sexta-feira, 11 de maio de 2012

Como acabar com o analfabetismo mediático


Há um aparelho doméstico que, para muita gente, é a única grande companhia diária. Refiro-me à televisão, que, ao longo da segunda metade do século XX, se tornou em mais um membro do agregado familiar.
Muitas vezes, a televisão é o único elemento da casa que fala e estabelece comunicação com o auditório. Uma comunicação unidireccional e vertical, de cima para baixo. Uma comunicação de uma só via.
A televisão não faz perguntas, só dá respostas. Tem, por isso, um poder imenso. É esse poder que os cidadãos têm de desconstruir. Não só o poder da televisão, como o poder dos jornais, da rádio e do gigantesco espaço de oportunidades que é a Internet.
A desconstrução desse poder só pode ser feita através da educação mediática, que os Estados deveriam promover. É urgente que as crianças, logo a partir do ensino básico, comecem a aprender a viver no complexo espaço mediático contemporâneo. E que possam, desde cedo, aprender a fazer uma análise crítica dos meios de comunicação e da Internet. É urgente que os adultos activos e os idosos também tenham acesso à educação mediática. Há estudos, nomeadamente na União Europeia, sobre este assunto. Mas só estudos e intenções (consultar aqui e aqui).
A falta de informação combate-se com informação. Não podemos permitir que haja franjas da sociedade continuadamente expostas aos perigos de um sistema mediático manipulador. Por isso, só com formação específica será possível eliminar o analfabetismo mediático, que constitui um grande empecilho ao desenvolvimento de uma sociedade e de um País.
Na sociedade mediática em que vivemos, a diferença não se faz entre ricos e pobres; a diferença faz-se entre quem tem acesso à Internet e quem não tem; a diferença faz-se entre quem sabe o que é uma notícia e quem não sabe; entre quem sabe o que é um artigo de opinião e quem não sabe; entre quem sabe o que é uma entrevista e quem não sabe; entre quem sabe a diferença entre uma reportagem e uma publirreportagem. A diferença está, no fundo, na nossa capacidade de aceder à informação e de interpretá-la.
Neste contexto, se não soubermos identificar a origem ou o enquadramento de uma notícia; se não soubermos contextualizar a opinião de um comentador; se não soubermos perceber por que é que um jornal chama um assunto à primeira página enquanto outro jornal o esconde, sem fotografia, no canto inferior direito de uma página par; se não soubermos, no fundo, ler um jornal, ouvir uma rádio ou ver uma televisão; se não soubermos tudo isso, ficamos de modo passivo à mercê da realidade que o sistema mediático nos atira permanentemente.

Obs. – Este é o quarto de uma série de textos criados a partir da minha comunicação sobre o poder dos “media” nas nossas vidas, na Universidade Lusófona do Porto, proferida no dia 30 de Abril de 2012, no âmbito da iniciativa nacional “Um Dia com os Media”.

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