quarta-feira, 4 de maio de 2011

A demissão do jornalismo


Durante a sua comunicação ao País, sem direito a perguntas dos jornalistas, José Sócrates chegou a designar o encontro perante as câmaras de televisão e os microfones como uma “conferência de imprensa”. O jornalista António Granado, no blogue Ponto Media, revela que, para além da impossibilidade de perguntas dos jornalistas, nenhum jornal foi autorizado a fazer fotografias da importante comunicação ao País. Sócrates só permitiu ser fotografado pelo seu fotógrafo oficial, Ricardo Oliveira, que, no último congresso do PS, também fora o único autorizado a fotografar o líder partidário nas poses mais positivas.
O que é assustador é que nenhum dos jornais proibidos de fotografar o Primeiro-Ministro – e foram todos – faz hoje qualquer comentário sobre o assunto. O que é assustador é que os editores e directores de fotografia não se revoltem contra estes actos dignos de uma ditadura. É a completa demissão do jornalismo português. A demissão de informar os cidadãos, mediando os acontecimentos públicos. Além do silêncio perturbador, a falta de rigor.
O “Jornal de Notícias”, o “Diário de Notícias” e o “Jornal de Negócios” atribuem as fotos correctamente a Ricardo Oliveira, do GPM, ou seja, do “Gabinete do Primeiro-Ministro”. O “Público” atribui a mesma imagem à agência France Press. E, na sua edição digital, o “Jornal de Notícias” indica Ricardo Oliveira como sendo fotógrafo da Global Imagens, a agência de fotografia do grupo Controlinveste. Já para o “Correio da Manhã”, Ricardo Oliveira é dado como sendo fotógrafo da agência Lusa.
Curiosamente, o único jornal que fez o que deveria ser feito foi o diário i: fez uma imagem da televisão (que ilustra este "post"), muito mais informativa, pois até nos diz que, no momento em que Sócrates falava, estava a ser disputado o jogo de futebol entre o Barcelona e o Real Madrid.

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