sábado, 28 de abril de 2012

O escândalo da Televisão Digital Terrestre


Estão em causa o serviço público e o serviço privado de televisão e está em causa a “sociedade da informação”, mas nem por isso a questão é debatida como deve ser pelos próprios meios de comunicação, que deveriam ser os primeiros interessados na questão. Calcula-se que cerca de 1,6 milhões de portugueses poderão estar sem televisão em casa em virtude do apagão do sinal analógico, no dia 26 de Abril, que foi substituído pela televisão digital terrestre (TDT). Em muitas situações, estamos a falar das pessoas mais antigas ou menos informadas, com poucos recursos, que têm de escolher entre juntar dinheiro para os remédios ou para ver televisão, seja para comprar uma antena parabólica ou para comprar um aparelho que adapte o televisor à TDT. Mas os produtores de conteúdos televisivos também têm razões de queixa.
É um escândalo que só acontece em Portugal e que não aconteceu nos outros países europeus, onde a televisão digital terrestre chegou. Mais grave ainda é que os portugueses que hoje não têm sinal de televisão aberta dentro de casa continuem a pagar ao Estado a taxa de audiovisual, na conta de electricidade. Uma situação inconcebível.
Nuno Bernardo, um dos directores da Agência para o Desenvolvimento das Indústrias Criativas (ADDICT), e responsável pela beActive, en entrevista ao jornal “Meios & Publicidade”, afirma que “a implementação da TDT em Portugal é um processo que em Portugal tem sido muito pouco discutido, e que quer o Governo, quer as entidades envolvidas não tem prestado os esclarecimentos necessários às questões que vão surgindo”.
De acordo com Nuno Bernardo, “este processo apenas pretende cumprir com as obrigações impostas por Bruxelas e, como tal, não se nota uma grande vontade política em discutir as questões que levaram a um conjunto de decisões que claramente prejudicam as populações”, pois “vão ter de pagar para continuarem a ver os quatro canais anteriormente disponíveis”, assim como “o sector da produção audiovisual, que assim vê mais uma possibilidade de dinamização da actividade ser morta à nascença”.
Diz ainda o dirigente da ADDICT: “Devido a este quase querer esconder o processo do apagão e à não promoção de um debate público, faz com que a maioria das pessoas fique sem TV gratuita (mas provavelmente vão ser obrigadas a continuar a pagar a taxa de radiodifusão que todos os meses aparece na conta da electricidade). Para continuarem a ver TV vão ter, provavelmente, de subscrever serviços de TV por assinatura.”
Resumindo e concluindo, “a implementação da TDT em Portugal sempre foi um processo muito tortuoso”, considera Nuno Bernardo. E acrescenta: “Portugal é um dos últimos países europeus a promover esta mudança. O sentimento da ADDICT é que as entidades responsáveis sempre pretenderam atrasar ao máximo a sua implementação. Portugal é um dos últimos países a fazer o apagão, quase no limite das datas impostas pela Comunidade Europeia. E a implementação da TDT parece mais uma forma de cumprir as obrigações impostas por Bruxelas do que realmente desenvolver uma indústria e oferecer mais conteúdos às populações.”

Um comentário:

Vitto Vendetta disse...

E ainda traço outro cenário pessimista. A partir do momento em que as pessoas que ficaram sem TV por escolha (como eu) passarem a estar listados, não tarda muito a que essa empresa que "liste" os venda às empresas de televisão por subscrição.

Wild world, indeed!