terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Luís Paixão Martins e o marketing político eleitoral


Tudo tem o seu valor. E o valor de uma entrevista jornalística pode ser medido a partir de múltiplos ângulos, nomeadamente em função da perenidade daquilo que diz a pessoa entrevistada. Nessa perspectiva, uma entrevista pode valer por aquilo que retemos dela algum tempo depois. Mas estamos sempre perante um valor muito subjectivo, que depende sempre da atenção, do conhecimento, do interesse e da percepção de cada leitor.
Muitas vezes, quando arrumo os meus papéis, tropeço em publicações antigas. No último fim-de-semana, achei uma entrevista do consultor de comunicação Luís Paixão Martins ao jornal “i”, publicada em 22 de Junho de 2009 (ler na íntegra aqui). E constatei que o líder da LPM Comunicação – que ocupa a liderança do mercado de consultoria e aconselhamento estratégico em marketing e comunicação – disse algumas coisas sobre o marketing político eleitoral que, passados dois anos e meio, ainda continuam válidas. Por isso, recupero as ideias que se seguem:

“Os eleitores já não vão lá com marketing, nem com propostas mobilizadoras, nem com promessas ou chavões.”

“Uma campanha eleitoral é apenas uma campanha de comunicação assente nos conceitos de coerência, continuidade e crescimento.”

“De cada partido da oposição espera-se que seja agendada uma crítica ao governo por dia, a tempo de fazer os telejornais. Se não for a postura do primeiro-ministro, é outra coisa qualquer. O que seria surpreendente é que aplaudisse.”

“As sondagens? Um dos problemas dos consultores de marketing político, hoje em dia, é a dificuldade que sentem em cumprir a sua missão num momento em que a fiabilidade das sondagens está em crise. Não por culpa, certamente, de quem as faz, mas em consequência da frustração, da perplexidade e do cinismo dos eleitores.”

“Concordo com a existência de um sistema de auditoria às sondagens, não com a proibição da sua divulgação. Mas, como consultor, sempre entendi que uma sondagem é apenas um instrumento de trabalho. Às vezes, pela maneira como são publicitadas, as sondagens parecem a ‘real thing’ [coisa real].”

“Sinto orgulho em ter contribuído para o aumento da relevância e da projecção das consultoras de comunicação portuguesas no marketing eleitoral. Neste contexto, fiquei muito desapontado por não termos tido nenhuma consultora de comunicação envolvida na campanha das europeias [2009]. Tenho a certeza de que as consultoras de comunicação teriam ajudado a mobilizar os eleitores e a diminuir a abstenção. Eu, pessoalmente, gostaria de ter contribuído para isso. Foi pena.”

“Os 'grandes educadores' como o doutor Pacheco Pereira opor-se-ão sempre às iniciativas transparentes e assumidas que popularizem a política, que melhorem a informação dos cidadãos e tornem mais transparente a actividade dos partidos. Querem perpetuar a ideia da vanguarda da classe operária. Pelos vistos, para essa gente falta-nos a legitimidade que tinham os consultores brasileiros, americanos e espanhóis contratados às escondidas e pagos pela porta do cavalo. Eu, como, ao contrário do doutor Pacheco Pereira, nunca fui presidente de uma distrital partidária desse tempo, não consigo compreender por que os consultores estrangeiros que recebiam o dinheiro em ‘cash’ tinham mais legitimidade do que têm, hoje em dia, as consultoras portuguesas que orçamentam, facturam e pagam impostos. Mas, provavelmente, sou eu que estou errado e haverá alguns saudosos desse passado. É a vida.”

Dicas para conversar com os clientes nas redes sociais


Na era digital em que vivemos, conquistar a amizade dos públicos nas redes sociais e compreender o seu comportamento, respondendo com eficácia a todos os seus sinais, de modo a ser garantida uma interecção duradoura, são alguns dos grandes desafios comunicacionais que se colocam a marcas, empresas e organizações. A cadeia francesa de distribuição cultural FNAC que o diga, pois esta semana foi obrigada a retirar uma campanha promocional que desagradava aos clientes, o que estava a causar um “buzz” negativo sobre a marca nas redes sociais, nomeadamente no Facebook.
Uma marca, para ter sucesso na sua comunicação digital, precisa de humanizar-se, apresentando-se na rede como se fosse uma pessoa e não um “robot”. Ora, da mesma maneira que não nos tornamos amigos de um desconhecido que se cruza connosco na rua, uma marca ou uma organização também não deve aparecer subitamente do nada para se tornar amiga de um possível cliente.
A Internet é eminentemente isoladora – pois quando estamos ligados à rede não interagimos com quem está fisicamente ao nosso lado –, e o consumidor que está na rede não gosta de atitudes intrusivas. Por isso, as marcas e as organizações precisam de aprender que, para conversar com o consumidor, é necessário, antes de tudo, uma apresentação. E isso requer um trabalho de presença digital de excelência, como escreve o jornalista e blogueiro Cleyton Torres, entre outras dicas para as empresas dialogarem com os clientes nas redes sociais (ver aqui).

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A morte no trabalho. Uma tragédia portuguesa


O “Jornal de Notícias” aproveitou a morte de mais três operários, desta vez nas obras de construção da barragem do Tua, para fazer um balanço sobre a evolução dos acidentes mortais de trabalho mortais, em Portugal, entre 2001 e 2011. Um bom princípio jornalístico. Porque, em casos como este, só vendo a floresta é que conseguimos perceber a árvore que está à frente dos nossos olhos. Ou seja, é através do conjunto de notícias sobre determinada matéria que conseguimos compreender e enquadrar devidamente a realidade – as suas causas e os seus efeitos na sociedade. E a realidade portuguesa ao nível dos acidentes mortais no trabalho é dramática: apesar das novas técnicas de produção, o trabalho continua a matar em grande escala.
Em 10 anos, morreram a trabalhar, oficialmente, 1633 operários. É fácil de compreender a gravidade da situação: estamos a falar de uma morte a cada dois dias de trabalho. Só em 2011 morreram no trabalho 186 pessoas o que eleva a média para mais de uma morte a cada dois dias de trabalho. Ou seja, áo nível das condições de segurança no trabalho, as coisas estão cada vez pior, apesar das construtoras anunciarem com pompa e circunstância as novas técnicas de construção, presumivelmente também mais seguras.
Para as empresas, os acidentes de trabalho mortais são sempre um desafio para a capacidade da sua comunicação de crise. E um acidente pode existir. Por isso mesmo é um acidente. O problema é que, em Portugal, o trabalho é factor de insegurança, onde os acidentes mortais deixaram de ser acidentes para se tornarem num hábito. É por isso que os números agora revelados pelo “JN” retratam uma tragédia nacional que deve envergonhar todos os portugueses.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Os 4 "P’s" do Marketing Mix são visão do passado


