domingo, 29 de abril de 2012

As lições de Pep Guardiola


O anúncio de Pep Guardiola de que deixará o cargo de treinador de futebol do Barcelona, no final desta temporada, é uma lição de marketing e comunicação para muitos gestores de carreiras e de empresas. E, claro, uma lição de gestão de carreira para a classe dos treinadores.
Treinador jovem e homem da casa, Guardiola, de 41 anos, conquistou um total de 13 títulos nacionais e internacionais, em quatro anos como treinador dos catalães. Foram três campeonatos espanhóis, três supertaças espanholas, duas ligas dos campeões, duas supertaças europeias, dois mundiais de clubes e uma Taça da Rei. Não há mais nada para ganhar que não tenha sido ganho. Com todos estes êxitos, tornou-se no melhor treinador de sempre do Barcelona. No dia 25 de Maio, poderá conquistar o 14º título, caso o Barcelona vença o Athletic Bilbao na final da Taça do Rei 2011-2012. Porém, caso vença este título, será o único de uma temporada falhada.
O Barcelona está no fim de um ciclo e Pep Guardiola soube ver isso, demonstrando uma competência do marketing, que é saber ler a conjuntura interna, a conjuntura externa e as novas oportunidades do mercado. Ao sair agora, sai por cima e com bilhete para regressar um dia mais tarde. E, como no futebol só interessa ganhar, evita ser assobiado e responsabilizado na próxima época, caso as coisas comecem por correr mal. Entretanto, Guardiola vai descansar. “Sinto-me esgotado e tenho de recuperar. A exigência alta deste clube provoca um grande desgaste. Quem vier dará coisas que eu já não posso oferecer. Não é uma questão de capacidade, é uma questão de energias”, explica Guardiola, que será sucedido pelo seu adjunto Tito Vilanova. Quem diz “energias”, diz motivação. Porque a vida das pessoas e das instituições tem ciclos.
Ao sair por sua livre vontade, Pep Guardiola deu um sinal muito forte de que gosta de si próprio e do Barcelona. E que vai regressar. Nessa altura, com novas ideias, novos motivos e novas ambições.

sábado, 28 de abril de 2012

O escândalo da Televisão Digital Terrestre


Estão em causa o serviço público e o serviço privado de televisão e está em causa a “sociedade da informação”, mas nem por isso a questão é debatida como deve ser pelos próprios meios de comunicação, que deveriam ser os primeiros interessados na questão. Calcula-se que cerca de 1,6 milhões de portugueses poderão estar sem televisão em casa em virtude do apagão do sinal analógico, no dia 26 de Abril, que foi substituído pela televisão digital terrestre (TDT). Em muitas situações, estamos a falar das pessoas mais antigas ou menos informadas, com poucos recursos, que têm de escolher entre juntar dinheiro para os remédios ou para ver televisão, seja para comprar uma antena parabólica ou para comprar um aparelho que adapte o televisor à TDT. Mas os produtores de conteúdos televisivos também têm razões de queixa.
É um escândalo que só acontece em Portugal e que não aconteceu nos outros países europeus, onde a televisão digital terrestre chegou. Mais grave ainda é que os portugueses que hoje não têm sinal de televisão aberta dentro de casa continuem a pagar ao Estado a taxa de audiovisual, na conta de electricidade. Uma situação inconcebível.
Nuno Bernardo, um dos directores da Agência para o Desenvolvimento das Indústrias Criativas (ADDICT), e responsável pela beActive, en entrevista ao jornal “Meios & Publicidade”, afirma que “a implementação da TDT em Portugal é um processo que em Portugal tem sido muito pouco discutido, e que quer o Governo, quer as entidades envolvidas não tem prestado os esclarecimentos necessários às questões que vão surgindo”.
De acordo com Nuno Bernardo, “este processo apenas pretende cumprir com as obrigações impostas por Bruxelas e, como tal, não se nota uma grande vontade política em discutir as questões que levaram a um conjunto de decisões que claramente prejudicam as populações”, pois “vão ter de pagar para continuarem a ver os quatro canais anteriormente disponíveis”, assim como “o sector da produção audiovisual, que assim vê mais uma possibilidade de dinamização da actividade ser morta à nascença”.
Diz ainda o dirigente da ADDICT: “Devido a este quase querer esconder o processo do apagão e à não promoção de um debate público, faz com que a maioria das pessoas fique sem TV gratuita (mas provavelmente vão ser obrigadas a continuar a pagar a taxa de radiodifusão que todos os meses aparece na conta da electricidade). Para continuarem a ver TV vão ter, provavelmente, de subscrever serviços de TV por assinatura.”
Resumindo e concluindo, “a implementação da TDT em Portugal sempre foi um processo muito tortuoso”, considera Nuno Bernardo. E acrescenta: “Portugal é um dos últimos países europeus a promover esta mudança. O sentimento da ADDICT é que as entidades responsáveis sempre pretenderam atrasar ao máximo a sua implementação. Portugal é um dos últimos países a fazer o apagão, quase no limite das datas impostas pela Comunidade Europeia. E a implementação da TDT parece mais uma forma de cumprir as obrigações impostas por Bruxelas do que realmente desenvolver uma indústria e oferecer mais conteúdos às populações.”

terça-feira, 24 de abril de 2012

Miguel Portas (1958-2012)



O jornalista e eurodeputado do Bloco de Esquerda Miguel Portas morreu nesta terça-feira, no Hospital ZNA Middelheim, em Antuérpia, vencido após dois anos de luta contra um cancro nos pulmões. Miguel Portas foi sobretudo um activista de esquerda, como militante do PCP, entre 1974 e 1989, como um dos promotores da Plataforma de Esquerda, na década de 1990, que resultaria na Política XXI, e, mais recentemente, no Bloco de Esquerda, de que foi dirigente desde a fundação e seu representante no Parlamento Europeu desde 2004. No entanto, Miguel Portas é também uma figura do jornalismo político português. Foi director da revista cultural “Contraste” e depois redactor e editor internacional do semanário “Expresso”. Na segunda metade da década de 1990, fundou e dirigiu o semanário “Já” e a revista “Vida Mundial”. Foi cronista no “Diário de Notícias” e no semanário “Sol”. Actualmente tinha ainda uma crónica semanal na “Antena 1”. Deixa cinco livros publicados: “E o Resto é Paisagem”, “No Labirinto – O Líbano entre guerras, política e religião” e “Périplo”. Miguel de Sacadura Cabral Portas nasceu em Lisboa a 1 de Maio de 1958. É filho do arquitecto Nuno Portas e da economista Helena Sacadura Cabral e é irmão do presidente do CDS/PP e ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, e de Catarina Portas. FOTO: jornal "i"

