quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Os 10 melhores anúncios políticos da história dos EUA


O Museu da Notícia de Washington DC, um museu dedicado ao mundo das notícias e da comunicação, inaugurou há dias uma exposição intitulada Every four years, que analisa a evolução das campanhas presidenciais norte-americanas. Quem gosta de comunicação política não deve deixar escapar o evento. O blog Marketing Político En La Red seleccionou os 10 melhores anúncios políticos da história dos Estados Unidos (ver aqui).

TSF. A rádio que mudou o jornalismo português

 
A noção de “rádio em directo” instalou-se em Portugal a partir da matriz informativa da TSF, em 1988. O “jornalismo de antecipação”, até aí monopólio dos jornais semanários, transferiu-se para a rádio, e, só algum tempo depois, para a imprensa escrita, sendo inaugurado com o diário “Público”, em 1990. Daí a importância da TSF no jornalismo português – um projecto liderado pelo jornalista Emídio Rangel, antes de criar a SIC. Podemos dizer que, em Portugal, havia um jornalismo antes de a TSF ter surgido e passou a haver outro jornalismo depois. É por isso que a TSF, que hoje comemora 24 anos de existência, está de parabéns. Hoje, a TSF já não é o que era nos anos oitenta e noventa. Mas o seu papel deixou uma marca impagável, como explico num texto que pode ser lido clicando aqui.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Comunicação Integrada na “Campaigns & Elections”



O número 2 da edição brasileira da revista norte-americana “Campaigns & Elections”, especializada em comunicação política, faz referência ao blogue COMUNICAÇÃO INTEGRADA, como um dos espaços digitais portugueses onde o lançamento da revista teve repercussão em Portugal, em Dezembro último (ver aqui a edição digital relativa aos meses de Janeiro e Fevereiro), o que, para mim, é uma honra. Este número dá destaque às próximas eleições municipais brasileiras, que se realizam no mês de Outubro.
No Brasil, a “Campaigns & Elections” é dirigida por Bruno Hoffmann, consultor político com experiência em campanhas no Brasil, EUA e América Latina, tendo estado, em 2010, à frente de 11 campanhas digitais de candidatos eleitos a Governo e Senado. No número 2 da "Campaigns & Elections", o português José Paulo Fafe, ex-jornalista e consultor de marketing político, assina um artigo sobre a Europa e a democracia em vias de "suspensão".

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Netnografia. A arma secreta dos profissionais de marketing


A Netnografia é o ramo da Etnografia que analisa o comportamento dos indivíduos na Internet, onde a liberdade de expressão oferece facilmente aos investigadores dados vindos de milhões e milhões de consumidores de todo o mundo. A Netnografia, que é uma técnica de pesquisa de marketing, também permite que os analistas colham dados das interacções que ocorrem na rede mundial de computadores, os quais possibilitam o estudo do consumidor.
Como diz Letícia Alasse, do blog Mundo do Marketing (ver aqui), olhar para as redes sociais, para os blogues e outros espaços digitais como um campo de estudo do comportamento e do desejo das pessoas é um importante caminho para que as empresas construam estratégias de acordo com as tendências do mercado e que atendam às expectativas do público. É neste contexto que a Netnografia tem vindo a consolidar-se como uma ferramenta de marketing estratégico ao serviço das marcas, para obter ideias com o objectivo de criar novos produtos e renovar os meios de relacionamento e de comunicação com os consumidores. O ponto forte da metodologia, que é muito recente, está numa abordagem menos intrusiva e mais verdadeira, porque os consumidores são espontâneos e revelam na rede o que realmente fazem e gostam.
O termo Netnografia foi usado pela primeira vez por Robert Kozinets (na foto), professor da Universidade Schlich York, de Toronto, no Canadá, em finais da década de 1990. Kozinets considera que a Netnografia é “a arma secreta dos profissionais de marketing” (ver aqui).