Na década de 1960, Jerome McCarthy propôs que o “mix” de marketing consistisse em 4 P’s – Produto, Preço, Ponto de Venda e Promoção. A estrutura dos 4 P’s impõe que as empresas decidam sobre o produto e suas características, definam o preço praticado, decidam como distribuí-lo e seleccionem métodos para promovê-lo. Outros estudiosos de marketing acreditam, porém, que essa estrutura de 4 P’s comete o pecado de não enfatizar certas actividades importantes como os serviços, o atendimento, as embalagens e a venda pessoal, por exemplo.
Júlio César Santos, colunista do “Jornal do Commercio”, do Rio de Janeiro, apresenta aqui uma visão do Marketing Mix, ou Marketing Operacional, adaptada aos novos tempos – em que o consumidor é mais informado e mais exigente, dando opiniões na Internet e querendo participar na criação do produto, para adquiri-lo à sua medida, tornando o processo de aquisição e de usufruto numa boa experiência.
Por isso, Júlio César Santos afirma que a questão não é se deveriam haver quatro, seis ou mais P’s, mas sim qual seria a estrutura mais adequada para projectar a estratégia de marketing de um produto ou serviço. O autor lembra uma crítica segundo a qual os 4 P’s encaram o mercado sob o ponto de vista do vendedor e não do comprador. Para esses críticos, diz Júlio César Santos, os 4 P’s poderiam ser descritos sob o ponto de vista do comprador como “os 4 C’s”: (a) valor para o Cliente; (b) menor Custo; (c) Conveniência; (d) Comunicação.
Dessa forma, enquanto os directores de marketing se vêem como vendedores de um produto, os consumidores se enxergam como compradores de um valor ou como compradores de uma solução de problemas. Assim, estão mais interessados no custo total de obtenção do que apenas no preço. Eles exigem que o produto, ou serviço, esteja disponível da forma mais conveniente possível e, além disso, não não gostam de promoção – eles querem comunicação bidireccional.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Mestrado em Marketing e Publicidade na Lusófona do Porto


Para os interessados, em particular aqueles que residem do Norte de Portugal, mas não só, informo que começam neste sábado, dia 28 de Janeiro de 2012, as aulas do primeiro ano do mestrado em Marketing e Publicidade, na Universidade Lusófona do Porto. O curso é dirigido por Isabel Babo-Lança (na foto), doutorada em Sociologia da Comunicação pela prestigiada Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, de Paris. Todas as informações sobre o mestrado podem ser obtidas clicando aqui. Segundo informação prestada a este blog por Isabel Babo-Lança, que também dirige a licenciatura de Ciências da Comunicação e da Cultura na Lusófona do Porto, a turma do mestrado está formada, mas a universidade ainda tem as inscrições abertas.

Cavaco Silva. O declínio do homem público


Na década de 1970, o sociólogo e historiador norte-americano Richard Sennet escreveu “O Declínio do Homem Público - As Tiranias da Intimidade”, uma obra clássica da sociologia contemporânea, que percorre uma das questões mais polémicas do nosso tempo: a relação difícil entre o domínio público e o privado. Preocupado com o esvaziamento do espaço público, Richard Sennett pretende mostrar que a derrocada da vida pública – mediante uma prática social cada vez mais intimista –, resulta de uma mudança que começou na era Moderna, com a formação de uma nova cultura urbana e capitalista.
Sennet faz uma caracterização precisa e extremamente contemporânea do problema público, do que é o domínio público, e das inúmeras mudanças ocorridas nele, em especial em relação à intrusão dos sentimentos e ao exercício de uma cultura da personalidade, que subverte as relações sociais e que até modifica o sentido do que é o amor e a sexualidade para as pessoas. O objectivo é detectar os motivos que ocasionaram o surgimento de um espaço público morto. Nesse sentido, Sennett afirma que “foi a geração nascida após a Segunda Guerra Mundial que se voltou para dentro de si ao libertar-se das repressões sexuais”, tendo sido “nessa mesma geração que se operou a maior parte da destruição física do domínio público”, observa o autor.
Vem isto a propósito da trapalhada em que se meteu o Presidente da República Portuguesa, Cavaco Silva, ao falar em público sobre um assunto de natureza privada: as suas pensões de reforma.
Com o declínio do Estado, que acontece todos os dias, cai também o homem público. E os problemas tendem a ser privados em maior número. Ora, Cavaco Silva deveria saber que neste mundo do narcisismo desvairado e da competição desenfreada, a privatização da existência assumiu proporções tais que o “eu” invade constantemente o já tão depauperado espaço do outro. E em Portugal, viver é cada vez mais difícil. Que o digam milhares e milhares de portugueses que são atirados para o desemprego ou que sobrevivem com reformas miseráveis, enquanto a saúde é cada vez mais cara, a energia é cada vez mais cara, tudo é cada vez mais caro.
O tropeção verbal de Cavaco Silva – curiosamente um grande defensor das políticas públicas e dos sectores mais pobres da sociedade, que sempre admirei – representa, assim, o declínio do homem público português. Que, à falta de uma ideia de Portugal que seja mobilizadora para o futuro, se perde à frente dos microfones – onde a pressão é muito maior do que quando se comunica através do Facebook... – a falar da sua sobrevivência pessoal de um modo absolutamente insensato, tendo em conta o rendimento da maioria dos cidadãos portugueses.
Cavaco quis colocar-se no lugar de outros portugueses como ele, que agora viram frustradas expectativas financeiras que legitimamente alimentaram ao longo da vida activa. O problema é que enquanto alguns ainda podem ver os seus rendimentos reduzidos que nunca passarão fome, a grande maioria já não poderá dizer o mesmo. Além disso, o Presidente não é um português qualquer, pois nem sequer precisa de fazer contas para viver para além de Belém. Porque nós até lhe pagamos tudo.
Por isso, as suas palavras foram muito mal recebidas, manchando fortemente a sua imagem pública mediática. Basta lembrar as vaias do povo em Guimarães – que significaram um prolongamento real das fotomontagens e dos comentários que povoam o Facebook e outras redes sociais, onde Cavaco Silva também comunica –, ou, principalmente, ouvir em privado o que dizem eleitores e dirigentes da sua base política de apoio para perceber a dimensão do desastre comunicacional.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Portugal e "Troika" numa única fotografia


