quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A honra perdida do jornalismo

A notícia de primeira página do "Expresso" de sábado ("Deputado do BE João Semedo foi sócio do BPN numa clínica do Porto") é das mais inaceitáveis infâmias jornalísticas que vi em 40 anos de profissão.
Os factos são os seguintes: Semedo (hoje deputado do Bloco de Esquerda) e outros médicos criaram em 1994 uma clínica no Porto, tendo com sócio minoritário uma companhia de seguros, a Real Vida; cinco anos depois, em 1999, essa seguradora foi comprada pelo BPN, então apenas mais um banco; oito anos mais tarde, em 2007, soube-se que o BPN não era, afinal, apenas mais um banco e que os seus dirigentes se haviam envolvido numa gigantesca fraude que custou milhões aos contribuintes; Semedo já estava entretanto desligado da clínica desde 2000.
Em "O mundo a seus pés", de Orson Welles, Kane explica ao chefe de Redacção de um dos seus jornais que os factos podem não ter a mínima importância que o que torna uma notícia importante é o facto de ela vir na primeira página. Foi o que fez o "Expresso": pôs a notícia na primeira página e deu-lhe grande destaque no interior, fazendo com que os inócuos factos referidos se tornassem relevantes e lançando subliminarmente uma difusa suspeita (que suspeita?) sobre um homem honrado.
Quem nos rouba a honra, diz Shakespeare em "Othelo", não fica mais rico e deixa-nos irremediavelmente pobres. A notícia do "Expresso" rouba não só a honra de João Semedo mas a honra do próprio jornalismo.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Pedro Mota Soares, a “scooter” e a “bomba”


O ministro “popular” Pedro Mota Soares, que tutela a Segurança Social, compareceu na tomada de posse do Governo pilotando a sua “scooter”. Foi notícia em todo o lado porque um ministro dispensando motorista e pilotando a sua lambreta nas ruas de Lisboa era, de facto, notícia. E uma boa notícia.
Mas ao contrário do que parecia, Pedro Mota Soares não estava a ser portador de um novo paradigma do transporte governamental. Estava apenas apostado em ser a notícia do dia, daquele dia específico da tomada de posse, ainda que a “scooter” tenha sido no seu passado de deputado o meio de transporte habitual.
Por isso, é com toda a naturalidade que Pedro Mota Soares volta agora a ser notícia, não porque tenha comprado “scooters” para os seus colaboradores no Ministério, mas porque acaba de comprar uma “bomba” automóvel pela módica quantia de 86 mil euros, quando o País é convocado para cumprir medidas de austeridade severas. É, por isso, alvo de uma notícia negativa. É o chamado “efeito boomerang ” sobre quem deu passos maiores do que a perna em termos da imagem que procurou fazer passar para a opinião pública…
No fundo, no fundo, Pedro Mota Soares, depois de ter vendido a ideia de que seria um ministro poupado, que até iria para o Ministério na sua “scooter”, foi apanhado na primeira curva do despesismo. Quanto à justificação do novo carro do ministro da Solidariedade e da Segurança Social como tendo sido uma encomenda do anterior Governo, num texto cheio de erros de português, como se pode ler aqui, foi pior a emenda que o soneto. A falta de solidariedade institucional num partido político não se nota. Já num Governo é um defeito grave. Mais a mais num ministro da dita.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Fátima é uma marca poderosa


A extinção de feriados civis e católicos é um tema que está na agenda portuguesa e sobre o qual já escrevi neste blogue, como se pode ler aqui. Acossado pela crise e pelo FMI, o Governo quer reduzir feriados e pontes, em nome do aumento da produtividade.
Neste processo, lamento o modo birrento e corporativo dos responsáveis da Igreja Católica, ao terem dito que não abdicariam do feriado de 8 de Dezembro – Dia de Nossa Senhora da Conceição, no calendário religioso – e que só aceitariam reduzir feriados católicos se o Estado também extinguisse feriados civis. É por isso, e não por outra razão, que sobre a mesa está agora a extinção de quatro feriados, sendo 2 católicos (15 de Agosto, que celebra Nossa Senhora da Assunção, e Corpo de Deus, em Junho) e 2 civis (5 de Outubro, que evoca a instauração da República, e 1 de Dezembro, o feriado da restauração da independência, face ao domínio espanhol).
Como em muitas áreas da governação, não se vê um sentido estratégico. Vê-se a obsessão de cortar, procurando não desagradar muito a gregos e a troianos. Mas não se vislumbra um sentido, um contraponto positivo, que nos indique um caminho para o futuro. Eu insisto numa ideia: é um erro grave não aproveitar esta oportunidade para criar o feriado de 13 de Maio, dia de Nossa Senhora de Fátima. Por motivos religiosos, mas também turísticos e económicos.
Fátima é um símbolo de Portugal, um símbolo da Igreja Católica e uma marca poderosa em todo o mundo. Não tratar devidamente o fenómeno de Fátima – inclusive como elemento-âncora de um produto turístico-cultural de projecção internacional – é desperdiçar mais uma oportunidade para a economia portuguesa.

