Quem
costuma contactar com Zeca Mendonça, o assessor de imprensa do PSD, que entrou
no partido nos tempos da fundação, como segurança de Francisco Sá Carneiro, tem
dele a imagem de uma pessoa equilibrada, sensata, afável e minimamente conhecedora
do funcionamento dos jornalistas e do sistema mediático. Não é um estratega,
mas é um homem do terreno atento aos detalhes, sempre disponível para ajudar os
jornalistas no cumprimento do seu trabalho.
Sendo
talvez o assessor de imprensa há mais tempo em funções em Portugal, o veterano Zeca
Mendonça é, aliás, uma referência do PSD. Por isso, o seu pontapé num
fotojornalista não é um pontapé qualquer. Ainda me lembro do célebre congresso
do PSD que ditou a sucessão de Cavaco Silva e do momento em que Luís Filipe Menezes,
então presidente da poderosa Comissão Política Distrital do Porto, com o
discurso contra os “sulistas, elitistas e liberais”, causou desordem na
reunião, tendo bastado um olhar do líder Cavaco para que Zeca Mendonça
assomasse ao púlpito e dissesse que Cavaco Silva pedia ordem aos congressistas,
começando toda a gente a gritar pelo PSD, devolvendo, assim, a ordem ao conclave.
Duas
décadas depois, somos surpreendidos pelo mesmo Zeca Mendonça a pontapear um fotojornalista
nos corredores de um conselho nacional do PSD, onde havia, realmente, interesse
jornalístico em fotografar o seu novo presidente, o regressado Miguel Relvas (assista ao vídeo aqui: http://bit.ly/1coRcxf).
Entre 1995 e 2014 são duas imagens distintas da mesma pessoa. Aparentemente, foi Zeca Mendonça
que mudou para pior, perdendo as estribeiras e reagindo sem
senso e sem inteligência – ignorando que estava a ser filmado pelas costas e que, actualmente, tudo o que acontece no espaço público fica registado e pode ser amplamente difundido sem controlo por meios de comunicação tradicionais ou digitais, como aconteceu. E ainda bem, em nome da transparência e do direito que temos à informação.
Infelizmente,
Zeca Mendonça abordou o fotojornalista ao pontapé, com o ímpeto de quem queria mesmo partir a perna ao adversário. Um método próprio de intolerantes, que
não convivem bem com a democracia e com a diferença, e que, portanto, não suportam jornalistas. Mas o seu pontapé também pode ser visto como uma metáfora da acção governativa contra os bolsos dos portugueses, enquanto o Estado continua a viver gordo como sempre viveu, tendo eliminado apenas umas juntas de freguesia para disfarçar.
O que é extraordinário é
que a reacção brutal do assessor do PSD foi motivada por uma simples fotografia, que o repórter fez e, ao que parece, não deveria ter feito. E que
mal teria a fotografia de Miguel Relvas que o fotojornalista queria mostrar ao público através dos meios de comunicação para quem trabalha? Não teria mal nenhum, evidentemente. O assessor quis proteger Miguel Relvas de quê? É por isso que tenho
enorme dificuldade em entender este triste episódio fora de um clima de desespero
e desnorte total da comunicação do PSD.
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