Eis uma fotografia que diz muito mais do que a notícia que pretende ilustrar e do que a legenda que a acompanha. À primeira vista é uma fotografia ilustrativa do “workshop” com a “troika” promovido pelo Governo. Porém, há nela uma mensagem que está para além desse acontecimento. Vejamos:
O primeiro-ministro cumprimenta um dos elementos da “troika” presentes no evento. O seu rosto mostra um esgar em forma de sorriso, mas a mensagem principal está no corpo. Dir-se-ia que entre o primeiro-ministro e aquele a quem cumprimenta há um obstáculo, invisível na imagem, que o impede de se aproximar do interlocutor. É o seu braço que se estende e o corpo que se inclina enquanto os pés não saem do mesmo sítio.
O homem da “troika” permanece direito, é Passos Coelho quem se curva para ele, como se quisesse fugir do cumprimento mas reconhecesse que não o deve fazer. A diferença de estatura, leva o homem da “troika” a olhar Passos de cima para baixo.
Mas há outro pormenor não despiciendo, na leitura desta fotografia: os outros dois elementos da “troika”, captados de frente, presenciam o instante. E para quem olham eles? Não olham para o primeiro-ministro, anfitrião do evento. Olham para o terceiro, como se nele estivesse “o principal” perante o qual o primeiro-ministro se curva.
Esta fotografia conta uma história ligeiramente diferente do discurso da “coragem” que alguns leram na frase do primeiro-ministro quando, no workshop, afirmou para os três elementos da troika: “Senhores da troika, estamos aqui por nós,não por vós.”
Seja qual for a leitura desta fotografia – uma imagem é sempre polissémica – ela acrescenta informação ao texto a que reporta. É também uma fotografia simbólica em que o corpo curvado do primeiro-ministro perante o homem da “troika”, remete para a real situação do país: um país curvado perante a “troika”.

Estrela Serrano, no blog Vai e Vem, numa excelente análise a uma fotografia de Miguel Manso, publicada no “Público”, 22-01-2012

domingo, 22 de janeiro de 2012

"Comunicação Integrada" é o blog mais votado


O “Comunicação Integrada” foi o blog mais votado na categoria de Comunicação e Media, na primeira fase de um concurso destinado a escolher o Melhor Blog de 2011. A iniciativa foi lançada pelo blog Aventar, que tem disponíveis todas as informações sobre o concurso (ver aqui).
Nesta primeira fase foram seleccionados os cinco blogues mais votados em cada área. O “Comunicação Integrada” recebeu um total de 142 votos (15% de um total de 969 votos na área de Comunicação e Media), tendo sido seguido pelos blogs “Dois Dedos de Marketing” (124 votos, 13%), “Piar” (105 votos, 11%), “It’s PR Stupid” (82 votos, 8%) e o blog “Lugares Comuns” (71 votos, 7%).
Este concurso tem o valor que tem. A questão é que sabe bem ser reconhecido pelo nosso trabalho. E os meus leitores mais fiéis transformaram esse reconhecimento em votos. Como autor do "Comunicação Integrada" estou muito contente. Agradeço a quem simpaticamente incluiu o blog neste concurso. E agradeço os votos de todas e de todos. Conto com todos na segunda fase, sobre a qual ainda não tenho informação. Muito obrigado!...

sábado, 21 de janeiro de 2012

A capital da cultura numa Europa em crise


Os discursos da cerimónia inaugural do evento Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura não trouxeram nada de novo. Desde o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, ao presidente da Câmara de Guimarães, António Magalhães, passando pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e pelo Presidente da República, Cavaco Silva, ninguém disse nada que mobilizasse os portugueses e os europeus para o futuro. E, cá fora, o povo em protesto nas ruas. Ora, sendo a cultura a base das civilizações é caso para concluir que a Europa demonstra não ter futuro. É pena que Guimarães, sendo o berço de Portugal, uma das nações mais antigas, e sendo uma das cidades que mais valorizam o seu património e a sua cultura, acolha um evento desta dimensão e significado num momento tão crítico da civilização europeia.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A comunicação de Marco António Costa


O secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social, Marco António Costa, é o único membro do Governo a comunicar aos militantes do PSD o seu trabalho político governamental, utilizando a “mailing list” do partido para enviar textos e fotografias sobre a sua actividade. Mais nenhum outro membro do Governo, incluindo o próprio Primeiro-Ministro e líder do partido, Pedro Passos Coelho, utiliza este canal de comunicação com os militantes do PSD com a assiduidade do secretário de Estado, que é a figura mais importante do maior partido do Governo numa pasta dominada pelo CDS/PP.
Curiosamente, também no “site” oficial do PSD dominam as notícias da esfera de competências de Marco António Costa (embora não seja favorecido nas fotografias escolhidas, como quando aparece mais pequeno do que Paulo Portas e Passos Coelho ver aqui), o que significa que o dirigente social-democrata oriundo da poderosa Distrital do PSD não brinca em serviço e sabe que todos os meios contam para ganhar notoriedade. Até porque muitas das suas notícias aparecem aqui e ali, em breves de jornais impressos, que podem ser lidas rapidamente e sem esforço.
Marco António Costa aposta ainda noutras frentes digitais, tais como o seu “site” oficial (ver aqui) ou a sua página no Facebook, onde dá conta de todos os passos como secretário de Estado, profusamente ilustrados com fotografias.
Sendo vereador em Vila Nova de Gaia com o mandato suspenso (terá que decidir em meados deste ano se regressa ao poder local no distrito do Porto ou não), Marco António Costa não perde um fim-de-semana sem descer ao terreno para falar com as “bases”, pois é preciso manter um bom “rating” do “aparelho” para subir na política...
A verdade é que não lhe têm faltado pretextos para tanta proximidade com o chamado País real, desde o lançamento de primeiras pedras de equipamentos sociais ou inaugurações de jardins-de-infância ou centros sociais ou até mesmo a inauguração de lojas sociais. Marco António Costa fez a escola no poder local, em Valongo e Vila Nova de Gaia, e sabe da importância de mostrar trabalho.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Os "media" e o marketing na cultura da convergência


