segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O marketing público da Póvoa de Varzim


No século XX, a praia da Póvoa de Varzim era a praia do povo e não precisava de comunicação. Nos meses de Verão, mas principalmente em Agosto, o povo vinha de todos os lados, oriundo de municípios vizinhos do Norte litoral como Vila Nova de Famalicão, Barcelos, Trofa, Santo Tirso, Guimarães ou Fafe. Toda a população do Vale do Ave que podia sair de casa para ir até à praia passava pela Póvoa de Varzim, mesmo aqueles que não tinham automóvel. Não havia auto-estradas, mas havia uma estrada nacional saturada e uma linha de caminho-de-ferro com comboios especiais que circulavam cheios no mês de Agosto.
Há duas décadas, a linha ferroviária entre Vila Nova de Famalicão e Póvoa de Varzim foi desactivada, estando em vias de ser transformada numa pista para bicicletas. Acompanhando as transformações do País, que deram lucros aos lóbis do betão e das gasolineiras, a via ferroviária foi substituída pela auto-estrada. Ora, as auto-estradas vieram facilitar a mobilidade. As pessoas que antigamente, por comboio, só chegavam à Póvoa de Varzim, podem agora chegar rapidamente não só à Póvoa de Varzim, mas também a Vila do Conde, a Esposende, a Viana do Castelo ou até a Vila Nova de Gaia, a sul do Porto, ou a Caminha, no Alto Minho. Neste caso, a mobilidade da população desafiou a capacidade de sedução das cidades balneares. É neste quadro de competitividade entre cidades que aparece um anúncio de imprensa da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, publicitando a sua praia, como a imagem documenta. Um anúncio que vi publicado recentemente no “Jornal de Notícias”.
Não sei se esta comunicação faz parte de um plano mais vasto e sustentado. Sei que, para além do anúncio de imprensa, o gabinete de comunicação do município da Póvoa de Varzim tem feito publicidade da sua praia nas rádios locais de municípios vizinhos. Algo que há uns anos seria impensável. A ideia é chamar atenção das pessoas para as qualidades dos 12 quilómetros de praia para toda a família do município da Póvoa de Varzim, cidade que Ramalho Ortigão, no século XIX, descrevia como estando “coalhada de moscas e de gente” no Verão. Hoje, para haver gente é preciso investir no marketing territorial porque a concorrência é muito maior, sendo cada vez mais aqueles que fazem o mesmo e em melhores condições. Marketing Territorial ou Marketing Público, que são áreas ainda pouco desenvolvidas em Portugal, que deveriam merecer um investimento cada vez maior por parte dos municípios. Porque o desenvolvimento económico e social também passa por aí. Está de parabéns, portanto, o departamento de comunicação da autarquia da Póvoa de Varzim, onde a matriz popular da marginal da cidade é o retrato da democratização da cultura de praia.

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