"Um dia com os Media" na Lusófona do Porto


Na próxima segunda-feira, 30 de Abril, pelas 14h00, estarei na Universidade Lusófona do Porto (ULP), para falar sobre o papel dos “media” nas nossas vidas, no âmbito da iniciativa nacional “Um dia com os Media”. Para mim, será um privilégio estar ao lado do provedor do telespectador da RTP, José Carlos Abrantes, e de outras pessoas da ULP, para falar daquilo que vivo, que é também aquilo de que mais gosto e que mais estimula o meu interesse pelo conhecimento: a comunicação e o jornalismo (ver aqui toda a informação).

Desprezo pela Revolução de Abril


Em comunicação, a percepção é tudo. E a percepção muda com as circunstâncias. Uma frase dita num momento pode ter um significado. A mesma frase dita noutro momento pode ter um significado diferente. Quem diz uma frase, diz a presença ou a ausência numa cerimónia pública. Ou particular.
No feriado de 25 de Abril, evocativo da revolução democrática de 1974, os portugueses comemoram a instauração da democracia e da liberdade de opinião. A revolução foi feita pela esquerda, contra 48 anos de ditadura de direita. Por isso, a esquerda portuguesa esteve sempre na dianteira, com o cravo vermelho na lapela, a comemorar o “25 de Abril”.
Este ano, porém, os “militares de Abril” não estarão presentes nas cerimónias oficiais, que decorrem na Assembleia da República, por considerarem que o Governo PSD-CDS/PP, liderado por Pedro Passos Coelho, está a governar contra “as conquistas de Abril”. Mário Soares também não vai à “festa”, alegando que o Governo está a destruir o Sistema Nacional de Saúde e a Segurança Social. Manuel Alegre também está solidário e não vai aparecer. Jorge Sampaio, outro ex-Presidente socialista, está no estrangeiro e também não vai aparecer nas fotografias.
Com isto, as comemorações do 38º aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974 deixaram de ser uma festa da democracia para se transformarem numa iniciativa do bloco mais à direita do Parlamento (PSD-CDS/PP) – área política de onde emergiram o Presidente da República, Cavaco Silva, e o Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho. Ao quererem protestar contra as decisões do poder instalado, Mário Soares e Vasco Lourenço acabam por apoucar a essência maior do “25 de Abril” e não a acção do Governo, induzida pela "troika" liderada pelo FMI, que, recorde-se, também tem a assinatura do Partido Socialista. É pena. A revolução de Abril não merecia tamanho desprezo.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O mito da governação de Cavaco


A cada dia que passa, cai o mito de Cavaco Silva como “o melhor primeiro-ministro da democracia portuguesa”, entre 1985 e 1995. A entrevista de Miguel Cadilhe ao jornal “i”, nesta segunda-feira, que foi justamente ministro das Finanças de Cavaco na segunda metade da década de 1980, é só mais uma descoberta terrível sobre a gestão errática de Portugal e o mau aproveitamento dos fundos europeus. “Foi um erro entrar na união monetária e na moeda única”, reconhece Miguel Cadilhe (ver aqui). Este é talvez o ataque mais violento a um dos principais desígnios estratégicos da governação cavaquista.
Pode-se argumentar que não seria possível antever o futuro e, sobretudo, a intensidade da crise europeia que agora nos afecta. Mas parece evidente que Portugal não se preparou para uma economia moderna e desenvolvida. Passados 20 anos, olhamos para o País e descobrimos que temos quilómetros de auto-estradas que não têm trânsito e que ainda não estão pagas. Descobrimos que a terra está ao abandono. E descobrimos que também abandonámos o mar. E descobrimos ainda que a narrativa económica nos meios de comunicação é dominada pelo poder financeiro que só procura o lucro, sem se preocupar com a sustentabilidade do País.
Talvez por estar consciente desta realidade, Cavaco Silva tem escolhido precisamente o abandono do mundo rural e a economia marítima como temas em destaque nas suas intervenções como Presidente da República, o que não deixa de ser curioso.
Sobre o abandono do mar, aliás, é simplesmente incompreensível que, em Portugal, a indústria da pesca não esteja desenvolvida e que a profissão de pescador não seja uma profissão bem remunerada, com estatuto social e procurada pelos jovens. Mais a mais quando o peixe das águas frias do mar português é considerado por bons cozinheiros como um dos melhores do mundo.
O nosso problema é que os sucessivos governos venderam-se à União Europeia, a troco de milhões e milhões que só serviram para enriquecer os mesmos. Os mesmos que agora, sem mais betão para enterrar e sem mais casas para construir ou financiar, já estão com os olhos noutros negócios com futuro garantido. É que eles já ouviram falar que a água é o petróleo do século XXI. Donde, dificilmente haverá conserto.