No dia 11 de setembro de 2001, de má memória para os EUA, a informação sobre o ataque terrorista ao World Trade Center e ao Pentágono correu o planeta quase instantaneamente, através dos meios de comunicação. Retenho na memória a visão em direto do segundo avião a perfurar uma das torres do Word Trade Center, perante o ar pasmado do jornalista Paulo Camacho, que apresentava as notícias da hora do almoço na SIC e, sem mais informação disponível, não conseguia, naquele instante, enquadrar o espectador com as imagens brutais que passavam no ecrã, através da CNN.
O ataque terrorista estava mesmo a acontecer naquele momento, a dor e a morte atingiam milhares de norte-americanos e o mundo assistia em direto, por força da capacidade técnica da televisão. Outros receberam informação do mesmo acontecimento por outros meios, como a rádio ou a Internet. E, no dia seguinte, os jornais de todo o mundo acrescentaram fotografias, explicações e análises sobre o sucedido. Cada meio de comunicação cumpriu o seu papel informativo.
As histórias que foram conhecidas posteriormente vieram provar que os meios de comunicação complementam-se e não se anulam uns aos outros. O que aconteceu no seio de uma família americana, nesse 11 de setembro de 2001, demonstrou isso mesmo. Segundo Bruno Rodrigues, especialista em comunicação digital e autor do livro "Webwriting – Redação & Informação para a Web" (Rio de Janeiro, Brasport, 2006), em determinada família o filho estava na Internet e a mãe via televisão, até que se encontraram no corredor da casa e pensaram na forma menos impactante de contar à avó a notícia sobre a tragédia. Porém, quando foram até junto da senhora, ela já sabia de tudo. Até sabia mais. Sabia que um terceiro avião já tinha caído em Washington – pois ela tinha ouvido tudo pela rádio.
Estes factos demonstram que a rádio não acabou com os jornais. Assim como a televisão não acabou com a rádio. Nem a Internet acabou com a televisão. Todos os meios de comunicação de massa têm o seu lugar no sistema mediático e são complementares. Mas além desses meios, o sistema mediático conta agora com todos os cidadãos que tenham ligação à Internet – os quais recebem e produzem informação através de meios e plataformas digitais.
O que as redes sociais trouxeram de novo em relação a tudo o que já era conhecido na história dos meios de comunicação e da Internet foi um espaço de “convergência mediática” e uma “cultura da convergência”, de que fala Henry Jenkins (“Cultura da Convergência”, S. Paulo, Aleph, 2008), em que meios de comunicação tradicionais, organizações e cidadãos estão ligados em rede e todos falam com todos. A verdade é que, nas redes sociais, continuamos a procurar a notícia ou o cronista do jornal “a” ou “b” ou o programa da televisão “c” ou “d”.
Aplicada à sociedade de consumo, esta convergência entre marcas e consumidores implicou mudanças significativas na gestão do marketing contemporâneo, tendo Philip Kotler (“Marketing 3.0 – Do Produto e do Consumidor até ao Espírito Humano”, Lisboa, Actual Editora, 2011) identificado o Marketing 3.0 para designar uma fase em que a rendibilidade está a par da responsabilidade social, na qual as empresas encaram os clientes como um ponto de partida estratégico, abordando-os tendo em conta as suas necessidades e os seus interesses, numa interação duradoura e inesquecível, como acontece, por exemplo, através do marketing experiencial.
Munido de computadores, telemóveis baratos e de Internet a baixo custo, o consumidor é agora mais informado e mais exigente. Assim como dá opiniões no Facebook, também quer participar na criação do produto, para adquiri-lo à sua medida, tornando o processo de aquisição e de usufruto numa experiência única. É por isso que o marketing contemporâneo deve criar experiências de envolvimento, de participação e de interacção para conquistar e manter clientes.
É importante que o marketing e a publicidade percebam as mudanças em curso. Na indústria da comunicação, esta cultura da convergência, que é eminentemente democrática, está a desinstalar jornais e outros meios tradicionais, porque está a derrubar velhos métodos de trabalho e de gestão, assim como hábitos de consumo ultrapassados. Do mesmo modo, muitos publicitários e directores de marketing e de comunicação mostram-se carregados de dúvidas porque as mudanças implicam abordagens criativas e novas linguagens para conquistar a atenção dos públicos. É natural, porque há cada vez mais intérpretes em competição num mercado cada vez mais volátil e global. O que estamos a viver é uma revolução que ainda não acabou. Mas decretar a morte antecipada de meios que já foram dominantes talvez seja exagerado. A história tem provado que todos têm lugar.

Obs. – Artigo publicado no Briefing, nº 29, de Janeiro de 2012

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"Big Brother Brasil". Escândalo sexual ameaça Fiat


O que é que uma marca deve fazer quando patrocina um programa de televisão de grande audiência que se transforma num caso de polícia? Deve suspender o patrocínio ou aproveitar a exposição decorrente da polémica? E os valores da marca, onde ficam?...
No Brasil, começou há dias mais uma série do programa “Big Brother”, actualmente na 12ª edição, na Rede Globo, que já virou caso de polícia, por suspeitas de um acto de violação sexual registado pelas câmaras em directo, após os concorrentes terem sido regados com muito álcool. O caso, que está a ser investigado pelas autoridades, rebentou nas redes sociais, nomeadamente no Twitter, e tornou-se incontrolável em muito pouco tempo, depois de as imagens da suposta violação terem passado no canal de assinatura. (Ver aqui)
A Fiat, grande patrocinadora do programa, distribuindo carros entre os participantes e a audiência, enfrenta agora ameaças de boicote por parte do público. Uma situação de crise pouco comum, que escapa ao controlo dos responsáveis de comunicação da Fiat e de outros patrocinadores do programa, mas que pode acontecer em qualquer campanha publicitária, sobretudo quando estamos a falar do patrocínio de um programa em directo e de natureza imprevisível. São os pressupostos exteriores à organização, ou seja, que não dependem de nós, dos quais depende o sucesso de uma acção de comunicação.
Perante este caso, e em função da reacção do público, a Fiat pode, no limite, ser obrigada colocar em causa a continuidade do patrocínio se essa decisão constituir um mal menor. A questão será avaliar se o investimento no programa terá o esperado retorno positivo no mercado ou um inesperado retorno negativo, como consequência do escândalo sexual. A Fiat e outras marcas muito conhecidas estão a ser criticadas por "patrocinarem baixaria", agora transformada em caso policial. "É inacreditável o facto de empresas importantes a exemplo da Nestlé, Fiat, Omo e Guaraná Antártica patrocinarem o repugnante Big Brother Brasil, um dos maiores despropósitos já surgidos na história da televisão brasileira", considera a radialista Rosilene Carvalho (ver aqui). Eis um caso interessante de comunicação publicitária para acompanhar com atenção.
Quanto ao Big Brohter, não deixa de continuar fiel ao formato que já conhecemos, nomeadamente em Portugal, apresentando-se, na definição do jornalista brasileiro Washington Araújo, como “um dos programas mais fúteis entre a enormidade de produção de lixo televisivo” que povoa o espaço mediático. Afinal, a ideia básica dessa espécie de programa é “vender cabeças vazias em corpos sarados e uma série quase interminável de comportamentos humanos aceitáveis na esfera privada e patéticos quando transbordam para a esfera pública”. Ver aqui.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A queda de Nicolas Sarkozy


Uma sondagem sobre as eleições presidenciais em França, a publicar nesta quarta-feira pelo jornal “Le Monde”, dá a vitória ao socialista François Hollande (ver aqui). Caso as intenções de voto se confirmem no dia da primeira volta das eleições, em 22 de Abril, está à vista a queda de Nicolas Sarkozy, que nunca mais foi o mesmo, a partir do momento em que escolheu viver com a ex-modelo Carla Bruni – uma estrela, sem dúvida, mais cintilante e caprichosa – como já observou Rui Calafate, no blog It's PR Stupid (ver aqui). O regresso dos socialistas ao Eliseu provocaria mudanças profundas na política europeia, provavelmente com um efeito-dominó, nomeadamente na Alemanha. Falta saber com que consequências para o futuro da Europa, continente que viveu em guerra durante grande parte da sua história milenar.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Um erro crasso da comunicação do Sporting


