quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O “bombardeamento fiscal”, segundo Paulo Portas


Pouco depois de o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, ter anunciado um “aumento enorme” da carga fiscal em Portugal, na tarde desta quarta-feira, dia 3, começaram a circular nas redes sociais notícias (como esta) e vídeos (como este), onde Paulo Portas, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros e líder do CDS, parceiro governamental do PSD, aparece a criticar o “bombardeamento fiscal” do Governo.
Muitos dos recuperadores desses links estavam, evidentemente, a ironizar. Outros não. A questão é que as referidas declarações de Paulo Portas faziam tanto sentido que foram entendidas por muita gente como declarações verdadeiras. Uma vez linkados esses conteúdos, muitos internautas nem repararam que estavam perante declarações antigas de Paulo Portas – no caso de Outubro de 2010, quando o Governo era liderado pelo socialista José Sócrates –, pelo que teceram comentários tendo por base uma hipotética divisão insanável no atual Governo de coligação.
Sabemos que Paulo Portas sempre disse que não admitiria mais aumento de impostos, muito menos um “aumento enorme”, como classificou o ministro Vítor Gaspar. Porém, também é verdade que Portas ainda não disse verdadeiramente o que pensava, ao contrário do que aconteceu em 2010, quando se tratava de atacar a proposta de orçamental do Governo PS para 2011, na qual, saliente-se, nem de perto nem de longe esteve em causa um aumento de impostos tão brutal. Mas, na altura, Portas falou em “bombardeamento”.
Recuperações de notícias ou vídeos antigos são uma das possibilidades que os cidadãos têm agora à disposição na Internet. E uma arma política poderosa. Porque os conteúdos são lançados na rede e ficam por lá. É por isso que os políticos são apanhados com muita facilidade a dizer uma coisa e o seu contrário no mais curto espaço de tempo. Pedro Passos Coelho, por exemplo, é o último campeão da mentira na política portuguesa (ver aqui para confirmar).
As declarações de Paulo Portas que agora foram recuperadas por muitos internautas portugueses são apenas mais um exemplo da facilidade com que podemos ser enganados na rede. Ou de como pode surgir um problema de comunicação entre um político e os cidadãos eleitores. O que significa que precisamos de estar muito atentos ao que estamos a ler, verificando a data ou procurando no Google notícias sobre o mesmo assunto em outros meios de comunicação que confirmem a veracidade daquilo que estamos a ler.
Finalmente, um recado para o departamento de comunicação do CDS: não terem retirado do servidor do partido os vídeos anteriores à tomada de posse do atual Governo é um erro de principiantes. É por isso que a comunicação digital não pode ser entregue a toda a gente – pois implica pensar em muitos detalhes. Hoje, poderíamos ver Paulo Portas falar em “bombardeamento fiscal do Governo” em todo o lado, menos na página oficial do CDS na Internet.

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