Relações Públicas. Uma actividade multidisciplinar

Ao contrário do que pensam muitos empresários ou responsáveis por organizações, um bom profissional de Relações Públicas (RP) é muito mais do que uma cara bonita e muito simpática. As RP são um conjunto de actividades multidisciplinares destinadas a estabelecer um clima favorável entre uma organização, pública ou privada, e os seus diferentes públicos e parceiros estratégicos ou pontuais.
Actuando em complementaridade designadamente com o marketing, a publicidade, a comunicação interna e externa, a assessoria mediática, e também com a administração da organização, as RP implicam cuidar dos públicos internos e externos, criando canais de comunicação permanente que promovam o entendimento mútuo. É um trabalho multidisciplinar e multifacetado, cujo desempenho requer profissionais qualificados e comprometidos com princípios éticos definidos em códigos internacionais.
Os diversos entendimentos sobre o que são RP resultam justamente da multidisciplinaridade das funções que os profissionais de RP desempenham numa organização no esforço planificado e contínuo para estabelecer e manter uma compreensão mútua entre uma organização e o seu pessoal, assim como entre essa organização e todos os grupos aos quais está directa ou indirectamente ligada – os “stakeholders”.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Capital erótico pode ser uma vantagem no trabalho. Ou não


As pessoas bonitas conseguem melhores empregos e melhores salários. Mas também contribuem para melhores resultados das empresas e das organizações. Segundo Alison Beard, editora sénior na Harvard Business Review, num artigo reproduzido pelo jornal económico digital Dinheiro Vivo, o capital erótico tem valor em todas as relações sociais e em todos os cenários, incluindo no mercado de trabalho. As pessoas mais atraentes chegam a ganhar, em média, mais 5 por cento (ver aqui). 
No entanto, nem toda a gente pode dizer o mesmo. Uma mulher sexy, com curvas bem evidentes, pode ter a sua carreira profissional ameaçada. Em 2010, foi notícia nos EUA o caso de Debrahlee Lorenzana (na foto), uma mulher bonita, que se vestia totalmente de acordo com as regras da profissão que tinha como gestora de negócios do Citibank de Manhattan, mas que foi despedida. Ele era bonita demais e foi discriminada por isso, com a alegação de que desconcentrava os colegas de trabalho... (ver aqui)

Papa Bento XVI ignora língua portuguesa na Internet


O Papa Bento XVI reconhece a importância das novas tecnologias de difusão de informação e decidiu aumentar a sua presença na rede social Twitter. Porém, o chefe da Igreja Católica ignora a língua portuguesa na sua comunicação digital nos dois espaços virtuais mais recentes criados pelo Vaticano: o site Pope2you.net e o portal News.va. A excepção é o sítio oficial do Vaticano, que desde o tempo do Papa João Paulo II comunica em português (ver aqui). 
Esta semana, ao falar da adesão do papa alemão à comunicação digital, Claudio Maria Celli, responsável pela comunicação social do Vaticano, anunciou que Joseph Ratzinger passará a enviar para o Twitter as suas mensagens após a oração do Ângelus e os seus discursos mais importantes, designadamente por ocasião de visitas papais e de certas festas do calendário religioso, como o Natal e a Páscoa. Não há ainda uma data definida para o arranque em pleno da dimensão digital de Bento XVI no Twitter, “mas será o mais rápido possível e isso está sendo estudado pelo Conselho Pontifício para a Comunicação Social", afirmou Celli (ver aqui).
Recorde-se que o Vaticano criou o site Pope2you.net (ver aqui), lamentavelmente indisponível em língua portuguesa, com as mensagens de Quaresma do pontífice, subdivididas em 40 twittes, com pequenas frases e dirigidas principalmente aos jovens. Mais uma vez, o papa "demonstra a sensibilidade às novas tecnologias e à comunicação de sua palavra", assegurou Claudio Maria Celli. No dia 29 de Junho de 2011, Bento XVI inaugurou o portal multimédia do Vaticano na Internet, News.va (também sem versão em português, como se pode ver aqui), com uma mensagem no Twitter – a primeira vez na história que um Papa usou este meio de comunicação.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Eusébio, a febre mediática e o Hospital da Luz