domingo, 22 de abril de 2012

Caricaturas da democracia e do jornalismo


Não é possível! Para quem viveu largos decénios no coração da União Europeia, a situação é inacreditável. Porque esta particularidade portuguesa dos "comentadores residentes" (!) e de uns gurus caseiros que falam e escrevem sobre política (e tudo, tudo o mais) constitui uma anomalia total. E em nenhum, absolutamente nenhum país da Europa ocidental se encontram situações idênticas e tão caricatas.
Concretamente, a primeira anomalia vem do facto de que, em Portugal, são militantes de primeiro plano e antigos ou atuais responsáveis políticos que ocupam a grande maioria dos lugares de "comentadores" nos grandes “media” nacionais. Quando nos outros países europeus é a jornalistas "seniores" especializados, a profissionais ou a académicos de reconhecida competência que os “media” atribuem tal estatuto.
A segunda anomalia é absolutamente única: a de ver um personagem como Marcelo Rebelo de Sousa (homem de uma incontestável simpatia e inteligência, e de uma boa cultura, mas totalmente desconhecido para além das fronteiras nacionais) dispor de duas páginas no Expresso dos primeiros anos e atualmente no Sol, e de uma emissão semanal na TVI ou mesmo na pública RTP. Com a agravante de que fala não só de política (onde teve, tem e parece querer ter papel importante) mas de absolutamente tudo e de nada, e quantas vezes de matérias em que não tem competência alguma...
Esta anomalia tem ainda uma consequência totalmente aberrante. Quando Marcelo Rebelo de Sousa (provincianamente designado por "Marcelo"), José Pacheco Pereira ("Pacheco") e outros mais "residentes" mandam "uma boca" (como agora se diz) mais ou menos radical, feroz e, de preferência, contra o partido, governo e presidente deles, toda uma série de outros “media” retomam tais "bocas" em título. Sejam embora tais "bocas" de nulo interesse para a compreensão da sociedade e da política nacional. Até porque, muitas vezes, mais não fazem que traduzir guerrinhas no microcosmos alfacinha: tristes caricaturas da democracia e do jornalismo!

Obs. - Título e imagem da responsabilidade deste blogue

Dilma é popular, mas brasileiros querem Lula


A presidente do Brasil, Dilma Roussef, do Partido dos Trabalhadores (PT), bate recordes de popularidade nas sondagens. Mas, o curioso, é que os eleitores preferem Lula da Silva como candidato do PT para disputar a Presidência em 2014. O ex-presidente foi citado por 57% dos inquiridos, e Dilma, apenas por 32%, revela neste domingo uma pesquisa da "Folha de S. Paulo" (ver aqui).
Deve ser um caso único nas democracias contemporâneas, com ingredientes extraordinários para bons estudos em comunicação. Na prática estamos perante uma situação em que a líder do Governo vigente, mesmo sendo popular, não consegue fazer esquecer o líder do Governo anterior – que esteve dois mandatos no poder e conseguiu terminá-los também em alta nas sondagens, não obstante casos graves de corrupção, como o “caso” Mensalão, que começará a ser julgado em breve.
A corrupção, de resto, continua a ser uma mancha no Governo e na sociedade brasileira. Com uma diferença em relação à presidência de Lula da Silva, que, quando esteve no Palácio do Planalto, deixou fama de estar a leste e de fechar os olhos: é que Dilma não está para contemplações e, em apenas 15 meses, já demitiu sete ministros.
Entretanto, depois de uma luta feroz contra um cancro na laringe, Lula, agora com um novo visual, continua a tratar da sua voz, devendo voltar à estrada com as suas palestras em meados deste ano.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Católica lança curso de comunicação empresarial



A Universidade Católica Portuguesa decidiu criar um “master” em comunicação empresarial que arranca no próximo ano lectivo na Faculdade de Filosofia do Centro Regional de Braga. O objectivo é formar técnicos vocacionados para trabalharem a comunicação de pequenas e médias empresas (PME), que, como é sabido, dominam o tecido económico português.
Comunicação e estratégia empresarial, tendências de consumo e estudos de mercado e relações públicas e comunicação de crise são algumas das disciplinas, anuncia o “Briefing” (ver aqui). A coordenadora do “master”, Luísa Magalhães, informa que o curso pretende “responder às necessidades que foram identificadas junto das PME da região ao nível da estratégia de comunicação”.
Paula Arriscado, directora de marketing e comunicação da Toyota Portugal, Duarte Ávila Abreu, que desde 2001 exerceu diversos cargos na Publicis, Ângelo Paupério, presidente da Sonaecom, António Murta, fundador de várias empresas na área das tecnologias de informação, e Sara Batalha, consultora de comunicação, são alguns dos docentes (ver aqui toda a informação sobre o curso).

A sessão fotográfica de Passos Coelho e Miguel Relvas


Nesta sexta-feira, o “Jornal de Negócios” analisa em destaque a estratégia de comunicação do Governo de Portugal. Em quatro páginas, alguns especialistas em comunicação procuram explicar as debilidades do Governo PSD-CDS/PP na sua comunicação com o País. A explicação, porém, pode ser vista logo na primeira página. Para ilustrar o assunto, o “Jornal de Negócios” publica uma fotografia, da autoria de Bruno Simão, na qual vemos Pedro Passos Coelho e Miguel Relvas em pose hirta, “momentos antes de iniciarem a sessão fotográfica para os cartazes da campanha eleitoral”, sendo de presumir que se tenha tratado da campanha para as legislativas de 2011.
Uma fotografia não é a realidade. É uma representação dessa realidade. Quando um político faz uma sessão fotográfica para escolher a imagem que vai ilustrar o seu cartaz de campanha ele vai certamente procurar a fotografia que melhor represente a ideia que ele quer dar de si. Mas ninguém tem de ficar a saber que para existir aquela fotografia foi necessário ter sido sujeito a uma produção em estúdio.
Uma boa comunicação é feita de detalhes. Assim como uma má comunicação também começa nos detalhes. Do ponto de vista da comunicação de um partido político, quando se permite que uma sessão fotográfica para os cartazes de uma campanha eleitoral seja aberta à presença de fotojornalistas (que vão lá para fazer “a fotografia da fotografia”, que será sempre a fotografia que os fotojornalistas querem, legitimamente, e não a fotografia que o político quer, como se fosse uma conferência de imprensa), o resultado só pode ser desastroso, como documenta a fotografia de primeira página que o “Jornal de Negócios” foi buscar ao seu arquivo para ilustrar o trabalho jornalístico de hoje sobre a comunicação governamental (ver resumos aqui, aqui e aqui).

quinta-feira, 19 de abril de 2012

O caminho das marcas


Uma marca é a alma de um produto. E uma marca só existe quando temos uma representação mental dela. É por isso que o marketing procura atingir a mente do consumidor, despertando-lhe uma necessidade que accione um processo de decisão de compra. Mas para isso acontecer há sempre um longo caminho a percorrer por cada marca. Um caminho com múltiplos atalhos que só a comunicação pode e sabe fazer como deve ser. Ou seja, sem comunicação uma marca não existe.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O jornalismo esqueceu-se dos cidadãos


“O jornalismo, tal como o praticámos até recentemente, esqueceu-se dos cidadãos.”