domingo, 27 de novembro de 2011

O fado património mundial e a economia portuguesa


O fado é património mundial. É um grande desafio e uma grande oportunidade para vários responsáveis do Governo português, nomeadamente da Cultura, da Economia e do Turismo. Tal como no fado, também na economia e no turismo só quem tem unhas é que toca guitarra.
“A partir de agora, o fado não é apenas a canção de Portugal, a canção de Severa, Marceneiro, Amália, Carlos do Carmo, Camané, Ana Moura e Carminho – é um tesouro do mundo”, como escreve a jornalista Lucinda Canelas, na edição digital do Ípsilon, o suplemento cultural do diário “Público”. “Um tesouro que fala de Portugal, da sua cultura, da sua língua, dos seus poetas, mas que também tem muito de universal nos sentimentos que evoca: a dor, o ciúme, a solidão, o amor.”
A partir deste domingo, por decisão do comité intergovernamental da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), o Fado é Património Mundial da Humanidade. Este sucesso da cultura portuguesa à escala mundial, começou a ser trabalhado em 2005, culminando com a formalização da candidatura apresentada pelo Museu do Fado, em nome da Câmara Municipal de Lisboa, em 2010, dois anos apenas sobre a aprovação da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial. O fado foi então apresentado à UNESCO como “símbolo da identidade nacional” e “a mais popular das canções urbanas” portuguesas, tendo por embaixadores dois intérpretes que, por motivos bem diferentes, fazem parte da sua história de forma incontestada: Carlos do Carmo e Mariza.
O fado é uma das grandes marcas de Portugal com reputação internacional, que vai muito para além das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Conheço pessoas que nunca visitaram Portugal, que não têm origens portugueseas, nem sequer têm a cultura europeia, mas que ouvem Amália Rodrigues e outros fadistas com a veneração dos grandes fãs. Por isso, a eleição do fado como património mundial significa não só uma vitória da cultura portuguesa, mas de Portugal no seu todo, em particular do seu turismo e da sua economia.
Importa agora saber o que fazer com o fado como símbolo da portugalidade. Nesse sentido, a classificação da música da saudade como património mundial constitui um grande desafio e uma grande oportunidade para vários responsáveis do Governo português, nomeadamente da Cultura, da Economia e do Turismo.
Agora quero ver as unhas que Paulo Portas, o ministro da “diplomacia económica”, Álvaro Santos Pereira, o ministro da Economia, e Francisco José Viegas, o secretário de Estado da Cultura, têm para tocar, bem afinados, a guitarra que doravante tem de ser tocada para que o património mundial do fado faça sentido e tenha utilidade. Ou seja, é preciso saber o que é que o Governo vai fazer no sentido de articular um grande plano de marketing público de Portugal que ofereça ao mundo um produto turístico fundamentado na cultura fadista, que consiga gerar ganhos de imagem internacional para muitos outros valores turísticos e culturais de um dos países mais antigos do mundo.

sábado, 26 de novembro de 2011

Marketing digital eficaz em 8 passos


Colocar no terreno um plano de marketing digital eficaz é como treinar uma equipa de  futebol. Jogadas de efeito, lances individuais e grandes golos podem ajudar a ganhar uma partida, mas só um "padrão de jogo" que garanta consistência e regularidade da defesa, no meio de campo e no ataque permitirá à equipa conquistar vitórias ao longo do campeonato e lutar pelo título. A analogia é de Sílvio Tanabe, jornalista com pós-graduação em comunicação com o mercado, empresário, consultor de Marketing Digital, autor do blog Clínica Marketing Digital e coordenador do “e-book” intitulado “Caia na Rede – 12 Maneiras de Planejar e Ter Sucesso nas Redes Socais”. Num artigo que pode ser lido clicando aqui, Sílvio Tanabe elenca 8 passos para montar uma equipa vencedora no marketing digital.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

