboio histórico, as caves do vinho do Porto, a cultura e as tradições, os centros históricos do Porto e Vila Nova de Gaia, etecetera, são elementos cuja comunicação integrada é susceptível de aumentar nos públicos brasileiros o interesse pelo conhecimento do Norte de Portugal. O que, por consequência, aumenta o interesse e o conhecimento sobre o Vinho do Porto e o seu consumo.
Através da Internet, com uma linguagem adaptada à cultura brasileira, a comunicação pode levar vinho do Porto diretamente aos consumidores brasileiros. Só assim será possível evitar a queda nas vendas e inverter a tendência, para bem da economia portuguesa. E num negócio que, neste momento, vale 3,8 milhões de euros anuais (valor das exportações de vinho do Porto e do Douro para o Brasil em 2013), iria valer a pena o investimento.

domingo, 9 de março de 2014

Impresso ou digital? Prefiro o jornalismo credível


O jornalismo digital é sinónimo de informação instantânea. O pior é que isso, muitas vezes, significa falta de confirmação dos dados junto das fontes e ausência de cruzamento de informações, por alegada falta de tempo. Na Internet a concorrência é ditada ao segundo e ninguém quer perder a corrida desenfreada pela notícia dada antes dos outros. Noutros tempos, antes da rapidez da Internet, quando a concorrência dos jornais impressos tinha, pelo menos, a cadência das 24 horas do dia, a publicação de notícias com base em dados não confirmados era identificada como um exemplo de incompetência profissional de jornalistas, editores e diretores.
Agora, as edições digitais cometem erros grosseiros que, por sua vez, são reproduzidos por outras edições digitais e pelas edições impressas do dia seguinte e, inclusive, nas revistas da semana seguinte. É o descrédito total do jornalismo impresso – que não tem culpa nenhuma dos erros grosseiros cometidos por maus profissionais digitais sem tempo para nada.
É neste contexto que muitas notícias falsas se propagam como vírus tanto nas edições digitais como nas edições impressas, provocando o descrédito do jornalismo e alimentando discussões sobre o fim do jornal impresso e sobre um futuro digital e em rede capaz de resolver os problemas do jornalismo.
Curiosamente, ninguém confessa, mas um jornalismo sem crédito deve interessar muito aos interesses privados que invadiram governos e outras instituições públicas, e invadiram também o espaço público mediático. Quanto menos credível é o jornalismo, mais esses interesses podem medrar.
Mais do que discutir se o jornalismo deve ser impresso ou deve ser digital, importa discutir em que condições é que o jornalismo deve ser feito. A crise de credibilidade no jornalismo contemporâneo é uma questão fundamental. Se a distribuição do jornalismo aos cidadãos é feita em modo digital ou em modo impresso será, a meu ver, uma questão igualmente importante, mas não elementar. A propósito desta reflexão sobre a crise do jornalismo contemporâneo, aconselho a leitura de um texto de Jessica Behrens e João José Forni, no blog “Comunicação & Crise”, sobre o que tem a ver a poluição chinesa com a crise do jornalismo (ver aqui: http://bit.ly/PcHIe3).

sexta-feira, 7 de março de 2014

A “selfie” de Ellen DeGeneres e a nova publicidade


Um bom exemplo do que são as novas formas de fazer publicidade aconteceu na noite dos Óscares – o momento em que a apresentadora Ellen DeGeneres promoveu uma selfie (fotografia tirada a si própria), que correu mundo e foi um fenómeno impressionante de partilha nas redes sociais. A história que apareceu no dia a seguir é curiosa: durante toda a emissão da entrega dos Óscares, Ellen DeGeneres brincou com um telemóvel Samsung Galaxy Note branco que tinha na mão – e foi esse aparelho que ela passou ao actor Bradley Cooper para ele fazer a selfie que correu mundo, ao lado de estrelas como Brad Pitt, Meryl Streep, Kevin Spacey e Jennifer Lawrence, para além da própria DeGeneres, à sua volta. O momento da selfie foi filmado e emitido na transmissão televisiva e lá está bem visível o logo da Samsung. Acontece que a Samsung investiu cerca de 20 milhões de dólares em spots que passaram nos intervalos da transmissão da entrega dos Óscares deste ano e a presença em palco do Galaxy fazia parte do pacote negociado.
Mas a marca não se ficou por aí e preparou a sua presença em ecrã, desde pessoas que o usavam na passadeira vermelha a fazer fotografias e a filmar, até ao momento da selfie. Segundo o "The Wall Street Journal", a selfie terá sido ideia de Ellen DeGeneres, mas a cadeia ABC, detentora dos directos da transmissão e comercialização da publicidade, sugeriu que ela o fizesse com um Samsung Galaxy Note, e responsáveis da Samsung estiveram nos ensaios e ensinar Ellen DeGeneres a familiarizar-se com o aparelho para que, na altura certa, o pudesse utilizar de forma bem visível. Na realidade, a selfie não foi uma coisa espontânea, foi um "product placement" bem pensado e trabalhado que deu enorme retorno à marca coreana. A foto foi "retweetada" quase três milhões de vezes na segunda-feira à tarde e a Samsung chegou a ser mencionada 900 vezes por minuto nas redes sociais durante esse espaço de tempo. É impossível quantificar o valor que isto significa, mas excede em muito aquilo que foi pago pelos spots exibidos nos intervalos da emissão.