Adelino Gomes, jornalista, num debate sobre Jornalismo, na Universidade do Minho, em Braga, “Correio do Minho”, 18-04-2012
Obs. - Fotografia retirada do Portal Alentejano

A péssima comunicação do Ministério das Finanças


Não sou dos que se entusiasmam sem motivo aparente com o tom professoral e afastado da realidade do ministro das Finanças, Vítor Gaspar. Porque a sua capacidade para suster a animosidade de um auditório esconde muita incompetência do seu ministério na comunicação diária com os portugueses, sobretudo com aqueles que pagam os seus impostos e aguentam a despesa pública. A questão é que a comunicação de um organismo governamental faz-se todos os dias no contacto com os cidadãos e não apenas quando o seu responsável político fala publicamente.
Quando penso numa instituição que seja péssima a comunicar com os cidadãos lembro-me imediatamente do Ministério das Finanças de Portugal  uma instituição que não está formatada para comunicar com cidadãos crescidos e responsáveis e que trata os contribuintes como potenciais incumpridores das suas obrigações fiscais.
Mesmo sendo liderado por um homem formado nos gabinetes da União Europeia, como é o caso de Vítor Gaspar, o Ministério das Finanças é aquela organização que só contacta com os cidadãos para lhes sacar dinheiro, usando uma linguagem codificada que poucos entendem e escondendo a informação essencial em letras pequeninas com remissões para leis que poucos conhecem. No fundo, os cidadãos são tratados como crianças malcomportadas que têm de cumprir ordens de pagamento e ponto final. E se não concordarem, não adianta falar com ninguém para uma resolução humana de um problema. “Você tem razão, mas está na lei…”; “é o sistema…”; enfim, lá na repartição, os muros são muito altos e intransponíveis.
Em resumo, o Ministério das Finanças não é de Portugal, nem dos portugueses. Talvez por isso, a imagem com a esfera armilar e as cores verde e vermelha do “Governo de Portugal”, que são a marca da liderança governamental de Pedro Passos Coelho, continuem ausentes da sua comunicação com os portugueses, como se pode ver clicando aqui. Nas próprias repartições, assim como na correspondência e nos documentos, também não se vislumbra a comunicação do "Governo de Portugal". O que vale é que "a lei" e "o sistema" são infalíveis. E os contribuintes pagam e não bufam. Porque se não pagarem a bem pagam a mal.
Quanto à comunicação digital, o Ministério das Finanças também só permite uma comunicação unidireccional, inundando o contribuinte alegadamente faltoso com mensagens ameaçadoras. Conheço casos de pessoas que, tendo emigrado, procuram resolver um problema pendente através do Portal das Finanças, sem que haja alguém naquele Ministério que se interesse pela resolução do caso e procure pelo menos dar uma resposta. No fundo, a comunicação digital do Ministério das Finanças é outra falácia. Também neste caso, o que vale é que "a lei" e "o sistema" são infalíveis. E os contribuintes pagam e não bufam. A bem ou a mal.
O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, deveria saber que um Governo também começa a cair assim. Pela quebra de confiança. E o Ministério das Finanças, na sua relação com os portugueses, não promove a confiança.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Os dez livros fundamentais do jornalismo


O experiente jornalista brasileiro Luiz Cláudio Cunha (conhecer aqui) elaborou uma lista dos 10 livros sobre jornalismo que considera fundamentais. “Estes textos, estes autores, nunca passaram, nunca passarão. Ficaram na história. E na minha memória”, explica o jornalista, no Observatório da Imprensa (clicar aqui para ver a lista). Ah!... Nenhum dos títulos foi editado no século XXI.

domingo, 15 de abril de 2012

Os erros das empresas em tempos de crise


“Há erros que são continuamente perpetrados pelas empresas, embora todas reafirmem que não mais os devem voltar a fazer.
Nestes tempos menos fáceis, há que olhar para as diversas rubricas do orçamento, e na impossibilidade de diversificar, aumentar, ou mesmo manter o lado das receitas, há que olhar para as despesas. Só que, de todas estas, há uma que desperta a cobiça logo em primeiro lugar. E qual a rubrica que um bom conjunto de empresas olha em primeiro lugar? Os valores que no seu total compõem os orçamentos de marketing e comunicação.
E, então, com uma rapidez voraz e sem olhar para as devidas consequências futuras, o corte está feito. E muitas vezes com severa radicalidade. É uma medida de muito curto prazo, que abrilhantará as fotografias do mês, e do trimestre seguinte. A partir daí, é natural que comecem a surgir as devidas consequências de medidas extemporâneas.
O marketing e a comunicação, no seu sentido lato, englobando as suas diversas e importantes componentes, são o acelerador da criação de riqueza de uma empresa. São quem cria as expectativas, os desejos, as vontades, os desafios, a notoriedade, a diferenciação; são ainda quem dá a conhecer o ADN da empresa, as suas vantagens, e escamoteia as suas possíveis desvantagens…
É óbvio que nestes tempos em que vivemos, esses fundos terão que ser usados com maior cautela e parcimónia. Mas cortá-los, ao ponto das marcas e produtos desaparecerem do radar dos clientes, levará a quebras acentuadas em toda a linha, sendo que posteriormente a sua recuperação custará muito mais do que as verbas que foram anteriormente retitradas.”