Como sportinguista, estou doente. É segunda-feira. Ontem, o meu Sporting Clube de Portugal perdeu mais um campeonato nacional de futebol no terreno do Sporting Clube de Braga, que agora vai à frente na classificação. A bola é redonda, mas dói muito quando sabemos que o clube de Alvalade tinha ido precisamente a Braga, no último defeso, contratar jogadores e treinadores para ser campeão. E agora, dentro do campo, a equipa sportinguista voltou a ser mais fraca.
Ora, do ponto de vista comunicacional, o pior que o departamento de marketing e comunicação de um clube desportivo pode fazer é perder um campeonato ao domingo e pedir o apoio dos sócios e adeptos à segunda-feira. Mas foi isso que fez o departamento de comunicação do Sporting, como se pode ler aqui. Um erro crasso, porque nenhum sportinguista que sinta o seu clube quer falar em apoio à equipa depois de uma derrota humilhante. Deveriam, pelo contrário, anunciar que as portas do Estádio de Alvalade estariam abertas no próximo jogo da Taça da Liga para que todos os sportinguistas pudessem ver o jogo com o Moreirense sem pagar. Isso é que seria comunicar com eficácia para levantar o astral leonino. O dinheiro da receita que não entraria nos cofres do clube seria transformado num investimento em marketing e em calor humano num momento difícil para a equipa de Domingos Paciência. É por isso que sectores como administração, marketing e comunicação devem caminhar lado a lado numa organização.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Como governar contra ventos e marés


Os consultores políticos espanhóis Alfredo Franco, da Redondo & Asociados, e Fran Carrillo, da Fábrica de Discursos, explicam como é que deve ser a comunicação de quem está a governar contra ventos e marés, como acontece com a actual crise europeia, em que muitos países têm de enfrentar medidas de austeridade. São conselhos para o Governo português de Pedro Passos Coelho, mas também para o Governo espanhol de Mariano Rajoy, entre outros. Um exclusivo "La Vanguardia". Ler clicando aqui.

Manuel Fraga Iribarne (1922-2012)


Manuel Fraga Iribarne, que já tinha sido objecto de um “post” neste blogue, quando anunciou o seu afastamento da política activa, há alguns meses, como se pode ler clicando aqui, morreu neste domingo, dia 15, aos 89 anos de idade. Fraga Iribarne era um grande amigo de Portugal, em particular do Norte. Se ele ainda estivesse na liderança do Governo da Galiza (onde esteve entre 1990 e 2005), a ligação ferroviária entre o Porto e aquela região espanhola seria, certamente, uma prioridade política para o desenvolvimento económico do noroeste peninsular.
Grande ideólogo da direita espanhola contemporânea, tendo sido fundador do Partido Popular, Fraga Iribarne foi vítima de paragem cardíaca em sua casa, em Madrid, onde tentava recuperar de uma infeção pulmonar há alguns dias.
Foi uma referência da política espanhola durante 60 anos. Durante o regime de Franco, foi ministro da Informação e Turismo e, após a morte do ditador, foi um dos autores da Constituição de 1978, desempenhando um papel importante na transição para a democracia.
Fundou a Aliança Popular, que daria lugar ao atual Partido Popular. Candidato a primeiro-ministro desde 1977 até 1986, optou a partir de 1989 por centrar a carreira política na Galiza, a sua terra natal. Foi eleito presidente da 'Xunta' durante quase 16 anos. Foi senador desde 2006 até 2011.
Manuel Fraga Iribarne mantinha ainda, desde 1990, o cargo de presidente honorífico do Partido Popular, que introduziu formalmente na política espanhola um ano antes, após uma reformulação da Aliança Popular.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Falta pouco para o computador falar


Hoje, ao enviar um e-mail, através da minha conta no Gmail, o computador perguntou-me: “Você quis anexar arquivos?” Sem que eu respondesse, na mesma janela, a explicação para a pergunta: “Você escreveu ‘Em anexo’ na sua mensagem, mas não há arquivos anexados. Enviar assim mesmo?”
De facto, tinha escrito “em anexo” na mensagem que estava pronta a ser enviada, mas tratava-se de um link em anexo e não de um arquivo em anexo. Moral da história: falta muito pouco para que os computadores comecem a falar connosco, como outros humanos. E nós com eles. Será o momento da interacção total entre o homem e a máquina.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Portugal e a nova ordem económica



“Num tempo de mudança, em que só sobrevive quem é capaz de antecipar as expectativas do mercado e de gerir em rede, numa lógica de competitividade aberta, as pessoas lançam a questão e perguntam-se se cabe de facto ao Estado o papel de intervenção activa no combate à crise ou se, pelo contrário, não caberá à Sociedade Civil a tarefa de reinvenção de um novo modelo de criação colectiva de valor centrado na participação e criatividade individual. Num mundo de incertezas, a nova ordem económica tem que saber dar as respostas certas às perguntas que se colocam.”

“O ano de 2012 vai ser particularmente relevante para Portugal. Está em cima da mesa, no contexto da consolidação do processo de integração europeia, a capacidade de o nosso País conseguir efectivamente apresentar um modelo de desenvolvimento estratégico sustentado para o futuro. Da mesma forma que a maior democracia do mundo teve a coragem de eleger Barack Obama e, com isso, assumir a inevitabilidade do seu processo de reinvenção estratégica, também em Portugal sinais inequívocos de mudança têm que ser dados.”

“As perguntas que as pessoas lançam, a propósito da intervenção do Estado num contexto de crise em tempo de globalização, correspondem, sem dúvida, a um sentimento colectivo de uma nova geração que cresceu e amadureceu numa sociedade aberta, onde a força das ideias é central para o desenvolvimento da responsabilidade individual num quadro colectivo. A nova geração que ganhou dimensão global através da força dos instrumentos da Sociedade da Informação acredita na felicidade e na justiça humana, mas à custa duma adequada aposta na criatividade individual e no reconhecimento do mérito na criação de valor. Por isso, importa que se desenvolvam ideias que apresentem uma solução diferente para os próximos tempos do País. Precisamos de facto de um sentido de urgência na definição de um novo paradigma de organização em sociedade e de integração no mundo global. A oportunidade existe. Mas importa que haja respostas concretas.”