PT conserta avaria, mas só pelo Facebook


Trago aqui uma história doméstica que demonstra cabalmente a importância e o poder das redes sociais, tanto para os consumidores como para as próprias empresas. E demonstra como é que uma grande empresa pode estar a ser mal servida pelos seus funcionários, quando eles estão longe da sede da organização ou quando julgam que os clientes não têm acesso aos meios de comunicação.
Em 26 de Outubro de 2011, por causa do temporal, fiquei sem telefone fixo e sem acesso à Internet a partir de casa. De então para cá, a minha mulher, que é titular da conta, fartou-se de contactar com a Portugal Telecom, na loja e na linha de atendimento. Ontem, dia 24 de Novembro, quase um mês depois, ela voltou a telefonar, para tentar saber o ponto da situação. Soube, então, que a participação da avaria tinha desaparecido novamente. Parace que o sistema elimina as avarias ao fim de um certo tempo de espera, quer tenha sido consertada ou não. No fundo, a PT Comunicações – é dessa empresa sem concorrência de que estamos a falar – primava por mais um mau atentimento aos clientes, com cada funcionário a dar uma explicação diferente para o mesmo problema, não consertando a avaria e continuando a cobrar serviços não prestados.
Depois de ter contado a história na sua página no Facebook – imediatamente comentada e partilhada por dezenas de amigos –, a minha mulher resolveu ficar a “gostar” da página da PT Comunicações, deixando lá a sua queixa. Isto aconteceu ontem à noite, já fora da hora do expediente. Minutos depois, vinha a resposta da PT, dando conta que a situação iria ser resolvida, pedindo, no entanto, mais dados sobre a situação, logo enviados por e-mail. A PT demonstrava natural preocupação com o "buzz" negativo que o caso estava a provocar no Facebook.
Hoje, depois de várias pessoas da PT terem telefonado ao longo da manhã, sabendo mais detalhes da avaria e providenciando um telefone novo, eis que, pelas 14h00, um técnico da PT Comunicações batia à porta. Em poucos minutos, a avaria ficou resolvida.
Graças ao Facebook, a PT resolveu em menos de 24 horas o que várias idas à loja e inúmeros telefonemas para a linha de apoio não chegaram para resolver ao longo de 29 dias.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Balsemão, a crise de valores e o jornalismo


“A actual crise não se resume às finanças, ao défice, à dívida ao sistema bancário, à economia, ao não crescimento, à baixa do consumo e às desigualdades das empresas. A crise é também social – as desigualdades, o desemprego, a fome – e de valores – o desânimo, a indignação, a legitimação da violência, e, por outro lado, as dúvidas quanto à democracia, o populismo, e o anti-europeismo.”

“Sem ‘media’ profissionais – e, portanto, independentes e capazes – a crise económico-financeira poderá ser ultrapassada, a crise social poderá ser disfarçada, mas a crise de valores, essa, prosseguirá e tenderá a agravar-se."

"Como no tempo do salazarismo, continuam a existir [em Portugal] políticos e empresários ou candidatos a empresários que julgam que os ‘media’ podem e devem ser meros instrumentos a utilizar para a prossecução dos seus interesses económicos ou de influência."

"Criam-se alianças estranhas: os políticos tentam usar os falsos empresários de comunicação social, para que saiam ou não saiam as notícias, as entrevistas, os artigos de opinião, as aberturas do telejornal; os falsos empresários de comunicação social vendem, por acção ou omissão, o apoio dos media que controlam a quem está no poder, em troca de favores noutras áreas. Tudo isto passando ou tentando passar por cima dos jornalistas, embora, como no tempo do salazarismo, com a colaboração activa de alguns. Tudo isto metendo o jornalismo na gaveta. (…) Quem pensa e actua assim está a mais na área dos ‘media’."

"Hoje, mais do que nunca, em plena crise, o jornalismo autêntico, não conspurcado, livre, profissional, é fundamental."

Pinto Balsemão, fundador do “Expresso”, antigo Primeiro-Ministro e presidente da Impresa, discursando no XXI Congresso da Associação Portuguesa para o Desenvolvimentodas Comunicações, 23-11-2011

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Melhor empresária da Europa é portuguesa


Enquanto a crise da dívida pública e as aventuras dos criminosos de colarinho branco, da política e dos negócios, vão fazendo as manchetes na imprensa portuguesa e ocupando as televisões, há grandes notícias quase ignoradas, que deveriam ser devidamente destacadas. Eis uma delas: a portuguesa Sandra Correia, 40 anos, presidente executiva da empresa algarvia de cortiça Pelcor, venceu o Troféu de Melhor Empresária da Europa 2011, atribuído pelo Parlamento Europeu e Conselho Europeu das Mulheres Empresárias. "Este prémio abre novas portas para a Pelcor e para a cortiça e é um caso de motivação e orgulho para Portugal", declarou a empresária algarvia, criadora da marca Pelcor, tendo aproveitado a fábrica de rolhas de cortiça do pai para se lançar no mundo da moda e do design.
Vivendo à custa de um produto genuinamente português, a Pelcor, marca de acessórios de moda, brindes para empresas e produtos de decoração de pele de cortiça, vai surgir no início de 2012 com uma nova imagem e uma colecção renovada, tendo em vista "atingir os segmentos de mercado mais altos e de luxo".
Mesmo com uma comunicação digital que à primeira vista não condiz com a dimensão internacional da marca, Sandra Correia, que não conheço de lado nenhum, é a prova viva de que é possível ter sucesso empresarial à escala global, independentemente de estarmos num País do Norte, do Centro ou do Sul da Europa. Haja competência, organização, capacidade de trabalho, conhecimento dos mercados e objectivos bem definidos. E haja meios de comunicação que levem a todos estes bons exemplos.
Ao contrário do que preconizam alguns pensadores do serviço público de comunicação social, ninguém com bom senso quer esconder informação considerada inconveniente. Mas quer, certamente, que se mostre e se valorize devidamente a informação que é conveniente para levantar a auto-estima do País.
Num momento de grave crise económica e de intervenção do FMI, a imprensa portuguesa deveria olhar para o caso da melhor empresária da Europa e tentar perceber como foi possível a Sandra Correia lá chegar e como é que outros empresários lusitanos podem fazer o mesmo caminho de sucesso. Isso também seria serviço público. FOTO: Algarvephotopress / Global Imagens