Ricardo Florêncio, no editorial da revista “Marketeer”, revista de estratégia, marketing e negócios editada em Portugal, de Abril 2012

sábado, 14 de abril de 2012

Os jornais e os seus públicos


Nos primórdios da comunicação de massas, em finais do século XIX, o filósofo e sociólogo francês Gabriel Tarde (1843-1904) foi o primeiro pensador a identificar como um público a massa anónima que lê um jornal: “Do mesmo modo que há, para todo o fornecedor, dois tipos de clientela, uma clientela fixa e uma clientela flutuante, também há dois tipos de público para os jornais ou as revistas: um público estável, consolidado, e um público instável.”
“Um leitor de jornal dispõe de mais liberdade do que um indivíduo perdido dentro de uma multidão”, afirma Gabriel Tarde, no livro “A Opinião e as Massas”, acrescentando: “O leitor pode reflectir em silêncio sobre o que lê, mudar de jornal quando não está satisfeito com aquele até encontrar outro que lhe agrade. Do outro lado, o jornalista deve agradá-lo e retê-lo utilizando as mais variadas técnicas de textos para responder às reacções do número de assinaturas, principal estatística de um jornal.”
Para Tarde, “o público é uma espécie de clientela comercial”. Explicando: “O simples facto de comprar roupas na mesma loja e frequentar o mesmo restaurante estabelece entre pessoas um vínculo social e supõe afinidades entre elas. A divisão de uma sociedade em públicos é inteiramente psicológica e sobrepõe eficazmente a divisão religiosa, económica, estética, política, escolar ou partidária. É impossível encontrar uma religião, seita, partido ou outro agrupamento de pessoas que não queiram ter um jornal próprio para agregar ainda mais os seus seguidores.”
No livro “A Opinião e as Massas”, Tarde ocupa-se em fazer entender de onde procede o “público”, como nasce e como se desenvolve. Tanto mais que não encontrou uma palavra em latim, muito menos em grego, que correspondesse ao que se conhecia por “público”, embora tivesse encontrado palavras correspondentes a “povo”, “assembleia de cidadãos”, “grupos eleitorais”, etc..
No século XIX, a industrialização da imprensa permitiu a Gabriel Tarde identificar, pela primeira vez, os leitores de um mesmo jornal como “um público específico”, embora, a partir da invenção da imprensa, no século XVI, já fosse possível o nascimento do público leitor de uma publicação. Tarde aponta como exemplo a bíblia: “Foi um efeito quotidiano, de leitura de um mesmo livro, que, ao mesmo tempo, criou um público e uma Igreja, aproveitando o enfraquecimento do protestantismo.”
Foi, porém, na sequência da Revolução Industrial, que surgiu o advento do jornalismo e, por consequência, do público leitor. No século XVIII, a esfera pública ganhou uma eficácia política, fazendo frente à autoridade monárquica. Associado a este processo de democratização da vida pública esteve o nascimento e o desenvolvimento da imprensa, com capitais privados, por iniciativa dos burgueses – a classe mais esclarecida da sociedade e, portanto, a mais interveniente, funcionando como um público activo. A partir de meados do século XIX, nomeadamente em Paris e Londres, a publicação e distribuição de jornais a preços reduzidos, e dirigidos a públicos numerosos e heterogéneos, marca o início da fase industrial e da comercialização em massa da imprensa.
Um jornal tornava pública uma discussão (princípio da publicidade) e fazia com que novas discussões se iniciassem. Emergia o espaço público literário e politicamente orientado, sobre o qual teorizou Jürgen Habermas. O espaço público era uma emanação da sociedade civil, de uma burguesia culta e erudita, que reflectia sobre as coisas. Segundo Habermas, esse espaço público teve origem na Europa ocidental dos séculos XVII e XVIII, quando a burguesia começou a utilizar a esfera pública para questionar o monopólio estatal da problematização e tematização da coisa pública. O espaço público nasceu como mediador entre o domínio privado da economia e o domínio público do Estado.
“O que o mundo passou a ver foi um eclodir imenso e imaginário de jornais. Cada um desses jornais tinha o seu próprio público”, observa Gabriel Tarde, considerando que da multidão ao público há “uma distância imensa”, embora o público proceda em parte de uma espécie de multidão: “Entre os dois ainda existem muitas diferenças: pode-se pertencer ao mesmo tempo a vários públicos, mas apenas a uma multidão de cada vez. Com isso fica claro que o encontro de dois públicos prontos a fundirem fronteiras indecisas é um perigo bem menor para o mundo do que o encontro de duas multidões de pensamentos opostos e rivais.” 
Para Gabriel Tarde, o “público” é formado socialmente, ao contrário de uma multidão, que se forma geograficamente. Por isso, a imprensa estaria a criar públicos, pois permitia que pessoas afastadas geograficamente pudessem estar vinculadas através da partilha de ideias.
O conceito de “público” é, porém, difícil de definir. A “instabilidade do conceito” levou justamente muitos investigadores a preferirem a expressão “sociologia da recepção” (Jean-Pierre Esquenazi, no livro “Sociologia dos Públicos”), por lhes parecer mais seguro definir o objecto de um inquérito através de uma determinada actividade do que através de um conjunto de pessoas mais ou menos dispersas.
Para Isabel Babo-Lança, especialista em sociologia da comunicação da Universidade Lusófona do Porto, o “público” é formado por particulares que se empenham em regimes de acção pública, em resultado de uma acção política, de um programa televisivo, de uma obra teatral, de um problema público.
Nesta perspectiva, os públicos emergem como entidades diferentes das audiências. As audiências são tratadas como passivas, apáticas e incapazes de formar juízos próprios e bem informados. No dizer de Mauro Wolf, no livro “Teorias da Comunicação”, a massa é a jurisdição dos incompetentes. Já o público é representado como um colectivo activo, bem informado, crítico e relevante do ponto de vista político.
Mas uma audiência pode ser entendida como um público. O exemplo mais comum de um tipo de audiência que é um público é precisamente o conjunto de leitores de um jornal, como aponta Denis McQuail, no livro “Teoria da Comunicação de Massas”. Porque um jornal pode contribuir para a construção de uma identidade. E os leitores expressam a sua identidade política, social ou cultural pela escolha de um jornal em vez de outro.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Canal TNT lança pânico na Bélgica. Mas era só publicidade