O antigo futebolista português Eusébio, uma figura mítica do Benfica e da selecção de Portugal, não precisaria de pagar os tratamentos hospitalares, tal é a visibilidade mediática que as suas recaídas dão ao Hospital da Luz – uma unidade de saúde privada que ao tratar aquele que é talvez o seu cliente mais famoso passou a ter publicidade gratuita e de grande impacto em todos os meios de comunicação portugueses. Pelo contrário, o Hospital da Luz é que deveria pagar para ter um cliente tão importante que mobiliza os meios de comunicação mesmo estando quieto.
A questão está em saber se cada espirro de Eusébio deve ser motivo de notícia e se as referências ao hospital onde trata as suas maleitas vão ou não para além do estritamente necessário do ponto de vista jornalístico. Só numa notícia pequenina que hoje circula na Internet há três referências ao Hospital da Luz (ver aqui). A questão está também em saber até que ponto os meios de comunicação, ao darem notícia de cada indisposição do antigo jogador, estão ou não a violar a sua privacidade.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Rui Reininho dá a cara pelo "novo" JN


O “Jornal de Notícias” comprou ao Grupo Novo Rock (GNR) a canção “Pronúncia do Norte”, que agora serve de tema musical à campanha de relançamento do jornal, na qual participa o próprio líder da banda portuense, Rui Reininho. A frase “A pronúncia do Norte” passa também a ser a assinatura do “Jornal de Notícias” – um título da Controlinveste, de Joaquim Oliveira, que é dirigido por Manuel Tavares.
A Draftfcb é a agência responsável pela campanha de relançamento do JN, que chegou no domingo às bancas “com um novo grafismo e posicionamento”. Rui Reininho, para além de dar o rosto à campanha publicitária, integra o novo Conselho Editorial do diário do Porto. Mais informação clicando aqui e aqui.

Homo Connectus. Um magnífico retrato do nosso tempo


Já conhecíamos outros estádios da evolução humana, designadamente o “Homo de Neanderthal” e o “Homo Sapiens”. Agora, na era das tecnologias de informação, em que estamos ligados em rede, o jornalista e cronista Roberto Pompeu de Toledo identificou o “Homo Connectus”, como aquele que vive em função do poder magnético dos iPhones, BlackBerries e similares. Na revista “Veja”, a crónica de Pompeu de Toledo mostra-nos um magnífico retrato do nosso tempo. Ler aqui na íntegra. Deixo três frases soltas para despertar o interesse:

“Silenciosos, os smartphones são socialmente mais aceitáveis. O telefoninho esperto vem provocando decisivas alterações na ordem das coisas. O ser humano é instigado a desenvolver novas habilidades…”

Em lugares de maior compostura, os celulares são evitados porque fazem barulho — disparam a tocar campainhas ou musiquinhas e só permitem comunicação via voz. Já os smartphones podem ser desativados na função telefone mas continuar, em respeitoso silêncio, na função telinha.”

“Há uma grande desvantagem, porém. O aparelhinho parte a pessoa ao meio. Metade dela está na festa, metade no smartphone. (…) Qual o remédio, para a divisão da pessoa em duas, metade ela mesma, metade seu smartphone?”

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O “spinning” de Eduardo Catroga


Nesta segunda-feira, o jornal “Público” destaca uma grande figura do regime democrático português chamada Eduardo Catroga, apresentado como “um gestor de topo com gosto pela política”. O título, grafado sobre uma imagem que ocupa mais de metade da primeira página, que nos mostra Catroga em acção falando ao telemóvel, é ternurento para o protagonista e insultuoso para a inteligência dos portugueses: “Eduardo Catroga. O homem que fez um Governo e ficou de fora.”
Estamos a falar de alguém que era candidato a ministro e que, aos 70 anos, continua à boleia do poder político-partidário, tendo sido contemplado com um ordenado de 45 mil euros mensais na EDP, para somar a uma reforma milionária de que não abdica. Daí talvez o título extraordinariamente simpático que ocupa a primeira página do suplemento P2: "Competente, dinâmico, empenhado, impulsionador, independente."
Depois da crise de comunicação gerada pelas histórias pornográficas dos "pentelhos" e pela nomeação para a presidência do Conselho Geral e de Supervisão da EDP (ver aqui), estamos agora perante uma óbvia operação de “spinning” destinada a lavar a imagem de um dos portugueses que mais beneficiaram com a mudança de Governo.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Manuel António Pina. "Políticos são putas velhas"


