sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Decifrar o cliente é um desafio


“A forma como as empresas se relacionam com seus clientes mudou. A preferência crescente por dispositivos móveis e a utilização da Internet como motor de pesquisa elevaram a competitividade entre marcas e, consequentemente, a necessidade de um refinamento na maneira de entender e se relacionar com este novo consumidor.”
Partilho um texto muito interessante, sobre as tendências do marketing e consumo contemporâneos, publicado no portal brasileiro Consumidor Moderno. Confira no link:  http://bit.ly/MAlxNP.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Papa Francisco na capa da "Rolling Stone"


O Papa Francisco é tema de capa da “Rolling Stone”, uma revista norte-americana de música e cultura popular, consumida pelo público jovem, que está à venda, a partir de sexta-feira. É o reconhecimento internacional de que o Papa Francisco, além de líder religioso, é também uma figura da cultura popular contemporânea. E mais um excelente momento de comunicação do Vaticano e dos tempos de mudança que estão a ser promovidos por Jorge Mario Bergoglio.
O jornalista Mark Binelli esteve no Vaticano para fazer um retrato do Papa argentino, de 77 anos, tendo percebido que o líder da Igreja Católica está a romper com as tradições do Vaticano, promovendo aquilo que classifica como uma “revolução gentil” – que é muito bem vista pelos católicos de todo o mundo.
Em menos de um ano desde que começou o seu pontificado, conta a “Rolling Stone”, o Papa Francisco tem feito muito para separar-se de papas anteriores e estabelecer-se como papa do povo. Foi por isso que optou por não residir no palácio papal, escolhendo a casa de hóspedes do Vaticano, libertando-se, assim, do isolamento de clérigos do Vaticano. Ele optou também por utilizar um carro Ford Focus, nas suas pequenas deslocações em Roma, em vez de uma limusine com motorista. Além disso, o papa paga as suas próprias contas de hotel. Outras informações da “Rolling Stone” no link: http://rol.st/Mnjr3G.

sábado, 25 de janeiro de 2014

As mulheres como elas são


Pouco conhecida fora dos Estados Unidos, a marca de lingerie Aerie transformou-se em assunto falado no mundo inteiro. A fabricante de moda íntima teve uma ideia alinhada com o marketing contemporâneo: convidou mulheres normais, e não modelos, para as suas campanhas de publicidade e afirmou que irá eliminar das suas campanhas o recurso a programas de tratamento de imagem que transformam as modelos em seres de grande beleza estética que não existem na realidade. Confira: http://abr.ai/1asVbI0.
Sob o lema “The real you is sexy” (ou seja, “Você é naturalmente sexy”, em português), a campanha da Aerie põe em evidência as fragilidades de uma comunicação publicitária que nos vende o sonho e nos mostra uma realidade que não encontramos na nossa vida de todos os dias. É um sinal dos novos tempos da comunicação. Cada vez mais informados, cada vez mais exigentes e saturados de estereótipos, os consumidores não deixaram de comprar o sonho, mas reagem melhor a uma comunicação verosímil. Afinal, o chamado Marketing 3.0 entende o consumidor como um ser humano completo, dotado de coração, mente e espírito, enquanto que, no passado, entendia o consumidor como alguém distante que comprava para suprir necessidades físicas – e que reagia mais facilmente a qualquer estímulo externo que acionasse o processo de decisão de compra.
É por isso que, agora, as mulheres devem aparecer nas imagens publicitárias como são na realidade, e não como seres humanos esteticamente perfeitos ou modelos que, na realidade, não são como o anúncio publicitário mostra. Os consumidores do século XXI lutam por um mundo melhor, o que inclui comprar um produto como ele é. Portanto, não suportam artimanhas de computador que, no fundo, transformam a realidade e promovem o embuste.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