O comunicador


“A chave para a capacidade de comunicar é a perspicácia no que se refere à natureza humana. Enquanto o escritor se preocupa com o que coloca nos seus textos, o comunicador preocupa-se com o que o leitor deles retira. Por conseguinte, o comunicador torna-se um estudante da forma como as pessoas lêem e ouvem.”

William Bernbach, (1911-1982), publicitário norte-americano

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Os conselhos de Vasco Pulido Valente aos cronistas


“Primeiro, aprender a escrever. Convém. Com tudo o que isso implica. Segundo, saber algum assunto muito bem, uma disciplina muito bem, ou economia, ou história ou outra coisa qualquer. Ter uma formação básica boa. E depois, em princípio, nunca falhar, porque uma coluna é um hábito. As pessoas lêem o jornal, estão habituadas, é mais uma questão de hábito. “Deixa-me ver o que é que este diz hoje?” Se as pessoas falham ou são irregulares ou salta-pocinham muito… Por exemplo, eu começo sempre a ler a ‘Spectator’ pelo Taki [Theodoracopulos, comentador político]. Ele nunca falha. Só falhou há 30 anos quando foi preso, mas depois continuou a escrever.”

“E dizer o que se pensa. Se não disser o que se pensa, não é interessante. As pessoas vão à procura de uma diferença. Nâo se trata de fazer uma diferença. Há uns tontaços a fazer isso pelos jornais. Ninguém os leva a sério. O grande problema de se tentar ser original – não estou a falar dos que são mesmo – é inventar coisas para ser diferente e depois ter um mínimo de coerência. As coisas têm de ligar umas com as outras. Não têm que inventar discordâncias para se fazerem originais. Mas também não devem fazer o contrário.”

“Não vejo por que é que um colunista deva ser capado politicamente. O que acho é que não se pode ser as duas coisas ao mesmo tempo. Sempre que estive dentro de alguma coisa, parei [de escrever] – tanto durante o Sá Carneiro, como durante o MASP [Movimento de Apoio Soares à Presidência]. Não escrevi. Nem isso era possível com nenhum dos dois.”

Vasco Pulido Valente, historiador e cronista político, “Público”, 21-11-2011

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Comunicação. Fazer um plano é como ir ao médico


Fazer um Plano de Relações Públicas, de Marketing ou de Comunicação – sim, não são a mesma coisa, embora se complementem… – sem um diagnóstico correcto é um erro muito comum nas organizações. Os dirigentes de uma empresa, por exemplo, costumam confiar na intuição, ou nos seus conselheiros de sempre, partindo do princípio que sabem tudo sobre a sua empresa e o seu negócio.
Um dos erros mais frequentes é não ouvir as pessoas, a começar pelas pessoas da própria organização, para identificar devidamente os problemas. O normal é considerar que os trabalhadores estão na empresa para trabalhar e não para dar opiniões. Infelizmente, é assim em muitas empresas e organizações.
Ora, fazer um bom diagnóstico é essencial para que um plano seja bem feito e para que os objectivos sejam cumpridos. Se o diagnóstico não for bem feito, se tiver falhas, todo o trabalho posterior da organização fica condicionado. O mais natural é que o plano não permita que a organização cumpra os objectivos propostos. Um plano sem um bom diagnóstico é equiparável à prescrição de um medicamento por um médico que não sabe ao certo qual é o problema do doente.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O choque da Benetton

 
 
 

Estas são algumas das imagens chocantes da nova campanha da Benetton. São imagens manipuladas por computador que tornam real uma cena impossível. Como protagonistas, alguns líderes políticos e religiosos mundiais, que se beijam na boca. Mais chocante não poderia ser. Até agora, a Benetton provocava-nos com imagens reais, da autoria de Oliviero Toscani, ainda que, muitas vezes, feitas em estúdio com a finalidade sedutora de um anúncio publicitário e protagonizadas por gente anónima. Agora, mostra-nos líderes mundiais em imagens trabalhadas pelo computador, essa máquina prodigiosa do nosso tempo, que faz milagres outrora impossíveis. Mas estamos numa era de contradições, o terreno de eleição da publicidade da Benetton, em que tudo parece ser possível. Por isso, talvez o choque provocado por estas imagens não atinja o impacto e a duração de outras campanhas da marca italiana que ficaram célebres na publicidade mundial.

