“Antes, havia três esferas: informação, publicidade e cultura de massas. Essas três esferas fundiram-se. Na realidade, uma delas, a publicidade, absorveu as outras. A maneira actual de fazer informação é exactamente igual à maneira de fazer publicidade. O jornalismo de hoje tem de possuir três qualidades: muito simples para que toda a gente compreenda; muito rápido, com frases curtas, textos curtos, palavras fortes; e muito divertido. São as qualidades dos filmes de Walt Disney, do ‘spot’ publicitário da televisão ou da história de Monica e Clinton. Veja o que aconteceu com este caso. A grande maioria da imprensa era partidária da destituição do presidente, mas a opinião pública não. Conclusão: contrariamente ao que pensávamos, os meios de informação já não fazem a opinião pública. O público gosta de consumir, mas não crê. Encontramos prazer num filme de Hollywood, mas não cremos nele. Sabemos que é uma ficção. É de um jornalismo de ficção que falo.”
“O exemplo do ‘Le Monde Diplomatique’ demonstra que alguns jornais podem sobreviver. As empresas de comunicação têm de colocar o problema da rendibilidade e da produtividade, porque não têm uma lógica cívica, mas sim uma lógica empresarial. Esta lógica faz com que os próprios jornalistas se encontrem na mesma situação dos trabalhadores das fábricas dos anos 20 e 30 (precarização, especialização, fragmentação do trabalho, anonimato e redução da sua condição social, que algumas estrelas ocultam). No final do século XIX, quando surgiu a grande imprensa de massas, o monopólio da informação era da imprensa. Mas logo vieram a rádio, o cinema, a televisão, etc. O jornalista perdeu, então, o seu monopólio. E ao perdê-lo também perdeu a sua identidade.”
“Temos a ideia de que a censura é característica das sociedades autoritárias, o que é correcto. No Portugal de Salazar, na Espanha de Franco ou em qualquer regime autoritário, observamos que a censura funciona como proibição e amputação. Mas quando observamos as sociedades democráticas e livres, onde toda a gente tem direito a proferir, damos conta de que existe outro tipo de censura. A censura actua agora por saturação. Quando há tanta informação, eu já não consigo saber qual é a boa e qual é a má. Encontro-me submetido a uma ideologia que diz ‘muita informação é boa informação’. São duas coisas diferentes, porque a sobre-informação pode conduzir à não informação...”
[FONTE: Ignacio Ramonet, jornalista e professor universitário, entrevistado pelo jornalista Amílcar Correia, “Público”, 14-03-1999]
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