“Um dia o Sócrates telefonou-me, eu tinha escrito uma crónica em que falava das declarações do então treinador do Benfica, Camacho, que garantia que o clube jogava bem mas não metia golos. Relembrei que o objectivo do futebol não era “jogar bem”, mas meter golos, nem que seja com a mão. Comparava a situação com a do governo, dizendo que estava tudo óptimo, com o pequeno problema de não funcionar. Estava em casa e o telefone tocou. Atendi – ainda bem que fui eu, a minha mulher teria decerto descomposto o tipo a pensar que era um brincalhão – e escutei uma voz: “Daqui José Sócrates.” Ainda na dúvida se não era alguém a gozar comigo, ouvi: “Venho protestar consigo na minha qualidade de benfiquista e já agora de socialista”, e convidou-me a ir almoçar a S. Bento. Vou-lhe dizer uma coisa, ele surpreendeu-me. Olhe que a certa altura até me citou o Ruy Belo, e apropriadamente, com uma citação certa. Estava acompanhado daquele tipo que vinha do SIS, o Almeida Ribeiro, a partir daí telefonava-me muitas vezes. Eu sei que ele fazia isso a várias pessoas, porque quando morreu o Eduardo Prado Coelho li uma declaração em que ele dizia: “Era uma grande pessoa, uma grande figura, e até tinha um almoço marcado com ele.” Garanto-lhe que aquilo funcionava.”

“Nós é que construímos de facto a realidade através da observação, nós é que lhe damos sentido. Quando observamos não conseguimos tirar a nossa consciência como quem tira um sobretudo. Nunca saberemos como é o mundo real, e até que ponto ele coincide com aquele que construímos através da observação e com recurso à linguagem. Ao longo da história há muitos exemplos de que essa observação não era correcta. A infância é para mim esse momento de coincidência de nós com o mundo. É o problema do amor: nunca conseguimos alcançar o outro. Damo-nos mais com as pessoas com quem nos escapa sempre alguma coisa. Mas em relação ao jornalismo, quando observamos a nossa galáxia, percebemos que é uma entre milhões, que o nosso sistema está num braço modesto da galáxia e que o nosso planeta se encontra entre biliões de outros. Esta normalidade dá-me uma sensação de imensa paz, porque me permite relativizar-me a mim e aos meus problemas. Aprendi com os grandes tipógrafos, às vezes estava na chefia de redacção cheio de problemas com os títulos e eles diziam-me: “Não se preocupe que amanhã isto é para embrulhar o peixe.” A dimensão do infinitamente grande e do infinitamente pequeno dá-nos a consciência de que tudo é para embrulhar peixe.”

“A grande dignidade da vida e do jornalismo está em ter a consciência plena de que aquilo acaba a embrulhar peixe, mas fazê-lo o melhor possível em cada momento. Fazer o mais honesto, empenhar-se ao máximo, sabendo que é completamente irrelevante. É essa a grandeza do ser humano.”