João Duque, Carlos Magno e os jornalistas vendidos


O líder do "grupo de trabalho" escolhido pelo Governo para definir o serviço público de comunicação social, o economista João Duque, pensa genuinamente que os portugueses devem ter o mínimo de informação possível sobre o que se passa no País e no mundo e que o mundo só deve saber sobre Portugal aquilo que o Governo acha que deve ser notícia. Duque também acha, convictamente, que os jornalistas, editores e directores dos meios de comunicação do Estado são todos uns vendidos, partindo do princípio que todos os poderes, em particular o político, fazem deles o que querem. Até Paulo Portas, que não está para ser queimado nesta fogueira de incompetentes, fugindo das más notícias como quem foge dos pingos da chuva, já disse que não quer nada com a RTP Internacional.
Por ter falado em jornalistas, que João Duque considera que são vendidos ao poder político, um dos que serviram o Estado foi precisamente Carlos Magno (na foto), novo presidente da Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC) e eminência do nosso espaço mediático, tanto que terá sido escolhido directamente pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, num triste e lamentável processo de "eleição".
Ora, em função das conclusões do tal "grupo de trabalho", que defende a extinção da ERC, Carlos Magno tem fortes razões para se sentir enganado, caso Miguel Relvas resolva seguir as indicações. Porém, Magno ainda não disse nada sobre o assunto, ao contrário do seu antecessor, Azeredo Lopes, embora, premonitoriamente, tenha dito que, enquanto presidente da ERC, iria privilegiar a língua portuguesa e evitar a conflitualidade com jornalistas e meios de comunicação. Isto é, a nova liderança da ERC não está para se chatear muito.
Resumindo e concluindo, se um "grupo de trabalho", que deveria ser formado por gente considerada especialmente preparada sobre um assunto em questão, pensa o que pensa sobre o serviço público de comunicação social, não custa admitir o que pensarão outros grupos de trabalho de outros sectores de actividade no País. Juntando tudo, temos Portugal no seu melhor, ou seja, o País que todos conhecemos.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Limitar a informação pública é uma ideia absurda


O grupo de trabalho escolhido pelo Governo para definir o conceito de serviço público de comunicação social preconiza, no essencial, a manutenção de apenas dois canais públicos da RTP sem publicidade (um canal nacional e outro internacional), o fim de uma das três estações de rádio públicas (presume-se que seja a dispensável Antena 3) e a privatização da agência Lusa.
Os “livres pensadores” coordenados pelo economista João Duque acham ainda que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) deve ser extinta e que a informação em todos os meios estatais deve ser limitada ao mínimo.
Estas duas propostas são estranhas. Quanto à extinção da ERC – de que grande parte dos jornalistas não gostam, assim como não gostam de provedores –, num País onde a justiça não funciona, os atropelos dos meios de comunicação têm de ser regulados por um organismo que tenha meios para o fazer.
Quanto à limitação da informação nos meios públicos “ao essencial”, para evitar “a intervenção ilegítima ou eticamente reprovável dos diferentes poderes na informação da rádio, TV e agência do Estado”, considero uma ideia absurda, porque significa um atestado de incompetência às direcções editoriais dos meios de comunicação públicos e prenuncia o fim do serviço público de informação. Basicamente é isto: se um meio de comunicação estatal só difunde as inócuas notícias de agência limitadas o mínimo, deixa de ter razões para existir. Donde, é o fim do serviço público de informação.
Sobre o serviço público de televisão, recordo o que escrevi neste blogue, em 22 de Abril de 2011:
“Portugal precisa de um bom serviço público de televisão a custar muito menos do que custa agora. Precisamos de um bom canal público que faça uma boa televisão generalista, mas que não concorra com as televisões privadas.Não precisamos do Estado para nos dar mais do mesmo.
Uma televisão pública não pode funcionar, porém, tendo várias equipas de reportagem nas delegações espalhadas pelo País formadas por três elementos, sendo um coordenador dos outros dois. Nem pode ter tantas prateleiras douradas em gabinetes visíveis e invisíveis que estejam ocupadas por gente que ganha muito e não faz nada. Nem pode ter profissionais a ganhar mais do que o primeiro-ministro ou o Presidente da República.
Além disso, não precisamos da RTP 2, não precisamos da RTP Madeira, não precisamos da RTP Açores, não precisamos da RTPN, nem precisamos da RTP África, nem da RTP Memória. Mas, provavelmente, precisamos de uma boa RTP Internacional, como grande canal da lusofonia, e de uma RTP Cultura, para promover a cultura portuguesa de todo o país em todas as suas vertentes.
Ora, isto não teria nada a ver com um serviço público dominado pelos saltos do João Baião e palhaçadas similiares, que nos mostram de manhã até à noite, como se a RTP fosse um canal privado que dá ao público aquilo que o público quer ver... Por isso, valia a pena que Miguel Relvas fosse estudar melhor o dossiê RTP. E que o enquadrasse numa perspectiva global da comunicação social pública, onde teria de incluir a agência de notícias Lusa, que também deveria integrar o universo RTP-RDP, com ganhos para o erário público.”

