quinta-feira, 22 de março de 2012

O terrorismo na campanha francesa

Com o ataque terrorista de Toulouse, tudo mudou na campanha eleitoral para as eleições presidenciais francesas. Até agora, Nicolas Sarkozy estava em dificuldades (ver aqui), adoptando como estratégia um discurso de extrema-direita – o único eleitorado onde teria margem para crescer eleitoralmente, encolhendo Marine Le Pen.
A comoção que atravessa a França, em virtude dos sangrentos ataques de Mohamed Merah e a consequente aparição de Sarkozy como Presidente a tempo inteiro nas cerimónias fúnebres, baralha o jogo eleitoral. Porque estamos perante um caso que mexe com a mente do eleitorado. Por isso, a campanha do socialista François Hollande enfrenta um obstáculo inesperado que poderá ser fatal. Os franceses querem alguém que proteja a França. E Sarkozy está em palco, o que decorre das suas funções como Presidente legítimo dos franceses.
Em termos comunicacionais, há situações inesperadas que rebentam durante as campanhas eleitorais cujos efeitos são incontroláveis ou muito difíceis de controlar. Nuns casos, travam a mudança política que estava em perspectiva. Noutros, acentuam a tendência dessa mudança.
Em 1999, António Guterres, que se recandidatava a Primeiro-Ministro de Portugal, teve a seu favor o massacre de Timor Leste – que resultou na independência do território –, o que lhe deu muita exposição pública mediática. Como se isso não bastasse, em plena campanha eleitoral, morreu Amália Rodrigues e o País parou. Guterres venceu, contra Durão Barroso, mas nem assim conseguiu a maioria absoluta.
Em 1980, na última semana das presidenciais, morreu o Primeiro-Ministro e líder do PSD, Francisco Sá Carneiro, que se batia pela eleição do general Soares Carneiro contra Ramalho Eanes – tendo este acabado por vencer as eleições. Mas não sabemos qual seria o resultado eleitoral se Sá Carneiro não tivesse morrido.
Em 2004, em Espanha, na sequência de um ataque terrorista em Madrid, a quatro dias das eleições, onde morreram perto de duas centenas de pessoas, o Governo de José Maria Aznar (Partido Popular) manifestou dificuldade em atribuir a autoria dos atentados, o que levou o povo a sair às ruas, em manifestações espontâneas, o que contribuiu de forma decisiva para a mudança de Governo, com a vitória do socialista José Luiz Zapatero contra todas as previsões anteriores ao atentado. FOTO: Jacques Brinon / Associated Press

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