Mostrando postagens com marcador PÚBLICO. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador PÚBLICO. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Passos Coelho. O rosto mediático de um País em dívida



Na comunicação política do líder de um Governo há três componentes estratégicos que são essenciais: a liderança, o discurso e o agendamento. Estes componentes constituem um conjunto integrado e interdependente da comunicação de um líder governamental. A liderança define um estilo de governação; o discurso dá-lhe uma narrativa; e o agendamento confere-lhe proactividade. Da conjugação destes elementos resulta a solidez, a estrutura e um programa orientado para o reforço da imagem e da liderança do Governo e do seu líder. Ou não. Como acontece com Pedro Passos Coelho (PPC) na liderança do Governo português.
Essa foi uma das principais conclusões a que cheguei num trabalho de análise que teve como objecto empírico determinar a configuração mediática de PPC, a partir da observação do jornal diário “Público” ao longo das 30 edições impressas entre 1 e 30 de Abril de 2012. Uma análise feita exclusivamente na perspectiva de quem recebe a informação através da leitura do jornal impresso. Daí resultou a percepção de PPC como um primeiro-ministro condicionado pela crise económica e financeira de Portugal e da Europa, que não concentra em si a comunicação do Governo e que se revela mais reactivo do que proactivo.
A presença de PPC na primeira página do “Público”, por exemplo, além de reduzida, aconteceu basicamente por motivos que lhe foram alheios ou que não decorreram da sua agenda mediática própria. E as notícias negativas para a imagem e reputação políticas de PPC superaram as notícias positivas em termos quantitativos (61,90% % contra 16,66%).  
Analisei a presença de PPC na primeira página, a representação fotográfica e as referências em artigos e secções de opinião, em entrevistas e reportagens (trabalho completo disponível aqui para "download").
Normalmente, PPC aparece como portador de más notícias ou como alguém incapaz de evitá-las ou combatê-las. Alguém que é percepcionado como não tendo um rumo claro e definido, que anda a reboque dos acontecimentos.
O que é preocupante para Pedro Passos Coelho e o seu Governo é que estamos no mês de Julho, passaram três meses, e o registo permanece, com tendência para piorar. De Abril para cá já se registaram dois “casos” envolvendo o ministro Miguel Relvas e já verificamos o descontrolo das contas das Finanças. O Tribunal Constitucional, por seu lado, ao declarar inconstitucional a eliminação dos subsídios de férias e de Natal em exclusivo para os funciconários públicos, obrigou ao anúncio de mais austeridade para todos os portugueses em 2013. Por tudo isto, PPC é o rosto mediático de um País em dívida. FOTO: Sean Gallup/Getty Images Europe

sábado, 2 de junho de 2012

Medina Carreira vende jornais

O melhor barómetro sobre a venda de jornais não é um estudo da Marktest, ou de outra empresa de sondagens e estudos de opinião. O melhor barómetro é a caixa registadora de um quiosque. Neste sábado, por exemplo, fiquei a saber, no meu quiosque, em Vila Nova de Famalicão, que o economista Medina Carreira, com mais de 80 anos de idade, ainda vende jornais.
Antigo ministro das Finanças de Mário Soares, tendo abandonado o Partido Socialista, em 1978, por divergências quanto à política económica então adoptada, Medina Carreira foi o primeiro analista português a falar da falência económica do Estado e do País, quando toda a gente andava atrás das obras públicas de betão de José Sócrates e ainda ninguém sonhava com a intervenção internacional liderada pelo FMI ou com cortes nos ordenados e nos subsídios de férias e de Natal. De Medina Carreira dizia-se, grosso modo, que estava a ficar maluco ou fora do prazo de validade.
Neste sábado, o mesmo Medina Carreira dá uma entrevista à edição de fim-de-semana do jornal “i” (ver aqui) e ocupa quase toda a primeira página do jornal, que agora é dirigido por Eduardo Oliveira e Silva. Pelas 13h00, os 8 jornais que tinham dado entrada no meu quiosque habitual já tinham sido vendidos. “Foi o Medina Carreira. Com o Medina Carreira na capa vendi o jornal rapidamente. E se mais tivesse mais vendia”, explicou-me o homem do quiosque, observando que tem notado nos últimos tempos, durante a semana, uma migração de leitores do “Público” para o “i”. Onde o “Público” continua forte é nas edições de fim-de-semana. Neste sábado, por exemplo, dos 26 exemplares que ali chegaram “nenhum será devolvido”.
O facto de Medina Carreira ter feito o jornal “i” vender mais jornais do que nos restantes dias da semana – habitualmente são vendidos no mesmo quiosque uma média de 4 exemplares – é só a confirmação de que os jornais dão passos em frente quando conseguem surpreender os leitores e quando conseguem ser diferentes de todos os outros.  
Por falar no jornal “i”, é anunciada uma renovação de colaboradores para as páginas de opinião. A jornalista Constança Cunha e Sá, o criminalista Rui Patrício, o deputado Adolfo Mesquita Nunes, o dirigente socialista João Ribeiro e a jornalista Fernanda Mestrinho estão na lista dos novos cronistas do “i”.

