sábado, 15 de dezembro de 2012

Manuel Castells e a expansão do “não-capitalismo”



Em todo o mundo está crescendo uma legião de consumidores que não podem consumir, por uma razão básica e simples: não têm dinheiro, não têm crédito, não têm nada. O que será do sistema capitalista, que induz ao consumo pelo consumo, quando estes consumidores sem possibilidades de consumir por falta de recursos estiverem em maioria? O que será do marketing quando procurar novos produtos sem que haja clientes que tenham dinheiro para comprá-los?
Se não houver mudanças no sistema econômico global, tudo indica que o caminho será cada vez mais estreito. O que está acontecendo na Europa pode ser o começo de um futuro global imprevisível. Porque os recursos naturais são limitados, mas a população mundial continua aumentando e precisando de comer para viver. Contudo, a modernização tecnológica e a Internet continuam destruindo postos de trabalho, reduzindo o número de pessoas com recursos financeiros e poder aquisitivo. Daqui resultará, certamente, uma minoria com dinheiro para tudo – inclusive para megalômanas viagens aeroespaciais – e uma maioria de mendigos, sem dinheiro para tomar o café da manhã.
O sociólogo espanhol Manuel Castells fala deste problema e sobre a necessidade de um novo caminho. Numa entrevista à rádio BBC, ele admite que talvez estejamos prestes a ver o surgimento de um novo tipo de economia, numa mudança impulsionada justamente pelos consumidores que não têm dinheiro para consumir. O que pode desencadear uma revolução cultural à escala global.
“Se queremos trabalhar para ganhar dinheiro, para consumir, é porque acreditamos que comprando um carro novo ou uma nova televisão, ou um apartamento melhor, seremos mais felizes. Isso é uma forma de cultura. As pessoas estão revertendo essa noção. Pelo contrário: o que é importante em suas vidas não pode ser comprado, na maioria dos casos. Mas elas não têm mais escolha porque já foram capturadas pelo sistema”, afirma o sociólogo espanhol.
Para ele, é fundamental uma mudança cultural que seja capaz de abalar os dois maiores poderes do mundo – o sistema político e o financeiro –, através de uma completa descrença nas instituições políticas e financeiras. A solução passará por práticas econômicas sustentáveis e não motivadas pelo lucro, tais como a permuta de produtos e serviços, as moedas sociais, as cooperativas, as redes de agricultura e de ajuda mútua, com serviços gratuitos. Tudo isso já existe e está se expandindo em vários pontos do mundo. O que falta saber é se a classe política vai mostrar abertura para as mudanças que já acontecem na sociedade. Vamos esperar para ver (ver aqui).

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