Na sociedade da comunicação em que vivemos todas as pessoas são permanentemente atingidas por inúmeras mensagens, vindas de todo o lado e durante todo o dia. Pessoas, empresas e organizações enfrentam uma concorrência cada vez maior e têm de ser cada vez mais competitivas para ter sucesso. Por força da democratização da Internet, os cidadãos estão cada vez mais informados e são cada vez mais exigentes, pelo que produzem informação e opinião, e querem participar juntamente com as marcas no processo de criação de um produto. Este quadro, que é absolutamente novo, constui um desafio enorme para comunicadores, criativos e publicitários. Porque no meio de tantas mensagens que circulam em rede, acessíveis a milhões e milhões de pessoas que estão na Internet, é preciso cada vez mais imaginação e originalidade na produção de campanhas publicitárias.
Vem isto a propósito de uma excelente campanha de lançamento na Bélgica do canal televisivo TNT, em vídeo (ou não estivéssemos a falar de um canal de televisão de filmes e séries), e que envolve muito drama (em que o canal é especializado) junto da população de uma pequena cidade belga e que resultou de uma gravação enriquecida com a participação genuína das pessoas que estavam na rua, que só ficaram a saber do que se tratava quando as cenas dramáticas terminaram.
No centro de uma pequena praça, foi colocado um botão, onde se lia: "Aperte, para acontecer drama". E graças à curiosidade de um ciclista, que não resistiu à tentação de carregar no botão laranja, uma intrigante cena bem dramática capta a curiosidade dos populares. Viveram-se, então, momentos de acção e suspense ao vivo, como se todos estivessem envolvidos num filme daqueles que costumam passar no canal televisivo TNT (ver aqui). A cena, com tiros, sangue, luta e carros em alta velocidade, foi filmada, obviamente, e converteu-se num vídeo de grande intensidade viral na Internet. Desde quarta-feira, 11 de Abril, o vídeo já foi visto por perto de 11 milhões de pessoas, mais do que a população da Bélgica. Ou seja, a publicidade ao canal, que custou pouco dinheiro, ultrapassou as fronteiras da pequena praça belga, ganhando com isso o próprio TNT, que está presente noutros países. São as novas tendências do marketing e da publicidade. Fazer cada vez melhor e com mais eficácia por menos dinheiro, graças ao poder de difusão da Internet. É por isso que os jornais tradicionais têm cada vez menos receitas da venda de publicidade impressa…

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Isabel Moreira, drogas lícitas e hipocrisias


“É no silêncio que grassa a corrupção. Não é nos jornais, nem nas redes sociais. É nos gabinetes, no silêncio dos gabinetes, onde um avental ou uma comissão fazem milagres e se perpetua este pântano.”
Ao ler uma excelente prosa do Rui Calafate, na qual o autor do blogue It's PR Stupid faz uma reflexão sobre os terrenos movediços e silenciosos do poder em que medra a corrupção (ver aqui), pensei na deputada Isabel Moreira, uma independente eleita pelo PS (conhecer aqui). Não porque Isabel Moreira seja corrupta, mas porque ela representa exactamente a antítese dos protagonistas invisíveis descritos por Rui Calafate.
Eu gosto muito da frontalidade e do sentido de humor de Isabel Moreira, que recentemente ficou conhecida de muitos portugueses por ter feito questão de ir a uma votação na Assembleia da República poucas horas depois de ter feito uma cirurgia e explicou a sua indisposição momentânea, quando pedia a palavra, com o facto de estar sob os efeitos de… drogas lícitas (ver aqui). Foi um momento brilhante num mundo de hipócritas. Os parlamentares ficaram incomodados e não perceberam tamanho sentido de humor da deputada e os jornalistas, sempre atrás da espuma do espectáculo, perguntaram que drogas é que a deputada andava a consumir.
Acresce que Isabel Moreira, que é filha de Adriano Moreira, uma grande figura da direita portuguesa, pensa pela sua cabeça, diz em voz alta aquilo que pensa e, mais importante ainda, sabe do que fala quando abre a boca. Nesse sentido, é um sopro de ar fresco no Palácio de S. Bento. Se calhar, é por isso mesmo que está a mais no parlamento português, correndo o risco de ser afastada pelo directório do PS. Mas uma coisa é certa: se todos os deputados fossem como Isabel Moreira, Portugal seria um País mais genuíno, mais livre e, certamente, mais desenvolvido.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Um ano de Comunicação Integrada


O blogue COMUNICAÇÃO INTEGRADA completa hoje um ano de existência, partilhando experiências e conhecimentos com os leitores, que aumentam de dia para dia, como mostra a imagem. Foi a 11 de Abril de 2011, com um “post” intitulado “Os meios complementam-se” (ver aqui), que comecei a escrever aqui sobre temas do universo multidisciplinar das ciências da comunicação. Neste espaço, tenho conseguido escrever sobre jornalismo e os novos meios de comunicação, como a Internet e as redes sociais, mas também sobre marketing, publicidade ou relações públicas. E sobre actualidade política, sempre pelo prisma da comunicação, uma área que me interessa profissionalmente.
Entendo a comunicação como uma área multidisciplinar e procuro reflectir essa visão neste espaço. Aliás, as novas tendências recomendam justamente um tratamento integrado da comunicação das marcas e das organizações. Ao longo destes 12 meses não posso deixar de destacar como um momento alto do COMUNICAÇÃO INTEGRADA a eleição pelo jornal "Meios & Publicidade” como um dos blogues portugueses obrigatórios em assuntos de comunicação (ver aqui). A subida constante do número de pessoas que visitam este espaço é também motivo para continuar com redobrado interesse e entusiasmo. Em Março de 2012 visitaram este espaço um total de 17.505 pessoas. Foi um recorde. E um número muito bom, tendo em conta que se trata de um espaço sobre uma área especializada. O blogue COMUNICAÇÃO INTEGRADA vai continuar. Porque é impossível não comunicar. Muito obrigado a todos os amigos, leitores e visitantes.

Ponte de Lima convida, Santo Tirso convida, todos convidam...


