sexta-feira, 22 de julho de 2011

Façam como Murdoch. Peçam desculpas a Passos Coelho



Uma notícia da agência pública de notícias Lusa, baseada numa fonte anónima, contrariando as normas do Código Deontológico dos Jornalistas, difundida pela calada da noite, provocou o primeiro grande caso político-jornalístico desde que o presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, lidera o Governo.
A partir de uma informação alegadamente transmitida aos jornalistas por um conselheiro nacional do PSD, Pedro Passos Coelho teria revelado na reunião partidária, realizada à porta fechada, que teria encontrado “um desvio colossal” entre as contas públicas referenciadas pelo Governo anterior e as contas que realmente foram encontradas pela nova equipa das Finanças. Para compor o ramalhete, houve ainda um conselheiro do PSD, Miguel Frasquilho, que, surpreendentemente, veio a público confirmar essa versão da agência Lusa, que seria a notícia do dia em todas as televisões e outros meios de comunicação.
Depois apareceu o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, num registo meio cómico, a dizer a versão que mais lhe agradava. Ora, curiosamente, o ministro estava mesmo a falar verdade.
Uma semana depois, os serviços de comunicação do PSD cederam à RTP um vídeo com a intervenção de Pedro Passos Coelho, ficando a certeza de que o líder social-democrata nunca utilizou a expressão “desvio colossal”, conforme se pode ver no vídeo. Só não se entende por que é que o vídeo não foi cedido no próprio dia, desmentindo na hora a versão que os órgãos de informação estavam a divulgar.
De qualquer modo, o vídeo agora divulgado é um documento que reforça a seriedade de Pedro Passos Coelho e a posição governamental, evidenciando, por outro lado, as lacunas e fragilidades de um certo jornalismo político português – aquele que é feito à custa de frases sopradas ao ouvido, muitas vezes de acordo com os objectivos maquiavélicos ou a imaginação de quem as sopra, porque os que sopram recados que querem ver transformados em notícias sabem que não são identificados nos textos jornalísticos.
Foi nessa esparrela, ética e deontologicamente condenável, que caiu o jornalista da agência Lusa, ao atribuir a Pedro Passos Coelho uma expressão que ele não utilizou, com base numa fonte anónima. Tanto mais que os efeitos dessa declaração atribuída ao Primeiro-Ministro foram devastadores, inclusive para a credibilidade externa da governação portuguesa.
As responsabilidades da agência Lusa neste caso triste para o jornalismo português ainda são maiores, porquanto, sendo uma agência de notícias pública, paga com o dinheiro dos contribuintes, deveria estar na linha da frente na promoção da ética e da deontologia jornalísticas. Donde, a agência Lusa e todos os meios de comunicação social que se limitaram a difundir o “desvio colossal” – rádios, jornais, televisões e espaços digitais – devem um pedido de desculpas a Pedro Passos Coelho. Como fez Rupert Murdoch em Inglaterra. Vamos ver quem é que tem coragem e dignidade para o fazer.

Obs. - Clicar no vídeo para ver o que disse Pedro Passos Coelho e clicar na imagem para ampliar a notícia da Lusa que originou a polémica.

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