“Um dos limites do jornalismo está na estridência. Mas para um jornalista e um escritor (costumo dizer que é uma roupa que nunca me serve bem e poeta muito menos, jornalista acho que me serve melhor) a matéria-prima é a mesma: a palavra escrita. Estas duas formas de escrita: uma para comunicar e outra para criar realidades, para convocar o mundo, têm muitos pontos de contacto. Uma coisa que eu aprendi no jornalismo é a humildade. Se conhece escritores, sabe que normalmente são tipos que acham que aquilo que escrevem é fundamental. No caso do jornalismo, como sabemos que aquilo que escrevemos no dia seguinte está a embrulhar o peixe, não é assim. No jornalismo aprendi essa humildade fundamental. Tenho de escrever, nas minhas crónicas, 1400 caracteres, o morto à medida do caixão – agora tenho-lhes metido o IVA, como aumentou, escrevo 1420. E meti-lhe o IVA baixo. Depois de escrevermos uma coisa, o coordenador corta e altera o título. O jornalismo é um trabalho colectivo. Isso dá-nos uma grande modéstia. O Luiz Pacheco dizia que daqui a cem anos ninguém se lembra. Qual daqui a cem anos... Mesmo na altura já ninguém se lembra. Os escritores têm muita dificuldade em aceitar que tudo acaba por se esquecer. Tudo tende para o esquecimento. Mas há mais relações, o jornalista aprende com o escritor o respeito pelas palavras, sabendo que há palavras que se dão com as outras, e outras não. Não calcula o tempo que demoro a escrever aquela merda com 1400 caracteres. Leio aquilo tantas vezes... Volto atrás e vou para a frente. Só a trabalheira de arranjar assunto. Eu, espontaneamente, só tenho opinião uma vez por ano, agora tenho de ter todos os dias porque ganho a vida assim. Nunca leio o que escrevi no dia seguinte, porque se o faço fico completamente frustrado.”

“Apesar de já (…) ter chamado Bokassa [a Alberto João Jardim, presidente do Governo da Madeira], ele nunca me pôs um processo e sempre que vinha cá telefonava-me para almoçar comigo. Os políticos tratam-me sempre bem. São umas putas velhas.”

Manuel António Pina, jornalista e escritor português, vencedor do Prémio Camões 2011, em entrevista ao jornal “i”, 18-02-2012 (documento na íntegra aqui)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Jornalismo, poderes fácticos e novas censuras


O jornal “i”, o diário português que é considerado um dos jornais mais inovadores da actualidade, publica na sua edição de hoje um artigo meu sobre os desafios que se colocam ao jornalismo contemporâneo, nestes tempos críticos para as instituições representativas do Estado e dos poderes democráticos. Sob o título "Jornalismo, poderes fácticos e novas censuras", o texto pode ser lido clicando aqui ou nas linhas que se seguem. Boa leitura!