O Município de Ponte de Lima acaba de anunciar um ambicioso programa de eventos que vai decorrer entre os meses de Maio e Setembro. A iniciativa, que almeja conquistar público nacional e estrangeiro, designa-se “Ponte de Lima ConVida”, que, supostamente, será uma nova marca turística da vila minhota (ver aqui).
Não estamos propriamente perante uma designação imaginativa. Há muitos anos que Santo Tirso, a terra dos famosos doces jesuítas, por iniciativa do antigo presidente da Câmara Municipal, Joaquim Couto, também adopta a assinatura “Santo Tirso ConVida” para as suas iniciativas turísticas. A ideia é utilizar o duplo sentido do vocábulo “convida”, procurando transmitir, por um lado, a ideia de uma cidade acolhedora, e, por outro lado, de uma cidade com vida própria e com motivos capazes de atrair turistas.
Ponte de Lima tem motivos endógenos suficientes para se tornar numa boa marca turística. E poderia ter aproveitado esta ocasião para chamar a atenção dos turistas para um factor diferenciador que constitui uma força própria nestes tempos em que todos os centros urbanos querem ser cidades, mesmo quando não têm condições. É que Ponte de Lima regista a particularidade notável de ser a vila mais antiga de Portugal. A exploração desse filão poderia gerar uma marca distintiva poderosa para embrulhar de uma forma apelativa o conjunto de eventos que se anunciam. Porque o sucesso de uma marca, mesmo quando se trata de maraketing público, começa na diferença que pode oferecer ao mercado. A não ser que, como muitas vezes acontece, o produto se torne mais forte do que a marca…

terça-feira, 10 de abril de 2012

A semana horrível do Governo Passos Coelho


Paul Watzlawick (1921-2007), um dos mais notáveis teóricos da comunicação e um dos fundadores da Escola de Palo Alto (EUA), formulou cinco axiomas na comunicação entre dois indíviduos sem os quais a comunicação pode falhar. Uma dessas proposições tão evidentes que não precisam ser demonstradas é a ideia segundo a qual é impossível não comunicar, dado que todo o comportamento humano é uma forma de comunicação. De acordo com Watzlawick, como não existe forma contrária ao comportamento – não existe o "não-comportamento" ou o "anticomportamento" –, também não existe a "não-comunicação". É por isso que é impossível não comunicar.
Do mesmo modo, também é impossível a um Governo não comunicar. Bem ou mal está sempre a comunicar. Não comunicar é impossível, porque, muitas vezes, até um silêncio sobre uma matéria qualquer pode ser ensurdecedor. Se olharmos para trás, os casos mais polémicos que têm envolvido o Governo da coligação PSD-CDS/PP têm resultado mais de declarações desconexas e contraditórias, produzidas em actos públicos, entrevistas ou encontros de circunstância com os jornalistas, do que propriamente de decisões tomadas pelo executivo no âmbito das duras medidas de empobrecimento de Portugal impostas pela “troika” formada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), pelo Banco Central Europeu e pela União Europeia. No fundo, os casos mais polémicos são um problema de comunicação.
Perante jornalistas e meios de comunicação que apanham a espuma das coisas, ou o "sound bite", e privilegiam o incidente ou a divergência, por mais pequena que ela seja, pois só assim têm o “espectáculo” garantido nas televisões, o Governo de Pedro Passos Coelho tem deslizado mais do que seria expectável numa equipa encarregada de impulsionar a recuperação económica e social do País, contando com uma larga maioria parlamentar e com a predisposição da população para os sacrifícios.
Porém, alguns dislates perfeitamente dispensáveis têm dado cabo da paciência dos cidadãos – a acrescentar a um conjunto de decisões que contrariam o que fora dito em campanha eleitoral, como por exemplo, sobre os cortes dos subsídios de férias e de Natal ou as nomeações políticas – e têm contribuído para um divórcio gradual entre o País e o Governo. Assim de cabeça, não faltam exemplos de trapalhadas verbais em menos de um ano de Governo: a pieguice enunciada por Pedro Passos Coelho sobre os portugueses que se queixam das dificuldades; o convite aos jovens e aos professores para que emigrem; o incentivo à exportação de pastéis de nata; ou o desconhecimento sobre a rede ferroviária espanhola, anunciando-se um comboio rápido para ligar Sines a Badajoz numa linha cuja bitola correspondente só existe na fronteira de Espanha com a França.
Mas o pior da comunicação governamental aconteceu na Semana Santa, que ficou assinalada como a semana horrível deste Governo. Para além do anúncio inesperado da proibição das reformas antecipadas, verificaram-se desencontros graves entre o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, a propósito da data do regresso de Portugal aos mercados e dos cortes nos subsídios de férias e de Natal para os funcionários públicos e pensionistas. Como se sabe, esses cortes foram alvo de uma comunicação ao País devidamente preparada, ainda antes da aprovação do Orçamento para 2012. Nela, o primeiro-ministro foi muito claro ao anunciar que esses cortes iriam vigorar apenas em 2012 e 1013. Não se entende, por isso, que a reposição desses subsídios seja agora atirada para 2015, e mesmo assim gradualmente, e que o ministro das Finanças venha reconhecer que, afinal, o que dissera foi um lapso.
Com isto, Pedro Passos Coelho aproxima-se cada vez mais de José Sócrates: deixa de ter credibilidade e vê ganhar terreno a ideia de que “os políticos são todos iguais”, o que é terrível, mais a mais numa situação de emergência como aquela que se vive em Portugal.
Ora, para uma boa comunicação é indispensável que o mensageiro seja responsável nas decisões que anuncia e seja credível. Para isso não é preciso inventar. Basta agir com bom senso. Como diz o antigo ministro Miguel Beleza, num trabalho sobre o assunto publicado hoje pelo jornal “i”, “não se pode dizer tudo, mas o que se diz não pode ser mentira” (ver aqui).

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Analista de redes sociais. Uma profissão emergente


As grandes mudanças verificadas no processo de produção de informação e de difusão de informação, na sequência da desmaterialização dos dados, sobretudo a partir de finais do século XX, acabaram com muitas profissões na área da comunicação. Mas a era da informação digital trouxe novas formas de trabalhar e de ganhar a vida.
O analista de redes sociais – ou de mídias sociais, para os meus leitores do Brasil – é um dos novos profissionais. Inspirado no Blog do E-Commerce (ver aqui), acrescento mais dados, relativamente ao que tinha escrito no Comunicação Integrada (ver aqui), sobre as importantes funções de um analista de redes sociais ou analista de comunicação digital (designação que prefiro, por ser mais abrangente).
Antes de mais, um bom analista de comunicação digital deve ter formação superior em marketing, jornalismo, publicidade ou relações públicas. Precisa de ter conhecimentos muito apurados em jornalismo digital, escrevendo correctamente e com clareza. Precisa de conhecer o mundo das redes sociais, o funcionamento de cada uma das redes, quais os públicos de cada uma dessas redes e quais são as mais populares e as menos populares.
Um bom analista de redes sociais tem, também, de ter o chamado “faro jornalístico” e precisa de saber qual a agenda noticiosa do dia (“agenda-setting”), para não perder as melhores oportunidades para disseminar conteúdos.
Elaborar textos para as redes sociais, que sejam claros e concisos; disseminar conteúdos em comunidades e blogues relevantes; interagir com participantes nos diferentes pontos de contacto e plataformas; manter contacto com os principais difusores de informação nas redes sociais (líderes de comunidades e blogueiros); identificar conteúdos gerados por outras pessoas que possam ser partilhados  para disseminar nos seus pontos de contacto; acompanhar a presença quantitativa e qualitativa nas redes sociais; identificar a evolução da presença “on-line” da organização para que trabalha, gerando relatórios de desempenho e garantir o fluxo de informação entre a agência de comunicação, o cliente e as redes sociais são outras das tarefas de um bom analista de comunicação digital.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O líder político que comenta os comentadores