A saia da assessora do Presidente e o jornalismo do nada


Na condecoração do melhor jogador de futebol do mundo, Cristiano Ronaldo, as televisões e os jornais portugueses chamaram a nossa atenção para a saia que a assessora do Presidente da República para a Juventude, Carla Mouro, exibiu na cerimónia. Os editores destas notícias sobre o nada continuam a julgar que, mostrando um pouco mais da coxa, escrevendo e falando sobre ela, conseguem mais audiências. 
Num registo evidentemente machista e incompetente, o repórter de uma televisão até destacou a “empatia” entre a assessora e Cristiano Ronaldo – pouco faltou para falar em romance... – e frisou que o atleta formado no Sporting Clube de Portugal foi “sempre acompanhado de perto por Carla”, como se a consultora de Cavaco Silva para o Desporto não estivesse a trabalhar e a cumprir bem a sua função. Pior ainda: o mesmo repórter ignorou completamente a “empatia” entre o jogador e o chefe da Casa Civil do Presidente, Nunes Liberato (confira as imagens aqui: http://youtu.be/Y2JsQU4VyRw).
Face à ausência, em Portugal, de um “jet-set” que seja capaz de gerar conteúdo para tanta página vazia, ou para tanto minuto ocioso na televisão, constroem-se estas histórias sem história, que criam uma realidade paralela. É mais um momento daquilo que considero ser o jornalismo do nada. No caso, estamos perante uma história cuja construção e divulgação só servirá para inibir as mulheres portuguesas de se apresentarem bem em cerimónias públicas.
Mas não só. Para outros ramos de atividade é assim que os negócios também fluem. À boleia da saia curta de Carla Mouro – escolhida, aliás, com bom gosto, para destoar positivamente entre tantos fatos escuros –, o “Jornal de Notícias”, por exemplo, tratou logo de ouvir especialistas em imagem e protocolo, que assim foram promovidos gratuitamente, apesar do preconceito das suas opiniões. Deve ser bom para a economia. Confira: http://bit.ly/1c0D9M6. Fotografia: Gustavo Bom / Global Imagens.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Investimento em marketing. Tendências para 2014


Um estudo da multinacional de marketing e comunicação digital Exact Target indica que 70% dos profissionais de comunicação aumentarão os investimentos em marketing digital em 2014. O relatório State of Marketing 2014, baseado na audição de mais de 2500 profissionais de marketing e comunicação, mostrou que os investimentos serão feitos em tecnologias para análise de dados (61%), automação de marketing (60%), e-mail marketing (58%), mídias sociais (57%) e gerenciamento de conteúdo (57%). 
Em minha opinião, estas tendências de investimento, apontadas pelos profissionais, podem ser o reflexo da incerteza quanto aos resultados da comunicação em ambiente digital, por parte de muitas marcas e organizações, as quais evidenciam a necessidade de conhecer melhor os seus públicos digitais, tendo em vista uma comunicação mais eficaz. Para uma empresa, só uma comunicação bem dirigida aos públicos-alvo é suscetível de se transformar em fonte de vendas ou negócios geradores de resultados económicos. Daí que a maioria dos profissionais aponte como prioridade o investimento em tecnologias de análise de dados. Como sempre, ter informação é ter poder. Neste caso, ter o poder de conhecer o mercado para produzir bem e comunicar melhor. O estudo está disponível para download gratuito. Confira: http://bit.ly/1dkLU2v.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

François Hollande em maus lençóis


Quando os assuntos privados colidem com a imagem pública de um político e entram no espaço público deixam de ser assuntos privados para se transformarem em assuntos públicos. Logo, do interesse de todos. Depois, tudo depende da estratégia de comunicação. Mas há casos em que não há estratégia de comunicação que resista. A traição conjugal é um deles. É por isso que o Presidente da França, o socialista François Hollande  que nesta terça-feira terá 600 jornalistas pela frente , se encontra em muito maus lençóis. Na imagem, Hollande e a companheira oficial dos últimos anos, a jornalista Valérie Trierweiler, hospitalizada por causa de uma depressão na sequência deste caso que está a abalar a política francesa. Confira: http://bit.ly/1iHAyb2.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A morte de Eusébio e a informação televisiva


