Paul Watzlawick (1921-2007), um dos mais notáveis teóricos da comunicação e um dos fundadores da Escola de Palo Alto (EUA), formulou cinco axiomas na comunicação entre dois indíviduos sem os quais a comunicação pode falhar. Uma dessas proposições tão evidentes que não precisam ser demonstradas é a ideia segundo a qual é impossível não comunicar, dado que todo o comportamento humano é uma forma de comunicação. De acordo com Watzlawick, como não existe forma contrária ao comportamento – não existe o "não-comportamento" ou o "anticomportamento" –, também não existe a "não-comunicação". É por isso que é impossível não comunicar.
Do mesmo modo, também é impossível a um Governo não comunicar. Bem ou mal está sempre a comunicar. Não comunicar é impossível, porque, muitas vezes, até um silêncio sobre uma matéria qualquer pode ser ensurdecedor. Se olharmos para trás, os casos mais polémicos que têm envolvido o Governo da coligação PSD-CDS/PP têm resultado mais de declarações desconexas e contraditórias, produzidas em actos públicos, entrevistas ou encontros de circunstância com os jornalistas, do que propriamente de decisões tomadas pelo executivo no âmbito das duras medidas de empobrecimento de Portugal impostas pela “troika” formada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), pelo Banco Central Europeu e pela União Europeia. No fundo, os casos mais polémicos são um problema de comunicação.
Perante jornalistas e meios de comunicação que apanham a espuma das coisas, ou o "sound bite", e privilegiam o incidente ou a divergência, por mais pequena que ela seja, pois só assim têm o “espectáculo” garantido nas televisões, o Governo de Pedro Passos Coelho tem deslizado mais do que seria expectável numa equipa encarregada de impulsionar a recuperação económica e social do País, contando com uma larga maioria parlamentar e com a predisposição da população para os sacrifícios.
Porém, alguns dislates perfeitamente dispensáveis têm dado cabo da paciência dos cidadãos – a acrescentar a um conjunto de decisões que contrariam o que fora dito em campanha eleitoral, como por exemplo, sobre os cortes dos subsídios de férias e de Natal ou as nomeações políticas – e têm contribuído para um divórcio gradual entre o País e o Governo. Assim de cabeça, não faltam exemplos de trapalhadas verbais em menos de um ano de Governo: a pieguice enunciada por Pedro Passos Coelho sobre os portugueses que se queixam das dificuldades; o convite aos jovens e aos professores para que emigrem; o incentivo à exportação de pastéis de nata; ou o desconhecimento sobre a rede ferroviária espanhola, anunciando-se um comboio rápido para ligar Sines a Badajoz numa linha cuja bitola correspondente só existe na fronteira de Espanha com a França.
Mas o pior da comunicação governamental aconteceu na Semana Santa, que ficou assinalada como a semana horrível deste Governo. Para além do anúncio inesperado da proibição das reformas antecipadas, verificaram-se desencontros graves entre o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, a propósito da data do regresso de Portugal aos mercados e dos cortes nos subsídios de férias e de Natal para os funcionários públicos e pensionistas. Como se sabe, esses cortes foram alvo de uma comunicação ao País devidamente preparada, ainda antes da aprovação do Orçamento para 2012. Nela, o primeiro-ministro foi muito claro ao anunciar que esses cortes iriam vigorar apenas em 2012 e 1013. Não se entende, por isso, que a reposição desses subsídios seja agora atirada para 2015, e mesmo assim gradualmente, e que o ministro das Finanças venha reconhecer que, afinal, o que dissera foi um lapso.
Com isto, Pedro Passos Coelho aproxima-se cada vez mais de José Sócrates: deixa de ter credibilidade e vê ganhar terreno a ideia de que “os políticos são todos iguais”, o que é terrível, mais a mais numa situação de emergência como aquela que se vive em Portugal.
Ora, para uma boa comunicação é indispensável que o mensageiro seja responsável nas decisões que anuncia e seja credível. Para isso não é preciso inventar. Basta agir com bom senso. Como diz o antigo ministro Miguel Beleza, num trabalho sobre o assunto publicado hoje pelo jornal “i”, “não se pode dizer tudo, mas o que se diz não pode ser mentira” (ver aqui).
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