sábado, 3 de março de 2012

O jornal oficial do Benfica

Depois do emocionante Benfica-FC Porto (2-3) da noite desta sexta-feira, “A Bola”,  que é talvez o jornal desportivo mais lido do País, não engana: é o jornal oficial do Sport Lisboa e Benfica. Numa leitura rápida da primeira página, que é a montra da edição, verificamos que o conteúdo da manchete, tanto o título como o antetítulo, onde estão as mensagens principais, é escolhido na perspectiva benfiquista, a quem o jogo correu mal, e não valoriza o excelente espectáculo de futebol.
Na manchete, a expressão “Fora de Jogo” sobre a imagem do último golo do FC Porto remete-nos, de imediato, para uma vitória ilegítima do FC Porto, por ter ido baseada num lance ilegal. Não estou a discutir a legalidade do lance – igual, de resto, a tantos outros que já beneficiaram o Benfica sem que “A Bola” ou os benfiquistas se tivessem preocupado. Nesta primeira página, interessa-me apenas a questão comunicacional. A manchete "Fora de Jogo" também nos diz, subliminarmente, que o Benfica não entrou no jogo ou ficou fora de jogo, isto é, fora da corrida pelo título de campeão nacional.
É no antetítulo que parecem evidentes as contradições e a falta de distanciamento e o descontrolo emocional dos jornalistas de “A Bola”. Começam por justificar a derrota do Benfica mencionando “erros de arbitragem”, todavia, a maioria dos recados incluídos no antetítulo são internos, são para o Benfica, sendo destacados erros do treinador Jorge Jesus, de Emerson (o jogador do Benfica que foi expulso pelo árbitro) e de Artur (o guarda-redes do Benfica que não terá sido competente nos golos sofridos). A frase do antetítulo é rematada com uma ideia que nos deixa algo confusos: todos os erros apresentados, afinal, “não retiram mérito à vitória do FC Porto”. Foi o melhor que "A Bola" conseguiu escrever sobre o FC Porto na primeira página. A referência a uma grande penalidade indiscutível e não assinalada a favor do FC Porto, ainda antes do golo decisivo, aparece "diluída" numa chamada secundária. Talvez a próxima edição do jornal do Benfica aproveite o trabalho feito da Travessa da Queimada…

8 comentários:

Jorge Rita disse...

Discordo Luis. O mesmo assunto é chamado a titulo no CM, no DN, no Record e com referencia de capa no jogo. Históricamente ABOLA vende mais quando o Benfica ganha, assim como o RECORD quando o Sporting ganha e OJOGO relativamnte ao Porto. É o negócio a ditar as regras. E tu sabes que é assim.

Anônimo disse...

E a capa do "OJOGO"?

AC disse...

Caro Luís, discordo. A manchete é muito bem apanhada. Fora-de-jogo no terceiro golo, que ninguém põe em causa, mas fora-de-jogo do Benfica. É um ironia fina de um jornal obviamente próximo do Benfica mas que antecipa, regra geral, o sentimento de uma claque. Neste caso, o seu 'portismo' é que não engana.

Mário Rui da Silva Oliveira disse...

Discordo da sua opinião Sr. Luis. Frequentemete leio o que escreve,e se o faço é porque entendo que sempre aprendo algo consigo. Assim gostaria que continuasse a ser. Mas para tal, se me é concedida opinião, acho que a todos é permitido um efusivo patrioteirismo , um salto e uma recaída em velhos amores.Sou benfiquista, mas longe de mim expressar qualquer comentário que não seja o de ter ficado um pouco mais triste pela derrota. Mas é um sentimento que fica comigo mesmo. O que não devemos fazer é acharmo-nos determinadores de valores que, no mais das vezes, e especialmente no futebol, nos conduzem a opiniões vulgares, independentemente de todos os pontos de vista, e que dessa forma nos levam à busca do impossível através do inútil. Não o faça p.f. Sr. Lyuis porque eu quero continuar a lê-lo. A si e aos seus bons escritos.
Cumprimentos
Mário Rui

PluribusUnum disse...

Houve fora de jogo no golo que deu a vitória ao FCP, portanto factualmente não há erro. Mas tudo o resto (a dimensão dada ao 'fora de jogo' e outras técnicas de grafismo e de redacção de títulos) é uma consequência da elaboração do jornal se dirigir fundamentalmente à bancada benfiquista, o seu mercado. E os adeptos dos clubes compram os jornais que validam as suas posições e não os que se regem pela objectividade. Esta prática de "A Bola", aliás seguida ao milímetro pelo "Record" ou pelo "O Jogo", reflecte um posicionamento oposto àquilo que deveria ser o futebol visto da bancada de imprensa. Há muitos anos que o rigoroso cumprimento e exercicio da isenção, ética e distanciamento que devem pautar o exercício do jornalismo são coisas ausentes do jornalismo de desporto que se faz em Portugal, muito especialmente nos três diários desportivos da praça, para os quais questões como a corrupção no desporto são temas tabu. A máxima "não mordas a mão que te dá de comer" encontra os seus mais dilectos seguidores nos três diários desportivos portugueses...
Infelizmente, estas práticas, correntes há décadas nos jornais desportivos, estão a alastrar a outras áreas do jornalismo...

PluribusUnum disse...

Houve fora de jogo no golo que deu a vitória ao FCP, portanto factualmente não há erro. Mas tudo o resto (a dimensão dada ao 'fora de jogo' e outras técnicas de grafismo e de redacção de títulos) é uma consequência da elaboração do jornal se dirigir fundamentalmente à bancada benfiquista, o seu mercado. E os adeptos dos clubes compram os jornais que validam as suas posições e não os que se regem pela objectividade. Esta prática de "A Bola", aliás seguida ao milímetro pelo "Record" ou pelo "O Jogo", reflecte um posicionamento oposto àquilo que deveria ser o futebol visto da bancada de imprensa. Há muitos anos que o rigoroso cumprimento e exercicio da isenção, ética e distanciamento que devem pautar o exercício do jornalismo são coisas ausentes do jornalismo de desporto que se faz em Portugal, muito especialmente nos três diários desportivos da praça, para os quais questões como a corrupção no desporto são temas tabu. A máxima "não mordas a mão que te dá de comer" encontra os seus mais dilectos seguidores nos três diários desportivos portugueses...
Infelizmente, estas práticas, correntes há décadas nos jornais desportivos, estão a alastrar a outras áreas do jornalismo...

Rui Luz disse...

As capas do jornal A Bola são desprovidas de qualquer rigor jornalístico, destinando-se apenas a satisfazer o ego dos adeptos do Benfica ou a canalizar a sua frustação para erros de arbitragem. Mas existe ainda um caso mais escandaloso do que este. Quando o ciclista português Rui Costa da equipa Movistar ganhou uma etapa na Volta à França de 2011, o jornal A Bola remeteu esta notícia para um canto muito discreto na 1ª página, preferindo dar grande destaque a uma goleada de pré-época do Benfica a uns amadores da Suiça ou da Bélgica. Se calhar arrisco a dizer que a audiência de uma etapa do Tour é bem maior que a audiência de todos os jogos da Superliga numa época.

Jonh disse...

Muito boa análise, Luís. O jornal "A Bola" é claramente o um jornal feito para os benfiquistas, basta observar as manchetes diários daquele diário para perceber isso. É o seu público-alo, por isso tenta atraí.los para a compra.