As notícias sobre o encerramento das 297 escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico são um exemplo de mau jornalismo ou de um jornalismo preguiçoso que se pratica em Portugal. E são um exemplo evidente da facilidade com que a comunicação social difunde percepções negativas que não correspondem minimamente à realidade. O que, neste caso concreto, também acontece por evidente falha do Governo ao comunicar as mudanças em curso.
Face a um número gordo – o número das escolas que serão desactivadas, que foi divulgado pelo Ministério da Educação – a comunicação social fez uma "notícia" em função desse número. E, assim, criou na mente das pessoas uma realidade que não existe em lado nenhum. Quando estamos a falar de assuntos relativos à vida das empresas ou à economia do País, semelhantes faltas de rigor podem gerar consequências devastadoras.
Quem desconhece o que se passa no Ensino Básico em Portugal ficou com a percepção que o País está em adiantado estado de desertificação e que essa desertificação avança em direcção ao Norte e ao Litoral, de tal modo que encerram várias centenas de escolas. Na primeira página, o "Jornal de Notícias", que é o segundo título mais lido do País, destacou, inclusive, que os concelhos nortenhos de Penafiel e Santo Tirso são "os mais afectados" pelo encerramento de 11 e 10 escolas, respectivamente.
O que se passa é que a larga maioria das escolas que encerram são substituídas por modernos centros escolares, que concentram alunos, gerando um aproveitamento de sinergias, em termos de infra-estruturas e do pessoal docente e auxiliar. Em vez de uma escola em cada freguesia, em muitos municípios passam a existir “superescolas”, devidamente equipadas, que vão acolher crianças de várias freguesias. Esta mudança significou um grande investimento na modernização do parque escolar, uma grande melhoria das condições de educação e de conforto das crianças portuguesas, o que resultará numa poupança de recursos significativa. Donde, em vez de municípios "afectados" teremos municípios beneficiados, o que é bem diferente. Faltou, evidentemente, trabalho de casa da assessoria mediática do Ministério da Educação, no sentido de informar os meios de comunicação sobre os investimentos realizados, as escolas novas que foram construídas para substituir as velhas, as estimativas quanto à poupança de recursos públicos, etc.
À falta disso, só tivemos a notícia do encerramento de 297 escolas do primeiro ciclo do ensino básico, como se isso fosse uma grande notícia para uma grande primeira página. Ora, se o encerramento de 297 escolas fosse verdadeiro, não faltaria gente a protestar. As famílias e os sindicatos não protestam porque sabem o que está a acontecer. Daí a paz social. A verdade é que os portugueses sabem que os seus filhos terão melhores escolas a partir de Setembro. Mas isso não dá um bom título de primeira página.
O que daria um bom título de primeira página, mas daria muito trabalho, seria fazer uma investigação sobre o destino a dar às velhas escolas, que agora ficam vazias. Seria importante saber o que é que a administração central ou as autarquias vão fazer a essas escolas, para sabermos como estão a ser gerimos os recursos públicos que são de todos. Aliás, se forem dar uma volta pelo País para ver o que aconteceu a escolas que fecharam as portas nos últimos anos talvez encontrem casos surpreendentes.
Um comentário:
Concordo, meu caro Luis Paulo. Bem visto. MQz
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