domingo, 17 de novembro de 2013

O papel da comunicação na ascensão e queda dos cigarros


O Dia Mundial do Não Fumador, que é assinalado em 17 de novembro de cada ano, pretende sensibilizar a população para os perigos do consumo de cigarros e, sobretudo, para as vantagens de uma vida sem fumo. O tabaco é uma droga muito poderosa, que a sociedade de consumo do século XX, nomeadamente através da publicidade, das relações públicas, da televisão e do cinema, transformou num símbolo de independência juvenil, de emancipação feminina, de estatuto social, de liberdade e de vida ativa. Um grande embuste que resultou numa máquina de destruição e morte!...
Numa sociedade de consumo influenciada por poderosos instrumentos de comunicação a realidade é construída. Isto é, a realidade não é aquilo que acontece mas aquilo que vem a público através dos meios de comunicação. Como já escrevi neste blog (ver aqui), Eduard Bernays, sobrinho de Sigmund Freud, que nos anos de 1920 lançou o livro “Propaganda”, que se tornou uma referência para os profissionais de Relações Públicas, foi o primeiro a formular ideias como “projetos de relações públicas”, “segmentação de públicos”, “product placement”, “lóbi político”, “comunicação orientada” ou “sedução dos prescritores”. Com estas ideias revolucionárias, numa altura em que a sociedade de consumo ganhava terreno no mundo ocidental, Bernays, influenciado pelos conhecimentos de psicologia de Freud, foi o primeiro a tentar convencer as empresas que precisavam captar o interesse dos consumidores, influenciando o seu subconsciente, levando-os a ter necessidade de coisas que na verdade não precisavam. Podemos dizer que eram os primórdios do neuromarketing, agora tão estudado.
Exemplo vivo de uma ação de “spin” aconteceu quando Bernays convenceu a sociedade norte-americana quanto ao consumo de tabaco em público por parte das mulheres. As mulheres não podiam fumar em público e a tabaqueira “Lucky Strike” assumiu a causa de equiparar o ato de fumar feminino a um símbolo de liberdade. Então, Bernays inventou o desfile das “tochas da liberdade”, associando o consumo de tabaco à ideia de emancipação da mulher numa sociedade com igualdade de direitos para os dois sexos.
Nasceu então a expressão “engenharia do consentimento” para definir o papel das Relações Públicas numa sociedade de “spin”. Uma expressão baseada na ideia segundo a qual nós somos manipulados para consentirmos alguma coisa. Para o filósofo Noam Chomsky estávamos perante “a fabricação do consentimento”. Bernays, por seu lado, dizia: “A manipulação consciente e inteligente dos hábitos organizados e as opiniões das massas são elementos importantes numa sociedade democrática”.
Da mesma forma que a sociedade de consumo glorificou o consumo de cigarros, também o diabolizou em muito pouco tempo, o que não deixa de ser notável. Em finais do século XX, os estudos científicos confirmavam o consumo do tabaco como uma causa de múltiplas doenças e de morte prematura e a indústria tabaqueira, embora resistindo, começou a perder terreno com a proibição da publicidade. Seguiu-se a proibição do consumo em espaços fechados. No cinema ou nas séries de televisão, o consumo de cigarros é, agora, associado a um comportamento desviante. Em muito poucos anos, o ato de fumar deixou de ser um prazer de afirmação social para se transformar num ato solitário contra a própria saúde – um ato antisocial e clandestino. A sociedade de “spin” e o sistema mediático tanto constroem como destroem. Neste caso, a destruição do cigarro como símbolo de afirmação social foi uma coisa boa para todos nós.

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