terça-feira, 24 de abril de 2012

Desprezo pela Revolução de Abril


Em comunicação, a percepção é tudo. E a percepção muda com as circunstâncias. Uma frase dita num momento pode ter um significado. A mesma frase dita noutro momento pode ter um significado diferente. Quem diz uma frase, diz a presença ou a ausência numa cerimónia pública. Ou particular.
No feriado de 25 de Abril, evocativo da revolução democrática de 1974, os portugueses comemoram a instauração da democracia e da liberdade de opinião. A revolução foi feita pela esquerda, contra 48 anos de ditadura de direita. Por isso, a esquerda portuguesa esteve sempre na dianteira, com o cravo vermelho na lapela, a comemorar o “25 de Abril”.
Este ano, porém, os “militares de Abril” não estarão presentes nas cerimónias oficiais, que decorrem na Assembleia da República, por considerarem que o Governo PSD-CDS/PP, liderado por Pedro Passos Coelho, está a governar contra “as conquistas de Abril”. Mário Soares também não vai à “festa”, alegando que o Governo está a destruir o Sistema Nacional de Saúde e a Segurança Social. Manuel Alegre também está solidário e não vai aparecer. Jorge Sampaio, outro ex-Presidente socialista, está no estrangeiro e também não vai aparecer nas fotografias.
Com isto, as comemorações do 38º aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974 deixaram de ser uma festa da democracia para se transformarem numa iniciativa do bloco mais à direita do Parlamento (PSD-CDS/PP) – área política de onde emergiram o Presidente da República, Cavaco Silva, e o Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho. Ao quererem protestar contra as decisões do poder instalado, Mário Soares e Vasco Lourenço acabam por apoucar a essência maior do “25 de Abril” e não a acção do Governo, induzida pela "troika" liderada pelo FMI, que, recorde-se, também tem a assinatura do Partido Socialista. É pena. A revolução de Abril não merecia tamanho desprezo.

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