quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Os abutres do jornalismo


No espaço mediático contemporâneo, as garras de uma imprensa sensacionalista e irresponsável constituem um dos desafios que se colocam ao bom nome das figuras públicas, das organizações públicas ou da sociedade civil e também dos cidadãos que possam ser objecto de notícia. Com a velocidade da Internet, uma notícia contendo falsidades, incorrecções e atropelos à ética e à deontologia jornalísticas, uma vez difundida por esses abutres sem escrúpulos, propaga-se a grande velocidade e fica para sempre à disposição de todos.
É evidente que a legislação prevê sanções para estes atropelos. O problema é que, muitas vezes, quando os visados procuram esclarecer o que está em causa, por muita razão que lhes assista, nada fica como antes. A primeira impressão tem muita força e, geralmente, condiciona todo o pensamento posterior que possamos ter sobre uma pessoa, uma organização ou um acontecimento. Por outro lado, o público que soube da versão errada de uma notícia pode não ter acesso ao esclarecimento. E essa versão errada, apesar do esclarecimento posterior, fica disponível na rede, à mercê da leitura de outros incautos. E assim se cria uma percepção pública negativa.
Há um outro problema, que também decorre da concorrência desenfreada entre meios de comunicação na sua luta pelas audiências. Quando um meio é o primeiro a dar uma notícia, mesmo que essa notícia contenha inverdades ou não seja verdadeira, os visados podem contar com uma romaria de outros jornalistas, que também querem ter acesso a uma reacção, mesmo que a notícia original seja uma não-notícia.
É aqui que os visados precisam saber como lidar com os meios de comunicação, que mensagens devem transmitir, a que perguntas devem responder e como devem responder. Para isso, é preciso saber como funcionam os jornalistas. Tudo se resolve quando por parte dos jornalistas e dos meios de comunicação há bom senso, compromisso com a ética e a deontologia e preocupação em informar com rigor.
O problema é quando os meios de comunicação e os seus jornalistas se comportam como abutres do jornalismo, como inimputáveis que não estão comprometidos com o serviço de informar com rigor e vivem apenas do espectáculo e, mesmo, das desgraças dos outros.
Não faltam exemplos, também em Portugal. Saber que estes abutres são os que têm maiores audiências é outra anormalidade do sistema, que confirma uma evidência: numa sociedade de massas, o público é passivo por excelência, não se apercebendo que vive em função dos ditames de uma engrenagem comunicacional e cultural muito complexa.

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