Jaime Quesado, especialista em Estratégia, Inovação e Competitividade, “Vida Económica”, 13-01-2012

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Dilma "perfurada" dá prémio de fotografia em Espanha


O fotógrafo brasileiro Wilton Júnior foi distinguido nesta quinta-feira, dia 12, com o Prémio Internacional de Jornalismo Rei de Espanha, na categoria de fotografia, com uma imagem que mostra a presidente do Brasil, Dilma Roussef, aparentemente, atravessada por uma espada empunhada por um militar numa cerimónia em que eram prestadas honras militares à chefe do Estado brasileiro. De acordo com Wilton Júnior, a ideia era sintetizar “numa imagem política muito forte” o difícil momento que Dilma vivia em Agosto passado.
O instante foi captado durante uma cerimónia de entrega de espadas a 441 cadetes da Academia Militar de Agulhas Negra, no Rio de Janeiro – dias após Rousseff ter perdido o seu quinto ministro em apenas oito meses de Governo, quatro deles acusados de corrupção.
A fotografia foi publicada no jornal "O Estado de S. Paulo", em 21 de Agosto de 2011 e, no dia 31 do mesmo mês, na revista "Veja", que a escolheu como "a imagem da semana". Mas segundo conta o sítio Mirada Photos, a publicação da imagem no Brasil “gerou críticas de distintos sectores”, que acusaram os meios de comunicação que a publicaram de serem “tendenciosos”.
“É bom quando uma imagem desperta um debate deste nível. Creio que o nosso papel é este: fazer com que as pessoas pensem”, afirmou Wilton Júnior à revista “Photo Magazine”. Para fazer a foto, Wilton, que vai receber 6 mil euros, utilizou uma lente de 400 milímetros, o que ajudou a registar o instante.
Aos 37 anos, o fotógrafo disse que está "muito feliz e radiante" por ter recebido a distinção, a primeira internacional nos seus 19 anos de carreira, após ter sido finalista em 2003 do Prémio Ayrton Senna com uma fotografia intitulada "Caçada urbana".

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Figuras nocivas à imagem de um Governo


Eduardo Catroga, um aposentado de luxo que este ano completa 70 anos de idade, vai receber um salário de 45 mil euros mensais, ou 639 mil euros por ano, como presidente do Conselho Geral e de Supervisão da EDP. Catroga – antigo ministro das Finanças e ex-coordenador do programa eleitoral do PSD, tendo representado o partido nas negociações com o FMI, onde ficou decidida a privatização da EDP – acumulará este salário com uma pensão de 9600 euros. Só na EDP, Catroga vai encaixar mensalmente cerca de quatro vezes mais do que o Presidente da República. E ainda vai buscar ao Estado uma pensão de 9.600 euros – montante que seria suficiente para pagar um ano inteiro de dois subsídios de desemprego num valor equivalente ao ordenado mínimo. O escândalo já chegou ao estrangeiro, nomeadamente ao Brasil, como se constata aqui.
Catroga, que na última campanha eleitoral desapareceu de cena depois de uma história de “pentelhos”, prejudicando, então, a imagem de Pedro Passos Coelho, volta agora à ribalta igualmente pelas piores razões. O que ele ganha no final do mês pode ser legal, mas é imoral e obsceno, mais a mais num País esmagado por enormes sacrifícios. E, contudo, bastaria que tivesse renunciado de livre e espontânea vontade à pensão de reforma milionária. Mas não fez isso.
Deste modo, Eduardo Catroga transformou-se numa figura nociva à imagem pública de Pedro Passos Coelho, do PSD e do Governo. Porque acabou por deixar cair a máscara de uma maioria eleitoral. Ora, quando isso acontece, começa uma estrada normalmente sem retorno. Basta estar atento à imprensa e às redes sociais para observar as reacções negativas.
Há certas figuras que não têm consciência do mal que provocam a quem lhes dá tantos privilégios e tantas oportunidades. E que, se tivessem vergonha na cara, nem sequer viriam a público justificar o injustificável. Catroga acaba de entrar nessa galeria. Logo ele que, há meses, antes das eleições de 5 de Junho de 2011, prometera acabar com um "Estado gordo" criado pelo PS, como se pode ler aqui...
Em sentido contrário, há um bom exemplo que vem da Suíça – que é um País desenvolvido e sem necessidade do FMI. Ali, o Governo limita as pensões de reforma a uma verba mensal de 1700 euros. Objectivo: garantir fins de vida dignos e evitar a falência do sistema de segurança social. Mas isso são “pentelhos”.

A nova comunicação digital do Governo

Uma organização, para ter uma comunicação bem gerida e eficaz, precisa, antes de mais, de concentrar toda a informação num único pólo difusor. É para isso que foram criados os gabinetes de comunicação. Para atender os jornalistas, facilitar o acesso à informação que está disponível para ser tornada do conhecimento público e transmitir coerência e organização para o exterior. Ao nível da comunicação digital é isso que está a fazer o Governo de Pedro Passos Coelho, com a criação do Portal de Portugal,  que pode ser consultado aqui. Faz muito bem.
Errado ao nível da comunicação digital do Governo português é o que sempre acontecia desde os primórdios da Internet, em que cada ministério geria o seu “site”, naturalmente em registos imagéticos distintos e linguagens diferenciadas, dispersando meios e desfocando a própria mensagem governamental. Se vamos a uma loja do cidadão e podemos contactar com todos os serviços públicos disponíveis numa cidade, o mesmo deve acontecer no espaço digital, acedendo a todos os ministérios a partir de um só portal.
Em tempos de crise, e num País cheio de capelas e capelinhas, argumentarão que se trata de poupar meios humanos e financeiros. Isso também acontece, mas não é o mais importante. Trata-se de comunicar melhor. De comunicar com eficácia. E de facilitar a vida aos cidadãos.
Há poucos meses, Passos Coelho anunciou a marca “Governo de Portugal”. Esperamos, agora, que todos os ministérios abandonem os seus logótipos e que seja conhecido publicamente o manual de identidade visual da marca governamental. Já era tempo de todas as instituições do Governo português comunicarem uma imagem comum.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O escandaloso encerramento da Livraria Camões


O Brasil é um País de grandes oportunidades e atravessa um período de crescimento económico ímpar na sua história. Mais do que isso: o Brasil foi descoberto por Portugal. Por isso, na década de 1960, o Governo de António Oliveira Salazar, numa decisão política acertada, e com sentido estratégico, apoiou a abertura da Livraria Camões no Rio de Janeiro, com a finalidade de “divulgar no Brasil as obras essenciais da literatura e da cultura portuguesas”. E em cerca de 40 anos já lá foram vendidos mais de 2 milhões de livros, segundo relatam os responsáveis da loja.
Este desiderato, contudo, parece não mais mobilizar a Imprensa Nacional – Casa da Moeda, empresa de capitais públicos portugueses que “administra” aquela livraria, na cidade que vai acolher o Mundial de futebol em 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Ora, numa decisão que é muito polémica, a livraria vai fechar as portas no fim deste mês de Janeiro. Deste modo, Portugal recusa-se a promover a sua língua e a sua cultura numa das grandes cidades do mundo, num País em que o português é a língua oficial e onde vivem muitos milhares de portugueses. Para mim é um escândalo. Só isso. 

