O caso, além das discussões dentro da classe jornalística e dos poderes de um Estado, deve merecer, sobretudo, uma reflexão dos leitores. São estes que suportam os negócios. Quanto mais lixo comprarem, mais será produzido. Estarão dispostos a continuar a financiar um jornalismo que não respeita regras, direitos e o mínimo de bom senso e que a tudo recorre só para revelar quem é a amante do jogador de futebol “A” ou qual a doença que afecta o filho do primeiro-ministro “Y”? Há que fazer escolhas.
Mas como tudo o que tem um princípio tem um fim, o “News of The World” acabou e a sua antiga directora, Rebekah Brooks, foi detida pela polícia. A mesma polícia que também terá beneficiado de um esquema de favores para dar informações. Pode ser que o caso das escutas em Inglaterra sirva para, de alguma forma, higienizar o jornalismo. E higienizar não quer dizer domesticar. Não. É possível fazer jornalismo sério, acutilante e vigilante dos poderes públicos e privados, sem necessidade de ultrapassar os mais elementares princípios de uma sociedade moderna e democrática.
[FONTE: Editorial do “Diário de Notícias”, 18-07-2011]
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