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O turismo brasileiro e o problema português


Com base numa notícia publicada no Estado de S. Paulo, sobre o aumento recorde em gastos de brasileiros na Europa, que ressalta o seu poder de compra, Rui Calafate, editor do blogue It’s PR Stupid!, chama aqui a atenção dos responsáveis pelo Turismo de Portugal. Porque, como diz, e muito bem, Rui Calafate, para Portugal, o turismo é uma das indústrias mais vitais para a economia e para a criação de investimento e emprego.
No mesmo sentido, aliás, foram as declarações do empresário José Roquette, produtor de vinho e azeite no Alentejo. Em entrevista ao “Expresso”, neste fim-de-semana, Roquette sublinhou a importância estratégica do Brasil para a economia portuguesa e revelou que os turistas que frequentam o enoturismo alentejano são cada vez mais brasileiros.
As prioridades portuguesas voltam a estar centradas no fluxo entre Portugal e o Brasil e entre Brasil e Portugal. Portugal e Brasil têm muito para partilhar entre si. O problema português parece continuar a ser uma questão de organização e de eficácia. Não sei como é que vai funcionar a articulação entre o Ministério da Economia, que tutela o Turismo e deve ser responsável pela estratégia económica para o País e para o Mundo, e o Ministério dos Negócios Estrangeiros, que está a transformar as embaixadas em centros de negócios de Portugal no exterior. Será que os ministros Álvaro Santos Pereira e Paulo Portas já discutiram estas matérias alguma vez?...
Por outro lado, há um grande caminho a percorrer na construção da imagem da oferta turística de Portugal no estrangeiro, nomeadamente no Brasil. É preciso acompanhar os novos tempos, que são os tempos da comunicação para todos e não tempos de eventos promocionais elitistas para os mesmos de sempre.
Refiro-me, por exemplo, às iniciativas de promoção turística ou de promoção de produtos portugueses, que continuam a ser feitas em salões de hotéis para meia dúzia de convidados. E refiro-me, por outro lado, à publicidade do Turismo de Portugal na imprensa internacional, nomeadamente na revista brasileira "Veja", cujo conteúdo é exactamente igual ao da publicidade publicada em meios de comunicação portugueses, o que representa um desperdício de recursos. Sei do que estou a falar porque já vi.
Assim, a imagem de Portugal dificilmente chegará ao grande público com eficácia. Mas há alternativas.

domingo, 13 de novembro de 2011

O tempo dos tecnocratas


O antigo comissário europeu Mario Monti foi mandatado para formar Governo pelo Presidente da República de Itália. Não é um político, nem foi escolhido pelo povo. É um tecnocrata, que foi nomeado para substituir o polémico Sílvio Berlusconi, que capitulou perante os mercados, essas “organizações” sem rosto que já manipulam como querem o poder político e mediático de cada País. E Berlusconi, como reparou o politólogo António Costa Pinto, até chefiava “um governo minimamente estável e com legitimidade democrática”...
No momento em que a Europa mais precisa de políticos capazes, que defendam os interesses de cada País e a União Europeia como um bloco, o tempo parece ser dos tecnocratas. O ministro das Finanças Vítor Gaspar, por exemplo, demonstra, a cada dia que passa, que ele é quem manda no Governo português. Isto significa que a política, se não acabou, está suspensa. O poder é simplesmente económico. Não há comunicação política, há comunicação económica. Não há marketing político, há marketing económico.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Como acabar com a sua empresa em 140 caracteres


Chamo a atenção dos leitores para uma entrevista com Carolina Lima, uma jovem analista de redes sociais e autora do livro “Como Acabar com sua Empresa em apenas 140 Caracteres”, que fala sobre a relação entre o Twitter e as empresas. O seu livro, editado no Brasil, é um manual sobre aquilo que as empresas não devem fazer na sua comunicação nas redes sociais, em particular no Twitter. Ler aqui. Diz ela que não faltam utilizadores da Internet “dizendo que trabalham com redes sociais e agências que se dizem digitais sem profissionais realmente competentes para gerenciar um perfil empresarial”. E Carolina Lima acrescenta: “Gostar de falar sobre seu dia-a-dia e conversar com seus amigos nas redes sociais não significa ter aptidão para trabalhar na área. É preciso ter muita responsabilidade, conhecimento, paciência, saber lidar com as pessoas, saber se comunicar, interagir, manter a postura diante uma crise, saber resolver problemas e ter bom senso!” O resto está no livro.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A identidade e a imagem na gestão das universidades


