O diário “Público” apresenta, nesta quinta-feira, o projecto “Público Mais”, como sendo uma “aposta no jornalismo de qualidade” através de um fundo financiado por seis empresas – EDP, Galp, Mota-Engil, REN, Santander Totta e Vodafone.
Ao longo do século XX, a história do jornalismo e do espaço público mediático ficou marcada por um aumento gradual dos interesses privados sobre o interesse público. De tal modo que a propriedade dos meios de comunicação social passou para a esfera de grupos económicos com interesses mais amplos, nuns casos publicamente conhecidos, noutros nem por isso.
Donde, esta nova forma de financiar o jornalismo anunciada pelo “Público” traduz a invasão total dos interesses privados no jornalismo de referência português, não obstante as garantias das empresas financiadoras de que respeitarão a independência do jornal. Ora, não estou a ver os presidentes dessas empresas e os seus amigos da política e de outros negócios a serem escrutinados pelo tal “jornalismo de excelência”. Nem estou a ver os jornalistas do “Público”, na esfera deste projecto de financiamento, a tomar a iniciativa de chatear essas empresas no âmbito de investigações jornalísticas que as possam comprometer. Por outro lado, evitar escrever sobre as actuvidades ou os interesses dessas empresas também constituiria uma forma de influenciar os leitores...
O problema resulta de uma incompatibilidade permanente entre a publicidade crítica inerente ao jornalismo e a publicidade comercial que interessa às empresas. Basicamente, o que o “Público” pretende é dinheiro para poder realizar umas reportagens cujo orçamento está acima daquilo que o jornal pode gastar com a informação que produz. E as empresas comprometem-se a financiar as reportagens do “Público Mais” porque o apoio a um projecto desta natureza lhes garante publicidade e prestígio e, portanto, mais valor no mercado e mais lucros. Veremos como será...
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