sábado, 7 de janeiro de 2012

Comunicação "one-to-one". Pingo Doce escreve aos clientes


“Como se recupera de um golpe de imagem como sofreu o Pingo Doce?” – A pergunta foi feita a seis especialistas portugueses em marketing, comunicação e relações públicas pelo jornal digital de economia “Dinheiro Vivo”, um meio da Controlinveste que tem uma edição semanal em papel como suplemento do “Diário de Notícias” e do “Jornal de Notícias”, ao sábado.
A Jerónimo Martins, dona da cadeia de supermercados portuguesa Pingo Doce, tinha anunciado que a sociedade Francisco Manuel dos Santos transferiu a totalidade do capital que detinha no grupo à sua subsidiária na Holanda, o que gerou o “buzz” negativo sobre a marca Pingo Doce, cujas campanhas de marketing e comunicação têm sido baseados justamente na defesa dos produtos e dos valores nacionais.
A sociedade Francisco Manuel dos Santos SGPS – que reúne as participações da família Soares dos Santos, com destaque para Alexandre Soares dos Santos, presidente não executivo do grupo –, é o principal accionista da Jerónimo Martins. Foi o anúncio da transferência do capital para a Holanda, por alegadas vantagens fiscais em relação a Portugal, que gerou uma onda de críticas ao grupo.
Dos seis comunicadores questionados pelo “Dinheiro Vivo”, António Cunha Vaz recusou-se a dizer o que faria para recuperar a imagem do Pingo Doce: “Querem soluções para recuperar a imagem? Contratem-me!”. Já João Duarte, da Yougnetwork, propôs que o accionista partilhasse lucros com o cliente, fazendo disso a comunicação dos próximos dias, com uma mensagem que transmita que “a nossa poupança são os seus preços mais baixos”.
Patrícia Fernandes, directora de comunicação da Microsoft, sugeriu que o Pingo Doce implementasse “o plano de gestão de crise que tem na prateleira”, aguardando para mais tarde uma explicação sobre “as coisas boas que faz pelo País”. Renato Póvoas, da Guess What PR, defende que o Pingo Doce abandone o silêncio, explique a sua versão dos factos e transmita dados sobre o que a Jerónimo Martins tem feito por Portugal e os benefícios de ser mais internacional.
Rui Calafate, director-geral da Special One Comunicação, recomenda que o Pingo Doce saia de cena por breves momentos, arrancando depois “com uma nova campanha com outros valores” e “os preços mais competitivos do mercado”. Finalmente, Sérgio Gomes, director-geral criativo da Torke, mostra-se mais pragmático. Se o Pingo Doce oferecer “produtos de qualidade a preços baixos”, está, no fundo, a oferecer aquilo que os consumidores querem em tempos de crise. “O resto serve para nos entreter durante uns dias”, acha.
Independentemente destas dicas, a Jerónimo Martins já está a reagir a esta crise de comunicação e, a meu ver, muito bem, pois começa por comunicar com o seu principal activo financeiro, que são os clientes que vão fazer as suas compras ao Pingo Doce. Todos os consumidores que passem pelos supermercados do grupo estão a receber um “esclarecimento”, numa folha de formato A5, assinado pelo administrador-delegado do grupo, Pedro Soares dos Santos, “em nome de mais de 25 mil colaboradores que o Pingo Doce emprega em Portugal”, tendo na sua base o logotipo da marca com a assinatura "sabe bem pagar tão pouco".
Em três pontos, o Pingo Doce garante aos seus clientes que a sede social e a residência fiscal continuam em Portugal, “como sempre”, e que as obrigações sociais e fiscais para com o Estado português “continuarão a ser honradas como sempre foram, não havendo qualquer alteração ao nível do pagamento em Portugal dos impostos devidos”. Pedro Soares dos Santos reafirma que a Jerónimo Martins “mantém também a sua sede e a sua residência fiscal em Portugal, continuando a contribuir social e fiscalmente neste País, sem qualquer alteração, como aliás sempre tem feito desde 1792”.
Ao reagir assim, directamente com os seus clientes, optando pelo modelo de comunicação "one-to-one", que está em voga, o Pingo Doce evita a intermediação do sistema mediático (onde a onda é negativa e deve ser combatida no terreno da informação e não no da publicidade) e, por um custo muito reduzido, reage a uma situação de crise comunicacional delicada falando directamente aos clientes. Um bom recomeço. Porque, qualquer organização contemporânea, para comunicar bem para o exterior, precisa, em primeiro lugar, de comunicar bem para os seus.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

“Público” e “JN”. Por que perdem leitores




Com Portugal enterrado em problemas gravíssimos, o jornal “Público”, na véspera de um Sporting-FC Porto explosivo, na I Liga Portuguesa de futebol, vislumbrou nas paredes dos balneários do Estádio José Alvalade fotografias que mais parecem de uns cartazes de publicidade à Prosegur, as quais, para o jornal dirigido por Bárbara Reis, serão fascistas e susceptíveis de trazer a lume uma relevante questão civilizacional e, eventualmente, de esquerda. E deu manchete ao alegado caso, titulando: “Sporting forrou acesso a balneário com imagens que exaltam violência”.
Já o “Jornal de Notícias”, mais popular, conseguiu vislumbrar no novo cardeal Monteiro de Castro um empresário do sector das madeiras – o que, contado na primeira página de um jornal sem mais explicações, pode deixar atónino qualquer pessoa minimamente atenta ao que se passa. Aqui, o “JN” confessou a tendência natural para a notícia má, a notícia negativa, a notícia que deprime, vendo sangue onde ele não existe ou inventando uma realidade para que o pobre leitor se convença mesmo dessa realidade e compre o jornal para saber mais.
Ora, a notícia do dia, que num jornal do Norte deveria merecer uma manchete e um tratamento jornalístico como deve ser, tinha a ver com a nomeação do arcebispo vimaranense Monteiro de Castro como terceiro cardeal português, subindo na hierarquia do Vaticano – que é um Estado europeu –, indo chefiar o tribunal da Igreja de Roma por decisão do Papa Joseph Ratzinger. Uma grande notícia para o Norte largamente católico, que é suposto ser o mercado do “JN”. Porém, na sua primeira página, o “JN” consegue imaginar um título do outro mundo: “É de Guimarães. Novo cardeal é empresário no ramo das madeiras.” E na notícia publicada no interior nada é explicado sobre a actividade empresarial do novo penitenciário-mor do Vaticano.
É com pseudonotícias destas que os jornais portugueses cavam diariamente a sua sepultura. Por isso, na próxima contagem da Associação Portuguesa de Controlo de Tiragens, não se admirem se as vendas indicarem nova descida. Com jornais tão distantes da realidade ou tão próximos da fantasia não há leitor que aguente. Muito menos edições em papel…

Provedor do DN quer leitores críticos e exigentes


“Sinto-me do mesmo lado de todos os que estão interessados em transformar o jornalismo numa disciplina nobre. E a função que quero desempenhar é preparar o público para não levar gato por lebre. Tenho 37 anos de experiência no fabrico de notícias, portanto, posso levar ao público fórmulas para que ele perceba quando é que está a receber gato por lebre. Isso é o mais importante. O jornalismo precisa de um público preparado, crítico e exigente.”