Manuel Falcão, “Jornal de Negócios”, 07-03-2014 :: http://bit.ly/1dzeSx8
Obs. – Título da reponsabilidade do blog COMUNICAÇÃO INTEGRADA

segunda-feira, 3 de março de 2014

Um assessor de imprensa aos pontapés


Quem costuma contactar com Zeca Mendonça, o assessor de imprensa do PSD, que entrou no partido nos tempos da fundação, como segurança de Francisco Sá Carneiro, tem dele a imagem de uma pessoa equilibrada, sensata, afável e minimamente conhecedora do funcionamento dos jornalistas e do sistema mediático. Não é um estratega, mas é um homem do terreno atento aos detalhes, sempre disponível para ajudar os jornalistas no cumprimento do seu trabalho.
Sendo talvez o assessor de imprensa há mais tempo em funções em Portugal, o veterano Zeca Mendonça é, aliás, uma referência do PSD. Por isso, o seu pontapé num fotojornalista não é um pontapé qualquer. Ainda me lembro do célebre congresso do PSD que ditou a sucessão de Cavaco Silva e do momento em que Luís Filipe Menezes, então presidente da poderosa Comissão Política Distrital do Porto, com o discurso contra os “sulistas, elitistas e liberais”, causou desordem na reunião, tendo bastado um olhar do líder Cavaco para que Zeca Mendonça assomasse ao púlpito e dissesse que Cavaco Silva pedia ordem aos congressistas, começando toda a gente a gritar pelo PSD, devolvendo, assim, a ordem ao conclave.
Duas décadas depois, somos surpreendidos pelo mesmo Zeca Mendonça a pontapear um fotojornalista nos corredores de um conselho nacional do PSD, onde havia, realmente, interesse jornalístico em fotografar o seu novo presidente, o regressado Miguel Relvas (assista ao vídeo aqui: http://bit.ly/1coRcxf).
Entre 1995 e 2014 são duas imagens distintas da mesma pessoa. Aparentemente, foi Zeca Mendonça que mudou para pior, perdendo as estribeiras e reagindo sem senso e sem inteligência – ignorando que estava a ser filmado pelas costas e que, actualmente, tudo o que acontece no espaço público fica registado e pode ser amplamente difundido sem controlo por meios de comunicação tradicionais ou digitais, como aconteceu. E ainda bem, em nome da transparência e do direito que temos à informação.
Infelizmente, Zeca Mendonça abordou o fotojornalista ao pontapé, com o ímpeto de quem queria mesmo partir a perna ao adversário. Um método próprio de intolerantes, que não convivem bem com a democracia e com a diferença, e que, portanto, não suportam jornalistas. Mas o seu pontapé também pode ser visto como uma metáfora da acção governativa contra os bolsos dos portugueses, enquanto o Estado continua a viver gordo como sempre viveu, tendo eliminado apenas umas juntas de freguesia para disfarçar.
O que é extraordinário é que a reacção brutal do assessor do PSD foi motivada por uma simples fotografia, que o repórter fez e, ao que parece, não deveria ter feito. E que mal teria a fotografia de Miguel Relvas que o fotojornalista queria mostrar ao público através dos meios de comunicação para quem trabalha? Não teria mal nenhum, evidentemente. O assessor quis proteger Miguel Relvas de quê? É por isso que tenho enorme dificuldade em entender este triste episódio fora de um clima de desespero e desnorte total da comunicação do PSD. 

O namorado de Judite de Sousa e o jornalismo do nada


Já há vários anos que os jornais portugueses “Correio da Manhã”, “Diário de Notícias” e “Jornal de Notícias” – particularmente estes, que teoricamente são diários de informação geral e não jornais de mexericos –, enveredaram pela criação de uma secção ondem publicam alegadas notícias do chamado "jet-set" – ou mundo cor-de-rosa, como também é conhecido –, que vive à base dos interesses comerciais de agentes de comunicação que trabalham com modelos, actores e outros artistas para promovê-los de qualquer maneira no espaço público mediático.
Sempre disponíveis para mostrarem aos seus leitores bons corpos sem roupa, os jornais de informação geral, outrora reconhecidos defensores do interesse público e promotores da informação de interesse público, colocam-se, assim, ao sabor dos interesses privados de atores e modelos, que procuram aparecer quando estão no desemprego. Por vezes, é nesse contexto que muitas modelos/actrizes aproveitam o ensejo para mostrar as mamas novas, demonstrando, assim, a sua excelente forma física para voltar ao mercado. E os jornais vão enchendo páginas e páginas com estes conteúdos daquilo que já designei neste blog como o jornalismo do nada. 
Administradores e editores de jornais podem comemorar milhões de “pageviews” nas edições digitais dos respectivos meios de comunicação, mas já deveriam ter concluído que, com estas notícias sobre o nada, não ganham públicos fiéis para as edições em papel nem conseguem inverter a tendência de queda das receitas de publicidade.
Apesar disso, os seus jornais continuam alegremente a informar-nos quem vai para a cama com quem. E, como o mercado é pequeno, agora até jornalistas famosos são objeto destes mexericos, como é o caso da “notícia” sobre o novo namorado de Judite de Sousa (ver aqui: http://bit.ly/1eV3Q1i), publicada num jornal dito de referência como se fosse jornalismo. Como se tivéssemos alguma coisa a ver com o casal. Como se os leitores fossem acéfalos. E como se estes jornais pudessem sobreviver assim. Fotografia: Lux