Uma das funções do jornalismo é fiscalizar poderes públicos e privados, assegurando transparência nas relações políticas, económicas e sociais. É por isso que os meios de comunicação social são apontados como “quarto poder”, pois têm a capacidade de manipular a opinião pública, de ditar regras de comportamento e de influenciar nas escolhas dos indivíduos e da própria sociedade.
Um texto noticioso implica uma selecção vocabular e um ordenamento dos factos por influência de múltiplos factores de ordem subjectiva. Os jornalistas, intencionalmente ou não, podem ser vítimas da propaganda ou da desinformação. Mesmo sem errar com dolo, podem dar uma visão parcial dos factos, focando determinados aspectos em detrimento de outros. Como diz Nélson Traquina, no manual “Jornalismo” (2002), a actividade jornalística é uma realidade muito selectiva, construída através dos óculos dos profissionais do jornalismo.
Mário Mesquita, no livro “O Quarto Equívoco – O Poder dos Media na Sociedade Contemporânea” (2003), aborda mitos e realidades do chamado “quarto poder”, começando por identificar uma crise de representação dos poderes do Estado, que se reflecte na diminuição da participação cívica, na prevalência do consumidor sobre o cidadão, e num distanciamento dos eleitores perante os eleitos. A questão é saber se estamos perante um “quarto poder”, orientado pelos órgãos de comunicação e ao serviço dos cidadãos, ou se estamos perante um “quarto equívoco”, telecomandado por poderes fácticos, que influenciam e decidem opções editoriais.
Segundo Mesquita, o poder mediático dissemina informação e institui-se em tribuna de debate, o que deveria incentivar a cidadania. No entanto, agrava a crise, porque facilita a “desintermediação” das instituições representativas, acentua a personalização no exercício dos cargos públicos e, por via da transformação da notícia num espectáculo, contribui para uma atitude de desconfiança social em relação aos poderes legitimados pelo voto, que passam a ser cada vez mais subalternizados por decisões adoptadas em “centros de poder invisíveis”. Assim, o exercício da governação nas democracias contemporâneas é cada vez mais prisioneiro de poderes fácticos de natureza financeira, económica e tecnológica. A globalização, os mercados, a banca e as bolsas são palavras-chave de uma reconfiguração do mundo que coloca em perigo o Estado-Nação, como se observa na actual crise portuguesa e europeia.
Ao mesmo tempo, os “media” tendem a questionar a legitimidade do representante eleito – ao confrontá-lo, em permanência, com factos ou opiniões desfavoráveis –, e a dar palco a figuras com “boa imagem mediática” ou cuja acção provoque o conflito ou o incidente, que pode resultar numa imagem de televisão espectacular. Deste modo, como observa Mário Mesquita, a acção mediático-jornalística pode influenciar, distorcer ou corroer a representatividade política – o que pode acontecer em função do dinheiro disponível, da qualidade da assessoria de comunicação ou do talento teatral dos candidatos.
O director da SIC Notícias, António José Teixeira, numa conferência sobre “A Política e o Poder do Jornalismo”, na Universidade Lusófona de Lisboa (2009), confessou o mesmo pessimismo. “Vivemos uma crise de representação em que o poder político vai ficando refém de teias de poderes não sufragados”, o que, aliado a “um poder mediático tão voluntarioso como impotente”, coloca a democracia em risco. Curiosamente, em 2011, mudou o Governo em dois países europeus (Grécia e Itália), sem que tenha havido eleições…
O jornalista Paul Moreira vai mais longe, no livro “As Novas Censuras – Nos Bastidores da Manipulação da Informação” (2008), onde aborda as múltiplas técnicas de manipulação da informação aplicadas na cadeia do processo noticioso: “Se a verdade for difundida pelos ‘media’, há que controlar o impacte sobre a opinião e tudo fazer para que não seja ouvida e, sobretudo, para que não crie uma emoção popular.”
No tempo da informação instantânea, em que jornalistas, organizações e cidadãos produzem informação, já não se faz censura cortando a frase ou a notícia que não convém à instituição ou ao Governo. Hoje, gere-se a percepção do público. Porque todos nós agimos ou decidimos em função das percepções. Essa gestão é feita pelos especialistas em relações públicas e comunicação política – os “spin doctors”, assim designados nos países anglo-saxónicos. O seu trabalho é justamente “massajar” a mensagem, para que chegue à opinião pública a verdade mais forte. Não interessa o que aconteceu na realidade, mas aquilo que os “media”, como intermediários, dizem que aconteceu. É neste colete-de-forças que vive o jornalismo contemporâneo.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O mercado imobiliário em 38 trabalhos académicos


Em Portugal, há 735 mil casas vazias. É muita casa a degradar-se num País tão pequeno. Com a crise da dívida pública e da economia, o sector da construção foi, naturalmente, dos primeiros a paralisar e a fazer aumentar o desemprego directo e indirecto. Os bancos deixaram de dar crédito e as pessoas não precisam de casas como antes, porque há muito que o mercado está esgotado, pois há mais casas do que pessoas para viver dentro delas (ver aqui). Isto significa que, independentemente da crise económica, algo de muito grave falhou nos estudos do mercado da construção civil em Portugal. O que falhou é que não se fizeram estudos no sector, a não ser para lamentar a falta de procura de casas. Ora, com tantas casas vazias, podemos concluir que as construtoras fizeram casas sem necessidade. Por outras palavras, o sector português da construção civil despreza o marketing. O resultado é a falência do mercado.
Por isso, destaco uma lista de 38 trabalhos académicos sobre o mercado imobiliário (ver aqui). Não de Portugal, onde estas coisas não são muito estudadas, mas do Brasil, onde o sector está em grande crescimento. Talvez esta lista de estudos seja bastante útil, em particular para estudantes, empresários imobiliários e autarcas.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Comunicar e inovar. A receita do sucesso empresarial

