domingo, 27 de novembro de 2011

O fado património mundial e a economia portuguesa


O fado é património mundial. É um grande desafio e uma grande oportunidade para vários responsáveis do Governo português, nomeadamente da Cultura, da Economia e do Turismo. Tal como no fado, também na economia e no turismo só quem tem unhas é que toca guitarra.
“A partir de agora, o fado não é apenas a canção de Portugal, a canção de Severa, Marceneiro, Amália, Carlos do Carmo, Camané, Ana Moura e Carminho – é um tesouro do mundo”, como escreve a jornalista Lucinda Canelas, na edição digital do Ípsilon, o suplemento cultural do diário “Público”. “Um tesouro que fala de Portugal, da sua cultura, da sua língua, dos seus poetas, mas que também tem muito de universal nos sentimentos que evoca: a dor, o ciúme, a solidão, o amor.”
A partir deste domingo, por decisão do comité intergovernamental da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), o Fado é Património Mundial da Humanidade. Este sucesso da cultura portuguesa à escala mundial, começou a ser trabalhado em 2005, culminando com a formalização da candidatura apresentada pelo Museu do Fado, em nome da Câmara Municipal de Lisboa, em 2010, dois anos apenas sobre a aprovação da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial. O fado foi então apresentado à UNESCO como “símbolo da identidade nacional” e “a mais popular das canções urbanas” portuguesas, tendo por embaixadores dois intérpretes que, por motivos bem diferentes, fazem parte da sua história de forma incontestada: Carlos do Carmo e Mariza.
O fado é uma das grandes marcas de Portugal com reputação internacional, que vai muito para além das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Conheço pessoas que nunca visitaram Portugal, que não têm origens portugueseas, nem sequer têm a cultura europeia, mas que ouvem Amália Rodrigues e outros fadistas com a veneração dos grandes fãs. Por isso, a eleição do fado como património mundial significa não só uma vitória da cultura portuguesa, mas de Portugal no seu todo, em particular do seu turismo e da sua economia.
Importa agora saber o que fazer com o fado como símbolo da portugalidade. Nesse sentido, a classificação da música da saudade como património mundial constitui um grande desafio e uma grande oportunidade para vários responsáveis do Governo português, nomeadamente da Cultura, da Economia e do Turismo.
Agora quero ver as unhas que Paulo Portas, o ministro da “diplomacia económica”, Álvaro Santos Pereira, o ministro da Economia, e Francisco José Viegas, o secretário de Estado da Cultura, têm para tocar, bem afinados, a guitarra que doravante tem de ser tocada para que o património mundial do fado faça sentido e tenha utilidade. Ou seja, é preciso saber o que é que o Governo vai fazer no sentido de articular um grande plano de marketing público de Portugal que ofereça ao mundo um produto turístico fundamentado na cultura fadista, que consiga gerar ganhos de imagem internacional para muitos outros valores turísticos e culturais de um dos países mais antigos do mundo.

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