O
problema não é exclusivo de Portugal, mas resulta de uma tendência nos mercados
mundiais nos últimos anos: o poder crescente do setor bancário e financeiro e dos investidores sem
rosto, que disseminaram seus investimentos no setor imobiliário de muitos
países, onde promoveram a construção de imóveis muito acima das necessidades
habitacionais identificadas pelo mercado – ou seja, sem os necessários estudos de mercado. O resultado é a existência de mais
casas do que moradores, provocando uma quebra do mercado que é má para todos,
podendo mesmo afetar a estabilidade de um País. De tal modo que, em Espanha,
por exemplo, o líder do Governo, Mariano Rajoy, já anunciou que concede autorização
de residência aos estrangeiros que comprem casa no País (ver aqui).
Em
Portugal, a situação também é muito grave. Excesso de construção e crise económica
contribuíram para um aumento de 35% do número de alojamentos vagos. Há
urbanizações inteiras sem ninguém. Num País com pouco mais de 10 milhões de habitantes,
há mais de 735 mil casas vazias (ver aqui). Mas o problema das casas vazias também já afeta o Brasil –
onde os preços no setor imobiliário estão muito inflacionados, por conta do
Mundial de futebol de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Só em Fortaleza, que
é a quinta maior cidade do Brasil, estima-se que o preço da habitação esteja
inflacionado em 50% (ver aqui).
Em Portugal, o bloqueio do setor da construção acontece num momento em que o Presidente da República, Cavaco Silva – que há 20
anos chefiava o Governo, tendo lançado as sementes
da crise de hoje –, propõe, agora, que os portugueses regressem à agricultura, ao
mar e à indústria (ver aqui).
Perante
a crise no setor da construção civil, as empresas portuguesas só têm dois caminhos: ou se reinventam, mudando de setor de
atividade, o que implica mudanças nos recursos humanos e nos serviços e
produtos que oferecem, ou vão à falência. É tão simples como isso. Porque, num País em recessão económica e cada vez mais velho, em função da diminuição
da população, pela estagnação dos nascimentos, e pela emigração, não há lugar para
tantos empreiteiros e construtores civis. Só um grupo muito restrito de
empresas irá ficar no setor da construção: as que têm poder económico e podem diversificar a sua presença no mercado; as que são
reconhecidas pela qualidade das suas obras e pela ética empresarial; e aquelas
que se especializarem no mercado da reabilitação. Todas as outras morrem.
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