A comunicação e a inovação permanentes são ingredientes basilares da receita indicada para o sucesso das empresas e das organizações. E são também elementos característicos de uma “organização em aprendizagem”. Na década de 1990, foi o norte-americano Peter Senge, especialista em comportamento organizacional, quem popularizou o conceito de “learning organization” – o qual define uma organização que tem capacidade de aprender, de se renovar e de inovar continuamente, e cujos membros estão permanentemente a reforçar a sua capacidade criativa e produtiva, num modelo de comunicação aberta, com significado comum e partilhado por todos.
Neste contexto, uma organização desenvolve-se e melhora a qualidade de bens, serviços e produtos à medida que os seus colaboradores vão ganhando novos conhecimentos. Os erros são corrigidos através da alteração das normas empresariais que os causaram.
A globalização, a tecnologia da informação e a abertura económica impulsionaram as empresas e as instituições a prosseguirem uma postura de aprendizagem, baseada numa liderança e numa cultura voltadas para a inovação e para a busca de desafios, criando diversos mecanismos de disseminação e partilha do conhecimento entre os seus colaboradores de forma transparente.
 A ideia de Peter Senge é que os programas de aprendizagem podem ser a única fonte sustentável de vantagem competitiva, num quadro de volatilidade dos mercados, desde que na empresa se verifique a convergência de cinco características:
Raciocínio sistémico. A ideia de que numa organização tudo tem a ver com tudo.
Desenvolvimento e o domínio pessoal. A vida de uma organização deve ser encarada de um ponto de vista criativo e não reactivo, para fomentar a aprendizagem, pois empregados motivados podem aprender mais e mais rápido.
Compreensão dos modelos mentais da organização. Um ambiente de aprendizagem promove a confiança e a disseminação do conhecimento, potenciando um crescimento positivo, com base na construção de novas ideias e na modificação dos modelos mentais vigentes.
Visão partilhada. Está presente quando o resultado dessa visão deixa de ser encarado pelos membros da equipa como uma responsabilidade de cada pessoa individualmente, para passar a ser da equipa como um todo.
Aprendizagem em equipa. A unidade fundamental é o grupo e não o indivíduo, o que implica diálogo e discussão.
Uma organização em aprendizagem é horizontal, com estruturas descentralizadas. As experiências e informações individuais são compartilhadas e tornam-se colectivas. Para isso, as pessoas têm de saber o motivo da existência da organização e qual seu propósito e objectivos. A organização deve investir em pessoas inteligentes e motivadas, que não devem ficar submissas, obedecendo somente às ordens dos líderes. Devem ser proactivas e estar preparadas para resolverem situações inesperadas baseando-se nos conhecimentos adquiridos. A busca do conhecimento não resulta de copiar as melhores práticas, mas sim da inovação constante. As organizações que aprendem possuem características que desenvolvem um ambiente adequado à criação e à gestão do conhecimento.
Mas nem todas as organizações funcionam assim. Peter Senge identificou as cinco principais barreiras ao processo de aprendizagem nas organizações:
1) A ideia de que cada elemento é o seu cargo, o que indica limitação à função e falta de objectivos.
2) A ideia segundo a qual o inimigo está lá fora ou a culpa é sempre dos outros.
3) O ênfase no curto prazo, esquecendo o planeamento estratégico.
4) A falta de consciência das mudanças, por desatenção às subtilezas e aos indicadores de longo prazo.
5) O mito da equipa administrativa, que funciona bem nas rotinas, mas não funciona nas situações difíceis.
A criação de uma visão compartilhada também pode ser dificultada por estruturas tradicionais onde a visão da empresa é imposta de cima, por falta de uma cultura de aprendizagem ou pelo tamanho da própria organização. Quando aumenta o tamanho de uma unidade organizacional, diminui a eficácia dos fluxos de conhecimento interno e o grau de partilha de conhecimentos. Por isso, a globalização, a inovação tecnológica, as privatizações e a internacionalização das empresas tornaram mais complexa a gestão da comunicação por parte das organizações. O papel da comunicação é agora multifacetado, devendo ser estudado e reconhecido pelas empresas como um importante ferramenta de gestão.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A "Veja" em Portugal. E as revistas portuguesas?...