segunda-feira, 5 de março de 2012

“Público” tenta regressar ao passado



Quando apareceu nas bancas, em 5 de Março de 1990, sob a liderança editorial de Vicente Jorge Silva, o jornal “Público”, onde tive o enorme prazer de trabalhar, entre 1993 e 2000, revolucionou a imprensa portuguesa, tendo influenciado a produção de jornais nacionais, regionais e até locais. Muitas dessas influências, nomeadamente estéticas, perduram ainda hoje.
Com uma equipa de grande qualidade intelectual e com profissionais para quases todas as tarefas, como era preciso, beneficiando da capacidade de investimento de Belmiro de Azevedo, o “Público” marcava a diferença, assumindo-se como um jornal que aprofundava os assuntos com rigor, explicando devidamente todos os acontecimentos, fossem eles relativos à crise da ideologia comunista após o fim da URSS ou à problemática do tratamento dos lixos domésticos num município dos arredores do Porto. E isso sem deixar de dar as notícias do dia, numa altura em que a Internet estava nos primórdios.
Desde o seu primeiro número (ver imagem da capa neste "post"), o “Público” habituou os seus leitores a muito mais do que à notícia do dia anterior. Com o “Público”, o leitor encontrava diariamente uma visão da região, do País e do Mundo devidamente enquadrada. E foi assim que o jornal da SONAE se transformou numa marca de informação com valor acrescentado.
Mas os tempos mudaram. A comunicação mudou. O jornalismo mudou. O “Público” – que em 1990 surgira com uma imagem e um conceito únicos em Portugal – inaugura hoje aquela que é a sua terceira mudança de grafismo e de conteúdos nos primeiros 12 anos deste milénio, o que, para um jornal de referência, julgo serem mudanças a mais em tão pouco espaço de tempo, mas que demonstram as dúvidas e as incertezas sobre “o papel do papel” nos meios de comunicação, para utilizar uma expressão da directora Bárbara Reis. As mudanças têm um objectivo: fazer do “Público” o jornal de referência que já foi – um regresso ao passado, adaptado aos tempos de hoje. A tarefa é muito difícil.
O “Público” que hoje está nas bancas, no dia em que comemora 22 anos, é um jornal diário que não valoriza as notícias do dia, mas que precisa de tempo para ser lido. Teoricamente, o conceito parece adequado, até porque o público-alvo tem acesso à notícia do dia em tempo real. A questão é saber se esse público tem tempo para ler e, sobretudo, se o jornal – cada vez com menos meios humanos – tem capacidade para oferecer aquilo que um leitor exigente espera todas as manhãs. Da resposta a esta questão dependerá o sucesso ou não de mais esta mudança.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

“Público” e “JN”. Por que perdem leitores




Com Portugal enterrado em problemas gravíssimos, o jornal “Público”, na véspera de um Sporting-FC Porto explosivo, na I Liga Portuguesa de futebol, vislumbrou nas paredes dos balneários do Estádio José Alvalade fotografias que mais parecem de uns cartazes de publicidade à Prosegur, as quais, para o jornal dirigido por Bárbara Reis, serão fascistas e susceptíveis de trazer a lume uma relevante questão civilizacional e, eventualmente, de esquerda. E deu manchete ao alegado caso, titulando: “Sporting forrou acesso a balneário com imagens que exaltam violência”.
Já o “Jornal de Notícias”, mais popular, conseguiu vislumbrar no novo cardeal Monteiro de Castro um empresário do sector das madeiras – o que, contado na primeira página de um jornal sem mais explicações, pode deixar atónino qualquer pessoa minimamente atenta ao que se passa. Aqui, o “JN” confessou a tendência natural para a notícia má, a notícia negativa, a notícia que deprime, vendo sangue onde ele não existe ou inventando uma realidade para que o pobre leitor se convença mesmo dessa realidade e compre o jornal para saber mais.
Ora, a notícia do dia, que num jornal do Norte deveria merecer uma manchete e um tratamento jornalístico como deve ser, tinha a ver com a nomeação do arcebispo vimaranense Monteiro de Castro como terceiro cardeal português, subindo na hierarquia do Vaticano – que é um Estado europeu –, indo chefiar o tribunal da Igreja de Roma por decisão do Papa Joseph Ratzinger. Uma grande notícia para o Norte largamente católico, que é suposto ser o mercado do “JN”. Porém, na sua primeira página, o “JN” consegue imaginar um título do outro mundo: “É de Guimarães. Novo cardeal é empresário no ramo das madeiras.” E na notícia publicada no interior nada é explicado sobre a actividade empresarial do novo penitenciário-mor do Vaticano.
É com pseudonotícias destas que os jornais portugueses cavam diariamente a sua sepultura. Por isso, na próxima contagem da Associação Portuguesa de Controlo de Tiragens, não se admirem se as vendas indicarem nova descida. Com jornais tão distantes da realidade ou tão próximos da fantasia não há leitor que aguente. Muito menos edições em papel…