terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O Pingo Doce e os indignados


A Jerónimo Martins, dona da cadeia de supermercados portuguesa Pingo Doce, anunciou que a sociedade Francisco Manuel dos Santos, transferiu a totalidadedo capital que detinha no grupo à sua subsidiária na Holanda. A sociedade Francisco Manuel dos Santos SGPS (que reúne as participações da família Soares dos Santos, com destaque para Alexandre Soares dos Santos, presidente não executivo do grupo), é o principal accionista da Jerónimo Martins, seguindo-se a Heerema, com 10%, e a Carmignac Gestion, com 2,74%.
O anúncio da transferência do capital para a Holanda, por alegadas vantagens fiscais em relação a Portugal, foi suficiente para que se tivesse instalado nas redes sociais, nomeadamente no Facebook, um coro nacional contra a Jerónimo Martins e a marca “Pingo Doce”, com ameaças de boicote à rede de supermercados. Parece-me incompreensível tamanha indignação, mesmo tendo em conta a difícil situação económica do País.
É certo que, nas suas campanhas de publicidade e na sua comunicação, o Pingo Doce sempre se posicionou como defensor dos produtos portugueses e dos valores nacionais, mas Alexandre Soares dos Santos, ao mudar o capital para a Holanda, não fez mais do que um puro acto de gestão em defesa de interesses económicos do seu grupo. E fez o que outros grupos económicos sempre fizeram e continuam a fazer sem que ninguém se preocupe: colocar o dinheiro onde ele rende mais.
Podemos dizer que estamos perante um acto de gestão normalíssimo numa Europa unida economicamente, onde as pessoas e bens podem circular livremente, e num mundo globalizado. A globalização é isto mesmo. É gerir sem ter pátria. Porque a pátria dos gestores capitalistas é o próprio globo terrestre. Sem solidariedade ou prepocupação com o colectivo social. E quem não seguir este caminho está condenado ao fracasso. É nesse mundo liberal, insensível e assustador que vivemos.
Esse é o nosso verdadeiro problema, merecedor da indignação colectiva. Porque Alexandre Soares dos Santos até não fez mais do que seguir os conselhos do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho – que, num assomo de impotência política face à resolução dos problemas do País, apelou à emigração de quem não estivesse bem.

4 comentários:

Paula Sanchez disse...

Parabens Luis Paulo. Finalmente vejo alguém tratar este assunto com objectividade esclarecida, recordando qual o verdadeiro problema.

Anônimo disse...

não percebo muito de economia, mas a mudança para a holanda não implica que deixem de meter dinheiro dos imposto no estado português? numa altura como está, quem mais tem devia ser quem mais ajudava... para mim é considerado traição!

J.A. disse...

Analisando a principal bolsa portuguesa, o PSI-20, percebe-se que a maioria das cotadas está ligada à Holanda, sobretudo através da instalação de filiais em cidades daquele país, como Amesterdão, Roterdão e Amstelveen... http://is.gd/GcuD6f

J.A. disse...

"Impostos nos Países Baixos" no Jornal de Negócios: http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=529417&pn=1