segunda-feira, 19 de março de 2012

Aventuras de um jovem jornalista


Em 1984, ainda não havia “e-mail”, mas o correio tradicional funcionava muito bem. Uma carta era colocada no marco do correio num dia e no seguinte chegava ao destinatário. Como eu estava decidido a ser jornalista, comuniquei essa pretensão aos jornais escrevendo aos seus directores. Um deles foi o director de “O Comércio do Porto”, Manuel Teixeira, actual chefe de gabinete do presidente da Câmara do Porto, Rui Rio.
Pedi-lhe uma “experiência jornalística”, mas a resposta do director do jornal que aprendi a ler desde criança, dada em poucos dias, foi negativa. Manuel Teixeira alinhavou um conjunto de obstáculos intransponíveis para um jovem de 19 anos de idade que estava a acabar o ensino secundário. Não tinha o serviço militar cumprido, não morava no Porto, não tinha frequência universitária, nem tinha 23 anos.
Dos directores a quem escrevi, tive uma oportunidade como correspondente em Vila Nova de Famalicão, dada por Joaquim Queirós, que então dirigia a “Gazeta dos Desportos”, jornal de que também era leitor. A coisa dava para pagar umas cervejas, não mais. Foi a forma de começar, tanto mais que, entretanto, lá fui obrigado a cumprir o serviço militar, talvez para corresponder aos quesitos impostos por Manuel Teixeira.  
O curioso é que, cinco anos depois, na sequência de um telefonema do Paulo Montes, hoje em “A Bola”, lá estava eu a entrar na redacção de “O Comércio do Porto”, ainda na Avenida dos Aliados. O director continuava a ser Manuel Teixeira, tendo Fernando Santos, actualmente na direcção do “Jornal de Notícias”, como subdirector. Mas Teixeira raramente descia à redacção, preferindo a reserva do seu gabinete – onde escrevia prosas que o transformaram no cronista preferido do então primeiro-ministro Cavaco Silva. Aliás, em ano e meio como jornalista do "CP", só vi Manuel Teixeira na redacção num dia em que foi cumprimentar toda a gente. Daí o espanto do também jovem estagiário Augusto Bernardino, que hoje está em “A Bola”, depois de apertar a mão ao director: “Quem é este cidadão?”