A “sociedade do conhecimento”, dominada pela informação, pela revolução tecnológica e pela globalização, trouxe novas exigências às universidades públicas portuguesas ao nível da sua gestão e comunicação com os públicos. Segundo a investigadora Teresa Ruão, numa comunicação proferida no IV Congresso da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, realizado em 2005, as universidades – instituições historicamente muito conservadoras e avessas à mudança – estão perante novas oportunidades de expansão, mas também novos problemas.
“O clima é agora de concorrência por alunos, docentes, investigadores e financiamentos”, afirma a investigadora da Universidade do Minho – instituição que, entretanto, mudou a sua identidade visual –, considerando que o referido clima implica gerir a universidade como uma empresa, com planos estratégicos de actuação e avaliação do desempenho. Porém, adverte que isso constitui um desafio à própria identidade das universidades, designadamente o desafio da compatibilização do lucro com a independência académica.
É neste contexto que se exige uma mudança no paradigma comunicacional das universidades, encarando o ambiente externo como um mercado a conquistar. A instituição universitária ainda goza de amplo apoio da comunidade, mas o aumento dos custos do ensino, a atitude competitiva e as críticas à qualidade têm fragilizado a relação com alguns públicos-chave. Por outro lado, a ausência de verdadeiras marcas-universidade e as discrepâncias entre a retórica institucional e a realidade “têm dificultado o posicionamento das instituições de ensino superior em termos de imagem”.
A autora alerta ainda que a mudança de identidade, para ser autêntica, tem de começar por “ter reflexos nas percepções mentais e nos comportamentos dos públicos internos”. A recriação da identidade da organização universitária deve ser feita “numa atitude de transparência e diálogo”, diz ainda Teresa Ruão, adiantando que “a identidade é uma poderosa fonte de vantagem competitiva”.
Como defende a investigadora, só um sólido desenvolvimento integrado da identidade e da imagem das instituições universitárias lhes proporciona coesão interna, diferenciação e posicionamento sustentado.

Marketing. Três erros básicos das pequenas empresas


Reservar uma verba para comunicação (identificando o público-alvo para usá-la com mais eficácia); receber e atender os clientes da melhor forma possível (tornando única a experiência do cliente); e tratar da carteira de clientes com muito carinho no pós-venda (porque um cliente só tem valor se for fidelizado). Eis três receitas de marketing que as pequenas empresas costumam ignorar, por acharem que basta trabalhar apenas com base na intuição. Como explica Gabriel Galvão, editor do site Ponto Marketing, normalmente, as pequenas empresas cometem três erros básicos, comprometendo, assim, o investimento realizado.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

FC Porto quer a RTP. Estado português a saque


O FC Porto está interessado na privatização da RTP, dizem as últimas notícias sobre o negócio. Pode não estar em causa a legalidade e, portanto, a legitimidade do clube de Pinto da Costa, através de uma empresa do seu universo, para ocupar mais um canal de televisão, depois de ter passado a controlar o canal privado Porto Canal neste caso, num lance genial de gestão da marca portista. Mas agora que Pinto da Costa quer alastrar a sua influência mediática comprando um canal público, sob o pretexto de promover o FC Porto à escala internacional, é caso para dizer que o Estado português está a saque e à mercê de qualquer Berlusconni de trazer por casa.

domingo, 6 de novembro de 2011

A importância da regionalização na comunicação digital

Vivemos num mundo global e comunicamos uns com os outros numa rede horizontal. Mas esta forma revolucionária de comunicar nos meios digitais, assim como as novas tendências do marketing, implicam a emergência da regionalização, que parecia ter sido engolida por um mundo normalizado à escala planetária.
No fundo, podemos dizer que a sociedade de consumo e a comunicação de massas, que parecem ter nivelado o conhecimento, o consumo e os estilos de vida à escala planetária, são agora postas em causa por consumidores mais informados e mais exigentes.
Ou seja, quanto mais o mundo caminha para um ambiente em que tudo e todos estão ligados em rede, sem barreiras físicas, sociais ou culturais, mais observamos que as pessoas, saturadas pelos enormes fluxos de informação que recebem ao longo do dia, querem “uma comunicação mais pessoal, exclusiva e singular”, como escreveu no excelente Blog Mídia 8 o jornalista e blogueiro Cleyton Carlos Torres.
De acordo com este especialista em comunicação digital, esse diálogo um-para-um mediado por máquinas e satélites demonstra que ao mesmo tempo que grandes conglomerados mediáticos amplificam os seus tentáculos de acção, a comunicação procura, cada vez mais, migrar o seu contacto para uma conversa segmentada, personalizada, entregando ao cidadão, que é produtor e consumidor de informação, grande parte daquilo que ele procura, deseja ou possivelmente almejará. Ou seja, não há mais espaço para a massificação generalizada.
Ora, acrescento eu, esta regionalização vai certamente produzir alterações significativas no mercado das empresas de comunicação, com a sua distribuição mais regionalizada, de modo a melhor servirem os seus clientes, condicionando a comunicação digital à linguagem e à cultura de cada região.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Como trabalhar a comunicação de uma cidade