Portugal deve ser o único país do mundo civilizado onde os serviços de notícias, ou telejornais, das televisões em sinal aberto têm hora para começar, mas não têm hora para terminar. Sejam na televisão pública ou nas televisões privadas.
No pequeno mercado português dos “media”, a “informação televisiva” é, muitas vezes, sinónimo de emissões intermináveis de relatos vazios ou inconsequentes sobre o nada e de perguntas muitas vezes mal formuladas e respostas sem nexo de protagonistas que não têm nada a acrescentar sobre o acontecimento. Foi esta informação sem conteúdo que ganhou estatuto e interesse entre os editores de informação, de tal modo que se transformou em motivo de guerrilha entre canais pela conquista de audiências. Em tempos, até a hora de início dos três telejornais das 20h00 foi motivo de grande polémica, tendo sido necessária a intervenção de organismo regulador, porque, simplesmente, havia canais que tinham prazer em enganar os telespectadores, iniciando o serviço de notícias antes das 20h00 agendadas só para agarrar o público que já estava a ver a novela das 19h00. Uma concorrência absolutamente patética.
A RTP1, a RTP2, a SIC e a TVI não são canais de informação, nem as suas redações estão preparadas para trabalhar com as exigências técnicas e profissionais dos canais de notícias, mas, muitas vezes, atuam como se fossem canais de informação, embora sem que se vislumbre algum critério editorial a não ser o critério das imagens espetaculares, propagandeadas por “teasers” sucessivos antes dos intervalos publicitários para prender ao aparelho o incauto do telespectador – como se as notícias fossem objetos de consumo. Deste modo, degrada-se a qualidade do jornalismo e a informação televisiva perde credibilidade e importância social. Curiosamente, essa degradação agrada aos vários poderes, em particular ao poder político. Mas isso é outra conversa.
Se este cenário pode ser assistido em dias normais – em que as televisões desinformam o telespectador através da promoção da selva mediática, em vez de orientá-lo com o essencial da informação mais importante do dia – tudo piora nos dias de cobertura de grandes acontecimentos. Foi o que aconteceu por estes dias, com a notícia da morte do futebolista Eusébio e respetiva cobertura televisiva das reações, do velório e das cerimónias fúnebres do antigo jogador de Portugal e do Benfica. Foram diretos sobre diretos, com muitas lágrimas, muita comoção e muitas opiniões sem interesse nenhum, ou repetições de imagens e declarações que os portugueses puderam ver em doses cavalares ao longo de horas e horas, fazendo de Eusébio um homem único sem o qual Portugal não teria existido. E transformando todos os canais numa espécie de “Benfica TV”. A verdade é que cobertura da morte de Eusébio construiu uma realidade mediática própria ao ter feito desaparecer das televisões toda a atualidade informativa que não fosse sobre o morto. E, no entanto, mesmo Portugal estando de luto, a vida continuou, em todas as suas vertentes, a chuva não deixou de cair e o mundo avançou.
Podemos dizer que, mais uma vez, os editores televisivos perderam a noção da realidade, deixaram-se arrastar pela emoção do acontecimento e perderam a capacidade de editar o manancial de informação de que dispunham sobre Eusébio, em função de imagens, notícias, entrevistas, reportagens e outros conteúdos. Ora, quando um meio de comunicação perde a capacidade de editar deixa de cumprir o seu papel na sociedade. Editar dá muito trabalho e implica capacidade de decisão, bom gosto, sobriedade, objetividade e muito bom senso. Editar significa separar o trigo do joio, separar o que interessa do que não interessa, em suma, editar significa hierarquizar a informação segundo o posicionamento editorial de cada meio de comunicação, oferecendo ao público o essencial para sua informação. Doutro modo, não estamos a orientar o público e a facilitar a compreensão da realidade, correndo o risco de desinformar, intoxicar e confundir o público.
Mesmo em situações de grandes acontecimentos de interesse público, um telejornal de um canal generalista não pode deixar de ser um telejornal, oferecendo ao público toda a informação do dia. E por muito grande que seja um acontecimento, só muito raramente ele poderá ser susceptível de alterar o tempo de duração de um telejornal. De resto, em ocasições muito especiais, há sempre a possibilidade de ser aberta uma emissão especial, com uma duração temporal previamente fixada, para que o público possa saber com o que vai contar na sua televisão. E assim ganhariam todos. O canal de televisão ganharia credibilidade e o telespectador sentir-se-ia respeitado.

Mário Soares, Eusébio e a hipocrisia


Mário Soares e Eusébio são duas figuras públicas incontornáveis do século XX português. Soares na política e Eusébio no futebol. Com quase 90 anos, Mário Soares, antigo Presidente da República, está na idade de dizer tudo o que pensa. É por isso que ele tem sido uma voz contra a corrente, contra o politicamente correto. Tem sido assim ao analisar a crise económica europeia e foi assim, agora, ao falar sobre a morte de Eusébio – figura do futebol de dimensão internacional que, exercendo o seu direito como cidadão, nunca participou nos grupos de apoiantes políticos de Soares, tendo preferido andar mais à direita, nomeadamente no apoio a Cavaco Silva.
Porém, não consigo perceber por que é que as declarações de Mário Soares sobre Eusébio são consideradas polémicas e geraram tanta polémica nas redes sociais. Não é verdade que Eusébio bebia e comia sem grandes cuidados? Não é verdade que Eusébio não era um intelectual? Onde é que está o problema ou a gravidade nas declarações de Soares? Onde está o pluralismo e o direito à liberdade de expressão? É preciso medir cada palavra para não cairmos em desgraça neste espaço público mediático global, que integra meios de comunicação tradicionais e meios digitais, onde todos os cidadãos podem participar ativamente? Que ditadura é esta, onde a sinceridade não fica bem? Que ditadura é esta, onde só fica bem o que é agradável ou positivo? E que sociedade é esta que só aceita bem a hipocrisia? Confira o que disse Mário Soares: http://bit.ly/19L3MW9.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Revista sobre jornalismo para download


