No editorial desta semana, a revista “Sábado” aborda a sensível questão das férias dos políticos portugueses neste Verão de 2011, enquadrando-a por uma frase atribuída a Pedro Passos Coelho, em Junho, à margem de uma cimeira europeia, segundo a qual “o Parlamento português, durante este período, nâo gozará férias e o Governo não gozará férias”.
Como frisa a revista do grupo Cofina, no mesmo editorial, mas a propósito da contradição governamental entre o discurso da poupança de recursos e a política dos ordenados de luxo em vigor do Ministério da Economia, “o Governo deveria perceber que um discurso moralista como aquele que tem adoptado em relação às finanças públicas só se aguenta se estiver protegido por um colete à prova de bala”. Para não trair a confiança dos eleitores.
Para além da citação no editorial, a “Sábado” relembra a frase de Passos Coelho sobre o alegado “corte” das férias numa outra página. Ora, nos últimos dias, talvez como efeito da propalação dessa privação, que afinal não é verdadeira, alguns jornais deram relevo à situação, destacando a frugalidade do descanso da nossa classe política neste Verão. “Passos e políticos só terão fins-de-semana prolongados”, chegou a titular o “Diário de Notícias”, no último domingo, na sua primeira página. O tom da matéria “jornalística” fazia passar a ideia de que o trabalho político era tanto que nem era possível gozar férias, levando os leitores a ficar com muita pena de uma classe política sacrificada pela crise. No fundo, um embuste destinado a impressionar incautos, que os jornalistas promovem com uma facilidade tremenda, sendo de questionar se pensam naquilo que escrevem.
A questão das férias dos agentes políticos, em particular aqueles que agora passaram a exercer funções governativas, pode ser vista de vários ângulos. Por exemplo, se um trabalhador comum fosse contratado para um novo emprego no mês de Junho não teria direito a férias no mês de Agosto, mesmo que fosse só durante uma semana. Só ao fim de seis meses de trabalho é que um profissional pode gozar férias, ainda assim, tendo direito apenas a dois dias por cada mês de trabalho prestado.
Os deputados à Assembleia da República que já estavam no Parlamento na legislatura anterior e foram reeleitos nas eleições de 5 Junho têm direito a não ser prejudicados na calendarização anual das suas férias. Já os novos ministros e todos os novos agentes políticos dos gabinetes governamentais estão numa situação bem diferente: só começaram a trabalhar em Junho e Julho, altura em que começou uma nova legislatura, e têm muito que fazer para colocar em prática as medidas impostas pelo FMI.
Um português comum que fosse para um novo emprego em Junho ou Julho não pensaria em ter férias em Agosto, desde logo porque sabia que não teria direito a elas. Com a classe política não é assim. E a imprensa, em vez de questionar o facto de os governantes gozarem férias algumas semanas após entrarem em funções (isso, sim, seria jornalismo de interesse público), dá conta do grande contratempo que constitui para os políticos a redução desse período de férias (ou seja, dá conta dos interesses particulares dos políticos). Como se eles não tivessem meios para gozar outros períodos de férias em destinos de sonho ao longo do ano.
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