sexta-feira, 1 de julho de 2011

Novo imposto merecia comunicação ao País


Os feirantes, os mecânicos, os senhorios e os taxistas são os profissionais que mais fogem ao fisco em Portugal. Só em 2010, a economia paralela representou 33 mil milhões de euros, ou seja, 42% do pedido de ajuda ao FMI e 41 vezes o dinheiro que o Ministério das Finanças quer arrecadar com o imposto extraordinário sobre o subsídio de Natal de 2011.
Dito isto, podemos afirmar que o difícil, mas justo e inovador, seria que, no próximo Natal, o Governo fosse buscar os 800 milhões de euros extraordinários que procura aos agentes da economia paralela, pondo-os a pagar impostos. O mais fácil, como vai fazer o Governo, será ir buscar esse dinheiro a quem trabalha e já paga os seus impostos, intimando essa gente a pagar ainda mais. No fundo, no fundo, o novo ministro das Finanças, Vítor Gaspar, sendo um grande cérebro em finanças públicas, decidiu fazer exactamente como todos os outros. Mas ainda está muito a tempo de fazer descer brutalmente a economia paralela, tornando a economia portuguesa mais saudável, honesta e competitiva.
Nessa cruzada, a diminuição da presença do Estado em áreas inúteis (ou seja, em áreas em que os privados já provaram que fazem melhor) e a eliminação de organismos públicos excedentes, medidas anunciadas por Vítor Gaspar no Parlamento, são determinantes para fazer baixar a despesa pública. Ao ter juntado no mesmo pacote um imposto extraordinário de 50 por cento do subsídio de Natal, o Governo comunicou mal o seu voluntarismo em nome da sobrevivência económica e financeira de Portugal.
Através das notícias, os portugueses ficaram com a percepção que vão ficar sem 50 por cento do próximo subsídio de Natal. O que, para a grande maioria da população, não é verdade. Mas,  em comunicação política, o que conta é aquilo que as pessoas percepcionam, como escreve Rodrigo Saraiva, no PiaR, blogue especializado em comunicação e relações públicas.
Das medidas anunciadas pelo Governo no Parlamento para diminuir a despesa do Estado, que seriam aplaudidas pelos eleitores, não ficou nada na cabeça das pessoas. Por isso, o imposto extraordinário anunciado por Pedro Passos Coelho merecia ser comunicado ao País em exclusivo, com uma explicação detalhada, demonstrando trabalho de casa feito pelo Governo. Trabalho que ainda não foi feito, mas que se impunha, para que não restasse a mínima dúvida sobre o que vai acontecer. E para que o que vai acontecer fosse entendido pelos portugueses como exactamente vai acontecer. Uma comunicação eficaz seria assim.

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