A revista “Veja”, que é talvez a “neswmagazine” em língua portuguesa mais lida do mundo, é um exemplo de organização no espaço público mediático lusófono. Editada e impressa em S. Paulo, a “Veja”, com as suas reportagens bem escritas, em textos concisos e directos, dando-nos um olhar do centro financeiro do Brasil sobre o mundo, que conta cada vez mais, e também uma visão, por vezes implacável, sobre o País de Dilma Roussef, tem uma tiragem de 1,2 milhões de exemplares por semana. O curioso é que a edição desta semana, com data de hoje, 8 de Fevereiro de 2012, já está disponível em Portugal. Eu compro-a, todas as quarta-feiras, logo pela manhã, no meu quiosque, em Vila Nova de Famalicão. Mas se eu quiser esperar uma semana, posso ler a revista toda gratuitamente. Aliás, é possível ler gratuitamente todos os exemplares da “Veja”, desde 11 de Setembro de 1968, no seu maganífico acervo digital (ver aqui), patrocinado por um banco brasileiro.
Seria interessante saber o que é que as revistas portuguesas “Visão” e “Sábado”, por exemplo, fazem pelo seu acervo ou para serem distribuídas a tempo e horas no Brasil e em outros países de língua oficial portuguesa. Haverá alguma estratégia, editorial e comercial, para aumentarem as suas vendas e os  seus leitores? Se não houver essa estratégia, então podemos concluir que o polémico acordo ortográfico da língua de Luiz de Camões não serviu para nada.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O "patrão" português que Moçambique expulsou


Há portugueses que emigraram ou estão a emigrar para as antigas colónias de África, ou para o Brasil, transportando consigo a mentalidade colonizadora do século XVI. Para além de isso revelar falhas graves de formação humana e cultural, é um grande erro estratégico. Que o diga José Pinto Ribeiro, um administrador do Moza Banco, parceiro do Banco Espírito Santo (BES), em Moçambique. Segundo conta o jornal “i”“pretos de merda” era só um dos insultos que ele costumava dirigir aos funcionários moçambicanos do banco. Uma estranha forma de comunicar internamente na organização. Os trabalhadores fizeram queixa às autoridades e o “patrão” foi expulso do País (ver notícia aqui). Eis uma lição de vida que o ex-administrador do Moza Banco nunca mais vai esquecer.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O segredo das marcas


“As marcas de sucesso iniciam-se com uma proposta clara. Se uma marca não tiver uma ideia clara do valor que traz e a quem, terá dificuldades em alguma vez fazer com que a marca se destaque com algo distinto.”

Shaun Smith, um dos consultores mais importantes do mundo em "Customer Experience", no livro “O Mundo das Marcas”, 2010

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

As televisões portuguesas e a vaga de frio


Preocupadas com a "vaga de frio" que por estes dias promete gelar a Europa, o que, aliás, é normal nesta época do ano, as televisões portuguesas procuram “bons momentos de televisão” ouvindo o povo das serras do interior, em Trás-os-Montes ou na Beira Alta. E o povo, sem medo de morrer do frio, diz que é normal e que costuma andar agasalhado. Naturalmente.
De resto, frio a sério faz-se sentir mais a Norte da Europa. Ou no Canadá, onde, como o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, pode comprovar, a factura energética é a maior despesa de uma família, justamente por causa do frio. Ou seja, tal como no Canadá, também os portugueses das serras estão mais ou menos preparados para o tempo frio, pois sempre tiveram invernos mais ou menos rigorosos.
Mas é no interior, onde a vida é mais comunitária, que as nossas televisões insistem em fazer “reportagem”. Não entendem que o perigo de morte está mesmo na frente do seu nariz, em plena cidade de Lisboa, nomeadamente nas casas velhas da baixa pombalina, onde vivem idosos solitários, sem familia e com reformas de miséria que não chegam para pagar os remédios muito menos para o aquecimento.