sábado, 17 de dezembro de 2011

A cartilha da desesperança


A directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, afirma aqui que a crise mundial não deixa nenhuma economia a salvo. Em Portugal, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, igualmente depressivo e sem uma visão para o futuro que não seja a falta de futuro, decide aumentar o preço do acesso aos serviços públicos de saúde, mas em vez de comunicar um serviço de saúde melhor para mais portugueses, diz-nos que tem margem para aumentar ainda mais o preço da ida ao médico. Além disso, lança medidas de austeridade e diz que é preciso ir além das medidas preconizadas pelo FMI; e, como se pode ver e ouvir nesta ligação, tal como um comentador político e não um líder mandatado pelo povo para governar, anuncia ao País que, daqui a 20 anos, a mensalidade da reforma não irá além de 50 por cento do rendimento mensal que o contribuinte auferir na altura. No fundo, a cartilha de Pedro Passos Coelho é a cartilha da desesperança neoliberal que está a destruir a Europa. Foi por isso que um secretário de Estado da Juventude – e logo da Juventude – disse aos jovens portugueses que o melhor seria emigrar.
Ora, só não tem esperança no futuro quem não sabe o que é que há-de fazer no presente ou quem não sabe para onde vai. Sabe-se que nada disto acontece por desconhecimento do que é preciso fazer, nem por desconhecimento das regras de uma boa comunicação política e de um bom marketing público do País, que, no fundo, não existem, como se infere nesta observação do consultor de comunicação Rui Calafate. Assim sendo, tendo em conta que há quem esteja a ganhar com tudo isto, falta saber que interesses, obviamente privados, estarão a mover estes mensageiros da desesperança e da miséria.
Do alto de uma sabedoria de 89 anos, Gonçalo Ribeiro Telles (na foto), um dos líderes políticos portugueses que fez a Aliança Democrática com o PSD de Francisco Sá Carneiro, em 1979, dá hoje uma entrevista ao jornal “i”, que pode ser lida aqui, onde adianta uma hipótese: “Talvez os governantes queiram destruir o País.” Não acredito que seja isso. Mas parece.

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