Para começar 2014 de um modo simpático, partilho com os leitores do blog COMUNICAÇÃO INTEGRADA a nova edição da "Revista Pauta Geral - Estudos em Jornalismo", organizada pelo Mestrado em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Paraná (Brasil). Destaque para uma entrevista exclusiva com o investigador português Adriano Duarte Rodrigues, professor catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Estrasburgo (França), doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de Louvain (Bélgica) e professor da Universidade Nova de Lisboa, onde foi vice-reitor e também dirigiu a Faculdade de Comunicação. Download no link: http://bit.ly/1copdtK.

domingo, 29 de dezembro de 2013

O papel da imprensa económica no espaço mediático português


“(...) Alguns jornalistas ficam muito irritados quando afirmo (e vou repetir) que um dos problemas dos dias de hoje na vida pública em Portugal é a facilidade com que a comunicação social absorve a linguagem do poder e a reproduz como sendo sua, assim legitimando-a porque lhe dá um sujeito neutro, tornando-a uma verdade universal. Este processo não é simples, não se trata de estar “a favor” ou “contra” o Governo, nem sequer de atuar em função de preferências ou hostilidade partidárias, porque se fosse assim seria mais fácil identificar o que se passa.
Há um papel importante para os gostos e os ódios pessoais, mas isso faz parte do meio jornalístico desde sempre. O hábito é ajustar contas em função das simpatias ou antipatias pessoais entre jornalistas, políticos e outras personagens do espaço público, muito mais eficaz como explicação do que as simpatias partidárias. A promiscuidade entre jornalistas e “fontes”, a troca de favores e cumplicidades, as amizades e os amores, as vinganças e elogios interessados passam-se de modo subterrâneo, mas explicam muito da atitude de jornalistas face aos detentores do poder político, atual ou passado. Ora pouca gente cultiva mais a sua relação com os jornalistas do que os grupos dirigentes das “jotas” dos partidos, seja do PS ou do PSD, cuja proximidade social, cultural, de mentalidade e modo de vida, é quase total, e cuja partilha geracional de vocabulário (escasso), fragmentos de ideias, mitos e (in)experiências é igualmente comum.
Muitas vezes estas empatias têm a ver com o bem escasso da “influência” e os conflitos pela capacidade de a ter, outras vezes é inveja por ganhos e recursos. O problema é que, sendo esta uma explicação importante para muito do que se publica e se diz, ainda por cima em meios muito pequenos, que comunicam entre si, e onde está sempre alguém no lugar pretendido por outrem, ela é invisível para a comunidade dos consumidores dos media, que desconhecem muitos dos meandros que estão atrás dos bastidores. Explicava muita coisa, como se percebeu quando do “caso Relvas”, mas é na maioria dos casos impossível de usar.
Há cada vez mais jornalistas e jornalistas-comentadores mais próximos do poder, partilhando do mesmo pensamento de fundo associado ao “ajustamento”, embora possam discordar e algumas vezes serem até agressivos na crítica a aspectos de detalhe da governação. O problema é que a concordância de fundo é muito mais importante do que a discordância no detalhe e o núcleo central de legitimação do poder permanece intocável.
A mentalidade adversarial da comunicação social, já em si mesmo uma fragilidade, deu lugar a uma enorme complacência com o poder. Uma das razões desta proximidade de fundo tem a ver com o papel cada vez mais destacado da imprensa económica em tempos em que a “crise” é dominantemente explicada apenas pelas suas variantes económicas. O predomínio da economia levou a um avolumar do “economês”, uma variante degradada quer da economia, quer da política. E esse “economês” favorece os argumentos de “divisão” que têm tido muito sucesso no discurso público, fragilizando, no conflito social, umas partes contra as outras. Este discurso da divisão é uma novidade desta crise e uma das principais vantagens da linguagem do poder.
