Para muita gente, ter acesso às novas tecnologias de difusão de informação é como dar um salto maior do que a perna. É o caso daquelas pessoas que ocupam funções que exigem independência pública à prova de bala, mas depois vão para o Facebook emitir as suas opiniões pessoais como quem está no café a conversar com os amigos mais chegados. Foi o que aconteceu a um delegado da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, um adepto confesso do FC Porto, e um dos delegados mais antigos, que usou a sua conta pessoal no Facebook para falar de modo grosseiro sobre a arbitragem do jogo Paços de Ferreira-Benfica (ver conteúdo na imagem).
Acresce que uma das funções de um delegado da Liga é fomentar o "fair play" (ver aqui, no artigo 39º). Ora, o delegado Manuel Armindo até pode ter a maior razão do mundo, mas não pode expressar-se daquela maneira numa rede social. Nem deve emitir a sua opinião pessoal publicamente. Porque dar opiniões no Facebook não é a mesma coisa que dar opiniões dentro de casa, em família ou com os amigos. Na prática, é o mesmo que emitir opiniões num jornal.
Como já escrevi neste blogue (ver aqui), a linha que divide a esfera pública da esfera privada tem sido alterada ao longo dos tempos. E tem sido motivo de muitos debates. E, com a Internet e a explosão das redes sociais, a confusão entre o que é público e o que é privado tornou-se cada vez mais evidente. Neste caso concreto – que valeu para ficarmos a saber, de modo cristalino, o nível dos observadores da Liga, cuja função é garantir que tudo decorra bem na organização de um jogo de futebol –, as opiniões do cidadão Manuel Armindo sobre a arbitragem do Paços de Ferreira-Benfica, assim como a forma grosseira como se referiu ao presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, comprometem, evidentemente, o delegado da Liga Manuel Armindo. Por isso, a Liga suspendeu o seu delegado (ver aqui). Veremos o que vai acontecer.
Um comentário:
Bom seria que todos os Manuéis Armindos do nosso futebol dissessem realmente o que são e ao que vão, pois, tal como neste caso, muitos outros podiam ser afastados dos cargos que ocupam. Talvez assim o futebol ficasse mais limpo, descolorado, transparente! Por outro lado, isto apenas avoluma a legítima suspeição que muita gente tem de muita coisa e outra gente!... Como na política, o futebol precisa de gente nova e renovada, porque são os mesmos e do mesmo que nos (des)governam há demasiado tempo.
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