Portugal está em crise desde que o socialista António Guterres, em 2001, então primeiro-ministro,
descobriu que estava atolado num pântano e decidiu fugir na noite de uma
derrota política nas eleições municipais. Verdadeiramente, os
sinais de paralisação da economia começaram a sentir-se no país real depois da
Expo’98, a exposição das vaidades, dos empreiteiros e do novo-riquismo saloio de quem vivia à custa do dinheiro que jorrava da Europa.
Depois,
Durão Barroso, no cargo de primeiro-ministro, anunciou ao mundo que Portugal estava de tanga e começaram os
cortes no rendimento dos portugueses, com o congelamento do aumento de
salários. Mas os empreiteiros continuavam a ter luz verde dos bancos para construir
auto-estradas, condomínos de luxo, projetos turísticos sem clientela. Pelo
meio, os espertalhões do regime, alguns deles tidos como homens respeitáveis
junto de quem nos governou, foram roubando em grande escala, como aconteceu no
BPN. O povo entretinha-se a seguir o escândalo da Casa Pia e a comprar a
crédito.
Em
2004, enquanto o País profundo seguia Portugal no Euro 2004 – cujos estádios faraónicos
e desnecessários representaram mais um sinal grave do poder imenso dos
empreiteiros sobre políticos sem estofo –, foi a vez de Durão Barroso fugir para Bruxelas. Seguiu-se Pedro
Santana Lopes como primeiro-ministro, que cometeu o erro colossal de não ter
ido a votos. Durou alguns meses. Quando José Sócrates assumiu a liderança do
Governo por uma margem estrondosa que ele jamais teria imaginado, nem em sonhos
nos tempos em que desenhava pardieiros na Covilhã, os portugueses já estavam a
ficar cansados, mas deram-lhe todo o apoio. A direita dos interesses ficou em
êxtase com o pragmatismo socrático na expansão das obras públicas. Em 2008, rebentou a crise internacional e Portugal
descobriu, afinal, que estava à beira da falência.
Quando
os portugueses, em 2011, deram uma vitória clara ao PSD e a Pedro Passos
Coelho, estavam a dizer nas urnas que queriam mudar, que queriam um País novo,
sem os vícios e os erros do passado recente. Afinal, bastou pouco tempo para o
povo descobrir que era mais do mesmo, mas para pior. Mais do mesmo nas medidas
económicas, mais do mesmo nas nomeações, mais do mesmo na despesa pública, mais
do mesmo nas políticas de emprego, mais no mesmo nas gorduras do Estado, mais
do mesmo em tudo o que estava mal. E, sublinhe-se, muito mais do mesmo em
termos de medidas de austeridade!...
As
novas medidas de austeridade anunciadas por Pedro Passos Coelho –
o
segundo pacote de medidas em apenas um ano – significam um
falhanço total das políticas do Governo e um corte decisivo
entre o Governo e o País. Hoje, já nem os militantes do PSD e do CDS/PP são
capazes de defender o Governo, na rua, nos meios de comunicação social ou nas
redes sociais. Hoje, só defende o Governo no espaço público mediático quem é
pago para o fazer ou quem, de algum modo, lucra com as políticas suicidas que
estão a ser seguidas.
Por
vezes, os problemas são tão graves que não há comunicação de crise que valha às
organizações. Também não há comunicação de crise que valha a Pedro Passos Coelho
e ao seu Governo. Sim. Porque este Governo não é de Portugal, nem dos
portugueses. Este Governo é de Passos Coelho, é de Paulo Portas, é de Miguel Relvas,
é de Vítor Gaspar, é da “Troika” e de uma elite cada vez mais pequena, formada
por banqueiros e grandes empresas, cujos lucros são cada vez mais gordos. É um
Governo inimigo do povo e amigo dos poderosos.
Neste
cenário, nem podemos falar em falhanço da comunicação do Governo. A comunicação
não faz milagres. Uma boa comunicação não torna boas as más decisões políticas.
Nem torna bons os maus políticos. Uma boa comunicação é um assunto sério. Não
tem nada a ver com vender banha da cobra. Tem a ver com comunicar bem aquilo
que é bom e tem sentido. Ora, as medidas do Governo português são, pura e
simplesmente, incomunicáveis.
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