quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Mensalão. O julgamento dos poderosos



As consequências do julgamento do “Mensalão”, o maior caso de corrupção política na história do Brasil, que coloca no banco dos réus dirigentes da cúpula do PT (Partido dos Trabalhadores) do tempo do primeiro Governo de Lula da Silva (2003-2006), vão muito para além da esfera político-partidária. Podemos falar com propriedade em consequências civilizacionais, num País habituado a ter uma justiça com fama de condenar um pobre por roubar as galinhas do vizinho e fechar os olhos aos prevaricadores de colarinho branco ricos e poderosos.
Iniciado no dia 2 de Agosto, o julgamento do “Mensalão” regista a particularidade de poder ser acompanhado em direto, através da TV Justiça, pelos 200 milhões de brasileiros, num sinal de transparência impressionante, em profundo contraste com a opacidade e a impunidade que noutros tempos envolviam casos deste género. Pela primeira vez, o banco dos réus está ocupado pelos poderosos do partido que está no poder, vai para uma década. Isso é uma novidade no Brasil, neste julgamento que o jornalista Lúcio Flávio Pinto, muito a propósito, classifica como uma aula magna de direito (ver aqui).
Não há estudos de audiências rigorosos, mas a verdade é que há muita gente agarrada às televisões e aos computadores, seguindo diariamente a saga do “Mensalão”, para desgosto de muitos candidatos do PT, alguns em dificuldades nas eleições municipais, que se realizam no próximo dia 7 de Outubro, como Fernando Haddad, indicado por Lula da Silva para São Paulo.
Paralelamente, os principais meios de comunicação do País publicam páginas e páginas sobre a tramóia político-partidária – que assentava na compra de apoios políticos de opositores do PT no Parlamento –, trocando em miúdos os jargões da justiça, de modo que todos os cidadãos entendam o que está em causa no julgamento.
Por outro lado, as edições digitais de muitos meios de comunicação também transmitem o julgamento em direto. Ou seja, por consequência dos avanços tecnológicos verificados na transmissão da informação, o que é dito em tribunal é ouvido na rua ou em casa de cada brasileiro.
Por estes dias, o senador Pedro Simon (PMDB) afirmava em plenário que o Brasil “até parece um País do primeiro mundo”, tal tem sido o papel soberano da Justiça no julgamento do Mensalão, conjugado com a demonstração do exercício da liberdade de imprensa por parte dos meios de comunicação. Se o Brasil ainda não é do primeiro mundo, está prestes a entrar no clube. É só esperar pelas sentenças dos “ministros” do Supremo Tribunal Federal, das quais não haverá recurso. Delas depende o avanço civilizacional que milhões de brasileiros almejam. Um avanço que significará viver num País em que a Justiça funcione de igual modo, seja para ricos ou para pobres. 

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