Na comunicação de um território, seja um município, uma região ou um país, todos os meios contam e tudo é importante para o desígnio da criação de percepções positivas que se traduzam em ganhos de imagem desse território, tanto nos públicos internos como nos públicos externos.
Um “outdoor” tem a sua função; um anúncio publicitário tem outra função; uma presença activa e criativa na Internet e nas redes sociais tem outra função; a notoriedade mediática nos meios jornalísticos tradicionais (imprensa, rádio e televisão) tem ainda outra função. E todas estas funções, cada uma com a sua contribuição, são decisivas para o resultado final pretendido.
Ao nível municipal, por exemplo, a comunicação externa de uma cidade, para ser eficaz, criando um vínculo emocional entre a cidade e os seus públicos, deve ser feita com base num plano estratégico de marketing público, mas o sucesso e a eficácia desse trabalho planeado também dependem de outros actores que participam na construção da cidade, que são muito importantes no momento de traçar o diagnóstico.
Não é possível elaborar um bom plano estratégico de marketing público, nem comunicar devidamente, se a cidade não souber onde é que está e para onde quer ir (isto é, que marca quer ser). Além disso, as acções de comunicação têm que bater certo com as políticas públicas adoptadas para que as mensagens façam sentido no terreno. Por exemplo: se um município comunicar para o exterior que é um lugar bom para viver e para trabalhar, com emprego para todos, essa comunicação acaba por soar a falsidade e gerar percepções negativas se não houver postos de trabalho ou zonas industriais para acolher novos investimentos ou se as manchetes dos jornais anunciarem encerramentos de empresas e despedimentos em massa.
No fundo, a criação de percepções positivas sobre um território é um trabalho minucioso e dinâmico, que exige critério e atenção a tudo o que se passa em todo o território nas mais diversas áreas: cultura, desporto, economia, educação, saúde, etc.. Boas notícias sobre a vida cultural da cidade, sobre os investimentos empresariais, sobre a gastronomia, sobre a qualidade da educação ou dos serviços de saúde, sobre os pontos de interesse turístico a visitar ou sobre os êxitos desportivos de um atleta ou de um clube local são preciosos elementos que também contam para a percepção que temos de uma cidade.
Em conclusão, o trabalho de comunicação de um município não pode estar dissociado do ambiente que se vive na cidade e no seu território, assim como dos objectivos estratégicos da liderança política local e das expectativas de todos os actores urbanos. Porque o marketing público de uma cidade só é eficaz se contar com o envolvimento de todos. O que é possível ouvindo os actores urbanos desde logo durante a recolha de informação para a elaboração do plano de marketing. Só assim será possível medir o verdadeiro pulsar da cidade – os seus problemas, as suas potencialidades, os seus anseios e as suas expectativas.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Facebook. Banco responde a cliente com poema


Na semana em que a eléctrica portuguesa EDP anunciava a sua retirada da sua página da rede social Facebook, na sequência de um “buzz” hostil motivado pela censura de mensagens negativas para a empresa, no Brasil, o Banco Bradesco protagonizava um caso de sinal absolutamente contrário, aproveitando justamente as potencialidades do mesmo Facebook para uma acção notável de relações públicas digitais e de marketing experiencial, que está a fazer furor na comunicação digital brasileira.
Na tarde de 25 de Outubro, um cliente do Bradesco foi ao perfil do banco no Facebook e relatou, em forma de poema, que tinha perdido o seu cartão e que precisava de um novo. Algumas horas depois, o banco respondia ao cliente no mesmo registo: também em forma de poema, o banco pediu ao cliente que procurasse uma agência próxima para obter uma nova senha e ainda agradecia a sua compreensão. Uma resposta original e surpreendente que teve grande repercussão nas redes sociais e nos meios de comunicação tradicionais, que difundiram a inusitada interacção entre um banco e o seu cliente.
A verdade é que o “post” já ultrapassou os três mil “likes” e tem perto de 500 comentários, tendo virado um “hit” no Facebook. E o Banco Bradesco obteve ganhos de imagem “sem gastar um centavo”, como observa o jornalista Cleyton Carlos Torres, no Blog Mídia 8.
Entre os internautas que comentaram, o blogue RPitacos lembra que muitos elogiaram a acção e a rapidez de atendimento do banco, outros sugeriram à agência de publicidade este episódio como tema de um futuro anúncio, enquanto outros acharam que a situação foi armada e combinada, como um “buzz” ou uma espécie de marketing viral.
A questão que se coloca é se o banco agiu correctamente ao responder ao poema do cliente com outro poema. Como observa o blogue RPitacos, “pensando nesta interactividade e na possibilidade de se enxergar uma organização como um todo, sem se esquecer das particularidades de cada indivíduo, pode-se questionar até que ponto a resposta do banco foi coerente com a situação, se foi algo realmente pensado na hora ou combinado previamente”.
No fundo, estamos perante perguntas sem resposta definitiva. A verdade é que este episódio resultou numa grande divulgação da marca Bradesco e na superação das expectativas, não só do cliente, mas de quem estava acompanhando a página da instituição no Facebook. Tudo porque o banco interagiu com o cliente, falando a linguagem do cliente.