sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

“O Povo”. Um exemplo entre os jornais brasileiros



O jornal "O Povo", fundado há 85 anos pelo jornalista Demócrito Rocha (1888-1943), na cidade de Fortaleza, está no grupo dos órgãos de imprensa mais prestigiados do Brasil, embora seja um meio regional, atuando no Nordeste, em especial no mercado do Ceará. Além do "Folha de S. Paulo", que é uma das grandes referências do jornalismo impresso, “O Povo” é o único jornal do Brasil que tem provedor dos leitores, ou "ombudsman", como se diz em terras brasileiras, numa das várias importações linguísticas dos EUA. Mas, se tivermos como termo de comparação os jornais diários portugueses, "O Povo" tem mais: tem o Conselho dos Leitores, um órgão devidamente empossado à vista da comunidade, no dia de aniversário do jornal, e tem Correspondentes. Não são correspondentes de guerra. São estudantes, que nunca escreveram num jornal e que anualmente são nomeados responsáveis pelo envio de notícias da escola para serem editadas no jornal. É assim que começa a ligação dos jovens de Fortaleza ao jornalismo. Fazendo notícias.
Sabendo da importância de “O Povo” na região do Nordeste, que é a zona do Brasil que mais cresce economicamente, a Presidente Dilma Roussef não deixou de enviar uma mensagem à administração do jornal de Fortaleza, a quinta maior capital do País: “Uma imprensa regional forte é aquela que documenta os acontecimentos, retrata os anseios e esperanças da população, cria vínculos com as comunidades e colabora, com críticas e sugestões, para o desenvolvimento da região que representa. ‘O Povo’ carrega na sua história essas marcas”, frisou Dilma.
Na festa dos 85 anos de "O Povo", em que estiveram centenas de pessoas da sociedade cearense, e onde foi apresentado o “Anuário do Ceará 2013” – um excelente documento histórico com mais de 700 páginas de informação, que está à venda por 97 reais – os novos jovens correspondentes foram os primeiros a ser chamados ao palco. Há grandes carreiras jornalísticas que começam assim. E há jornais que sabem adaptar-se aos tempos de mudança em que vivemos: vão buscar os jovens às escolas e convocam os leitores à participação organizada na vida do jornal. E todos crescem em conjunto, agregando valor à marca do jornal. Os leitores, inclusive, também produzem conteúdos para um suplemento intitulado "Jornal do Leitor".
Tendo como presidente da empresa a jornalista Luciana Dummar, que está no jornal desde os 16 anos de idade, “O Povo” soube crescer e renovar-se ao longo dos anos. Hoje, continua sendo um jornal deste tempo e com prestígio junto da sua comunidade de leitores, não obstante os 85 anos de existência. Ao contrário do que acontece em outros continentes (ver aqui), o jornal brasileiro abraçou as novas edições digitais, mas a sua versão impressa em papel não é questionada. “Hoje, um jornal é um produto para ser editado e distribuído em múltiplas plataformas”, explicou-me o jornalista Jocélio Leal, editor executivo e especialista em assuntos econômicos.
Por outras palavras, as edições digitais foram incorporadas e são hoje uma realidade em ascensão no portfólio de produtos informativos do grupo de comunicação “O Povo”, que se alargam à rádio e à televisão. As edições em papel são apenas mais um meio, entre outros, de difusão da informação. Por isso, o papel não vai ser abandonado. No fundo, o jornal é um só, que se complementa somando a edição impressa às múltiplas edições digitais, seja no “site” oficial, nos blogs, nas redes sociais e nas plataformas móveis. A televisão e as quatro rádios do grupo, por seu lado, ajudam a reforçar a marca “O Povo” com outro tipo de produtos informativos e de entretenimento. Em resumo, um bom exemplo de gestão.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Prefeituras brasileiras, buracos financeiros e comunicação



