sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Televisão decide municipais brasileiras


A evolução das intenções de voto em Fortaleza no "Diário do Nordeste", segundo pesquisas do Ibope

A evolução das intenções de voto no jornal "O Povo", segundo pesquisas da Datafolha

Numa campanha política eleitoral será possível que um candidato comece a corrida com 3% das intenções de voto e, dois meses depois, chegue aos últimos dias da campanha a lutar pelo primeiro lugar? Nas eleições municipais das maiores cidades do Brasil é perfeitamente possível, graças ao enorme poder da televisão, cujos aparelhos estão em todos os lares.
Ao contrário do que acontece na Europa, no Brasil, as campanhas políticas eleitorais são longas e são decididas em grande medida pela televisão. São decididas não através do esclarecimento dos eleitores, embora se realizem debates e entrevistas, mas pela via da quantidade e da qualidade da propaganda que os candidatos apresentam nos espaços gratuitos que a legislação brasileira lhes garante. Por isso, havendo acesso à televisão, bastam dois meses para transformar um candidato desconhecido num candidato potencialmente vitorioso.
Neste momento, está a decorrer a campanha para as eleições municipais do dia 7 de Outubro de 2012, mas a campanha política na televisão abriu oficialmente no dia 21 de Agosto passado. Estamos a falar de um mês e meio de campanha nas rádios e na televisão, segundo regras definidas pela Justiça Eleitoral (ver aqui).
Para além do horário político (ou “tempo de antena”), que passa em horário nobre ao almoço e ao jantar, nas televisões de sinal aberto, os partidos e coligações dispõem ainda de propaganda eleitoral gratuita que passa nas televisões durante todo o dia nos espaços de publicidade. Ora, é precisamente aqui que as eleições se decidem. Os partidos e coligações com maior representatividade eleitoral na Câmara dos Deputados de Brasília têm, naturalmente, mais tempo de horário político e de publicidade. E têm mais dinheiro para contratar boas equipas de comunicação e marketing político, cujo trabalho resulta em bons vídeos para a televisão, que posteriormente são partilhados na Internet, alcançando muita gente.
Acompanho de perto o caso de Fortaleza, uma cidade com 2,5 milhões de habitantes, onde o poder da televisão tem sido muito evidente na evolução das intenções de voto nesta campanha eleitoral. Em Julho, os candidatos Moroni Torgan (Democratas) e Inácio Arruda (Partido Comunista do Brasil) apareciam como melhor colocados para disputar a Prefeitura, tanto mais que a maioria que domina o município de Fortaleza estava com problemas. Cheirava a mudança política.
A Prefeitura de Fortaleza é governada por uma coligação liderada pelo PT de Dilma Roussef, que integra o Partido Socialista do Brasil (PSB), do Governador do Estado do Ceará, Cid Gomes. Para estas eleições, prefeita e governador desentenderam-se e formaram-se duas candidaturas: Elmano de Freitas, pelo PT, e Roberto Cláudio, pelo PSB. Estes dois candidatos, em Julho passado eram praticamente desconhecidos da população de Fortaleza. E as sondagens espelhavam isso mesmo, com os candidatos a registarem percentagens abaixo dos 10%. Elmano de Freitas começou mesmo com escassos 3% numa das sondagens. Entretanto, bastou começar o horário político na televisão, assim como a publicidade durante todo o dia, para que os números das sondagens se tivessem invertido (ver evolução aqui). Os candidatos que nas primeiras sondagens apareciam na frente, como têm menos recursos financeiros e menos tempo de televisão, em função da sua representatividade política, foram perdendo terreno eleitoral para os candidatos de partidos mais ricos e com mais tempo de televisão.
Por isso, o candidato do PT, ex-secretário da Educação, conhecido na cidade por “poste sem luz” – dado a prefeita Luizianne Lins ter dito que elegeria até “um poste com luz quebrada” – aparece agora como um dos favoritos, prometendo governar Fortaleza “como Lula ensinou”. A Presidente Dilma, certamente, não gostará muito do “slogan”, mas lá aparece nos cartazes a dar a cara, juntamente com Lula, ainda com as barbas, no apoio ao candidato do PT. Do mesmo modo, o governador Cid Gomes também dá a cara nos cartazes e está todos os dias na televisão no apoio ao seu candidato Roberto Cláudio. E tudo indica que os dois candidatos que em Julho eram desconhecidos do eleitorado irão mesmo disputar o segundo turno. A televisão faz milagres.

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