Colocar novos contra velhos, empregados contra desempregados, trabalhadores privados contra funcionários públicos, reformados da Segurança Social contra pensionistas da CGA, sindicalizados contra “trabalhadores”, grevistas contra a “população”, e muitas outras variantes das mesmas dicotomias, tem tido um papel central no discurso governamental, que encontra na “equidade” um dos mais fortes elementos de legitimação. Se se parar para pensar, fora dos quadros das “evidências” interessadas, verifica-se até que ponto uma espécie de neomalthusianismo grosseiro reduz todas estas dicotomias a inevitabilidades a projeções sobre o “futuro” muito simplistas e reducionistas e que recusam muitos outros fatores que deviam entrar na avaliação dessa coisa mais que improvável que é o “futuro”. À substituição da política em democracia, com o seu complexo processo de expectativas e avaliações, traduzidas pelo voto, ameaçando, como dizem os “ajustadores”, pela “politiquice”, ou seja, as eleições, a “sustentabilidade” das soluções perfeitas de 15 ou 20 anos de “austeridade”, soma-se a completa falta de pensamento sobre o modo como as sociedades funcionam, que o “economês”, que é má economia, não compreende.
A redução das análises correntes a este “economês”, sem política democrática, nem sociedade, revela-se num fenómeno recente que é a proliferação de livros de jornalistas com as receitas para salvar o país, quase todos sucessos editoriais. Eles mostram a interiorização profunda, em muitos casos prosélita, noutros mais moderada, da linguagem, explicações, legitimações, amigos e adversários, proto-história e factos selecionados, do discurso do poder sobre a crise. A isso acrescentam propostas em muitos casos inviáveis em democracia e num Estado de direito, e cuja eficácia, mesmo nos seus termos, está por demonstrar.
Esses livros favorecem a ideia de que o “vale-tudo” que está por detrás da continuada sucessão de legislação inconstitucional do Governo poderia ser a solução ideal “para Portugal”, que infelizmente é “proibida” ou pela “resistência corporativa” dos interesses ou por entidades como o Tribunal Constitucional, ou mesmo pela “ignorância” e impreparação da opinião pública. Escreve-se como se não houvesse interesses legítimos que o Estado de direito acautela, ou práticas brutais de transferência de rendimentos e recursos, que tem sempre quem ganha e quem perde, cujos efeitos na conflitualidade social tornam por si próprio insustentável a sua manutenção. São de um modo geral muito complacentes com os de “cima” e muito críticos dos de “baixo”, e dão pouca importância aos efeitos de exclusão e diferenciação social que as suas políticas propõem, mas, acima de tudo, ignoram sistematicamente que elas falham no essencial, ou seja, que são ineficazes para os objetivos pretendidos.
A solução é, em vez de mudar as políticas, acrescentar-lhes mais tempo e é por isso que o coro da “austeridade” para décadas é cada vez maior e será ruidoso depois da troika mandar aterrando cá, para mandar a partir de Bruxelas. Aliás, será um interessante exercício ver o que nos diziam em 2011, sobre os resultados que já se deveriam ver em 2012, e o milagre de uma economia pujante “libertada do Estado”, já em 2013, e que agora é de novo prometida em 2014. Se diminuíssemos a dívida e défice em função das “intenções proclamadas” para o ano seguinte, já estávamos a cumprir o Pacto Orçamental.
Alguns jornalistas sabem que é assim, que a linguagem do poder se estabeleceu de forma acrítica na comunicação social, e aqui e ali tentam funcionar a contracorrente. Mas as redações estão muito degradadas, com meios muito escassos, o trabalho precário, barato ou quase gratuito, pouco qualificado, prolifera e o emprego está sempre em risco, pelo que a prudência exige muita contenção. Por outro lado, o papel crescente da “comunicação” profissionalizada, a que Governo e empresa, recorrem cada vez mais, exerce uma pressão considerável no produto final da comunicação social, em particular na informação económica. A isto se junta o proselitismo na Rede, nos blogues e no Facebook, nos comentários anónimos, às claras ou em operações “negras” de assessores militantes e amigos dos partidos do Governo, à procura de um lugar ao sol, ao exemplo do que um destes operacionais revelou recentemente numa entrevista à Visão.
Por isso, neste combate pelas palavras de 2014, o Governo parte em vantagem, não porque tenha razão, mas porque tem mais meios e, pior ainda, conta com a força que num país pequeno, fragilizado, com uma classe média empobrecida, com uma opinião pública débil, tem o discurso que vem do lado do poder. Já acontecia com Sócrates, acontece com Passos Coelho.”

José Pacheco Pereira, historiador e militante do PSD, partido que lidera a coligação governamental, “Público”, 28-12-2013 :: Texto integral: http://bit.ly/1fTeU1C :: Título da responsabilidade do blog COMUNICAÇÃO INTEGRADA