domingo, 4 de dezembro de 2011

Extinção de freguesias. Uma guerra inútil


Uma coisa são os berros do povo nas ruas, geralmente inconsequentes, ou as greves gerais convocadas pelas vetustas centrais sindicais. Outra coisa são os protestos e as vaias num congresso de autarcas eleitos pelo povo. Por isso, as vaias com que os presidentes de Junta brindaram o ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, no congresso da Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE), em Portimão – por estarem contra a extinção de freguesias –, são muito mais do que uns berros esganiçados do povo anónimo. Pela primeira vez na legislatura, o Governo de Pedro Passos Coelho foi vaiado numa cerimónia institucional, ao ponto de um dos seus ministros, por sinal, um dos mais influentes, ter sido forçado a interromper a sua intervenção.
O Governo português tem entre mãos a tarefa hercúlea de pagar as dívidas da governação socialista dos últimos 15 anos – apenas com um interlúdio entre 2002 e 2005 –, fazer a reforma da administração pública e recuperar a economia do País. Mas precisa que a Europa também recupere do pesadelo financeiro em que vive.
A opinião pública está consciente disso e tem estado disponível para o sacrifício. Mas se não aparecer uma luz ao fundo do túnel, a paciência esgota-se. Daí que todos sejam necessários para este combate em nome da regeneração do País – inclusive os autarcas das freguesias, que são o elo mais fraco do poder local democrático.
Neste caso, parece-me que o Governo comprou uma guerra inútil. A extinção das freguesias, alegadamente proposta pelos tecnocratas do FMI (porque o Banco Central Europeu e a União Europeia são peças secundárias na chamada "troika"...), não vai diminuir em nada a despesa pública de Portugal. Por uma razão elementar: a generalidade dos autarcas das freguesias trabalha graciosamente pelas suas comunidades e as freguesias não têm dívidas, como sublinhou o líder da ANAFRE. Por isso, não sei onde é que o Governo vai poupar dinheiro com a extinção das freguesias mais pequenas, que são aqueles cujo presidente da Junta nem é remunerado.
O plano de extinção de freguesias reforça a ideia já instalada na opinião pública segundo a qual as medidas de austeridade não atingem todos por igual. As freguesias, aliás, são um dos pilares da diversidade cultural e da coesão social, em especial nas terras menos habitadas do interior. Ora, foi o pulsar do País que começou a manifestar-se em todo o seu esplendor no congresso dos presidentes de junta.
Uma grande reforma administrativa motivada pela intervenção do FMI implicaria introduzir no debate uma proposta que contribuisse, de facto, para reduzir a despesa pública. Mas para isso seria necessário pensar e produzir pensamento. Não seria difícil encontrar uma solução. Bastaria acabar, de facto, com todas as juntas de freguesia, transformando-as em extensões das respectivas câmaras municipais. O que aumentaria o número de serviços prestados às populações em cada localidade. E teria o condão de eliminar os funcionários públicos excedentes nas autarquias e nas empresas municipais. E ainda acabaria com a politiquice paroquial.

2 comentários:

MaximinoMartins disse...

Será mesmo que a grande maioria dos autarcas das Freguesias, prescindem do dinheiro a que têm direito por Lei...?
Quem sou para negar tal afirmação, mas confesso-me bastante céptico acerca disso...
Pessoalmente entendo que há muitas freguesias que não têm qualquer razão de existencia, pois há freguesias apenas com poucas dezenas de "fregueses" e há em certos concelhos muitas freguesias que poderiam ser absorvidas o que certamente levaria no fim do ano a alguma poupança no Orçamento.
Assim, como também há concelhos que não têm razão de existir...!

Não será facil fazer esta mudança no mapa do País que somos, pois há muitas "capelinhas" e cada um normalmente pouco vê para além do seu próprio umbigo...!

Mas concerteza deverá, digamos mesmo...terá de haver uma alteração a nível de País, a não ser assim...jamais sairemos da cepa torta...!!

Jorge Paulo Oliveira disse...

Caro Luis Paulo o presente artigo assenta num profundo desconhecimento da proposta de reforma e não quero com isto dizer que concordo integralmente com os termos da mesma, mas para esclarecimento de quem nos lê deixo duas notas apenas: a reforma não visa poupança mas eficiência de meios, a segunda as freguesias enquanto divisão territorial não são extintas. Um abraço.