“Os jornalistas do ‘Diário de Notícias’ conhecem--me há muitos anos. Mesmo os que não trabalharam comigo diretamente conhecem a minha forma de pensar, as intervenções públicas que fiz. Têm noção de que eu sou uma pessoa coerente. Mas eu não tenho aqui qualquer interesse punitivo. Defendo a crítica construtiva, um jargão muitas vezes utilizado mas pouco concretizado. O que eu vou fazer é apontar caminhos. Vou dizer que ‘isto podia ter sido feito de outra maneira’, mas não vou deitar sal nas feridas dos jornalistas.”

“Se o leitor quiser ser Salomé e exigir a cabeça dos jornalistas, poderá sair frustrado da minha reação. Da mesma forma, se o jornalista estiver à espera que o provedor lhe faça 'bilu-bilu' no queixo, poderá sair frustrado com a minha reação. É um diálogo de adultos, mas que terá de ser sereno e responsável. Tentarei fulanizar ao mínimo as questões. Interessa-me mais pegar no caso ou na crítica e analisar a substância do que quem foi o autor deste ou daquele artigo.”

“O jornalismo está a diminuir o número de pessoas com vontade de se levantar da cama para comprar o jornal. (…) Porque, provavelmente, as pessoas não se reveem tanto no que vem no jornal. (…) Há mais acesso de qualquer um de nós à informação, que não passa exclusivamente pelos jornais. Mas isso pode não ser necessariamente bom. Porque essa diversidade de plataformas também relativizou a credibilidade do mensageiro. Agora, nós já não dizemos ‘veio no jornal’. Isso era bíblico. Hoje, ‘vem na Net’, ou ‘vi no Facebook’, ou ‘diz-se...’”

“[A edição ‘online’] é uma área sensível, marcada pela rapidez de circulação da informação. Mas também, muitas vezes, pela falta de rigor. E não estou a falar do site do DN, em particular, mas sim no jornalismo ‘online’ genericamente. Nós, jornalistas, temos técnicas para escrever depressa. Mas o tempo para apurar o que aconteceu continua a demorar o seu tempo. Nós somos muito rápidos a escrever, mas continuamos a precisar de investigar.”

Oscar Mascarenhas, jornalista e novo provedor dos leitores do “Diário de Notícias”, que inicia funções neste sábado, dia 7, em entrevista ao “Diário de Notícias”, 05-01-2012. Ler a entrevista na íntegra clicando aqui.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Surpresa. Umberto Eco comprou um iPad e gostou



“Defendi a sobrevivência do livro ao lado de Jean-Claude Carrière no volume ‘Não contem com o fim do livro’. Fizemos isso por motivos estéticos e gnoseológicos (relativo ao conhecimento). O livro ainda é o meio ideal para aprender. Não precisa de eletricidade, e você pode riscar à vontade. Achávamos impossível ler textos no monitor do computador. Mas isso faz dois anos. Em minha viagem pelos Estados Unidos, precisava carregar 20 livros comigo, e meu braço não me ajudava. Por isso, resolvi comprar um iPad. Foi útil na questão do transporte dos volumes. Comecei a ler no aparelho e não achei tão mau. Aliás, achei ótimo. E passei a ler no iPad, você acredita? Pois é. Mesmo assim, acho que os tablets e e-books servem como auxiliares de leitura. São mais para entretenimento que para estudo. Gosto de riscar, anotar e interferir nas páginas de um livro. Isso ainda não é possível fazer num tablet.”

“A internet não seleciona a informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um desserviço ao internauta. Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e corrigir os erros e absurdos. A Internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar. Vamos tomar como exemplo o ditador e líder romano Júlio César e como os historiadores antigos trataram dele. Todos dizem que foi importante porque alterou a história. Os cronistas romanos só citam sua mulher, Calpúrnia, porque esteve ao lado de César. Nada se sabe sobre a viuvez de Calpúrnia. Se costurou, se se dedicou à educação ou seja lá o que for. Hoje, na Internet, Júlio César e Calpúrnia têm a mesma importância. Ora, isso não é conhecimento.”

“Se você sabe quais os sites e bancos de dados que são confiáveis, você tem acesso ao conhecimento. Mas veja bem: você e eu somos ricos de conhecimento. Podemos aproveitar melhor a Internet do que aquele pobre senhor que está comprando salame na feira aí em frente. Nesse sentido, a televisão era útil para o ignorante, porque selecionava a informação de que ele poderia precisar, ainda que informação idiota. A Internet é perigosa para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já conhece – e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a Internet para as mais variadas bobagens: jogos, bate-papos e busca de notícias irrelevantes.”

“[A solução para o problema do excesso de informação seria] criar uma teoria da filtragem. Uma disciplina prática, baseada na experimentação cotidiana com a Internet. Fica aí uma sugestão para as universidades: elaborar uma teoria e uma ferramenta de filtragem que funcionem para o bem do conhecimento. Conhecer é filtrar.”

Umberto Eco, escritor italiano e professor universitário, que hoje comemora 80 anos, em entrevista à revista “Época”, 30-12-2011. Ler a entrevista na íntegra clicando aqui

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

“Campaigns & Elections”. A revista para quem faz política


A dinâmica do mercado editorial é um dos barómetros que nos permitem sinalizar a vitalidade da economia de um País. Períodos de expansão económica são acompanhados pelo investimento em novos projectos. Porque o crescimento económico significa a expansão do mercado, ou seja, mais consumidores, e, portanto, a procura de novos produtos. No Brasil, acaba de ser lançada uma versão em português da norte-americana “Campaigns & Elections”, uma revista especializada em comunicação política. O primeiro número, com data de Dezembro de 2011, está todo aqui e pode ser impresso ou lido gratuitamente.
Fernando Lima, ex-assessor de comunicação do Presidente da República de Portugal, Cavaco Silva, assina um artigo de opinião sobre a importância e o controlo da agenda. Segundo Lima, controlar o fluxo noticioso numa “época de grande competição informativa é de vital importância para o êxito de qualquer iniciativa no plano político”.
Considerada a nível mundial com uma das melhores publicações em matéria de comunicação, estratégia e marketing político, a “Campaigns & Elections” – cuja edição brasileira conta com o ex-jornalista português José Paulo Fafe no conselho editorial – terá uma periodicidade mensal e os cinco mil exemplares são maioritariamente distribuídos no Brasil, junto da classe política.
No primeiro número o destaque vai para as entrevistas históricas de 11 dos maiores profissionais da comunicação política do Brasil, apresentados como “craques da comunicação política”: João Santana, Duda Mendonça, Chico Santa Rita, Dudu Godoy, Einhart Jácome da Paz – que já trabalhou em Portugal para o PSD –, Nelson Biondi, Paulo de Tarso, Renato Pereira, Toni Cotrim, Luiz Gonzalez ou Woile Guimarães. Os dois últimos, da empresa Lua Branca, já passaram fugazmente por Portugal, aconselhando Luís Filipe Menezes na sua caminhada para a liderança do PSD.