Em muitos municípios brasileiros que registraram uma mudança política nas eleições de 2012, os novos prefeitos só agora estão a tomar consciência da verdadeira dimensão do buraco financeiro deixado pela administração anterior. Em muitos casos, os constrangimentos são tantos que nem há dinheiro para pagar a funcionários.
Verifiquei isso ao conhecer um município do Ceará, próximo de Fortaleza, cujo prefeito, em 1 de janeiro de 2013, começou um mandato de quatro anos atolado em dívidas e sem condições logísticas de atender devidamente a população. Uma irresponsabilidade tremenda por parte de quem saiu.
Por isso, o novo prefeito disse-me que só mais tarde poderá pensar em marketing e comunicação. Ora, isso seria um grande erro. Como diretor-geral da LPR Comunicação, disse-lhe que, para explicar aos servidores municipais e aos eleitores a verdadeira dimensão do buraco financeiro e as soluções que vai apresentar para ultrapassar uma situação caótica, é preciso uma estratégia bem articulada para gerir a informação e comunicar bem, para que todos entendam o que está a acontecer na prefeitura e aquilo que a prefeitura vai fazer pela recuperação da cidade.
No fundo, as organizações têm de comunicar sempre. Na comunicação política,  a comunicação não termina no dia da eleição. Pelo contrário. Um prefeito municipal deve começar a comunicar com os eleitores precisamente no dia da eleição. A minha experiência diz-me que é preciso comunicar sempre, não só para criar um bom entendimento mútuo entre a nova equipa da prefeitura e os eleitores, que irá formatar a nova imagem do município, mas também para ser proativo na afirmação da nova liderança e controlar os fluxos de informação, evitando ruídos comunicacionais de uma oposição partidária porventura mais experiente no combate político. 
Afinal, estamos sempre comunicando, mesmo quando não emitimos mensagens escritas ou verbais. Então, temos de controlar o que estamos a comunicar a toda a hora. No final da conversa, o prefeito concordou comigo. Foi um sinal muito bom.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Manuela Ferreira Leite está “morta” no Facebook



Ao navegar na Internet tropecei na página de Manuela Ferreira Leite no Facebook. Pensei que a ex-presidente do PSD tinha uma presença ativa na rede social mais popular do mundo. Mas rapidamente percebi que estava perante a página da ex-presidente social-democrata construída para a campanha eleitoral de 2009, em que Manuela Ferreira Leite se candidatou à liderança do Governo de Portugal, tendo perdido as eleições para o socialista José Sócrates. Já passaram mais de três anos e a página de Ferreira Leite continua inativa, mas disponível para mais de 3.600 seguidores. É uma espécie de arquivo morto facebookiano (ver aqui). 
Duvido que Manuela Ferreira Leite saiba deste caso. Assim como duvido que ela tenha sabido durante a campanha eleitoral que tinha uma imagem digital a preservar. Ao ter continuado “online”, permitiu que a sua imagem pública e a imagem do PSD se degradassem ainda mais, uma vez que, perante isto, os seus seguidores mais atentos ficam com a confirmação de que ela só entrou no Facebook para despejar informação em tempos de campanha eleitoral, sem perceber a lógica interativa da comunicação digital e a necessidade de uma comunicação contínua para a construção de uma imagem digital credível. 
Esta situação revela também o amadorismo reinante na comunicação política partidária. Com isto, Manuela Ferreira Leite, que ainda continua a ser identificada como “Presidente do Partido Social Democrata”, num sinal de grande desmazelo, desprezou os seus seguidores no Facebook. Porque manter uma página “online” inativa no Facebook é equivalente a deixar os “outdoors” a apodrecer nas ruas e avenidas. Não entender isto é não perceber nada de comunicação política digital.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O fracasso de um “Rumo” luso-angolano


Ao fim de 13 números, a revista “Rumo”, sobre comunicação econômica e financeira em Angola e em Portugal, fecha as portas. A “Rumo” era detida em 70% pelos angolanos da Finicapital e em 30% pelo Grupo Impresa, de Pinto Balsemão. O conceito era interessante, mas o jornalismo impresso só pode sobreviver e ter êxito com um posicionamento correto no mercado e plena liberdade editorial. 
O fundador da Impresa, Pinto Balsemão, tem-se queixado da Internet, que considera inimiga do êxito de jornais e revistas, por permitir que a informação seja distribuída gratuitamente. Mas o problema é de outra natureza. O caso do encerramento da revista “Rumo” é a prova de que os projetos editoriais só conseguem ter sucesso se forem absolutamente livres. Essa é uma das condições principais. O problema é que para serem absolutamente livres precisam de ter dinheiro, ou seja, precisam de independência financeira. Mas para terem dinheiro precisam de investidores desinteressados. Precisando de investidores, os projetos editoriais não podem tocar nos seus interesses estratégicos. Logo, a liberdade editorial torna-se improvável. Parece-me ter sido o caso do falhanço da “Rumo”. Porque a informação econômica não é só cor-de-rosa. E Angola não é o paraíso do luxo desenfreado e provocador que uma minoria privilegiada vive em Luanda. Ora, esses não compram revistas, pois, quando precisam, têm acesso a outros meios de informação. E para a maioria da população angolana, formada por pobres que diariamente enfrentam reais dificuldades econômicas, a “Rumo” era uma revista de outro planeta. Já em Portugal, era vista como um meio de propaganda dos negócios luso-angolanos. É por isso que a “Rumo” acaba sem deixar marcas (ver aqui o comunicado da administração da revista).