No Portugal de Oliveira Salazar, que dominou o nosso século XX, trabalhar no campo ou nas obras era um castigo para os rapazes pobres ou mal comportados que não cabiam na escola. A elite estudava e chegava à universidade. Os bem comportados e remediados, se fossem à missa, ainda poderiam seguir “os estudos” no seminário e, regra geral, safavam-se. As raparigas iam para costureiras ou ficavam nas limpezas domésticas. Os outros iam para as fábricas, emigravam para o estrangeiro ou migravam para Lisboa.
Por isso, repovoar, com sucesso, o mundo rural, como defendeu, e bem, o Presidente da República, Cavaco Silva, na sua comunicação política alusiva ao Dia de Portugal, implica um envolvimento social e cultural muito mais amplo. Implica uma valorização do mundo rural e da agricultura como esteios ambientais e económicos do País. Implica que os portugueses regressem no campo porque gostam realmente do campo e têm ideias de produção ou um modelo de negócio.
Duvido que isso seja possível, quando temos um sistema mediático que raramente sai de Lisboa a não ser quando o Presidente da República vai a Castelo Branco e que está mais interessado nas novidades do PSI 20 do que nos problemas dos produtores de azeite ou dos pescadores. A forma ligeira e desfocada como a mensagem de Cavaco Silva foi tratada pelos "media” demonstra isso mesmo. Repare-se, por exemplo, que não houve um único especialista em agricultura a ir às televisões comentar o discurso do Presidente. Aliás, as televisões nem têm especialistas em agricultura, tendo, no entanto, especialistas em outras áreas, nomeadamente na área financeira.
O mesmo sucedeu na imprensa. O diário “Público”, por exemplo, ignorou mesmo a mensagem agrícola do Presidente, tratando-a com desdém: “Um pouco mais de terra”... E, no editorial, até escreve que a prosa de Cavaco foi um “não-discurso”.
Isto significa que Lisboa não sabe o País que tem, desconhecendo as suas qualidades específicas e as oportunidades que essas qualidades podem gerar. E que só se interessa por ele quando quer sossego, boa comida, bom vinho e muita qualidade de vida. Se esta mentalidade não mudar, se Lisboa continuar a ignorar a paisagem, Portugal não vai conseguir encontrar o seu futuro..
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