O secretário-geral do Partido Socialista (PS), António José Seguro, caiu como um patinho ao ter ido à TVI mostrar a sua indignação com a opinião de um comentador da estação de televisão, mais a mais tratando-se de um ex-presidente do PSD, o maior partido da coligação governamental, e de uma velha raposa da comunicação política (ver aqui).
Acossado internamente pelos órfãos de José Sócrates, Seguro não resistiu e cometeu um deslize imperdoável em comunicação: um líder político não pode desgastar a sua imagem com desvios de rota, muito menos para responder a comentadores, dando-lhes importância. É justamente para esses momentos críticos que existe a figura do porta-voz.
Sem precisar de porta-voz, Marcelo Rebelo de Sousa foi demolidor no contra-golpe: declarou que sobre a reacção do líder do PS ao seu programa de comentário político dominical só fala no próximo domingo na própria TVI. Ou seja, Marcelo não saiu da sua rota e só admitiu falar sobre o assunto no programa que se segue, colocando Seguro ao nível de qualquer outro visado pelas suas críticas. Por outro lado, concentrou as atenções no programa do próximo domingo, garantindo desde já interesse público e mais audiência para a TVI.
Podemos dizer que Marcelo Rebelo de Sousa já suspirava por uma polémica assim, que reacendesse o interesse do público pelo seu programa – depois da polémica que envolveu o seu interlocutor Júlio Magalhães e a redacção da TVI, pelo facto de Magalhães ter passado a acumular a direcção do renovado Porto Canal com a conversa dominical com Marcelo.
Quanto a António José Seguro, até pode resistir na liderança do PS e tudo indica que vai conseguir levar a nau a um porto. Só não sabemos qual é. Para já, poderia resolver para sempre um problema chamado António Costa, empurrando o presidente da Câmara de Lisboa, com toda a força, para as eleições presidenciais de Janeiro de 2016. Seria paz garantida até às eleições legislativas de 2015. Para isso, Seguro tem de deixar de comentar os comentadores.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Banco Volkswagen em Portugal. Bom para os consumidores


Numa altura em que o consumo está em queda, em que a venda de automóveis novos regista uma das maiores descidas de sempre, na ordem dos 50% por cento nos primeiros três meses deste ano, e em que muitas instituições financeiras equacionam deixar Portugal, os alemães do Banco Volkswagen decidem em sentido contrário e instalam-se no País (ver aqui a notícia do "Diário Económico").
A primeira vítima poderá ser o Banco Santander Consumer, que centraliza as operações de financiamento das marcas Volkswagen, Audi e Skoda. O Banco Volkswagen, que tem autorização do Banco de Portugal para começar a operar em Junho, também deverá centralizar a gestão dos dinheiros da marca, nomeadamente o pagamento de salários.
Com este acto estratégico de gestão, o grupo Volkswagen torna-se mais competitivo em Portugal, tornando-se mais presente na vida dos seus clientes e deixando de depender de terceiros para realizar os seus negócios. Pode, por isso, vender o crédito automóvel a um preço mais baixo, o que resultará em carros mais baratos. Por outro lado, isso terá efeitos na concorrência ao nível das instituições financeiras.
No fim, quem vai ganhar é o consumidor final. Deve ser esta a democratização da economia de que tem falado o primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho. Só é pena que essa democratização demore a chegar a outros serviços públicos. Como a electricidade, os combustíveis ou as portagens das auto-estradas, por exemplo.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Da coxa de Cristina Ferreira ao futebol para morcegos


As noites de domingo na TVI são um retrato fiel da sociedade mediática em que vivemos. Neste domingo, 1 de Abril, por exemplo, a TVI mostrou-nos a “final” da série "A Tua Cara Não me é Estranha" – em que pretensos famosos vão ao palco imitar outros famosos da arena musical, com o suposto objectivo de divertir a populaça. As exibições são avaliadas por um júri, igualmente formado por ex-famosos ou ex-futuros famosos, que também se divertem e procuram divertir quem está a assistir.
O programa é conduzido pelo apresentador e “entertainer” Manuel Luís Goucha, que faz dupla com Cristina Ferreira, uma moça com uma voz esganiçada, sempre disponível para nos mostrar a coxa pela abertura do seu vestido longo. Até o membro do júri António Sala, que o povo conhece dos tempos em que despertava o País nas manhãs da Rádio Renascença, a emissora católica portuguesa, não cede à tentação brejeira de dizer que a falta de pano pela coxa acima é a melhor parte do vestido de Cristina Ferreira. O programa é isto. Nada, a não ser o risível e o patético. O povo, à volta do palco, só aplaude, cada vez que o programador, escondido atrás da câmara, diz que é para aplaudir.
É este o circo que podemos ver em sinal aberto. Um circo assustadoramente vazio – como descreveria Gilles Lipovetsky –, que costuma acabar perto da uma hora da madrugada de segunda-feira, dia de trabalho para quem tem. Só aí é que começa o programa com imagens e informações sobre os jogos da Liga Portuguesa de futebol, a que a TVI, teoricamente, está obrigada em função de ter o exclusivo da transmissão em directo de um jogo por semana. O problema é que, depois da uma hora da madrugada, e por entre quilómetros de publicidade enlatada, esse futebol é para morcegos. Ou para os amigos dos morcegos.