segunda-feira, 23 de abril de 2012

O mito da governação de Cavaco


A cada dia que passa, cai o mito de Cavaco Silva como “o melhor primeiro-ministro da democracia portuguesa”, entre 1985 e 1995. A entrevista de Miguel Cadilhe ao jornal “i”, nesta segunda-feira, que foi justamente ministro das Finanças de Cavaco na segunda metade da década de 1980, é só mais uma descoberta terrível sobre a gestão errática de Portugal e o mau aproveitamento dos fundos europeus. “Foi um erro entrar na união monetária e na moeda única”, reconhece Miguel Cadilhe (ver aqui). Este é talvez o ataque mais violento a um dos principais desígnios estratégicos da governação cavaquista.
Pode-se argumentar que não seria possível antever o futuro e, sobretudo, a intensidade da crise europeia que agora nos afecta. Mas parece evidente que Portugal não se preparou para uma economia moderna e desenvolvida. Passados 20 anos, olhamos para o País e descobrimos que temos quilómetros de auto-estradas que não têm trânsito e que ainda não estão pagas. Descobrimos que a terra está ao abandono. E descobrimos que também abandonámos o mar. E descobrimos ainda que a narrativa económica nos meios de comunicação é dominada pelo poder financeiro que só procura o lucro, sem se preocupar com a sustentabilidade do País.
Talvez por estar consciente desta realidade, Cavaco Silva tem escolhido precisamente o abandono do mundo rural e a economia marítima como temas em destaque nas suas intervenções como Presidente da República, o que não deixa de ser curioso.
Sobre o abandono do mar, aliás, é simplesmente incompreensível que, em Portugal, a indústria da pesca não esteja desenvolvida e que a profissão de pescador não seja uma profissão bem remunerada, com estatuto social e procurada pelos jovens. Mais a mais quando o peixe das águas frias do mar português é considerado por bons cozinheiros como um dos melhores do mundo.
O nosso problema é que os sucessivos governos venderam-se à União Europeia, a troco de milhões e milhões que só serviram para enriquecer os mesmos. Os mesmos que agora, sem mais betão para enterrar e sem mais casas para construir ou financiar, já estão com os olhos noutros negócios com futuro garantido. É que eles já ouviram falar que a água é o petróleo do século XXI. Donde, dificilmente haverá conserto.

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