A doença de um político em funções governativas pertence à esfera privada desse político ou é assunto da esfera pública que deva ser do conhecimento de todos? A questão é polémica.
Considero que a doença de um político só deve pertencer à esfera pública, isto é, só deve ser conhecida do público, quando é susceptível de influenciar as suas decisões políticas. Um político que sofra de cancro, por exemplo, se decidir continuar em funções após ter-lhe sido diagnosticada a doença, deve dar a conhecer publicamente o seu estado de saúde. Foi o que fez, e bem, Hugo Chávez, líder do Governo da Venezuela. Foi também o que fez Dilma Roussef (para mencionar um caso geográfica e culturalmente próximo), em 2009, a um ano da campanha eleitoral, quando era ministra da Casa Civil e candidata à sucessão de Lula da Silva na Presidência do Brasil e lutou, com transparência mas com discrição, contra um cancro linfático.
O bom senso é fundamental. A doença pode tornar-se pública mas não deve tornar-se do público. Há certos limites que não devem ser ultrapassados. Na Venezuela, de tanto falar na doença, sempre que aparece em público, Chávez já envolveu o povo na sua luta pessoal contra a doença, criando uma onda de solidariedade nunca vista. Chávez ficou sem cabelo na sequência das dolorosas sessões de quimioterapia e os venezuelanos começaram a rapar o cabelo em solidariedade com o presidente do Governo.
Podemos, por isso, imaginar todos os governantes e todos os funcionários públicos do país de cabeça rapada, solidários com o grande líder, mesmo que não gostem do corte e que, no fundo, no fundo, nem estejam solidários. É a força da imagem e da simbologia.
Como manobra de comunicação parece estar ao nível de uma telenovela realizada na própria Venezuela – país que, curiosamente, terá eleições para o Governo em 2012, pelo que a oposição veio a público acusar Chávez de utilizar a doença para colher dividendos políticos. Com o acto eleitoral no horizonte, Hugo Chávez conseguiu transformar o corte de cabelo num símbolo político capaz de dividir o país: de um lado estão cabeças rapadas, que serão prò-Chávez, enquanto do outro estão os do cabelo crescido, que serão anti-Chávez.
Um comentário:
Boas causas.
Pessoalmente, até porque estamos numa era de informação constante, onde os segredos mais íntimos, rapidamente se tornam públicos, concordo com a visão de Comunicação Integrada: "Foi o que fez, e bem, Hugo Chávez, líder do Governo da Venezuela.". Sabenos qual o objectivo politico deste acto de Chávez, pena é, que o ato não vise as causas de outros, não conhecidos publicamente, que "cortam" o cabelo e não têm apoio financeiro para se tratar, apoio moral para não se sentirem sós, e, embora nunca tenha estado na Venezuela, tenha os locais para se tratar. Na esperança que o ato público da doença se torne numa causa, numa boa causa, da sociedade global em prol dos que precisam e não têm...
Tomás Gonçalves
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