segunda-feira, 3 de março de 2014

O namorado de Judite de Sousa e o jornalismo do nada


Já há vários anos que os jornais portugueses “Correio da Manhã”, “Diário de Notícias” e “Jornal de Notícias” – particularmente estes, que teoricamente são diários de informação geral e não jornais de mexericos –, enveredaram pela criação de uma secção ondem publicam alegadas notícias do chamado "jet-set" – ou mundo cor-de-rosa, como também é conhecido –, que vive à base dos interesses comerciais de agentes de comunicação que trabalham com modelos, actores e outros artistas para promovê-los de qualquer maneira no espaço público mediático.
Sempre disponíveis para mostrarem aos seus leitores bons corpos sem roupa, os jornais de informação geral, outrora reconhecidos defensores do interesse público e promotores da informação de interesse público, colocam-se, assim, ao sabor dos interesses privados de atores e modelos, que procuram aparecer quando estão no desemprego. Por vezes, é nesse contexto que muitas modelos/actrizes aproveitam o ensejo para mostrar as mamas novas, demonstrando, assim, a sua excelente forma física para voltar ao mercado. E os jornais vão enchendo páginas e páginas com estes conteúdos daquilo que já designei neste blog como o jornalismo do nada. 
Administradores e editores de jornais podem comemorar milhões de “pageviews” nas edições digitais dos respectivos meios de comunicação, mas já deveriam ter concluído que, com estas notícias sobre o nada, não ganham públicos fiéis para as edições em papel nem conseguem inverter a tendência de queda das receitas de publicidade.
Apesar disso, os seus jornais continuam alegremente a informar-nos quem vai para a cama com quem. E, como o mercado é pequeno, agora até jornalistas famosos são objeto destes mexericos, como é o caso da “notícia” sobre o novo namorado de Judite de Sousa (ver aqui: http://bit.ly/1eV3Q1i), publicada num jornal dito de referência como se fosse jornalismo. Como se tivéssemos alguma coisa a ver com o casal. Como se os leitores fossem acéfalos. E como se estes jornais pudessem sobreviver assim. Fotografia: Lux

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