Em jornalismo, a hierarquização da informação, seja numa página de jornal ou na redacção de uma notícia, é uma tarefa de ordem subjectiva. É essa subjectividade que contribui para estabelecer algumas diferenças entre meios de comunicação. Também é essa subjectividade que molda o nosso pensamento e a opinião que temos sobre um acontecimento ou sobre as decisões de um Governo ou de um tribunal.
A redacção de um texto noticioso implica uma selecção vocabular e um ordenamento dos factos que é influenciada por múltiplos factores de ordem subjectiva. Factores que têm a ver com a formação do jornalista, com a sensibilidade do jornalista, e até com a vida do jornalista. A boa ou má disposição do jornalista ou um problema particular não resolvido são capazes de interferir na hierarquização da informação e na selecção de palavras utilizadas, sem que o jornalista se aperceba.
Se a hierarquização das notícias num jornal é um processo subjectivo, na edição de um telejornal ou na selecção das imagens de uma reportagem televisiva acontece precisamente o mesmo. Estamos perante notícias que resultaram de escolhas que são sempre subjectivas.
Em jornalismo, a objectividade não passa de um mito. Porque nas várias etapas do processo de produção informativa imperam decisões de natureza subjectiva. A selecção de uma fotografia em vez de outra obedece a uma escolha subjectiva. Igualmente subjectiva é a escolha entre a paginação de uma notícia com ou sem fotografia. Ou com chamada à primeira página ou não. Um artigo muito interessante, que li no Observatório da Imprensa, apelida o jornalismo de “objectividade subjectiva” (ver aqui). A expressão é perfeita.
O processo de edição de uma notícia é, portanto, subjectivo, pois depende de múltiplos e variados factores, a começar pela formação e pela sensibilidade de quem está a decidir na redacção. É com essa subjectividade que os “media” ditam as prioridades de debate no espaço público, moldando a nossa vida e a nossa opinião sobre a realidade.
Outra questão central nas discussões sobre jornalismo e sobre os conteúdos jornalísticos é a imparcialidade. Nem sempre os jornalistas e os editores são os maus da fita. Umas vezes são, mas na maioria das vezes até nem são. Mais do que maus da fita serão eventualmente vítimas das circunstâncias.
Intencionalmente ou não, os jornalistas e os editores também podem ser vítimas da propaganda ou da desinformação. Mesmo sem cometerem um erro deliberado, os jornalistas podem dar uma visão parcial dos factos, sendo selectivos no apuramento e na redacção do texto, focando determinados aspectos em detrimento de outros. No fundo, a tal subjectividade.
A nossa expectativa, como cidadãos e consumidores de informação, é que a acção mediático-jornalística seja sempre o espelho da sociedade. A questão é que os “media” podem influenciar, distorcer ou corroer esse espelho social, político, económico ou cultural.
A distorção pode acontecer nomeadamente em função da falta de qualidade profissional dos jornalistas ou em função da qualidade da assessoria de comunicação das organizações que são objecto de notícia. E, para muitos “agentes provocadores” de notícias e de acontecimentos noticiáveis, muitas vezes, não interessa o que aconteceu na realidade, mas aquilo que os “media”, como intermediários, vão dizer que aconteceu. Ou seja, não interessa a realidade, interessa a realidade construída pelos “media”.
É neste colete-de-forças que vivem os jornalistas e os cidadãos no gigantesco espaço mediático, que a Internet tornou permanente e global. Por isso, convoco aqui um pensamento marcante de Ignacio Ramonet, um grande estudioso do jornalismo contemporâneo: “A liberdade dos meios de comunicação não é mais do que a extensão da liberdade colectiva de expressão, fundamento da democracia. Como tal, implica uma responsabilidade social e o seu exercício está, portanto, sujeito, em última instância, ao controlo responsável da sociedade.”
Obs. – Este é o último de uma série de cinco textos criados a partir da minha comunicação sobre o poder dos “media” nas nossas vidas, na Universidade Lusófona do Porto, proferida no dia 30 de Abril de 2012, no âmbito da iniciativa nacional “Um Dia com os Media”.
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