Durante o congresso do PS, que decorreu em Braga neste fim-de-semana, António José Seguro fez questão de contactar pessoalmente com os jornalistas em serviço no conclave. Com isso, Seguro procurou afirmar um novo estilo no relacionamento com os “media”, em oposição ao relacionamento musculado do seu antecessor, José Sócrates, que, durante os congressos, só falava a partir do teleponto, não admitia perguntas, nem fotografias, e cujos seguranças ainda batiam nos jornalistas. Tudo ninharias comunicacionais que naquele tempo não foram devidamente destacadas nem valorizadas por quem mandava nos meios de comunicação.
Ora, Seguro é muito diferente de Sócrates. Há uns 15 anos, era António José Seguro secretário de Estado ou ministro Adjunto do Primeiro-Ministro, no consulado de António Guterres, experienciei um episódio revelador. Enquanto jornalista do “Público”, precisei falar com Seguro como fonte para uma notícia sobre uma guerra autárquica que estava dilacerar o PS em determinado concelho do País. Na altura, em 1996 ou 1997, nem todos tinham telemóvel, muito menos Facebook, e o e-mail ainda era uma modernice. Por isso, telefonei para o gabinete de António Guterres, em S. Bento. A tarde foi passando e António José Seguro não devolvia a chamada, conforme tinha ficado combinado com uma secretária. Quando já tinha desistido e voltado para casa, pelas 22h00, toca o meu telemóvel. Era António José Seguro, afável, a pedir desculpa e a dizer-se pronto para responder a todas as minhas perguntas. Nunca mais esqueci este gesto de Seguro.
Muitas vezes, são gestos destes que humanizam um político, revelam o seu carácter e conquistam para sempre um jornalista. Donde, aquilo que muitos qualificam como “manobra de charme” de Seguro, no congresso de Braga, não passa da mediatização de uma atitude que não é encenada, ganhando, por isso, um efeito muito mais eficaz. Uma atitude de respeito pelo trabalho dos meios de comunicação social, os mesmos que até agora eram desprezados e maltratados por José Sócrates.
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